quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Os assobios de Carlos Alves

 

Assobios. Carlos Alves.

Intróito
Tirando o cesto de ovos e a galinha no choco, estão todos a cantar de galo. Oh que grande barulheira! Parece que os assobios assobiam como deve ser e tudo. O que nem sempre acontece, pois já os tenho ouvido roufenhos.
Parabéns pelo concerto galináceo e pelo desconserto causado pela beleza ostentada pelos animais de penas. Oh que pena que tenho de não ter ainda um assobio destes. Não fosse andar depenado e ele já cá cantaria. Perdão, assobiaria.

Marcas identitárias muito próprias
Uma análise pormenorizada dos assobios de Carlos Alves, revela que eles têm de comum as seguintes características: - Base de forma cilíndrica, com topo de cor castanho claro e orla em vermelhão; - Topo da base decorado com grupos de pintas nas cores: rosa, laranja, branco, amarelo e verde; - Tubo de sopro de forma cilíndrica, ligeiramente cravado na base e dirigido segundo o raio da base do cilindro, até ao centro. O tubo de sopro é de cor castanha clara com a extremidade na cor do barro. Resumindo: os assobios de Carlos Alves apresentam marcas identitárias muito próprias que os levam a diferenciar dos assobios dos demais barristas, o que é de louvar. Isto associado a uma modelação perfeita e a uma decoração muito agradável, torna-os muito apelativos, o que se salienta com agrado.

Publicado inicialmente a 9 de Setembro de 2021

Cesto de ovos.

Galinha no choco.

Galo.

Galo.

Galo no tronco.

Calo na árvore.

Galo no arco.

Galo no poleiro.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Estremoz e o Feriado Municipal



A 31 de Agosto de 2021, completaram-se 95 anos sobre a elevação de Estremoz à categoria de cidade, na sequência do Decreto n.º 12.227, publicado no Diário do Governo desse dia.

Dia da Cidade
Seria expectável que a 31 DE AGOSTO de cada ano, fosse comemorado o DIA DA CIDADE, assinalado como Feriado Municipal, por ter sido nesse dia que a "Notável Villa de Estremoz" foi objecto de ELEVAÇÃO à categoria de CIDADE.
Todavia tal não acontece e o Dia da Cidade é assinalado com Feriado Municipal na Quinta-Feira da Ascensão e Dia da Espiga, data móvel do calendário litúrgico, importante para os cristãos e que ocorre no quadragésimo dia após a ressurreição de Jesus, assinalando a sua Ascenção (Elevação) ao Céu.
Apesar de toda a respeitabilidade de que é merecedora a efeméride religiosa, isso não justifica de modo algum que a data seja considerada Dia da Cidade e Feriado Municipal, em detrimento da data de 31 de Agosto, em que Estremoz ascendeu e muito bem à categoria de cidade.

O seu a seu dono
Perante a dúvida que possa surgir nalguns espíritos, creio ser aqui aplicável a sentença latina “Redde Cæsari quæ sunt Cæsaris, quæ sunt Dei, Deo”, cujo significado é “A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Trata-se de uma frase atribuída a Jesus nos evangelhos sinópticos (Mateus 22:21), Marcos 12 (Marcos 12:17) e Lucas 20 (Lucas 20:25), quando lhe perguntaram se devia pagar o tributo a César e cujo sentido é: “Dê-se a cada um aquilo a que tem direito”.
A meu ver, a comemoração da Ascensão de Jesus ao céu, é de âmbito cristão. Pelo contrário, a comemoração da elevação de Estremoz à categoria de cidade, é do foro cidadão. Dito por outras palavras: “A cada um o que é seu” (“Unicuique suum”).

Uma sugestão
Creio que que o Executivo Municipal saído das eleições autárquicas do próximo dia 26 de Setembro, poderia e deveria reflectir sobre este assunto. Aqui fica a sugestão.

Publicado inicialmente a 1 de Setembro de 2021




 

sábado, 21 de agosto de 2021

Hernâni Matos

 

Filomena Barata. Arqueóloga.


