terça-feira, 27 de julho de 2021
Hernâni Matos: do lado esquerdo, o centro
terça-feira, 22 de junho de 2021
Homenageando o Professor Hernâni Matos
HOMENAGEANDO O PROFESSOR HERNÂNI MATOS
Professor Hernâni Matos
Junta a teoria aos factos
Com muita desenvoltura;
P’lo muito que tem feito
Merece o nosso respeito
Por ser homem da cultura!
Dos vultos mais competentes
Em áreas tão diferentes
Numa muito longa lista:
É um insigne escritor
Etnógrafo, professor,
E Mestre filatelista
É expositor e jurado,
“Expert” do figurado
Essa arte, (que tão nobre,)
Património Imaterial
Deste nosso Portugal
Que tanto orgulho nos cobre!
É firme nas convicções
E em certas reflexões
Que por vezes o consomem...
É excelente escritor
Um “Franco-atirador”
Mas mais que tudo é um HOMEM!Quem o conhece de perto
Reconhece-lhe por certo
Virtudes que são verdades...
Admirá-lo é um direito
Prestando assim o seu preito
A quem só tem qualidades...
Professor, meu grande amigo,
Em boa hora lhe digo:
Pelo crer que a si se pôs,
Ganha, pois, o meu louvor
Por ser um grande SENHOR
Desta cidade Estremoz
domingo, 20 de junho de 2021
Pode alguém ser quem não é? / A propósito de Hernâni Matos
sexta-feira, 18 de junho de 2021
Naquela esquina um amigo
terça-feira, 15 de junho de 2021
Professor Hernâni: das Ciências à preservação da Cultura
A
recordação mais antiga que tenho do professor Hernâni Matos é das aulas de
Química, do 10.º ao 12.º ano. Homem de altura imponente e voz forte, um pouco
austero na primeira impressão, conseguia manter desde o início a ordem na sala
de aula e ganhava também o respeito dos alunos pela sua segurança no
conhecimento e no ensino das matérias. A convivência permitia também conhecer o
seu sentido de humor muito próprio. O programa de Química estava todo explicado
nos acetatos que projetava durante as aulas e que entregava para fotocopiar e
distribuir entre os alunos. Incentivava a prática de muitos exercícios, o que
era fundamental para a consolidação da aprendizagem.
Sempre
foi evidente o seu zelo pela organização e sistematização, fundamental para
viabilizar a disponibilidade de tempo para os seus muitos interesses para além
da ciência. Penso que a sua maior paixão na altura era a filatelia, mas muitos
interesses se foram juntando com um espírito persistente, minucioso, curioso,
irrequieto, ativista, resiliente, colecionador e empreendedor.
Quando
penso no professor Hernâni, não consigo deixar de pensar também na companheira
da sua vida, a professora Fátima, com o seu ar discreto e sereno. Diz-se que ao
lado de um grande homem, há sempre uma grande mulher. Será também aqui o caso
pelo seu cuidado com a família, persistência, resiliência, mostrando bonita
admiração pelos projetos do seu marido.
De
facto, o professor Hernâni tem feito um trabalho notável de recolha, reflexão,
promoção e preservação do património cultural português e, particularmente, da
cidade de Estremoz e da sua barrística. Fê-lo por diversos meios e iniciativas,
não ficando também de fora da revolução da internet com o seu blogue “Do tempo
da outra senhora” e página do Facebook. Enquanto filhos desta terra alentejana
e cidadãos portugueses, ficamos-lhe gratos por todo este trabalho e empenho.
Bem-haja, professor Hernâni.
Filipe Glória Silva
segunda-feira, 19 de abril de 2021
Dois em um
terça-feira, 13 de abril de 2021
Professor para sempre...
O Hernâni era um bom professor, dominava completamente os assuntos que abordava, preparava as aulas e lecionava-as de forma muito profissional e por vezes, adicionava uma “pitada” de humor nas suas exposições. Mas quando se zangava… era de fugir. “A malta” respeitava-o e gostava dele.
No segundo período o professor Hernâni rumou a outras paragens e deixou-nos com “a filha nos braços”. Foi substituído por uma jovem professora do Norte. A turma sentiu a sua falta.
