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sexta-feira, 23 de março de 2018

Valha-nos a Rainha Santa!


1 - Um aspecto do acesso à Capela da Rainha Santa Isabel após os gradeamentos
oitocentistas das janelas laterais terem sido visados pela cobiça de amigos do
alheio. Fotografia de Catarina Matos. Arquivo do autor.

Saiu gorada a tentativa de roubo do gradeamento das janelas que ladeiam o portão de acesso à Capela da Rainha Santa, junto à Torre da Menagem do Castelo de Estremoz.
O que aconteceu?
Ao início da tarde da passada sexta-feira, dia 9 de Março, data em que se abateu um forte temporal sobre a cidade, alguém sentiu um enorme estrondo devido à queda do gradeamento da janela do lado esquerdo, pelo que foi imediatamente alertar o Director do Museu Municipal.
Chegado ao local, este deu conta da remoção dos parafusos utilizados na fixação do gradeamento às ombreiras de mármore daquelas janelas. Só em baixo é que um parafuso fixava os gradeamentos, pelo que a intempérie se encarregou de derrubar um deles. Tornou-se evidente que alguém, aproveitando-se do facto de o Largo D. Dinis ser desabitado, retirou os parafusos, com o fito de furtar os gradeamentos e os carregar pela calada da noite.
Alertado o Director do Museu Municipal, o mesmo contactou os competentes Serviços do Município, que imediatamente removeram os gradeamentos do local e os transferiram para a Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo, onde ficaram à guarda da mesma.
E agora?
Um responsável do Município terá declarado que os gradeamentos seriam repostos no local onde se encontravam, assim que estejam reunidas condições que permitam chumbar as grades nas ombreiras, visando impedir a repetição da ocorrência.
De salientar que a ferrugem grassa pelos gradeamentos e pelo portão, pelo que seria desejável que após aquela reposição, fosse removida a ferrugem, aplicado um aparelho e dada uma nova pintura naquele conjunto todo.
Alguma História da Capela
Pertenceu à Rainha Dona Luísa de Gusmão (1613-1666), mulher de El-Rei D. João IV (1604-1856), a ideia de adaptar a Capela, os supostos aposentos da Rainha Santa no Castelo de Estremoz, em acção de graças pela vitória do exército português sobre o exército espanhol, na batalha das Linhas de Elvas, travada a 14 de Janeiro de 1689. A Capela que ficou a cargo da Congregação do Oratório de São Filipe Néri, encontrou em El-Rei D. João V (1689-1750) um mecenas e foi sob a sua égide que se concluíram as obras da Capela em 1706. Foi este Rei, descendente em linha directa da Rainha Santa Isabel, que ofereceu à Capela a imagem em madeira policromada e que a seus pés orou, quando visitou a Capela com a sua esposa, D. Mariana de Áustria (1683-1754), em 30 de Janeiro de 1729.
Durante a 1ª Invasão Francesa, os oratorianos retiraram da Capela a Imagem da Rainha Santa, a qual esconderam no Convento dos Congregados, protegendo-a assim do saque dos franceses. Após a retirada destes, em 29 de Outubro de 1808, teve lugar uma solene procissão que com pompa e circunstância trasladou através das ruas da vila, a sacrossanta imagem da Padroeira até à sua Capela no Castelo.
De acordo com Túlio Espanca o terreiro de acesso à Capela, lageado com placas de mármore, “… outrora público, foi fechado no tempo de D. João VI (1767-1826), pelo subsistente portão neoclássico, de mármores regionais, do tipo apilastrado, com empenas interrompidas, sobrepujadas de fogaréus estilizados: grade férrea, de barrinha, elegantemente compostas pelas armas reais e o cronograma de 1825.”
Centro Histórico a saque
O Largo de Dom Dinis é o coração do núcleo do Centro Histórico de Estremoz. Ali nasceu o burgo ao qual os Reis de Portugal se dignaram conceder a distinção de ser designada por “Notável Vila de Estremoz” e que seria elevada à categoria de cidade em 1926.
Ali foram escritas inúmeras páginas da nossa História local, em relação íntima com a nossa identidade cultural de estremocenses. Trata-se assim dum local que deve merecer atenção especial por parte do Município, que continua a afirmar pretender candidatar a cidade a Património Cultural da Humanidade. Não percebemos é como, sobretudo depois de a EDP ter maculado a alvura das paredes com toda aquela execrável cablagem negra, transportadora de sinal eléctrico, mas que simultaneamente perturba e polui visualmente o local, ao introduzir ruído na leitura e interpretação espaço-temporal da Estremoz medieval.
O crime que ali foi cometido não devia ficar impune. Assim o desejam as pessoas de bem, entre as quais eu me situo.
António Mexia, na qualidade de Presidente da EDP aufere um vencimento superior a 6.800 euros por dia, mas isso não confere à EDP o direito de ser dona disto tudo e fazer o que lhe dá mais jeito.
Inverter a situação
A edilidade que sufragada pelo voto popular gere o Município, pretende candidatar a cidade a Património Cultural da Humanidade. Como tal, não pode ser cúmplice do atentado que aqui denuncio, pelo que só lhe resta uma coisa a fazer. Accionar os mecanismos adequados para que a EDP retire dali toda aquela cablagem e a faça passar pelo sub-solo. Levantando a calçada, pois claro!. Se tal não se vier a verificar, é legítimo concluir que afinal o crime compensa e o Centro Histórico está a saque.
Reforço da segurança
Os amigos do alheio poderiam não existir, mas um facto é que os há.
O Largo de Dom Dinis podia ser habitado, mas não o é.
A zona podia ser mais segura, mas tal não se verifica.
Que fazer então?
Em primeiro lugar, promover a reabilitação integral das moradias populares dos bairros do Castelo e de Santiago, gerando uma dinâmica que se traduza na fixação de moradores. Até isso ser feito, deve ser reforçada a segurança da zona. Em particular, no Largo de D. Dinis pode ser aumentada a vigilância policial e implementado um sistema de vídeo vigilância, acções que se podem complementar. Por ali, a necessidade de segurança de pessoas e bens merece isso. De contrário, só nos resta suplicar:
- VALHA-NOS A RAINHA SANTA! 
Cronista do E, defensor do património e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 196, de 22-03-2018) 
NOTA - O jornal E chegou às bancas no dia 22 às 9 horas e os trabalhadores do Município repuseram o gradeamento nesse mesmo dia, cerca das 14 horas. Agora falta o resto.
  