Homem, alentejano, determinado.  Conhecedor, melhor, sabedor do seu território, do nosso, que divulga como ninguém. Homem de convicções que não foge a defendê-las, não se esconde em ondas turvas, mas respira de peito aberto para o amanhã.

Filomena Barata
Lisboa, 19 de Agosto de 2021 

Hernâni Matos

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Imortalidade sempre! Aniversário nunca mais!





Todos sabemos que 1+2 dá 3 e que de igual maneira, 2+1 também dá 3. Os matemáticos chamam a isto, propriedade comutativa da adição de números. Porém, não generalize o leitor. Há operações que não gozam da propriedade comutativa. Assim, por exemplo, a operação “calçar o vestuário do pé” conduz a um resultado que é diferente, conforme se calçar primeiro a meia e depois o sapato ou, se pelo contrário, se calçar primeiro o sapato e só depois a meia.
Vem isto a propósito de eu fazer hoje 75 anos, número composto dos algarismos 7 e 5, que somados dão 12, noves fora 3. Ora, a imagem espelhada do número 75 é o número 57, composto igualmente pelos algarismos 5 e 7, que somados dão 12, noves fora 3. Apesar desta coincidência, a operação “ordenar números”, não goza da propriedade comutativa. Na verdade, pôr o 7 antes do 5, não é o mesmo que pôr o 5 antes do 7. Quer isto dizer, que com 75 anos estou mais velho que com 57. Ora eu não quero envelhecer. Que fazer então? Tenho que deixar de fazer anos, senão envelheço. Por isso, hoje vou deixar de fazer anos, para não ficar mais velho. Assim, torno-me imortal. Os amigos não precisam de ir ao meu velório, o que é bom para eles, já que me têm aturado quanto baste. Além disso, a família não gasta dinheiro nas exéquias, o que se traduz em poupança. Por outro lado, como não vou parar ao forno crematório, contribuo para a diminuição da poluição atmosférica.
Se eu ficasse mais velho, acabaria por morrer, o que me recuso determinantemente. Todavia, se for contrariado neste meu propósito, mesmo morto hei-de me mexer dentro do caixão, em sinal de protesto. E essa será, porventura, a melhor partida que um velho gaiteiro pode pregar aos gatos-pingados que lhe carregam o ataúde. Talvez se caguem todos de medo e larguem a urna para o chão. Nesta altura, soltar-se-á a tampa do féretro, eu aproveito para ressuscitar e de punho direito erguido, gritarei:
- IMORTALIDADE SEMPRE! ANIVERSÁRIO NUNCA MAIS!

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A Banda de Música de Jorge Carrapiço

 

Fig. 1 - Composição da Banda e distribuição dos músicos pela mesma, da autoria
do Maestro Mário Tiago, da Sociedade Filarmónica Artística Estremocense.


À Sociedade Filarmónica
Artística Estremocense
na passagem do seu
150.º Aniversário

Estremoz e as Bandas de Música

No concelho de Estremoz existem 3 Bandas de Música: Sociedade Filarmónica Luzitana, de Estremoz (Fundada a 25 de Agosto de 1840), Sociedade Filarmónica Veirense (Fundada em 19 de Março de 1870) e Sociedade Filarmónica Artística Estremocense (Fundada a 11 de Agosto de 1871). Qualquer delas tem um historial respeitável, o qual merece ser conhecido, sendo que a fundação da Banda mais antiga remonta aos finais da primeira metade do séc. XIX.
Desde a sua fundação que estas Bandas actuam não só no concelho, como um pouco por todo o Alentejo, em eventos religiosos (procissões, missas, funerais e romarias) e eventos civis (concertos, desfiles, festas e touradas).

Bandas de Música na barrística de Estremoz
Um dos eventos religiosos em que as Bandas participam é a Procissão do Senhor Jesus dos Passos, que tem lugar no domingo anterior ao Domingo de Ramos. Aquela procissão foi perpetuada no barro por Mariano da Conceição nos anos 40 de séc. XX. Nela o barrista incluiu uma Banda de Música. De então para cá, os barristas de Estremoz, cada um deles com o seu estilo muito próprio, têm modelado Bandas de Música, nas quais é variável o número e o tamanho dos executantes, o tipo de instrumentos usado, bem como o figurino e as cores do fardamento.
Em geral, as Bandas produzidas pelos nossos barristas e cuja beleza não está em causa, foram modeladas de um modo ingénuo que já vem detrás e também ao sabor do momento. Só assim se explica que algumas dessas Bandas possam não apresentar instrumentos que são fundamentais e incluam outros que pouco sentido fazem numa Banda (ferrinhos, maracas, pandeiretas), bem como instrumentos cuja definição não permite saber o que são.

