sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Outono na Pintura Portuguesa


Cena de Merenda de Caça no Outono (1767). Autor Desconhecido (?-?).
Óleo sobre tela (192 cm x 156 cm). Palácio Nacional de Queluz, Queluz. 

O Outono, estação caracterizada por um declínio gradual da temperatura, é marcada por tempo chuvoso, ventoso e pouco ensolarado. Corresponde aos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro no Hemisfério Norte.
A pintura portuguesa alegórica a esta época reflecte as características deste período: paisagens com folhas amarelecidas e que caem, vinhas e naturezas mortas com frutos ou flores característicos da época.
Por ordem cronológica, os pintores por nós identificados que abordaram a temática “Outono” foram: Autor Desconhecido (?-?), Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), José de Brito (1855-1946), José Malhoa (1855-1933), Adriano Sousa Lopes (1879-1944), Ferreira da Costa (1885-?), Joaquim Francisco Lopes (1886-1956), Ferreira da Costa (1885-?), Maria Eduarda Lapa e Sousa Caldeira (1895-1976), Ventura Moutinho (1903-1967) e Silva Lino (1911-1984).


Publicado inicialmente em 21 de Setembro de 2012

Natureza morta (1899). Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929). Óleo sobre
 madeira  (26 cm x 21 cm). Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte
 Contemporânea, Lisboa.

Alegoria do Outono (Séc. XIX). Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929). Óleo sobre
 tela (88,5 cm x 139 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.

Paisagem da Margem do Vouga (séc. XIX –XX). José de Brito (1855-1946). Óleo sobre
madeira (34 x 50 cm). Museu Grão Vasco, Viseu.

Frutos de Outono (1907). Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929). Óleo sobre tela
(59 cm x 73 cm). Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Vinha no Outono (1914). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (16,5 x; 21,5 cm).
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.

Outono (1918). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (46 cm x 38 cm).
Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Castelo de Vide (1925). Adriano Sousa Lopes (1879-1944). Óleo sobre tela (73 cm x 105 cm).
Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Outono em Castelo de Vide (Séc. XX). Adriano Sousa Lopes (1879-1944).  Óleo sobre tela
(33 cm x 41 cm). Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Outono (Primeiras chuvas) (1939). Joaquim Francisco Lopes (1886-1956). Óleo sobre tela
(70 cm x 90 cm). Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Manchas de Outono (1942). Ventura Moutinho (1903-1967). Óleo sobre tela (78 cm x 67 cm).
Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

Bosque da Bélgica (séc. XX). Ferreira da Costa (1885 - ?). Óleo sobre tela
(40,3 cm x 32 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.

Natureza morta (com flores de Outono) (Séc. XX). Maria Eduarda Lapa e Sousa Caldeira
(1895-1976). Óleo sobre tela (56 x 82 cm). Museu da Guarda.

Paisagem de Outono - Azeitão (1956). Silva Lino (1911 - 1984). Óleo sobre aglomerado de madeira
(58,7 cm x 72,7 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O São Mateus em Elvas


Romeiros na Avenida da Piedade, em Elvas, no ano de 2011. Fotografia recolhida em

