terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Janeiro na Pintura Universal


FESTA REAL EM JANEIRO (1310-1320). Salmos da Rainha Mary, manuscrito com
iluminuras do Mestre da Rainha Mary. Folhas em pergaminho (27,5 x 17,5 cm).
British Library, London.

Janeiro é o primeiro mês do ano no calendário juliano e no calendário gregoriano e, tem 31 dias. A sua designação deriva do Ianuarius, undécimo mês do calendário na reforma de Numa Pompílio. Posteriormente começou a ser o primeiro do ano no calendário juliano, já que Júlio César determinou que a partir do ano 709 romano (45 a.C.), o ano deveria começar na primeira lua nova após o solstício de Inverno, que no hemisfério norte ocorria a 21 de Dezembro. Nessa altura o início do ano ocorreu oito dias após o solstício. Posteriormente o início do ano foi alterado para onze dias após o solstício.
Na concordância com o calendário republicano francês, o dia 1 de Janeiro corresponde a dia 11 do mês Nivoso e dia 31 de Janeiro ao 11 do mês Pluvioso.
“Janeiro” é o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
IDADE MÉDIA: Mestre da Rainha Mary, inglês; “Mestre dos pergaminhos de ouro” (Bruges), belga; irmãos Paul, Jean et Herman de Limbourg (1370-80-1416), holandês; Jean Fouquet (1415-20 - 1478-81), francês; Miniaturista Flamengo, flamengo.
RENASCENÇA: Simon Bening (1483-1561), belga; António de Holanda, holandês; Simon Bening (1483 – 1561), belga; Pieter Bruegel “O Velho” (c. 1525-1569), flamengo.
BARROCO: Sebastian Vrancx (1573-1647), flamengo.
E que nos mostram os mestres da pintura universal?
Paisagens com rios e lagos gelados. Casas com telhado coberto de neve, a qual também cobre o solo. Brincadeiras e jogos de crianças e de adultos, no gelo e na neve. Árvores despidas de folhas. Cenas de regresso da caça. Algumas actividades agro-pastoris. Pessoas que vestem roupas da época que as protegem do frio e que quando ao ar livre têm sempre a cabeça coberta. No interior das casas, pessoas que comem e se aquecem junto à lareira. 

Publicado inicialmente em 10 de Janeiro de 2012

CALENDÁRIO DO MÊS DE JANEIRO. (c.1401-1433). Livro de Horas de D. Duarte.
Manuscrito e Iluminuras do “Mestre dos pergaminhos de ouro” (Bruges). Folhas
em pergaminho (17,0 x 24,0 cm). Torre do Tombo, Lisboa.

JANEIRO - Iluminura (22,5 x 13,6 cm) do “Livro de Horas do Duque de Berry”
(1412-16),  manuscrito com iluminuras dos irmãos Paul, Jean et Herman de
Limbourg (1370-80-1416), conservado no Museu Condé, em Chantilly, na França.

JANEIRO – UM HOMEM A COMER E A AQUECER-SE AO FOGO (c. 1470). Livro de Horas
de Tours, manuscrito com iluminuras de Jean Fouquet (1415-20 - 1478-81) e outros.
Folhas de pergaminho (12,5x 9 cm). Koninklijke Bibliotheek (Haia, KB, 74 G 28 fol. 1r).

MÊS DE JANEIRO (1490-1510). Iluminura (28 x 21,5 cm) de Miniaturista Flamengo.
Breviário Grimani. Biblioteca Marciana, Veneza.

JANEIRO – Iluminura (28 x 21,5 cm) do “Livro de Horas da Costa” (c/ 1515). Iluminado
por Simon Bening (1483-1561). Conservado na Morgan Library, Nova Iorque.

JANEIR0 - Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I” [Século XVI
(1517-1551)], manuscrito com iluminuras atribuídas a António de Holanda, conservado
no Museu Nacional de Arte Antiga. Pintura a têmpera e ouro sobre pergaminho.

JANEIRO - Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando” [Século XVI
(1530-1534)], manuscrito com iluminuras da oficina Simon Bening (1483 - 1561), conservado
no Museu Nacional de Arte Antiga. Pintura a têmpera e ouro sobre pergaminho.

CAÇADORES NA NEVE – JANEIRO (1565).  Pieter Bruegel  “O Velho” (c. 1525-1569).
Óleo sobre painel (117 x 162 cm). Kunsthistorisches Museum, Vienna. 

JANEIRO. Sebastian Vrancx (1573-1647). Óleo sobre madeira (27 x 37 cm). 
Szépmûvészeti Múzeum, Budapest.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Avental

Traje maçónico com banda e avental (1840-50).
Museu Nacional do Traje, Lisboa.