 2 - Estremoz. Imagem da Rainha Santa Isabel quando ainda se encontrava na sua
Capela. A escadaria que dava acesso ao púlpito e que se vê à direita, também já
não existe actualmente. Fotografia de Foto Tony, cerca dos anos 60 do século XX.
Arquivo do autor.

 3 - O Dr. Marcelo Caetano (1906-1980), 1º Ministro de Portugal (1968-1975) à saída
da Capela da Rainha Santa Isabel no decurso duma visita oficial a Estremoz, ocorrida
no fim-de-semana 19-20 de Dezembro de 1970. À sua esquerda, o Dr. Luís Pascoal
Rosado (1922-1971), Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1961-1971). Ao
fundo, são visíveis dum lado e outro do portão, os gradeamentos datados de 1825 e
que recentemente foram alvo de uma tentativa de furto. Fotografia de Rogério de
Carvalho (1915-1988). Arquivo do autor.

 4 - No período 1967-1970 em que decorreram as obras de adaptação do Castelo de
Estremoz a Pousada da Rainha Santa Isabel, os gradeamentos das janelas que ladeiam
o portão de acesso à Capela da Rainha Santa Isabel estiveram protegidos exteriormente
por uma parede de alvenaria. Fotografia de Foto Tony, dos finais dos anos 60 do séc. XX.
Arquivo do autor.

5 - Estremoz. Rainha Santa Isabel, Padroeira de Estremoz. Fotomontagem mostrando
a Rainha Santa pairando sobre a cidade, numa nítida alegoria a ser sua Protectora.
Fotografia de Foto Tony, cerca dos anos 60 do século XX. Arquivo do autor.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Estremoz - Rua 31 de Janeiro


1 - RUA DE SANTA CATARINA (1891) – Ao fundo ainda não existe a Fonte do Hospital
Real de São João de Deus. Os candeeiros da iluminação pública estão implantados
nas paredes dos prédios. Fotografia de C. J. Walowski (1891).