HISTORIAL
A romaria do Senhor Jesus da Piedade de Elvas, organizada pela Confraria do Senhor Jesus da Piedade tem início no dia 20 de Setembro, principiando com a Procissão dos Pendões. Esta sai da Igreja de Nossa Senhora da Assunção e da Ermida de Nossa Senhora das Dores. No cortejo, com a duração de três horas e com destino ao Santuário do Senhor Jesus da Piedade, incorporam-se estandartes e pendões em representação das paróquias, irmandades e confrarias do concelho de Elvas, bem como da Câmara Municipal, dos Bombeiros Voluntários e doutras colectividades. Quando ali existiam unidades militares, também os seus estandartes integravam o cortejo. Este encerra com o pendão da Confraria do Senhor Jesus da Piedade. Acompanham o cortejo três bandas filarmónicas.
À chegada ao Parque do Piedade tem lugar uma sumptuosa sessão de fogo de artifício. No local decorre de 20 a 30 de Setembro, a tradicional Feira de São Mateus, com animação variada, que atrai romeiros de todo o Alto Alentejo e da raia espanhola. A romaria e a Feira de São Mateus terminam uma semana depois, com a Procissão de Retorno dos Pendões.
A romaria remonta ao Verão de 1736, quando o clérigo elvense Manuel Antunes se dirigia à "Horta dos Passarinhos", da qual era capelão e donde recebia rendimentos. Vinha das Portas da Esquina, montado numa pequena mula e caiu por duas vezes sucessivas, tendo ficado bastante ferido. Quase inconsciente, seguiu a pé, crendo ser capaz de chegar à Horta. Na sua caminhada chegou a um outeiro de pedras onde se erguia uma cruz mal feita e tosca, assinalando a morte do lavrador da Torre dos Arcos. Aí ajoelhado, jurou mandar consertá-la e celebrar uma missa naquele local, se conseguisse chegar à propriedade sem mais contrariedades e se não tivesse consequências funestas das quedas aparatosas que tinha sofrido. Findo o Verão, durante o qual reconquistou a saúde, cumpriu a promessa. Com a constatação do local, muitos daqueles que se encontravam em aflições, temendo pela sua saúde, recorreram ao "Senhor Jesus da Piedade", como lhe passaram a chamar desde então. Mais milagres ocorreram e mais promessas foram cumpridas, o que levou a erigir primeiro uma capela e depois uma igreja, na qual se encontram patentes milhares de ex-votos.
O São Mateus de Elvas era até meados do século passado uma das maiores romarias do Alto Alentejo. Durante meses poupava-se para se poder ir a Elvas, por volta de 21 de Setembro, dia de São Mateus. Era em churriões puxados por mulas que se ia às Festas. Era na altura em que os ganhões que mourejavam nas herdades, iam aquelas Festas gastar a maçaroca amealhada a custo. Lá diz uma quadra do rico cancioneiro popular alentejano:

Ó feira de S. Matheus,
Onde as ganharias vão
A gastarem o dinheiro
Da temporada do v’rão. (1)


Churrião junto ao Aqueduto – Elvas. Bilhete-postal ilustrado de meados do
 séc. XX. Edição da Livraria e Papelaria Rego - Elvas.

Era uma romaria que durava dias, entre o ir e o voltar. E ali os romeiros estacionavam os churriões por zonas, conforme a zona de proveniência. Digam-me lá, se o alentejano é ou não é um tipo organizado?   

Aspecto do Arraial da Feira de S. Mateus – Elvas.  Bilhete-postal ilustrado do início do séc. XX.
Edição da Tabacaria Costa – Lisboa.

Nas Festas do São Mateus havia para além das cerimónias religiosas, feira e bailaricos populares, longamente aguardados durante o resto do ano:

Ó Senhor da Piedade
Que estaes na vossa egreja,
O povo desta cidade
Bem alegre vos festeja. (2)

O Senhor da Piedade
Vae a ter festas de luxo,
Vão a fazer um bazar
Lá no sítio do repuxo. (2)

Eu também já fui à festa
e fiz promessas a deus
de cá voltar outra vez
a dançar no São Mateus. (3)


Igreja do Senhor da Piedade – Elvas. Bilhete-postal ilustrado do início
do séc. XX. Edição da Tabacaria Costa – Lisboa.

Bailarico popular no decurso das festas do São Mateus – Elvas. Bilhete-postal ilustrado do
início do séc. XX. Edição da Tabacaria Costa – Lisboa.

O SÃO MATEUS E OS CICLOS AGRO-PASTORIS
Em meados do século passado, o dia de São Mateus, marcava o início das fainas agro-pastoris, dependentes do início da época das chuvas:
- Águas verdadeiras, por São Mateus as primeiras.
O São Mateus assinalava também o início da lavra dos campos:
- Pelo São Mateus munge as vacas e lavra com Deus.
- Por São Mateus, pega no arado e lavra com Deus.
- Por São Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
Com o chegada das primeiras chuvas e com as terras lavradas para as sementeiras, começavam a aparecer as formigas de asa que atraíam os papa-moscas, aves vulgarmente conhecidas por taralhões, que eram caçadas pelos passarinheiros, especialmente rapazes. A ida à romaria do São Mateus, exigia o abandono temporário da actividade cinegética:
- Pelo São Mateus deixa os taralhões.
O brilhantismo da romaria de São Mateus era incompatível com a chuva que prejudicaria as Festas e muito em especial a feira e os bailaricos. O sol, esse era benvindo, conforme refere o adagiário:
- Não peças a morte a Deus, nem a chuva por São Mateus.
- Pelo São Mateus não peças chuva a Deus.
- Pelo São Mateus não peças água nem morte a Deus.
- Sol pelo São Mateus, chuva até ao Menino Deus.
O São Mateus assinalava a época da vindima:
- Dia de São Mateus, vindimam os sisudos e semeiam os sandeus.
- Pelo São Mateus, vindimam os sisudos e varejam os sandeus.
O São Mateus marcava nas hortas, o início da enxertia das plantas:
- Em Dia de São Mateus, começam as enxertias.
Em termos da pastorícia, o aparecimento das primeiras águas pelo São Mateus, favorecia o crescimento de ervas que alimentarão as crias:
- Pelo São Mateus, conta as ovelhas que os cordeiros são teus.
Pelo contrário, a falta de chuva prejudicava a alimentação e o crescimento das crias:
- Em não chovendo por São Mateus, faz conta com as ovelhas, que os borregos não são teus.