No final do 12.º ano fiz uma limpeza à papelada que havia em casa e joguei fora todos os cadernos da escola de todas as disciplinas, exceto o de Física do 12.º ano. Vá-se lá saber porquê!... Conteria informação preciosa? Mais de 40 anos depois, voltei a abri-lo para pesquisar o esclarecimento que hoje necessito. No primeiro ano da universidade, enrascada com a Mecânica, recorri aos apontamentos do Hernâni Matos, que me deram jeito e me safaram no exame de Física Geral I.
Em 1986, regressei à Escola Secundária de Estremoz como professora do grupo 4.ºA (Física e Química). O Hernâni era o delegado de grupo e voltou a dar-me uma lição no que respeita à dedicação e envolvimento nesta sua função na escola. Desde a preparação das reuniões, planificações, participação nas discussões até à realização de exposições e outras atividades, rotulagem e catalogação de materiais e equipamentos, o Hernâni despendia todo o seu potencial e deixou na escola, algumas referências que os colegas ainda hoje utilizam. Considero-o “um homem sem medo”, decidido, desenrascado, sincero, frontal, lutador e como ele próprio dizia “capaz de apanhar o touro pelos cornos”. Com o aparecimento e desenvolvimento das novas tecnologias, o Hernâni depressa criou uma simbiose com os computadores, e também me considero sua discípula neste território devido a algumas aprendizagens que fiz com ele.
Compartilhámos ações de formação, reuniões, materiais, momentos de trabalho e momentos de convívio. A relação profissional evoluiu para uma afinidade que se estabeleceu entre nós, gerando uma amizade, e tenho pelo Hernâni um sentimento de afeto, carinho, confiança e admiração por tudo aquilo que faz.
Para além de professor de Física e Química, o Hernâni deu outras grandes lições. Quando comparecemos em exposições de filatelia enriquecemos os nossos conhecimentos históricos sobre temas associados a acontecimentos, lugares, países, objetos… e ele organizou muitas. Quando assistimos às suas palestras aprendemos sempre algo na exposição divulgada e ele deu algumas sempre motivantes, enriquecedoras e bem-humoradas.
Em 1998 fiz parte da Direção da Escola e o Hernâni deu-nos todo o seu apoio, fazendo parte da Assembleia de Escola e foi convidado a dinamizar o Centro de Recursos, fazendo como é seu apanágio, um excelente trabalho.
Aposentou-se como professor da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel de Estremoz tendo-me oferecido algum do seu património na área da Física e da Química. Reformou-se mas não parou de doutrinar, divulgar e mostrar toda a sua dedicação à Cultura Portuguesa com ênfase nos Bonecos e Olaria de Estremoz.
Não sei se diga que o Hernâni entregou a sua vida a dar lições ou se deu uma grande lição de vida onde florescem ideias que se casam uma nas outras, se multiplicam e acrescentam pontos para completar um conto que vai com certeza fazer parte da História de Estremoz.
domingo, 11 de abril de 2021
Quando levantar o cerco
Só conheci o Hernâni neste século, apesar de ter ido para a Valeja, a 14 km de Estremoz, com uma semana de idade e de aí ter passado até aos 20 anos, Natais, Páscoa e parte das férias grandes, com idas a Estremoz, semanais e nos dias de festa. Só passei a conhecer Estremoz e a lembrar aspectos do meu crescimento com o blogue que o Hernâni tem mantido vivo, com a sua paixão multifacetada, acompanhando e defendendo a integridade do património cultural com independência, isenção e conhecimento meticuloso.
São inúmeros os agradecimentos que deveria fazer ao Hernâni, da gastronomia que partilhámos, às conversas na Feira de Velharias, onde ele salvava objectos abandonados, passando pelos muitos amigos comuns e vivências relembradas.
