1
- Um aspecto do acesso à Capela da Rainha Santa Isabel após os gradeamentos
oitocentistas
das janelas laterais terem sido visados pela cobiça de amigos do
alheio.
Fotografia de Catarina Matos. Arquivo do autor.
Saiu
gorada a tentativa de roubo do gradeamento das janelas que ladeiam o portão de
acesso à Capela da Rainha Santa, junto à Torre da Menagem do Castelo de
Estremoz.
O que aconteceu?
Ao início da tarde da passada sexta-feira, dia 9 de
Março, data em que se abateu um forte temporal sobre a cidade, alguém sentiu um
enorme estrondo devido à queda do gradeamento da janela do lado esquerdo, pelo
que foi imediatamente alertar o Director do Museu Municipal.
Chegado ao local, este deu conta da remoção dos
parafusos utilizados na fixação do gradeamento às ombreiras de mármore daquelas
janelas. Só em baixo é que um parafuso fixava os gradeamentos, pelo que a
intempérie se encarregou de derrubar um deles. Tornou-se evidente que alguém,
aproveitando-se do facto de o Largo D. Dinis ser desabitado, retirou os
parafusos, com o fito de furtar os gradeamentos e os carregar pela calada da
noite.
Alertado o Director do Museu Municipal, o mesmo
contactou os competentes Serviços do Município, que imediatamente removeram os
gradeamentos do local e os transferiram para a Igreja Matriz de Santa Maria do
Castelo, onde ficaram à guarda da mesma.
E agora?
Um responsável do Município terá declarado que os gradeamentos
seriam repostos no local onde se encontravam, assim que estejam reunidas
condições que permitam chumbar as grades nas ombreiras, visando impedir a
repetição da ocorrência.
De salientar que a ferrugem grassa pelos
gradeamentos e pelo portão, pelo que seria desejável que após aquela reposição,
fosse removida a ferrugem, aplicado um aparelho e dada uma nova pintura naquele
conjunto todo.
Alguma História da Capela
Pertenceu à Rainha Dona Luísa de Gusmão
(1613-1666), mulher de El-Rei D. João IV (1604-1856), a ideia de adaptar a
Capela, os supostos aposentos da Rainha Santa no Castelo de Estremoz, em acção
de graças pela vitória do exército português sobre o exército espanhol, na
batalha das Linhas de Elvas, travada a 14 de Janeiro de 1689. A Capela que ficou a
cargo da Congregação do Oratório de São Filipe Néri, encontrou em El-Rei D.
João V (1689-1750) um mecenas e foi sob a sua égide que se concluíram as obras
da Capela em 1706. Foi este Rei, descendente em linha directa da Rainha Santa
Isabel, que ofereceu à Capela a imagem em madeira policromada e que a seus pés
orou, quando visitou a Capela com a sua esposa, D. Mariana de Áustria
(1683-1754), em 30 de Janeiro de 1729.
Durante a 1ª Invasão Francesa, os oratorianos retiraram
da Capela a Imagem da Rainha Santa, a qual esconderam no Convento dos Congregados,
protegendo-a assim do saque dos franceses. Após a retirada destes, em 29 de
Outubro de 1808, teve lugar uma solene procissão que com pompa e circunstância
trasladou através das ruas da vila, a sacrossanta imagem da Padroeira até à sua
Capela no Castelo.
De acordo com Túlio Espanca o terreiro de acesso à
Capela, lageado com placas de mármore, “… outrora público, foi fechado no tempo
de D. João VI (1767-1826), pelo subsistente portão neoclássico, de mármores regionais,
do tipo apilastrado, com empenas interrompidas, sobrepujadas de fogaréus
estilizados: grade férrea, de barrinha, elegantemente compostas pelas armas
reais e o cronograma de 1825.”
Centro Histórico a saque
O Largo de Dom Dinis é o coração do núcleo do
Centro Histórico de Estremoz. Ali nasceu o burgo ao qual os Reis de Portugal se
dignaram conceder a distinção de ser designada por “Notável Vila de Estremoz” e
que seria elevada à categoria de cidade em 1926.