BIBLIOGRAFIA
(1) - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1910.
(2) - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. I. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1909.
(3) -SANTOS, Victor. Cancioneiro Alentejano. Livraria Portugal. Lisboa, 1959.

Publicado inicialmente a 20 de Setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Provérbios de Setembro


Mês de Setembro (c. 1510). Iluminura do miniaturista flamengo Gerard
Horenbout (c.1465 - c. 541). Breviário Grimani. Manuscrito (Ms. lat. I 99),
 28 x 21,5 cm. Biblioteca Marciana, Veneza.

- Abril, frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado. Agosto, debulhar, Setembro, vindimar.
- Agosto amadura, Setembro derruba.
- Agosto amadurece, Setembro vindimece.
- Agosto arder, Setembro beber.
- Agosto debulhar, Setembro vindimar.
- Agosto madura, Setembro vindima.
- Agosto tem a culpa, e Setembro leva a fruta.
- Agosto tem a culpa, Setembro leva a fruta,
- Águas verdadeiras, por S. Mateus as primeiras.
- Aí pela Senhora da Ajuda, às sete, é sol-posto.
- Arranja bom Setembro, com a burra fico eu.
- Arranja bom Setembro, com a burra te fico eu.
- Chovendo no S. Miguel, faz conta das ovelhas que os borregos são teus.
- Chovendo no São Miguel, faz conta das ovelhas que os borregos não são teus.
- Chuvas verdadeiras, em Setembro as primeiras.
- Corra o ano como for, haja em Agosto e Setembro calor.
- Dia de São Mateus, vindimam os sisudos e semeiam os sandeus.
- Em 29, São Miguel fecha as asas.
- Em Agosto secam os montes e em Setembro as fontes.
- Em Dia de São Mateus, começam as enxertias.
- Em Dia de São Mateus, vindimam os sisudos e semeiam os sandeus.
- Em dia de São Matias, começam as enxertias.
- Em não chovendo por São Mateus, faz conta com as ovelhas, que os borregos não são teus.
- Em Setembro ardem os montes e secam as fontes.
- Em Setembro ardem os montes, secam as fontes.
- Em Setembro cuida da vindima que olhar para a uva não mata a sede.
- Em Setembro lavra, semeia e colhe que é mês para tudo.
- Em Setembro palha no palheiro e meninas ao candeeiro.
- Em Setembro planta, colhe e cava, que é mês para tudo.
- Em Setembro ramo curto, vindima longa.
- Em Setembro S. Mateus, não peças chuva a Deus.
- Em Setembro secam as fontes e a chuva leva as pontes.
- Em Setembro secam as fontes e as chuvas lavam as pontes.
- Em Setembro semeia o teu pão mas escuta o que o teu vizinho diz, porque no dia oito o centeio deve estar da altura da pena da perdiz.
- Em Setembro semeia o teu pão.
- Em Setembro tem Deus a mesa posta.
- Em Setembro, andando e comendo.
- Em Setembro, ardem os montes e secam as fontes.
- Em Setembro, ardem os montes e secam as fontes.
- Em Setembro, ardem os montes, secam-se as fontes.
- Em Setembro, cara de poucos amigos e manhã de figos.
- Em Setembro, colhendo e comendo.
- Em Setembro, palha no palheiro e meninas ao candeeiro.
- Em Setembro, palhas ao palheiro, meninos ao candeeiro.
- Em Setembro, perdizes pequenas só das agostinhas me lembra.
- Em Setembro, planta, colhe e cava que é mês para tudo.
- Em Setembro, S. Miguel soalheiro enche o celeiro.
- Em Setembro, vai andando e correndo, mas às vezes também ardem as moitas e as fontes a secar vêm.
- Em Setembro, vai andando e vai comendo.
- Em tempo de figos não há amigos.
- Em vinte e nove, S. Miguel fecha as asas.
- Guarda prado, criarás gado.
- Lua Nova setembrina sete vezes domina.
- Não peças a morte a Deus, nem a chuva por São Mateus.
- Janeiro gear, Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer, Junho ceifar, Julho debulhar. Agosto engavelar, Setembro vindimar. Outubro revolver. Novembro semear. Dezembro nascer.
- Janeiro gear, Fevereiro chover. Março encanar, Agosto recolher. Setembro vindimar.
- Janeiro gear. Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer. Junho ceifar, Julho debulhar, Agosto engavelar. Setembro vindimar, Outubro revolver. Novembro semear, Dezembro nasceu Deus para nos salvar.