Uma Banda de Música para mim
A minha colecção integra há já algum tempo, uma Banda de Música de José Moreira e outra de Quirina Marmelo, as quais apresentam algumas das características acima referidas. Daí que tenha pensado em incorporar na minha colecção uma Banda de Música que sem perder o cunho verdadeiramente popular, traduzisse no barro com naturalismo, todo o contexto que lhe está associado. Visando este fim e após alguma reflexão, tomei as seguintes medidas:
1 – Escolhi como barrista, Jorge Carrapiço, bisneto de Ana das Peles, músico e executante de trobone na Sociedade Filarmónica Artística Estremocense, o qual acedeu a modelar uma Banda de Música com as características por mim indicadas.
2 – Convidei o Maestro Mário Tiago da Sociedade Filarmónica Artística Estremocense, a esboçar uma Banda de Música, definindo o número de executantes de cada instrumento, bem como a sua posição dentro do conjunto, como se tratasse de uma Banda real. Aquele Maestro correspondeu à minha solicitação, fixando aqueles parâmetros. É, pois, de sua autoria a maquete que estabelece a composição da Banda e a distribuição dos músicos pela mesma (Fig. 1). Os instrumentos que a integram pertencem a diferentes categorias: PERCUSSÃO (caixa, bombo, pratos), METAIS (tuba, trombone, contrabaixo, bombardino, trompa, trompete), PALHETAS (clarinete, sax alto sax barítono, sax tenor) e FLAUTAS (Flauta). Ao todo são 22 figuras. 
3 – Passei em revista as Bandas produzidas anteriormente por outros barristas, tendo-me agradado muito particularmente uma Banda da autoria de José Moreira, a qual viria a ser tomada como modelo.
4 - Sugeri ao barrista Jorge Carrapiço que executasse a Banda de Música com as seguintes características: - Altura das figuras: 16 cm; - Base quadrangular de 5 cm x 5 cm, com as pontas cortadas em bisel. Topo de cor verde bandeira e orla em zarcão; - Fardamento azul, compreendendo calça e casaco orlado de zarcão à frente e nos punhos. Abotoadura constituída por duas fileiras de 5 botões amarelos; - Chapéu tipo quépi da mesma cor do fardamento, com pala preta e fita dourada à frente, terminada por dois botões da mesma cor; - Botões definidos volumetricamente; - Calçado preto; - Instrumentos modelados com definição.

A Banda de Música de Jorge Carrapiço
O barrista-músico Jorge Carrapiço empenhou-se de alma e coração na criação daquela que passará agora a ser a sua Banda de Música. À simplicidade na modelação das figuras (Fig. 2 a Fig. 16), Jorge Carrapiço acrescentou a definição de todos os instrumentos musicais, à maneira de uma Banda real, sem que cada figura perdesse o seu cunho verdadeiramente popular. Tudo faz sentido na Banda de Música de Jorge Carrapiço, a começar pelos instrumentos musicais que ali estão porque ali não podiam faltar e que estão onde deviam estar.
O cromatismo das figuras assenta em nítidas dicromias quente-frio, que pela sua simplicidade lhes confere uma beleza vigorosa.
A Banda de Música de Jorge Carrapiço passa a partir de agora e por direito próprio a integrar a História dos Bonecos de Estremoz, visto que com ela ocorreu uma mudança de paradigma. O barrista está, pois, de parabéns e a barrística popular de Estremoz está mais rica. São factos indesmentíveis que aqui atesto e registo para memória futura.
A Banda de Música agora executada fica, de resto, a assinalar os 150 anos da Sociedade Filarmónica Artística Estremocense, da qual eu sou associado, Mário Tiago é Maestro e Jorge Carrapiço é trombonista.