Estudo de toponímia local

 “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança: / Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.” (Camões). É assim que os topónimos identificadores das ruas são modificados no decurso do tempo. A presente crónica procura trazer à luz do dia, as razões históricas que estiveram na origem das alterações sucessivas dum topónimo estremocense, conhecido actualmente como Rua 31 de Janeiro.
Guerra da Restauração
Em 1580 ocorreu a ocupação filipina de Portugal, tendo o nosso país vivido sob o domínio espanhol até à Restauração da Independência em 1 de Dezembro de 1640. Nesta data ocorreu em Lisboa um golpe de estado revolucionário que se propagou a todo reino e levou à aclamação de D. João IV como rei de Portugal. A partir daquela data, Portugal travou com Espanha a chamada Guerra da Restauração. Esta só terminaria a 13 de Fevereiro de 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, no qual é reconhecida a total independência de Portugal.
No decurso da Guerra da Restauração houve necessidade de defender o reino da ofensiva espanhola, mormente em localidades fronteiriças, as quais tiveram que ser fortificadas. Foi o que aconteceu em Estremoz que ganhou importância na contextura militar nacional, uma vez que funcionava como 2ª linha de defesa do território, sobretudo em termos logísticos, já que armazenava armas e mantimentos e aquartelava tropas.
Foi D. João IV que em 1642 ordenou ao engenheiro militar holandês João Pascácio Cosmander, o traçado da futura muralha poligonal abaluartada que cinge o centro histórico num perímetro com mais de 5 Km, cuja maior parte ainda hoje existe. Após a morte de Cosmander em 1648, foi o engenheiro-militar francês Nicolau de Langres, que a partir de 1662 foi encarregue das obras que terminaram em 1671, sob a direcção de Luís Serrão Pimentel, engenheiro-mor do exército. As portas monumentais da muralha só foram concluídas entre 1676 e 1680. Uma dessas portas que ainda hoje estabelece comunicação com as estradas para Sousel-Fronteira e Veiros-Monforte-Portalegre, é a Porta de Santa Catarina, que inclui um nicho de devoção à padroeira, Santa Catarina de Alexandria. Em termos toponímicos e na perspectiva da época seria natural designar por Rua de Santa Catarina a rua que até ao Hospital Real de São João de Deus dava acesso aquela porta, o que veio a acontecer. A partir do Hospital e até à porta a designação toponímica recebida pelo arruamento foi a de Largo de Santa Catarina.
Proclamação da República
A 5 de Outubro de 1910 ocorre o derrube da Monarquia, fruto da acção doutrinária e política do Partido Republicano Português, criado em 1876 e cujo objectivo essencial foi desde o princípio, a substituição do regime. As questões ideológicas não eram primordiais na estratégia dos republicanos, uma vez que para a maioria dos seus simpatizantes, bastava ser contra a Monarquia, a Igreja e a corrupção política dos partidos tradicionais.
Na noite de 3 para 4 de Outubro de 1910, eclodiu em Lisboa um Movimento Revolucionário impulsionado pelo Partido Republicano e apoiado pela Marinha de Guerra e por forças do Exército. Após dois dias de combate, o Movimento Revolucionário triunfa e a República é proclamada na manhã de 5 de Outubro das janelas da Câmara Municipal de Lisboa e é constituído imediatamente um Governo Provisório, presidido pelo Dr. Teófilo Braga, que assume como tarefa fundamental uma mudança radical nas instituições vigentes.
Com a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, há uma mudança de paradigma. Uma Monarquia com oito séculos é substituída por uma República que tomou o poder nas ruas de Lisboa e depois de o proclamar às varandas da Câmara Municipal, o transmitiu para a província à velocidade do telégrafo.
Em Estremoz quem recebeu o telegrama do Ministro do Interior António José de Almeida anunciando a proclamação da República em Lisboa, foi o empresário João Francisco Carreço Simões (1893-1954) seu amigo pessoal e igualmente membro do Partido Republicano. Seria ele a proclamar a República no dia 6 de Outubro de uma sacada da Câmara Municipal de Estremoz, da qual viria a ser Vice-Presidente.
Na sequência da revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, as instituições e símbolos monárquicos (Rei, Cortes, Bandeira Monárquica e Hino da Carta) são proscritos e substituídos pelas instituições e símbolos republicanos (Presidente da República, Congresso da República, Bandeira Republicana e A Portuguesa), o mesmo se passando com a moeda, as fórmulas de franquia postais e os topónimos.
A 1ª República decretou em 1911 uma “Lei de Separação da Igreja do Estado”, de acordo com a qual a religião católica apostólica romana deixou de ser a religião do Estado, cuja laicidade passou a ser defendida. A influência secular da Igreja Católica fazia-se sentir mesmo a nível de toponímia, pelo que os republicanos entenderam que a mesma deveria ser laicizada. Daí que em Estremoz, a Rua de Santa Catarina tenha sido rebaptizada laicamente como Rua 31 de Janeiro, em memória de um marco importante na luta pela implantação da República, que foi a Revolta de 31 de Janeiro de 1891, primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo a implantação do regime republicano em Portugal.
Aquela revolta eclodiu ao início da madrugada no Porto, cidade onde foi proclamada a República, na varanda da Câmara Municipal. A revolta surgiu como reacção às cedências do Governo (e da Coroa) ao ultimato britânico de 1890 por causa do Mapa Cor-de-Rosa, que pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique. Cerca das 10 horas da manhã, os revoltosos são forçados a render-se, atingidos pela fuzilaria e pela artilharia da Guarda Municipal. A Revolta saldou-se por 12 mortos e 40 feridos entre os revoltosos civis e militares, os quais foram julgados e condenados em Conselhos de Guerra realizados a bordo de navios, ao largo de Leixões.
28 de Maio
Desde os primórdios que a I República Portuguesa deu indícios de fragilidade. Num período de 16 anos, que findou a 28 de Maio de 1926, a I República Portuguesa teve 7 Parlamentos, 8 Presidentes da República, 39 Governos, 40 Chefes de Governo, uma Junta Constitucional e uma Junta Revolucionária. O clima era de instabilidade e o país encontrava-se permanentemente à beira da guerra civil.
A de 28 de Maio de 1926 ocorreu um pronunciamento militar de cunho nacionalista e antiparlamentar, que derrubou a I República Portuguesa e implantou uma Ditadura Militar, que eufemisticamente se viria a autodenominar Ditadura Nacional. Após a aprovação da Constituição de 1933, a Ditadura Nacional rebaptizou-se com a designação de Estado Novo, regime autoritário de partido único, chefiado sucessivamente por Oliveira Salazar e por Marcelo Caetano, que se manteve no poder até 25 de Abril de 1974.
A necessidade de apagar todos os vestígios locais de republicanismo e de num acto de vassalagem homenagear o então “Dono disto tudo”, terão estado na origem dos responsáveis municipais de então, terem travestido a Rua 31 de Janeiro em Rua Dr. Oliveira Salazar.
25 de Abril
O derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime de Salazar e de Caetano - foi conseguido em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, cuja origem remonta ao clima de instabilidade no interior das próprias Forças Armadas.
Um Esquadrão do RC3, comandado pelo Capitão Andrade Moura, tendo como adjunto o Capitão Alberto Ferreira e com a participação do 1º Sargento Francisco Brás, teve papel determinante no desfecho dos acontecimentos do 25 de Abril de 1974, em Lisboa. Daí que à sua chegada a Estremoz no dia 27 de Abril, tenha sido objecto de honras militares e de aclamação popular, junto ao quartel do Regimento. Foi o reconhecimento local e possível pela liberdade reconquistada.
Logo a seguir ao 25 de Abril, opositores ao regime reuniram-se numa casa da rua do Mau Foro, vulgo Rua Alexandre Herculano. Ali funcionaria mais tarde a primeira sede do PS. Tinha sido ali a sede do Círculo Cultural de Estremoz, associação cultural de antes de Abril, no tempo do Dr. Luís Pascoal Rosado e cuja história está ainda por fazer. Era propriedade dos irmãos José e Afonso Costa. Ali se preparou o primeiro 1º de Maio. Eu e o meu pai estávamos lá. O camarada Binadade Velez, comunista da clandestinidade e que já estivera preso, levava uma lista de ruas com nomes ligados ao fascismo, as quais entendia ser preciso mudar. Uma delas era a Rua Dr. Oliveira Salazar, o que logo ali teve o acordo de todos. E foi assim que um topónimo, associado a um ditador de tão triste memória, entrou na rampa de lançamento para ser banido do nosso quotidiano diário, o que veio a ser concretizado pelo poder municipal, democraticamente legitimado. E foi assim que a rua foi rebaptizada laica e republicanamente com a sua designação anterior: Rua 31 de Janeiro. E viva a Liberdade!
Cronista do E, toponomista, republicano e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 195, de 08-03-2018) 