- Lua nova setembrina, sete luas domina.
- Lua nova trovejada, trinta dias é molhada e se for a de Setembro até Março irá chovendo.
- No dia oito de Setembro abalam as merendas, vêm os serões.
- No pó semeia que Setembro to pagará.
- No São Mateus vindimam os sisudos e semeiam os sandeus.
- Nunca se viu nem se há-de ver, Feira Franca sem chover.
- Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
- O São Miguel ou seca as fontes ou leva açudes e pontes.
- Para boas colheitas, pede bom tempo a Deus nas têmporas de São Mateus.
- Para que o ano não vá mal, hão-de encher os rios três vezes entre S. Mateus e o Natal.
- Para vindimar deixa Setembro acabar.
- Para vindimar deixa o Setembro acabar.
- Pela senhora da Ajuda, às sete o sol é posto.
- Pelo S. Mateus não peças chuva a Deus.
- Pelo S. Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
- Pelo São Bernardo seca-se a palha pelo pé.
- Pelo São Gil adoba o teu candil.
- Pelo São Mateus deixa os taralhões.
- Pelo São Mateus faz contas das ovelhas, que os borregos são teus.
- Pelo São Mateus munge as vacas e lavra com Deus.
- Pelo São Mateus não peças água nem morte a Deus.
- Pelo São Mateus não peças chuva a Deus.
- Pelo São Mateus vindimam os sisudos, semeiam os sandeus.
- Pelo São Mateus, conta as ovelhas que os cordeiros são teus.
- Pelo São Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
- Pelo São Mateus, vindimam os sisudos e varejam os sandeus.
- Pelo São Miguel, estão as uvas como mel.
- Pelo São Miguel dá-se as figueiras ao rabisco.
- Pelo São Miguel os figos são mel.
- Pelo São Miguel, estão as uvas como mel.
- Por São Mateus, faz conta das ovelhas que os borregos são teus.
- Por São Mateus pega no arado e lavra com Deus.
- Por São Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
- Quando não chove depois do São Mateus, é por milagre de Deus.
- Quando não chove por São Mateus, é por milagre de Deus.
- Quem planta no S. Miguel, vai à horta quando quer.
- Quem planta no São Miguel, vai à horta quando quer.
- Quem se aluga no S. Miguel, não se senta quando quer.
- São João e São Miguel passados, tanto manda o amo como o criado.
- São Miguel das uvas, tanto tardas e tão pouco duras!
- São Miguel passado, tanto manda o amo como o criado.
- São Miguel passado, todo o amo é mandado.
- São Miguel soalheiro, enche o celeiro.
- Se acaso em Setembro a cigarra cantar, não compres trigo para o vir a guardar.
- Se chover pelo São Mateus, cuida das ovelhas que os borregos são teus.
- Se em Setembro a cigarra cantar, não compres trigo para guardar.
- Se houvesse dois S. Miguéis no ano, não havia moço que parasse no amo.
- Se por acaso em Setembro a cigarra cantar, não compres trigo para o vires a guardar.
- Setembro a comer e a colher.
- Setembro cara de poucos amigos e manhã de figos.
- Setembro cara de poucos amigos, cara de figos.
- Setembro é o Maio do Outono.
- Setembro matou a mãe à sede.
- Setembro molhado, figo estragado.
- Setembro ou seca as fontes ou leva as pontes.
- Setembro ou seca as fontes, ou leva açudes e pontes.
- Setembro que enche o celeiro dá triunfo ao rendeiro.
- Setembro que enche o celeiro, salva o rendeiro.
- Setembro seca os montes, rios e fontes.
- Setembro, andando e comendo.
- Setembro, cara de poucos amigos e manhã de figos.
- Setembro, comendo e colhendo.
- Setembro, molhado, figo estragado.
- Setembro, ou seca as fontes ou leva açudes e pontes.
- Setembro, ou seca as fontes ou leva as pontes.
- Setembro, ou seca os montes ou lava as fontes.
- Setembro, ou seca os montes ou leva as fontes.
- Setembro, que enche o celeiro, dá triunfo ao rendeiro.
- Setembro, vindimar.
- Sol pelo São Mateus, chuva até ao Menino Deus.
- Terra de gramão, terra de pão.
- Trinta dias tem Novembro, Abril, Junho e Setembro; de vinte e oito, só há um, e os mais têm trinta e um.
- Vai-te com Deus e S. Miguel com as almas.
- Vindima molhada, pipa depressa despejada.