Ali foram escritas inúmeras páginas da nossa
História local, em relação íntima com a nossa identidade cultural de
estremocenses. Trata-se assim dum local que deve merecer atenção especial por
parte do Município, que continua a afirmar pretender candidatar a cidade a
Património Cultural da Humanidade. Não percebemos é como, sobretudo depois de a
EDP ter maculado a alvura das paredes com toda aquela execrável cablagem negra,
transportadora de sinal eléctrico, mas que simultaneamente perturba e polui
visualmente o local, ao introduzir ruído na leitura e interpretação
espaço-temporal da Estremoz medieval.
O
crime que ali foi cometido não devia ficar impune. Assim o desejam as pessoas
de bem, entre as quais eu me situo.
António
Mexia, na qualidade de Presidente da EDP aufere um vencimento superior a 6.800 euros
por dia, mas isso não confere à EDP o direito de ser dona disto tudo e fazer o
que lhe dá mais jeito.
Inverter a
situação
A
edilidade que sufragada pelo voto popular gere o Município, pretende candidatar
a cidade a Património Cultural da Humanidade. Como tal, não pode ser cúmplice
do atentado que aqui denuncio, pelo que só lhe resta uma coisa a fazer.
Accionar os mecanismos adequados para que a EDP retire dali toda aquela
cablagem e a faça passar pelo sub-solo. Levantando a calçada, pois claro!. Se
tal não se vier a verificar, é legítimo concluir que afinal o crime compensa e
o Centro Histórico está a saque.
Reforço
da segurança
Os
amigos do alheio poderiam não existir, mas um facto é que os há.
O
Largo de Dom Dinis podia ser habitado, mas não o é.
A
zona podia ser mais segura, mas tal não se verifica.
Que fazer
então?
Em
primeiro lugar, promover a reabilitação integral das moradias populares dos
bairros do Castelo e de Santiago, gerando uma dinâmica que se traduza na
fixação de moradores. Até isso ser feito, deve ser reforçada a segurança da zona.
Em particular, no Largo de D. Dinis pode ser aumentada a vigilância policial e
implementado um sistema de vídeo vigilância, acções que se podem complementar.
Por ali, a necessidade de segurança de pessoas e bens merece isso. De contrário,
só nos resta suplicar:
-
VALHA-NOS A RAINHA SANTA!
Cronista do E, defensor do património e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 196, de 22-03-2018)
(Texto publicado no jornal E nº 196, de 22-03-2018)
NOTA - O jornal E chegou às bancas no dia 22 às 9 horas e os trabalhadores do Município repuseram o gradeamento nesse mesmo dia, cerca das 14 horas. Agora falta o resto.
2 - Estremoz. Imagem da
Rainha Santa Isabel quando ainda se encontrava na sua
Capela. A
escadaria que dava acesso ao púlpito e que se vê à direita, também já
não existe actualmente.
Fotografia de Foto Tony, cerca dos anos 60 do século XX.
Arquivo do autor.
3 - O Dr. Marcelo Caetano
(1906-1980), 1º Ministro de Portugal (1968-1975) à saída
da Capela da Rainha Santa
Isabel no decurso duma visita oficial a Estremoz, ocorrida
no fim-de-semana 19-20 de
Dezembro de 1970. À sua esquerda, o Dr. Luís Pascoal
Rosado (1922-1971),
Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1961-1971). Ao
fundo, são visíveis dum
lado e outro do portão, os gradeamentos datados de 1825 e
que recentemente foram alvo
de uma tentativa de furto. Fotografia de Rogério de
Carvalho (1915-1988). Arquivo
do autor.
4
- No período 1967-1970 em que decorreram as obras de adaptação do Castelo de
Estremoz
a Pousada da Rainha Santa Isabel, os gradeamentos das janelas que ladeiam
o
portão de acesso à Capela da Rainha Santa Isabel estiveram protegidos
exteriormente
por
uma parede de alvenaria. Fotografia de Foto Tony, dos finais dos anos 60 do
séc. XX.
Arquivo
do autor.
5 - Estremoz. Rainha Santa
Isabel, Padroeira de Estremoz. Fotomontagem mostrando
a Rainha Santa
pairando sobre a cidade, numa nítida alegoria a ser sua Protectora.
Fotografia de Foto Tony,
cerca dos anos 60 do século XX. Arquivo do autor.
Sem comentários:
Enviar um comentário