Só aguardo o levantar deste cerco às nossas vidas para voltar ao Sábado à Terra de que mais gosto neste país que tenho percorrido e almoçar com o Hernâni no Tira-Picos.
sexta-feira, 9 de abril de 2021
Hernâni, o professor, o colega, o pai de Catarina e o amigo
Os professores contagiam e eu voltei à escola para, também, ser professora. E tive o privilégio de rever alguns dos meus professores e, entre eles, estava o colega Hernâni. Éramos os dois professores de Física. Só que ele da Física e Química e eu da Educação Física. Inércia, atrito, leis de Newton, velocidade, força e resistência, entre outros assuntos, são aspetos comuns às duas. Foram matérias que, também aprendi, no 9º ano, com a Fátima.
Em Abril de 2001, organizámos conjuntamente uma estafeta entre Évora e Estremoz, assegurada por cerca de 50 alunos da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. A estafeta constituiu uma das actividades de animação das Exposições Filatélicas “ESTREMOZ 2001” e “FILAMOZ 2001”, integradas no programa da FIAPE e visava transportar a mala postal entre a Estação dos Correios do Largo das Portas de Moura, em Évora e o Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz, local do acto inaugural daquelas exposições. A mala transportada sucessivamente pelos alunos, continha correspondência marcada à partida com a marca de dia de serviço na Estação, assim como o carimbo de trânsito de “Correio por Estafetas”, sendo marcada à chegada com o “Carimbo Comemorativo do Centenário de Tomaz Alcaide”.
Quando a Catarina, filha da Fátima e do Hernâni, chegou ao ensino secundário, foi a minha vez de ser a sua professora.
Somos exemplo, de como a escola nos ligou. E, quando passados, cerca de 35 anos, recebo o seu convite para escrever, chamo-lhe amizade.
Obrigado Hernâni pelos seus ensinamentos e pelo gosto insaciável de partilhar conhecimento.
domingo, 4 de abril de 2021
Hernâni, Homem de Cultura!
HERNÂNI, HOMEM DE CULTURA!
Amigo que no tempo perdura
Por isso é que eu digo aqui
Hernâni, homem de cultura!
A mim não me leccionou
De estudar não se cansou
O que faz é por amor.
Deixo-lhe assim o louvor
Porque eu nunca fingi
Enquanto assim eu cresci
Descobrindo coisas boas
Foi uma dessas pessoas
Faz anos que o conheci.
Para os encontros de poetas
Queria atingir suas metas
Em tudo o que organizava.
Ninguém sequer o calava
Tinha até certa “bravura”
Quando alguma criatura
As voltas, lhe queria trocar
Vou então sempre afirmar
Amigo que no tempo perdura.
Também ele se dedica
À arte da Filatelia
E cada evento que cria
De coração cheio se fica.
Há mesmo quem o critica
Mas eu jamais percebi
Porque se o Sujeito segui
Sei que sabe muito de História
Não me sairá da memória
Por isso é que eu digo aqui.
Pode-se provar ser verdade
Falar sobre esta cidade
Só como ele sabe e se atreve.
Que um dia destes se eleve
Para lembrança futura
Justa homenagem em escultura
Deste Ser mui sabedor
Dando-lhe o devido valor
Hernâni, Homem de Cultura!
sexta-feira, 2 de abril de 2021
O jogo ainda não acabou!
Falar do Prof. Hernâni Matos foi o desafio colocado. Talvez eu possa dizer que não é muito difícil falar do Prof. Hernâni, como possa dizer que não é muito fácil falar do Prof. Hernâni. Não porque a vida do Prof. se me afigure uma antítese ou algo que é alguma coisa e o seu contrário. Não. Vou tentar explicar. Não é fácil falar do Prof. Hernâni porque nunca foi meu professor, nunca tive com ele um relacionamento, estreito ou muito próximo e nunca desenvolvi com ele nenhuma actividade cultural ou social.
Não será difícil conhecer o Prof. Hernâni porque o seu trabalho é publico e notório. Não falo da sua profissão e da sua dedicação à causa, seguramente. Não. Falo das questões políticas e culturais. Na política cruzei-me com o Prof. várias vezes, tive o enorme gosto e honra de o entrevistar na “minha Rádio Despertar” em várias ocasiões e de ter percebido a sua dimensão humana e intelectual. Creio que a nossa primeira conversa foi com o Dr. Dias Sena, quando este foi candidato à Câmara Municipal de Estremoz. Lembro-me de várias conversas, lanches até, recordo mesmo uma tarde com o Eng.º Vítor Silva, entre outros, no quiosque do Rossio Marquês de Pombal, dias depois de o Dr. José Dias Sena ter sido eleito Presidente e se preparar mais uma edição da FIAPE… Mas, como sempre vi o Prof. Hernâni, para lá do seu grave vocal, foi a de um homem sonhador, dedicado, estudioso, trabalhador, historiador. Envolvido e envolvente.