Publicado inicialmente em 19 de Setembro de 2012

sábado, 15 de setembro de 2012

15 de Setembro


Imagem de Rita Gorgulho.


Hoje, foi o primeiro dia do resto das nossas vidas. O povo saiu à rua, porque o governo perdeu o apoio do país. À semelhança das massas populares, eu quero este (des)governo na rua. Todavia, como não tenho memória curta, clamo igualmente:
- Volta Sócrates, para seres julgado!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

João de Sousa Carvalho


João de Sousa Carvalho, filho de Paulo de Carvalho e de Ana Maria Angelica, nasceu em Estremoz no dia 22 de Fevereiro de 1745. Começou os estudos musicais aos oito anos, no Colégio dos Santos Reis Magos, em Vila Viçosa. Protegido pelo rei D. José I, aos quinze anos é enviado para Itália por este monarca com o objectivo de se aperfeiçoar na arte dos sons. Aí ingressa no Conservatório de Santo Onofre de Capuana, em Nápoles. Terá tido como mestres, Nicollo Porpora, Carlo Cotumacci e Joseph Dol e contacto com músicos como Paisiello, Piccini e Cimarosa, e com as tendências do classicismo europeu.
Regressa a Portugal em 1767, ocupando primeiro o lugar de professor de contraponto e mais tarde, o de mestre de capela no Seminário da Patriarcal, em Lisboa. Aí teve como discípulos António Leal Moreira, Marcos Portugal, João José Baldi, João Domingos Bomtempo e o cantor e compositor italiano Giuseppe Toti.
Em 1778, João de Sousa Carvalho é nomeado professor de Música da Corte e passa a residir no Palácio Velho da Ajuda. Bem remunerado e casado rico em 1783, leva uma vida desafogada que lhe permite comprar propriedades no Alentejo e no Algarve.
A produção musical autenticada de João de Sousa Carvalho distribui-se por três grandes grupos: Música Dramática, Música Sacra e Música Profana não Dramática.
A Música Dramática é constituída por dezasseis obras: cinco óperas, dez serenatas e uma cantata.
A Música Sacra constas de três hinos Te Deum mais duas árias, sete missas, quatro salmos, uma oratória e um motete.
A Música Profana consta de árias, bem como um dueto e uma cavatina, uma modinha e uma sonata.
Protagonista no triunfo da música italiana em Portugal, a linguagem de João de Sousa Carvalho não abdica de um certo gosto genuinamente lusitano. Da sua vasta produção destacam-se as óperas l'Amore Industrioso (1769), Testoride Argonauta (1780), bem como as serenatas Perseo (1779) e Penelope nella partenza da Sparta (1782).
João de Sousa Carvalho terá falecido entre as Quaresmas de 1799 e 1800, provavelmente no Alentejo.
João de Sousa Carvalho foi sem dúvida um dos maiores compositores de toda a história da música portuguesa e um filho ilustre de que a cidade de Estremoz muito justamente se orgulha.
Com a Mostra Filatélica de Homenagem a João de Sousa Carvalho terminou o ciclo das Comemorações do 250º Aniversário do Nascimento do insigne músico, que iniciadas em 1995 se prolongaram até 1996. Estas comemorações da responsabilidade da Câmara Municipal de Estremoz e dinamizadas pelo então vereador do Pelouro da Cultura, José Varge, contaram com o apoio de uma Comissão Executiva da qual a Associação Filatélica Alentejana fez parte.
Com a Mostra Filatélica de Homenagem a João de Sousa Carvalho terminou o ciclo das Comemorações do 250º Aniversário do Nascimento do insigne músico, que iniciadas em 1995 se prolongaram até 1996. Estas comemorações da responsabilidade da Câmara Municipal de Estremoz e dinamizadas pelo então vereador do Pelouro da Cultura, José Varge, contaram com o apoio de uma Comissão Executiva da qual a Associação Filatélica Alentejana fez parte.