Fig. 2 - Maestro.

Fig. 3 - Porta estandarte. 

Fig. 4 - Tuba.

Fig. 5 - Sax barítono 

Fig. 6 - Trombone.
 
Fig. 7 - Contrabaixo. 

Fig. 8 - Bombardino.

Fig. 9 - Sax alto. 

Fig. 10 - Trompa

Fig. 11 - Sax tenor. 

Fig. 12 - Caixas

Fig. 13 - Bombo.

Fig. 14 - Pratos. 

Fig. 15 - Trompetes.

Fig. 16 - Flautas. 

Fig. 17 - Clarinetes.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Irmãos Ginja e o “Oleiro a trabalhar na roda”


Fig. 1 – Postal máximo triplo realizado com selo de 8$50 da série Instrumentos de
Trabalho, aposto sobre bilhete-postal ilustrado, editado por Hernâni Matos com
base em fotografia de Joaquim Vermelho, reproduzindo “Oleiro a trabalhar na roda”,
exemplar da barrística popular estremocense da autoria dos Irmãos Ginja. O selo foi
obliterado com carimbo comemorativo da I Feira de Arte Popular e Artesanato do
Concelho de Estremoz, reproduzindo a roda de oleiro.


Entre 4 e 15 de Junho de 1980 (já lá vão 41 anos), teve lugar no terreiro do Paço Ducal em Vila Viçosa, o I Encontro Regional de Olaria do Alto Alentejo (Fig. 2). A Comissão Organizadora do Encontro era integrada pelas seguintes associações culturais: Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça, Centro Cultural de Borba, Sociedade Filarmónica Municipal de Redondo, Casa da Cultura de Estremoz e Grupo de Cantadores de Redondo.
Eu integrei a Comissão Organizadora do Encontro, em representação da Casa da Cultura de Estremoz, a cuja direcção pertencia na época.
Por proposta minha aprovada pela Comissão, foi deliberado encomendar aos barristas Irmãos
Ginja de Estremoz, a criação de um Boneco (Fig. 1) que representasse um oleiro a trabalhar na roda, o qual seria utilizado no grafismo do Encontro, nomeadamente no catálogo. Fui então encarregado de tratar de tudo, tendo os irmãos Ginja acedido a criar a figura solicitada, a qual uma vez concluída transportei para Vila Viçosa, onde esteve exposta no Encontro e foi muito apreciada, não só pela sua beleza, como por retratar uma realidade regional no contexto da arte popular.
Por solicitação minha, o Professor Joaquim Vermelho, então director do Museu Municipal de Estremoz, que hoje tem o seu nome, tirou uma fotografia da criação dos Irmãos Ginga (Fig. 1), que então tinham atelier num anexo do Museu Municipal.
Entre 15 e 17 de Julho teve lugar em Estremoz, no Salão Nobre dos Paços do Concelho a I Mostra de Maximafilia de Estremoz (Fig. 3), promovida pela Associação Portuguesa de Maximafilia com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz e da Associação Fotográfica do Sul. Como membro daquelas associações tive a meu cargo a organização da Mostra. Esta integrava-se na I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, que durante o referido período teve lugar no Rossio Marquês de Pombal, frente aos cafés. A Feira, cujo mentor e principal obreiro foi o Professor Joaquim Vermelho, saldou-se num assinalável êxito. Ali expuseram e trabalharam ao vivo, os melhores representantes das múltiplas vertentes da nossa arte popular concelhia.
Por iniciativa da Câmara Municipal de Estremoz e da Junta de Freguesia de Santo André, no recinto da Feira funcionou no dia 15 um posto dos CTT, provido de um carimbo comemorativo do evento, ilustrado com uma roda de oleiro, o qual foi aposto em toda a correspondência apresentada para o efeito (Fig. 1, Fig. 4, Fig. 5, Fig. 6).
No Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, inaugurado no passado dia 9 de Agosto, está patente ao público um exemplar de “Oleiro a trabalhar na roda”, deixado em depósito pelo coleccionador Alexandre Correia, semelhante ao da Fig.1, mas cuja execução pelos Irmãos Ginja é posterior ao da Fig. 1. Trata-se de uma figura que pela sua beleza merece a nossa atenção numa visita ao Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.