Leio atentamente o seu blogue “Do Tempo da Outra Senhora” e alegra-me muito que alguém se preocupe com o nosso passado colectivo, neste caso muito focado em Estremoz, nas suas gentes, nos seus hábitos, tradições e costumes. Está a fazer História, está a deixar História e está sobretudo a deixar ferramentas às gerações vindouras. Um trabalho importantíssimo e de grande mérito.
Lembro-me do Prof. igualmente pela sua paixão à Filatelia. Por culpa sua, ao ver uma exposição, comecei uma colecção de selos. Não tenho muitos, tenho alguns, mas o coleccionador ficou, há muito, pelo caminho. Mas mantive os selos.
Por fim, acompanhei e acompanho, o seu excelente trabalho desenvolvido à volta da barrística de Estremoz, aos “Bonecos”, do seu apoio, entrega e paixão a esta arte tão enraizada na Cidade de Estremoz, que lhe vale hoje a sua elevação a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Por tudo isto e por tanto mais com certeza, não se pode afigurar difícil falar sobre o Prof. Hernâni, a exposição pública das suas actividades, a sua acção pública e empenhada pela valorização e perpetuação, mesmo a um nível antropológico da História de Estremoz e das suas gentes, bem como a sua intervenção política. Tudo isto fez e faz, com que o Prof. Hernâni não seja mais um na bancada a assistir aos jogos. Sempre o vi em campo. Em vários campos e é assim que espero continuar a vê-lo por muitos mais anos. Assumindo as suas lutas, trabalhando e partilhando as suas obras.
Prof., o “jogo” ainda não acabou, meu caro. Não será um homem consensual, nem poderia ser. As pessoas que abraçam causas e dão a cara por crenças, nunca o serão. O meu abraço e da minha parte muito obrigado pelos seus excelentes trabalhos e dedicação!
José Gonçalez
quarta-feira, 31 de março de 2021
MANIFESTO PRÓ-HERNÂNI à maneira de Almada, com PIM e tudo!
O Hernâni é homem de paixões arrebatadas: pelo Alentejo, por Estremoz, pela cultura popular que coleciona com a voracidade de quem sabe que daquilo já não há quem faça mais!
O Hernâni é guardião de tesouros e preciosidades de antanho, das memórias de um tempo que já não existe, mas que é preciso não esquecer, tanto pelas boas como pelas más razões.
O Hernâni fez da escrita uma arma de pontaria certeira para lembrar que o passado define quem somos e que não o podemos descartar sob pena de perdermos a nossa identidade cultural e coletiva!
O Hernâni é uma instituição, a memória viva de Estremoz, das suas gentes e das suas tradições!
O Hernâni diz o que pensa e o que sente, sem subterfúgios, doa a quem doer, e ganhou o direito de o fazer porque tem feito muito pela sua terra. Só é pena que, como diz o rifão, “santos da casa não façam milagres”!...
O Hernâni dinamizou, durante anos, um espaço aberto a colecionadores e artistas, um espaço de diálogo, de encontro e de partilha que muito animou a cidade e que a cidade não deveria esquecer!
Na verdade, uma cidade que tem a força motriz de um Hernâni que não consegue estar quieto nem um segundo e que a todo a hora faz propostas e lança ideias cuja primeira intenção é valorizar e melhorar a terra em que nasceu deve, no mínimo, estar reconhecida pela sua existência!
Por este amor tem feito das tripas coração, tem até engolido sapos, o que só confirma a fortaleza e a grandeza dos seus sentimentos!
Por este amor, o Hernâni tem construído um sólido enquadramento teórico que ficará para a posteridade e que lhe permite, como a qualquer apaixonado, tomar a liberdade de ousar!