Bilhete postal comemorativo dos 250 Anos do Nascimento de João de Sousa Carvalho,
emitido pelos Correios de Portugal, em 27/3/1995. Obliteração comemorativa de
  Estremoz  da Homenagem a Sousa Carvalho, do dia 15/12/1996.
Enviado sob registo pelo Maestro António Vitorino de Almeida a Hernâni Matos.
  Verso do bilhete postal anterior com uma passagem duma composição de
Sousa Carvalho, transcrita pelo punho do maestro António Vitorino de Almeida.

João de Sousa Carvalho (1745-1798):
Stellae in caelis obscurantur

sábado, 8 de setembro de 2012

Conversa de sexta-feira



Um alentejano que se preze tem que ter um churrião.
Só assim conseguirá dar resposta às suas tradicionais responsabilidades.  


À laia de peregrino que procura conforto para a sua alma desinquieta, sou caminhante das redes sociais, onde propago a minha doutrina. Ontem deu-me para desabafar no Facebook:
- Eu que sou sabadeiro, esta noite não durmo...
E acrescentei logo de seguida:
- Vocês perguntarão: Porquê? Ao que eu responderei: Está-me na massa do sangue.É como sonhar com uma bela mulher que nos desinquieta os sentidos.
As reacções não se fizeram esperar e por ali apareceram os comentários mais diversos de amigas e amigos como Mariarita Balancho, Alice Correia, Carmem Movilha, Jeremias Moura, Manuel Falardo e Maria Isabel Marques. Cada um deles disse o que lhe deu na real gana. Fui então levado a replicar:
- Eu tenho faro. Aquilo que se convencionou chamar o sexto sentido das mulheres. Como predador nato, acho que amanhã é dia de caça grossa. Sinto isso no ar.Depois da caçada, falaremos.
E como estava com a adrenalina toda, continuei:
- Talvez amanhã consiga comprar um churrião para ir ao São Mateus que há-de vir. Há uns anos atrás tinha os vinte contos que o Quintino de Bencatel, que já lá está, me pediu. Não tinha era o sítio para meter a despesa dos vinte contos.
Hoje com um bom arranjinho, tudo se resolve. E já tenho o livrete do churrião que há-de vir. As alimárias virão depois. Decerto que havia de fazer umas belas romarias, com paragens obrigatórias de vez em quando, a fim de eu e as alimárias, bebermos cada um de nós, os respectivos líquidos regeneradores. Satisfeitos, cada um de nós relincharia à sua maneira, que isso é que é a essência da verdadeira democracia. Depois, naturalmente, seguiríamos caminho.
Seguidamente fiz um apelo:
- Dão-se alvíssaras a quem descobrir um churrião disponível no mercado de tracção animal. Se for mulher, a retribuição será um sonoro e repimpado beijo. Se for homem, paga-se com um abraço camarada, seguido de um copo de três, com direito a repetição.
Vejam lá se me ajudam e se não se esquecem de mim!
E terminei com um reconhecido:
- Bem hajam!
Hoje, terminado que é o mercado de sábado, estou inconsolável, porque o meu faro falhou. Constipação ou alergia? Não sei. Apenas sei que não vi nada que me tirasse o fastio. E quanto ao churrião, nem cheiro. Apenas a impertinência acutilante do meu irmão gémeo:
- Hernâni, quem é que te manda a ti, ter adrenalina a mais?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O vasilhame de barro de Estremoz

Estremoz: Mercado dos barros integrado no mercado semanal, cerca de 1940.
Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988). Arquivo do autor.