2 - RUA DE SANTA CATARINA (Entre 1901 e 1909) – Ao fundo é visível a Fonte do Hospital
Real de São João de Deus. Esta fonte foi mandada construir pela Câmara de 1834, no
muro contíguo à ermida de São Brás e a edilidade de 1901 ordenou que fosse removida
para o local onde ainda hoje se encontra. Os candeeiros da iluminação pública estão
agora implantados nos passeios. Em segundo plano do lado direito é visível um típico
carro  de canudo alentejano e na frontaria do prédio contíguo é perceptível  um letreiro
que parece dizer “HOTEL GRADE”. Entre as crianças que brincam na rua, uma delas que
está agachada, parece estar a aparar um pião. A imagem é de um bilhete-postal ilustrado,
edição MALVA (Lisboa nº 697). No verso a data do carimbo de expedição dos correios é de 1909.

3 - RUA DE SANTA CATARINA (Entre 1901 e 1909). A legenda do bilhete-postal ilustrado
é “ESTREMOZ – Rua de Santa Catarina, (hoje Rua 31 de Janeiro). A imagem ainda que
colorida  é a mesma da figura 2. A edição deste bilhete-postal ilustrado, de editor não
identificado, terá ocorrido entre 1910 e 1915, já que esta é a data de circulação mais
antiga que eu tenho num bilhete-postal ilustrado desta série.

3 - RUA DE SANTA CATARINA (Entre 1901 e 1909). A legenda do bilhete-postal ilustrado
é “ESTREMOZ – Rua de Santa Catarina, (hoje Rua 31 de Janeiro). A imagem ainda que
colorida  é a mesma da figura 2. A edição deste bilhete-postal ilustrado, de editor não
identificado, terá ocorrido entre 1910 e 1915, já que esta é a data de circulação mais
antiga que eu tenho num bilhete-postal ilustrado desta série.

5 - RUA DR. OLIVEIRA SALAZAR (Anos 60 do séc. XX). Fonte do Hospital Real de São
João de Deus. Bilhete-postal ilustrado editado por FOTO TONY.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Côvado à vista!