O Hernâni tem sido candeia que vai à frente: questiona ideias feitas, desafia convenções, desafia artesãos! E estes respondem-lhe à letra para gáudio e satisfação do seu coração - que nessas alturas é de menino! - que mais não poderia desejar! E respondem aos seus desafios por saberem que ele respeita e valoriza a sua arte como poucos!
Viv’ó Hernâni, Viva!
segunda-feira, 29 de março de 2021
Preservar memórias
Estremoz, 4 de março de 2021
domingo, 28 de março de 2021
O meu posto é aqui!
É forte o meu amor pelos Bonecos de Estremoz. É como se a Terra-Mãe de barro se tivesse fundido comigo num acto de paixão perene que me aquece e alegra a alma. Por outras palavras: tenho os Bonecos de Estremoz na massa do sangue. Eles são o meu amor de todas as horas e acompanham-me para onde quer que eu vá. Longe de ser um fardo, é uma missão que assumi de corpo inteiro. De tal modo que por vezes me vejo obrigado a puxar das divisas e a proclamar:
- O meu posto é aqui!
Esse o significado da presente fotografia de quem não nasceu para posar para fotografias, mas antes para rasgar horizontes, já que é para serem rasgados que os horizontes existem. Todavia, os horizontes fogem de mim e sempre que avanço na minha caminhada, os horizontes passam a ser outros, até eu passo a ser outro, porque, entretanto, cresci durante a caminhada.
Recolectar, observar, analisar, ver para além do óbvio, estudar, investigar, pulverizar os dogmas e as verdades de conveniência onde alguns gostam de se acoitar e acabam por se atolar, são alguns dos passos dessa caminhada.
Boniqueiro das palavras ou picareta escrevente tanto faz. O que interessa é o que escrevo e como escrevo, já que se escrevo e porque escrevo é espontaneamente da máxima importância, por ser tão vital como o respirar, o comer, o dormir e o procriar. E a voz que é minha com a força e a legitimidade de provir igualmente da Terra-Mãe, tal como eu nunca se rende e mesmo em momentos difíceis proclama comigo e a uma só voz:
- O meu posto é aqui!
sexta-feira, 26 de março de 2021
Hernâni Matos: uma referência na vida estremocense
Traçar o perfil biográfico de quem quer que seja, não é tarefa fácil, muito menos do Professor Hernâni Matos. Limitar-me-ei a alguns tópicos resultantes da minha interação com ele.
No ano de 1994, conheci pessoalmente o Professor Hernâni Matos como autarca na Assembleia Municipal de Estremoz, à qual eu prestava assistência como funcionário do Município. Aos sábados de manhã era vulgar encontrarmo-nos no Café Alentejano, onde em torno de uma bica, o tema de conversa eram os assuntos pertinentes da ocasião, abordando-se também a sua prestação no órgão autárquico e os projetos que desenvolvia na altura (Filatelia, Animação Cultural e Imprensa local). Muitas vezes coloquei à sua disposição os meus conhecimentos no arranjo e produção gráfica de trabalhos das diversas áreas em que tem intervindo.
A meu ver, o seu papel como autarca traduz-se até aos dias de hoje, numa das melhores prestações que o órgão conheceu. Foi ele que implementou a utilização de actas electrónicas na Assembleia Municipal. Era um homem que só precisava da coragem e da força de vontade para lutar por aquilo em que acreditava.
O Professor Hernâni, com o seu espírito persistente, gosta de aprender e ensinar. Desta forma, sabe como ninguém, pensar com serenidade e ponderação.
Há cerca de 50 anos que vem desenvolvendo intensa e diversificada atividade cultural a nível local. Como filatelista alcançou projeção internacional, tendo recebido inúmeros prémios e distinções. Há 12 anos que mantém um blogue dedicado à Cultura Portuguesa, muito em especial à Cultura Popular, com especial incidência no âmbito local e regional. Colaborador ativo da Imprensa local, publicou 4 livros com os conteúdos centralizados em Estremoz.