“O VASILHAME DE BARRO DE ESTREMOZ” é o tema da exposição de olaria estremocense, patente ao público na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz. A iniciativa é da Associação Filatélica Alentejana e conta com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz. A exposição pode ser visitada de 3ª feira a sábado, entre as 9 e as 12,30 horas e entre as 14 e as 17,30 horas.
As olarias de Estremoz desde sempre produziram, todo o tipo de vasilhame destinado a uso doméstico, nomeadamente o destinado a conter água.
Dantes, todas as casas tinham na cozinha, um poial dos cântaros, onde os tamanhos mais correntes eram “a terceira” (15 litros) e a quarta (10 litros). Aí se ia buscar à fonte ou ao poço, a água destinada ao consumo doméstico. Nos poiais, lá estavam gravados muitas vezes, a cruz e o signo-saimão, símbolos mágicos de protecção contra o mau-olhado e o quebranto. Estes símbolos podiam aparecer igualmente gravados nos cântaros ou nas suas tampas de cortiça.
Para além dos cântaros, existiam ainda recipientes para água de menores dimensões, como as bilhas, os moringues, as garrafas de água, os barris e os púcaros.
As bilhas (de 1 a 2 litros) e os moringues (1 a 3 litros) permitiam levar água à mesa da refeição. Já as garrafas de água (1 a 2 litros) eram mais destinadas a ter na mesinha de cabeceira, para uso nocturno. Quantos aos barris (1 a 2 litros), destinavam-se a ser usados em viagem ou levados para o local de trabalho, usando um cordel que os permitia transportar ao ombro ou a tiracolo. Eram também usados nos carros de tracção animal, protegidos por um invólucro tecido com esparto, num receptáculo existente no exterior do carro.
Em Estremoz, sempre houve três tipos de decoração do vasilhame para água:
- o riscado, de aspecto mais rústico, tendo colado meniscos convexos de argila, decorados com minúsculos seixos de quartzo;
- o polido, com uma decoração mais fina e requintada, que joga com o contraste entre a superfície baça e os motivos que foram polidos;
- folhas, bolotas e ramos de sobreiro, moldados em barro e colados à superfície, conjugados com algum polimento daquela.
Existem também recipientes em barro, vulgarmente conhecidos por “picassos”, com formas mais ou menos estilizadas: o peixe, o galo, a cabra, a mulher nua, a sereia, etc.
Antes da vulgarização dos frigoríficos, o vasilhame de barro era a garantia de se ter em casa, água fresca que nos permitisse dessedentar nos dias de Verão. O barro é poroso, pelo que a água contida no interior do recipiente, chega à superfície por capilaridade. Daqui se evapora por acção do calor, o que consumindo energia, faz baixar a temperatura no interior do recipiente. Este abaixamento de temperatura é directamente proporcional à massa de água evaporada e inversamente proporcional à massa de água contida na vasilha. Os cálculos revelam que ao evaporar-se 1 decilitro de água de um recipiente, que passe então a ficar com 1 litro dela, a temperatura desta baixa 5,4 º C. É a magia da natureza. E como é saborosa a água contida em recipientes de barro, sobretudo de barro novo, que se desfaz em fino pó.
A vulgarização dos frigoríficos deu uma facada de morte nos oleiros, que já tinham levado outra com a implementação dos recipientes de alumínio, a substituir a loiça vidrada. Entre nós só já há um oleiro, Jerónimo Lagartinho, que talvez venha a ser o último oleiro de Estremoz. A olaria estremocense está em risco de extinção. Não se pode fazer nada para o evitar? É que chorar lágrimas de crocodilo depois, é hipocrisia e não resolve nada.


Cântaro de barro de Estremoz (altura: 40 cm; diâmetro
máximo: 68 cm) com cerca de 5 litros de capacidade.
Fabrico da Olaria Alfacinha (Anos 40 do séc. X). Decoração
com folhas, bolotas e ramos de sobreiro moldados em barro
e colados à superfície, conjugados com algum polimento
daquela. A própria asa é uma pernada de sobreiro. No lado
oposto, o brasão de armas de Estremoz. Colecção do autor.