O padrão medieval de côvado surgiu a descoberto e devidamente sinalizado no FESTIVAL DA RAINHA - IV Feira Medieval de Estremoz, que nos passados dias 20 e 21 de Maio, teve lugar no Castelo de Estremoz. Congratulo-me por o Município ter aceite uma sugestão minha, devidamente fundamentada e apresentada já lá vão dois anos e meio.

Reconhecimento do padrão medieval de côvado
Em finais de Dezembro de 2014, iniciei um conjunto de 3 artigos no jornal Brados do Alentejo, nos quais dava conta do reconhecimento da existência na primitiva Casa da Câmara de Estremoz, de um padrão medieval de côvado. Este consistia num sulco vertical de 66 cm, observável no segundo colunelo à direita da porta de entrada e parcialmente coberto com argamassa.
Chamada de atenção ao Município de Estremoz
A existência em Estremoz de uma medida-padrão medieval é uma mais valia em termos arqueológicos, históricos, metrológicos e turísticos. A partir daquela data, Estremoz passou a figurar por direito próprio, na rota das medidas-padrão medievais portuguesas. Considerei desde logo, ser da máxima importância, a inventariação, preservação e valorização daquele padrão. Daí que tenha sugerido ao Município de Estremoz para que procedesse à remoção da argamassa que ainda a ocultava parcialmente, que a sinalizasse e a divulgasse na imprensa nacional, notificando também a Academia Portuguesa de História e o Instituto Português da Qualidade, da existência da mesma.
Medidas medievais de comprimento
O sistema de medidas de comprimento usado em Portugal na Idade Média para medir e transaccionar tecidos, incluía o “côvado” (66 cm) e a uniformidade do seu valor terá sido generalizado a todo território nacional, provavelmente desde os meados do séc. XIII, o que facilitaria o combate à fraude. Todavia, alguns mercadores usavam medidas mais curtas que o devido. Daí a necessidade da existência de medidas-padrão para aferir a autenticidade das medidas usadas pelos mercadores.
As Ordenações Afonsinas registam a obrigatoriedade das medidas terem marcas a certificar a sua validade, fixando também multas a aplicar a quem usasse medidas sem marcas de aferição ou comprimento insuficiente. A aferição das medidas usadas pelos mercadores seria feita pelo seu confronto com as medidas-padrão gravadas na pedra, devendo aquelas encaixar nestas, sem folgas no sentido do comprimento. A marcação das medidas aferidas deveria ser realizada por alguém habilitado para o fazer, assegurando a autenticidade das marcas e a sua aceitação pelas partes envolvidas numa transacção comercial: mercadores e compradores.
Localização do padrão
A localização da medida-padrão de côvado na primitiva Casa da Câmara de Estremoz não é ocasional, uma vez que visando salientar a sua legalidade, as medidas padrão eram gravadas em locais importantes ligados à Coroa ou à Igreja, junto de locais onde se desenvolvia o comércio, pelo que a feira medieval de Estremoz teria lugar no Largo do Castelo, local onde se situa a primitiva Casa da Câmara de Estremoz. Virgínia Rau no livro “Feiras Medievais Portuguesas/Subsídios para o seu estudo” (1943), diz-nos que a Feira franqueada de Estremoz foi criada em 1463 por D. Afonso V.
Datação provável da ocultação do padrão
As medidas medievais de comprimento foram abolidas e consideradas ilegais a partir de 1 de Janeiro de 1860, data da entrada em vigor de um decreto assinado por D. Pedro V, que implementava o Sistema Métrico Decimal, que tinha como unidade de comprimento o metro.
A partir daquela data, a medida-padrão de côvado era desnecessária para a aferição de côvados usados no comércio. Passaria a ser apenas um sulco no mármore dum colunelo da primitiva Casa da Câmara. Provavelmente terá sido nesta época que o padrão medieval de côvado terá sido preenchido com argamassa.
Publicado no Jornal E nº 178, de 1 de Junho de 2017

sábado, 20 de maio de 2017

A importância de comemorar Abril


ESTREMOZ – 26 de ABRIL DE 1974 - Apoteose na recepção ao esquadrão do RC3
que participou nas operações militares do 25 de Abril de 1974.