Pela sua postura cívica representa um exemplo a seguir por qualquer um que tenha a consciência do dever para com a sociedade a que pertence.
terça-feira, 23 de março de 2021
Amizade em tempos de Covid ou sobre os seres que são catedrais
Dou comigo a pensar que o corpo com que nascemos nos molda. Como
se as características físicas fossem os atributos extensíveis da nossa
personalidade. Ou talvez seja ao contrário. Que o corpo se vai moldando de
forma a albergar a dimensão dos nossos interesses, dos nossos valores, do nosso
conhecimento, de como somos com os outros à medida que crescemos.
Em 2019, quando embarquei no Curso de Técnicas de Figurado de
Estremoz, estava longe de imaginar que a minha vida ia dar uma volta de 360
graus. Mas uma grande volta deu a minha vida, de tal
forma que, inspirada e apaixonada pelo que
tinha aprendido, deixei um emprego certo e decidi dedicar-me à
incerteza de ser artesã e fazer bonecos. Uns mais inspirados nos de Estremoz do
que outros, mas sempre com os de Estremoz, e o que aprendi no curso, no
horizonte e como ponto de partida.
Neste meu salto em queda livre, foram muitos os que me foram
abrindo para-quedas, de tal forma que acabei por perceber que afinal
não era uma queda, mas sim um voo. E ninguém como o Hernâni Matos, que agora
tenho o privilégio de ter como Amigo, e que me tem acompanhado neste voo
e tem sido uma ponte sólida entre o meu trabalho como artesã e o mundo
dos Bonecos de Estremoz.
Não me esqueço o sábado de sol, de um princípio de verão, no dia
em que nos conhecemos. Um dia da era estranha dos tempos Covid, que não são
ainda dias do passado, mas que espero, possam sê-lo em breve. Ambos de máscara
posta, adereço uniformizador da nossa vulnerabilidade humana, escudo que
nos protege a vida, mas que nos afasta da riqueza codificada das
expressões faciais. O que era para ser uma entrega de uma peça à laia de um
café, tornou-se numa conversa que teria durado todo o dia, não fosse a sardinhada
em família que o Hernâni tinha agendado para esse sábado.
A mente do Hernâni é como as cartolas dos mágicos, e exerce o
mesmo fascínio para quem tem a sorte de privar com ele. Nem bem acabado
que está de sair o primeiro coelho, já uma pomba, um lenço, uma rosa se põem em
fila para sair também, num desfile inesgotável e surpreendente, cada um como
consequência inevitável do outro. Dos cumprimentos formais "do como está,
é um prazer conhecê-lo finalmente", o Hernâni deslindou o primeiro
"coelho da sua cartola" com a lenda de São Roque e do seu
confinamento visionário, em tempos de outras pandemias, e sobre o cão que lhe
trazia pão e que lhe permitiu sobreviver. Do São Roque passou-se aos apitos. Os
mais tradicionais, os mais contemporâneos. Fiquei a saber que o Hernâni prefere
os mais singelos. Depois a conversa discorreu para a origem carnavalesca das
figuras do Amor é Cego, da sua possível inspiração nas obras barrocas com
cupidos e outros anjos. Daí passámos à Primavera, às peças de inovação, o percurso
histórico dos Bonecos. Outro truque da cartola, e o Hernâni falou do seu
percurso profissional como aprendiz de alfaiate, e depois como professor de
Física no Liceu. Mencionou um aluno brilhante que teve, o seu perfeccionismo já
evidente, e que se transformou num dos grandes do Figurado Português, com o
qual tive o privilégio de aprender o que sei de figurado - o Mestre Jorge
Palmela. Logo a conversa se virou para os novos artesãos, os mais velhos, os
que já não estão. E daquela cartola não parariam de sair
"coelhos e pombas", na analogia possível aos temas de
grande interesse que ali partilhávamos, não tivesse chegado a hora do almoço.
O mercado de sábado, que me parecia acontecer apenas com o
propósito de servir de cenário à nossa conversa, era já um baile de gente
a arrumar bancadas e outras de sacos nas mãos a transbordar com ramas verdes,
comprando um último ingrediente, ou fazendo uma última negociação de
algum achado em segunda mão, antes do regresso a casa.