Fig. 2 – I Encontro Regional de Olaria do Alto Alentejo. Cartaz com ilustração
reproduzindo desenho a tinta-da-China de Carlos Alves.

Fig. 3 – Cartaz da I Mostra de Maximafilia de Estremoz, ilustrado com “Oleiro
a trabalhar na roda”, espécime da barrística popular estremocense da autoria
dos Irmãos Ginja.

Fig. 4 – Postal máximo triplo realizado com selo de 8$50 da série Instrumentos
de Trabalho, aposto sobre bilhete-postal ilustrado, editado por Associação
Portuguesa de Maximafilia com base em fotografia de Susana Lopes,
reproduzindo “Oleiro Ilídio Fonseca a trabalhar na roda”. O selo foi obliterado
com carimbo comemorativo da I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho
de Estremoz, reproduzindo a roda de oleiro.

Fig. 5 – Postal máximo triplo realizado com selo de 8$50 da série Instrumentos
de Trabalho, aposto sobre bilhete-postal ilustrado, editado por Hernâni Matos
com base em linoleogravura de Rui Simões Alves. O selo foi obliterado com
carimbo comemorativo da I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho
de Estremoz, reproduzindo a roda de oleiro.

Fig. 6 – Sobrescrito comemorativo da I Feira de Arte Popular e Artesanato do
Concelho de Estremoz, ilustrado com desenho a tinta-da-china de Carlos Alves,
acompanhado de quadra de António Simões ”Barro incerto do presente /
Vai moldar-te a mão do Povo / Vai dar-te forma diferente /
P´ra que sejas barro novo”. O sobrescrito foi franqueado com selo de 8$50 da
Série Instrumentos de Trabalho, obliterado com carimbo comemorativo da
I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, reproduzindo
a roda de oleiro. Devido a insuficiência de porte, o sobrescrito foi porteado
pelos CTT. O sobrescrito foi-me endereçado pelo oleiro Mário Lagartinho da
Olaria Regional.

domingo, 8 de agosto de 2021

Jorge da Conceição e a bailadeira de arco



Bailadeira de arco. Jorge da Conceição (1963-   ).

Dentre as várias bailadeiras de arco criadas por Jorge da Conceição, houve uma que despertou a minha particular atenção, não só pela modelação perfeita como é timbre do barrista, como pelo seu rico cromatismo, do qual transparece e irradia forte carga simbólica.
Em termos de modelação, seja-me permitido parafrasear a linguagem dos jogadores de póquer, que quando não têm jogo, clamam:
- Passo!
Eu também passo, já que não tenho palavras para traduzir, o quanto gosto da modelação. Todavia, sempre sou levado a dizer que para além do mais rigoroso respeito pela modelação ao modo de Estremoz, ocorre aqui uma mudança de paradigma. A demanda de perfeição pelo barrista, faz guindar a sua obra do patamar da arte popular para o degrau da arte erudita.
Em termos estéticos e para além da modelação fortemente naturalista, ressalta sobre um ponto de vista cromático, uma pentacromia harmoniosa, sabiamente escolhida com recurso a uma cor fria (verde – 2 tonalidades), duas cores quentes (zarcão – 2 tonalidades; amarelo – 2 tonalidades) e duas cores neutras (branco e castanho).
As cores quentes e o branco simbolizam a luminosidade da estação. O desabrochar e o reverdecer da natureza estão traduzidos pelo verde do vestido e da base da figura, bem como pelo verde das flores do arco e das folhas do buquê. A ligação da Primavera à natureza e à terra, é assegurada pelo castanho da orla da base da figura.
A finalizar, observo que a criação do barrista revela duas inovações. Uma delas é a introdução de pormenores morfológicos na modelação das flores do arco. A segunda é a utilização da simetria por alternância, na disposição dessas mesmas flores, a qual reforça a harmonia de conjunto.
Em suma: o barrista é credor da nossa admiração, pelo que lhe endereço os meus parabéns por este trabalho. E é claro, um grande abraço. Pois, claro!