Comemorar o 25 de Abril é renegar 48 anos de ditadura fascista.
Comemorar o 25 de Abril é festejar a liberdade reconquistada.
Comemorar o 25 de Abril é homenagear todos aqueles que através de múltiplas formas de luta, souberam resistir e dizer não.
Comemorar o 25 de Abril é mostrar reconhecimento ao glorioso Movimento das Forças Armadas, por em boa hora ter desencadeado um golpe militar que derrubou o regime opressor, há 48 anos no poder.
Comemorar o 25 de Abril é importante porque tem uma dupla função pedagógica. Por um lado, mostrar aos mais novos como era Portugal antes do 25 de Abril. Por outro lado, levá-los a compreender que o 25 de Abril foi um marco importante e insubstituível na luta pela cidadania, cuja prática não seria hoje possível sem ele.
Comemorar o 25 de Abril permite avivar memórias, o que não interessa a alguns que não estariam onde estão, se não fosse o 25 de Abril. Fogem às Comemorações do 25 de Abril, tal como o diabo foge da cruz. É que a realização de cerimónias públicas, nomeadamente a realização de sessões de assembleias municipais ou de freguesias, faculta aos respectivos membros o exercício dos direitos de cidadania. Através deles a oposição tem toda a legitimidade de questionar opções tomadas e apontar outros caminhos. Mas isso não lhes interessa. Não gostam de canto polifónico. São monocórdicos e cantam a uma só voz. Não se identificam com as práticas de cidadania, nomeadamente o recurso ao princípio do contraditório. Julgam que ainda estamos no Tempo da Outra Senhora. Há que lhes mostrar que não. Que não é assim.


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

António Guterres, Secretário-geral da ONU


António Guterres



Vencer na cena internacional é extremamente complexo, tal a junção de razões conjunturais e estruturais, ainda por cima num mundo mais imprevisível do que nunca. Mesmo para os melhores. Mas quando os melhores ganham é bom, é muito bom. Foi o que aconteceu neste caso.

António Guterres era e é, claramente, o melhor para o cargo. Pelas suas qualidades pessoais, pelo seu currículo na própria ONU, pela capacidade de visão e de equação dos principais problemas universais. Demonstrou-o ao longo de meses na sua candidatura. É certo que com o apoio de um esforço singular de unidade nacional, de uma solidariedade institucional absoluta, de uma diplomacia que teve no primeiro-ministro e, em especial, no ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros um papel estratégico crucial, de uma equipa notável e de um protagonista de exceção, que foi o representante de Portugal na ONU, embaixador Álvaro de Mendonça e Moura. E da voz prestigiada do presidente Jorge Sampaio.

Tudo isto é verdade. Mas António Guterres foi o melhor. Pelo facto muito simples de que é o melhor. De longe. Por isso, a vitória é, em primeira linha, sua. Ou, se quisermos ser justos e prospetivos, da comunidade internacional, que soube perceber o que estava em causa. E teve a coragem de escolher em conformidade.

Termino como comecei: que bom ter ganho o melhor! Quando esse melhor é português, que honra para o Presidente da República de Portugal poder testemunhar e celebrar esse momento histórico.


Hernâni Matos

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Poesia Portuguesa - 080




A Salgueiro Maia
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)


Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi “Fiel à palavra dada á ideia tida”
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Poesia Portuguesa - 075

RETRATO DE FERNANDO PESSOA (1954).
Almada Negreiros (1893-1970).
Óleo sobre tela (201 x 201 cm).
Museu da Cidade, Lisboa.

 António de Oliveira Salazar
 Fernando Pessoa (1888-1935)

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
......
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...
......
Coitadinho
do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.


Fernando Pessoa (1888-1935)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Poesia Portuguesa - 070


À Memória de Catarina Eufémia
Alexandre O'Neill (1924-1986)

 Podes mudar de nome, carrajola
pôr umas asas brancas, arvorar
um ar contrito,
dizer que não, que não foi contigo,
disfarçar-te de andorinha, de sobreiro ou de velhinha,
podes mudar de nome, carrajola,
de aldeia, de vila ou de cidade
— és como um percevejo num lençol!

Quando tivermos Portugal nos braços
e pudermos amá-lo sem sofrer,
quando o Alentejo se puser a rir,
Catarina Eufémia, minha irmã,
então o teu filho há-de nascer!

Alexandre O'NeilI (1924-1986)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Poesia portuguesa - 068


Catarina Eufémia
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente

Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos

Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste


Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

25 de Abril


 
Uma imagem de 25 de Abril de 1974, que correu mundo.