E assim, sob o olhar atento da fonte do Sátiro, do
escultor Sá Lemos, nos despedimos. Sem abraços, ou outras manifestações de
proximidade, porque os tempos não estão para isso.
No regresso a casa vim a pensar no quanto aquele homem de 74 anos,
ao qual praticamente só vi os olhos, leva dentro. Tanto conhecimento, tanta
força, tanta generosidade, tanto amor por tantas coisas e um incomensurável
pelos Bonecos, que o seu corpo mais não poderia ser se não um corpo alto,
basilar, com a elegância da idade e das coisas interessantes às quais dedica o
seu tempo.
Desde então são inúmeras as vezes que trocamos ideias. Não se
cingem aos bonecos, nem ao eterno dilema, tão velho como a própria arte em si,
da tradição versus a inovação, que pano para longas mangas tem dado aos
Bonecos da Cidade Branca. Outros temas afloram, alguns de cariz mais
atual, outros mais poéticos e oníricos. Em todos eles sempre a mesma
generosidade, cuidado, mente crítica, conhecimento profundo,
sensibilidade e, a qualidade mais preciosa entre todas - humanidade.
Seres como Hernâni são seres raros, bons, necessários cuja
contribuição para o bem maior é indelével. E por isso têm corpos como
catedrais, fortes, amplos, erguidos, para que neles possa existir o universo
vasto que contêm.
Que acabem rápido estes dias covidescos, e que a nossa amizade
possa fazer-se de mais dias de verão, numa esplanada de Estremoz, irradiada
pelo sol e pela partilha de saber, de interesses comuns e pelos nossos
sorrisos.
Joana Santos
Foros do Queimado, 1 de Março de 2021
domingo, 21 de março de 2021
O professor Hernâni
sexta-feira, 19 de março de 2021
Hernâni Matos, pois claro!
Mal o
ano chegou, mais concretamente, no começo
do mês em curso, mandou missiva. Ai, conseguirei
cumprir?
– Catarina, ajuda-me. Confirma
aí, o antecessor que te apresentou ao mundo… antes
de Carmelo, chama-se…?
– …
– Ah,
maravilha! Haja alfabeto!
Anteontem,
madrugada adentro, ambiente criado, concentrei-me
e consegui caracterização.
Homem
da cultura, ativista, melómano, apreciador de artistas
e de aguarelistas, complementa o curso de ciências,
amando conjuntamente as artes e ainda os herdeiros
das cantigas de amigo e de amor, ansiando constantemente
homenagear com afinco Antero, os Antónios, e
Almada, o Almeida, Cesário e Camões, os modernistas
e os mais que couberem.
Mestre
maior a avivar memórias, habitual mentor, é hábil
conhecedor de adágios e aforismos, anexins dos antepassados,
o antigo mister campesino. Curioso por aprender
mais e mais ainda, é um colecionador compulsivo
de arte campestre, ajudante máximo da arte
dos artesãos da cidade e do Alentejo, não se cansando
de mostrar os de agora, que maravilhosamente manuseiam
a massa à moda antiga.
É colaborador
assíduo dos meios de comunicação cá da cidade
com crónicas e comentários carregados de maravilhosas
metáforas e habitualmente muito atento às causas
maiores, à contribuição cívica como cidadão deste
aglomerado e dos arredores, do cantinho, do mundo.
Em
1995, em maio, aproximou amigos, de modo multidisciplinar,
e assegurou apresentações, ajustadas à área, de múltiplas
comunicações acerca da água. Da mesma maneira,
constantemente agrupa colegas, atribui um mote,
e matuta na melhor maneira de criar concursos.
Há anos,
convidou-me a apresentar a minha coleção de corujas,
conseguindo que se carregassem milhares, de muitos materiais,
o que cativou adeptos do colecionismo, colhendo agradáveis
apreciações.
Acabo
aqui, caro colega, almejando cabeça e musculada
massa cinzenta que aguente acompanhar-te em mais
coisas mil, manifestando além do mais, e atenta
no meu humilde conselho, que conserves a mesma
atividade abundante e absoluta firmeza.
Concluo,
assim, este é o habilidoso, acelerado, célebre e metódico
Hernâni António Carmelo de Matos, pois com certeza!