Abril trouxe-nos a Liberdade, como nos disse Sophia de Mello Breyner Andresen em “25 de Abril”: “Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”. Testemunho análogo nos deu António Simões em “25 de Abril, 1974: a primeira manhã”: “foste pranto e crime e viuvez – / que bom dizer-te: “Foste, já não és, / Abril deu liberdade a todos nós!” .Por sua vez, José Fanha em “Eu sou Português Aqui”, referiu-se à liberdade, dizendo: “Nasci / aqui / no mês de Abril /quando esqueci toda a saudade / e comecei a inventar / em cada gesto / a liberdade”. Daí a importância de comemorar Abril no exercício diário da cidadania e na defesa dos valores que lhe estão associados. Abril é quando um homem quiser e como quiser, porque Abril é plural, tal como proclamou Manuel Alegre em “Abril de Abril”: “Era um Abril na praça Abril de massas / era um Abril na rua Abril a rodos / Abril de sol que nasce para todos”.
Não existem receitas nem fórmulas mágicas para comemorar ou sentir Abril. No meu caso, Abril está-me na massa do sangue, que o transporta do coração até à flor da pele. Aqui brota com cheiro a cravos vermelhos, a papoilas, a esteva e a rosmaninho, que são plantas desta terra transtagana, que foi de Florbela, mas também de Catarina e muitos outros mais, cuja memória todos nós registamos na nossa Alma Alentejana.
Cabe-nos a missão histórica e inescapável de transmitir aos vindouros, o testemunho de Abril. Convenhamos que muitas vezes não é fácil, dado o facilitismo que se instalou na sociedade, com a crença errónea de que é desnecessário lutar por aquilo a que temos direito, já que alguns crêem que compete aos timoneiros do (des)governo de ocasião, decidir se, de facto, temos ou não direito e quando é que temos direito. Paralelamente, Abril tem sido ritualizado pelo poder que o acantona e espartilha em comemorações oficiais, repletas de pompa e circunstância, confinadas ao hemiciclo de São Bento. Mas, Abril não é isso. Abril é sair à rua como um mar de gente, em comunhão de ideais e ânsia de justiça social, como bem expressou Jorge de Sena em “Cantigas de Abril”: “Saem tanques para a rua, / sai o povo logo atrás: / estala enfim altiva e nua, / com força que não recua, / a verdade mais veraz”. A mesma ideia foi partilhada por José Carlos Ary dos Santos em “As Portas que Abril Abriu”: “Foi então que Abril abriu / as portas da claridade / e a nossa gente invadiu / a sua própria cidade”. E o povo saiu à rua, empunhando cravos vermelhos, como relatou Armindo Rodrigues, em “Portugal, cravo vermelho”: “Mal rompeu o dia novo, / logo por ruas e praças, / das cidades às aldeias, / floriram cravos vermelhos”. Porque a rua é o palco onde se julgam os algozes e se esconjuram os fantasmas do passado, tal como verbalizou José Carlos Ary dos Santos em “As Portas que Abril Abriu”: “Quando o povo desfilou / nas ruas em procissão / de novo se processou / a própria revolução”. E concluiu: “Agora que já floriu / a esperança na nossa terra / as portas que Abril abriu / nunca mais ninguém as cerra”.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A importância das medidas padrão medievais

Padrão das medidas de Vara e Meia Vara, gravadas verticalmente na ombreira
direita da Porta da Vila das muralhas de Monsaraz, na face voltada ao interior.

Na sequência dos artigos anteriores “DESCOBERTA ARQUEOLÓGICA / Padrão Medieval de côvado identificado em Estremoz” (B.A. nº 848) e “Ainda o padrão medieval de côvado / Confirmada a descoberta” (B.A. nº 850), entendi ser conveniente esclarecer a importância das medidas padrão medievais.
Após a fundação da nacionalidade e com a consolidação do Estado surgiu a necessidade de uniformização dos padrões de medida, por se considerar que a mesma unidade de medida não devia ter valores diferentes em pontos distintos do país. Assim o impunha a identidade do território como Estado e as trocas comerciais entre as diversas regiões.
Era privilégio real o estabelecimento e regulamentação dos padrões de medida, os quais eram definidos na carta de foral que o rei atribuía a cada concelho. 
As medidas padrão medievais tinham uma função reguladora, normalizadora e moralizadora. Por um lado asseguravam a defesa do consumidor. Por outro lado, tinham uma finalidade fiscal, sendo utilizadas na aplicação de tributos reais, de impostos devidos à entrada nas povoações de produtos agrícolas, de impostos incidentes na propriedade, tendo em conta a sua área e de direitos de importação incidentes no comércio internacional. As medidas padrão eram assim instrumentos de poder e de vassalagem.
NOTA FINAL – Por lapso, no artigo “Ainda o padrão medieval de côvado / Confirmada a descoberta” (B.A. nº 850), não apareceu a legenda da figura. Era a seguinte: “ Padrão medieval de Vara e Meia Vara na Porta do Sol das muralhas do Redondo”.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Ainda o padrão medieval de côvado

Padrão da medida de Côvado gravada verticalmente no segundo colunelo à
Direita da porta de entrada da primitiva Casa da Câmara de Estremoz.

Confirmada a descoberta
Entre 28 e 30 de Dezembro passado, houve troca de emails entre mim e o Professou Doutor Mário Jorge Barroca do Instituto de Arqueologia, Departamento de Ciências e Técnicas do Património, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Aquele Professor certificou a veracidade da descoberta por mim divulgada em artigo publicado no nº 848-3ª série (25-12-2014) do jornal “Brados do Alentejo”, sob a epígrafe:DESCOBERTA ARQUEOLÓGICA / Padrão Medieval de côvado identificado em Estremoz . Disse-me o Docente Universitário que já o tinha identificado e iria adicioná-lo a uma actualização do seu “Inventário das Medidas Medievais Portuguesas”. Referiu ainda que o meu texto, pelo qual me felicitou, iria ser citado naquele Inventário como a primeira publicação que se referiu a esta descoberta.
Remoção da massa vedante do padrão
No artigo anterior sugeri ao Município que fosse removida a argamassa que ainda oculta parcialmente o padrão medieval de côvado. Chamo agora a atenção para o facto de o pedreiro que o fizer, o dever fazer com todo o cuidado, de modo a só remover a massa vedante do sulco, sem o danificar. Por outro lado e é uma observação nova que agora faço, esta argamassa que é de dois tipos, deveria ser recolhida, visando a sua análise pelo Laboratório Hércules da Universidade de Évora. Na verdade, os investigadores que estão a efectuar o estudo material e técnico dos Bonecos de Estremoz, através do estudo das argamassas poderiam balizar a data em que o padrão de côvado foi oculto, anteriormente à fotografia do “SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico”, divulgada no meu artigo anterior e obtida em 1968 no decurso de obras de restauro e onde a ocultação está patente.
A importância da descoberta
Penso que a descoberta é da máxima importância, pelo que após o padrão medieval de côvado ser desobstruído de toda a argamassa e revelado na sua totalidade, deveria ser alvo de divulgação mediática por parte do Município, a qual a meu ver deveria ser de âmbito nacional.
A partir de agora, Estremoz figurará por direito próprio, na rota das medidas-padrão medievais portuguesas. No Alentejo e para além de Estremoz, foram há muito identificadas medidas-padrão nas seguintes localidades e lugares: CASTELO DE VIDE - Porta do Castelo (Vara); MONFORTE – Igreja da Madalena (Meia Braça e Meia Vara); ALANDROAL – Porta do Castelo (Vara); REDONDO – Porta do Sol das Muralhas do Redondo (Vara e Meia Vara); MONSARAZ – Porta da Vila das Muralhas de Monsaraz (Vara e Meia Vara).  
Datação provável da ocultação do padrão
As medidas medievais de comprimento (palmo, côvado, meio côvado, vara, meia vara e braça) foram utilizadas em Portugal até ao séc. XIX. O metro, que ainda hoje é usado como unidade de comprimento, faz parte do Sistema Métrico Decimal, que foi adoptado em Portugal por decreto de D. Maria II (1819-1853), de 13 de Dezembro de 1852, o qual estipulava um prazo de dez anos para a sua entrada em vigor. Daí que em 20 de Junho de 1859 tenha sido assinado por D. Pedro V (1837-1861), o decreto pelo qual passa a vigorar o metro como unidade de comprimento a partir da data de 1 de Janeiro de 1860, sendo a partir desta data abolidas e consideradas ilegais todas as medidas medievais de comprimento. A partir desta data a medida-padrão de côvado era desnecessária para a aferição de côvados usados no comércio. Passara a ser apenas um sulco no mármore dum colunelo da primitiva Casa da Câmara. Provavelmente terá sido nesta época que o padrão medieval de côvado terá sido preenchido com argamassa. De resto, no início do séc. XVIII, a Casa da Câmara já havia sido transferida para a Rua Nova da Praça (hoje rua 5 de Outubro), frente à demolida Igreja de Santo André. Na Praça (actual Largo Luís de Camões), realizava-se todos os sábados, um mercado.
No séc. XVIII, Estremoz já não tinha a feira franqueada criada em 1463 por D. Afonso V. Tinha duas feiras francas com a duração de três dias: - A Feira de Santiago com início a 25 de Julho e que tinha lugar no Grande Rossio (actual Rossio Marquês de Pombal); - A Feira de Santo André com início a 30 de Novembro e que decorria no Rossio de São Brás (presentemente Largo D. José I).
Não será despropositado admitir que possam ter existido e que ainda não foram descobertos, padrões medievais de medidas de comprimento, na Praça, no Grande Rossio ou no Rossio de São Brás. É um assunto que carece de investigação.




Padrão da medida de Vara gravada verticalmente na ombreira direita de uma
Porta do Castelo de cabeço de Vide, na face voltada ao exterior.
 Padrões das medidas de Meia Braça e Meia Vara gravadas verticalmente em
coluna do alpendre da Igreja da Madalena, em Monforte.
Padrão da medida de Vara gravada verticalmente na ombreira direita da
Porta do Castelo do Alandroal, na face voltada ao exterior.
 Padrão das medidas de Vara e Meia Vara gravadas verticalmente na ombreira
direita da Porta do Sol das muralhas do Redondo, na face voltada ao exterior.
Padrão das medidas de Vara e Meia Vara gravadas verticalmente na ombreira
direita da Porta da Vila das muralhas de Monsaraz, na face voltada ao interior.