São Bento tem andado ultimamente numa autêntica roda-viva. É que um verbo de conjugação supostamente discreta, adquiriu uma inesperada e gigantesca visibilidade quando começou a ser conjugado com frequência no Hemiciclo e nos Passos Perdidos:

Eu uso Avental
Tu usas Avental
Ele usa Avental
Nós usamos Avental
Vós usais Avental
Eles usam Avental

É que por ali impera o Avental como fatiota ritual de alguns membros dos partidos do arco da governação. Pelos vistos só o Bloco, o PC e os Verdes não querem nada com o Avental.
Parafraseando o adagiário português há já quem proclame: “Diz-me se usas ou não Avental, dir-te-ei quem és.” Outros vão ao ponto de congeminar: “Será que o Presidente da República usa Avental?”
Cá em casa posso-vos assegurar que ninguém usa Avental, a começar pela minha mulher e pela minha filha, mesmo quando cozinham. Quanto a mim e apesar de ter sido convidado a usar Avental, declinei elegantemente o convite. É que a liberdade de consciência e de determinação que usufruo como Franco-Atirador, não são compatíveis com as amarras que manietam aqueles que por aconchego vivem à sombra tutelar da Acácia. As Claridades do Sul querem-me livre como o vento Suão. Daí que não me motivem as fatiotas rituais.


Traje maçónico com banda e avental (1840-50).
Museu Nacional do Traje, Lisboa. 
 Avental maçónico (1840-50).
Museu Nacional do Traje, Lisboa.
Avental maçónico (2ª metade do séc. XIX).
Museu Nacional do Traje, Lisboa.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A Adoração dos Pastores na Pintura Universal

NASCIMENTO DE CRISTO (c. 1425-30).
Robert Campin (c. 1380 – 1444).
Óleo sobre painel (86 × 72 cm).
Musée des Beaux-Arts, Dijon.

A Adoração dos Pastores” é o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
- RENASCENÇA: Robert Campin (c. 1380 – 1444), flamengo; Andrea Mantegna (1431 – 1506), italiano; Hugo van der Goes (c. 1440 – 1482), flamengo; Martin Schongauer (c. 1447 – 1491), alemão; Giorgione (1477 – 1510) italiano; Raphael (1483-1520), italiano; Titian (c. 1485-1576), italiano; Jacopo Bassano (c. 1515-92), italiano.
- MANEIRISMO: Tintoretto (c. 1518-94), italiano; El Greco (1541-1614), espanhol.
- BARROCO: Peter Paul Rubens (1577-1640), flamengo; Caravaggio (1573 – 1610), italiano; Gerrit van Honthorst (1590 – 1656), holandês; Francisco de Zurbarán (1598-1664), espanhol; Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606 – 1669), holandês; Jan Havicksz Steen (c. 1626 – 1679), holandês.
- ROMANTISMO: William Bell Scott (1811-1890), escocês;
- VICTORIANO: James Tissot (1836-1902), francês;
As referências bíblicas à “Adoração dos PASTORES” surgem em LUCAS 2:
“1. Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra.
2. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.
3. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.
4. Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de David, chamada Belém, porque era da casa e família de David,
5. para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida.
6. Estando eles ali, completaram-se os dias dela.
7. E deu à luz seu filho primogénito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria.
8. Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.
9. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.
10. O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo:
11. hoje vos nasceu na Cidade de David um Salvador, que é o Cristo Senhor.
12. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.
13. E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia:
14. Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objectos da benevolência divina.
15. Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou.
16. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.
17. Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.
18. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.“



ADORAÇÃO DOS PASTORES (c. 1451-53).
Andrea Mantegna (1431 – 1506).
Têmpera sobre tela (40 × 56 cm).
Metropolitan Museum of Art, New York.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1476-1478).
Hugo van der Goes (c. 1440 – 1482).
Óleo sobre painel (253 × 304 cm).
Galleria degli Uffizi, Florence.
NATIVIDADE (c. 1840).
Martin Schongauer (c. 1447 – 1491).
Óleo sobre painel (37×28 cm).
Gemäldegalerie der Staatlichen Museen, Berlin.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (C. 1500).
Giorgione (1477 – 1510).
Óleo sobre painel (91 × 110 cm).
National Gallery of Art, Washington DC.
NASCIMENTO DE CRISTO (1518-19).
Raphael (1483-1520).
Fresco.
Palazzi Pontifici, Vatican.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1533).
Titian (c. 1485-1576).
Óleo sobre madeira.
Galleria Palatina, Palazzo Pitti, Florence.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (c. 1545).
Jacopo Bassano (c. 1515-92).
Óleo sobre tela.
Musée National du Château de Fontainebleau.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1579-81).
Tintoretto (c. 1518-94).
Óleo sobre tela.
Scuola di San Rocco, Venice.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (C. 1608).
Peter Paul Rubens (1577-1640).
Óleo sobre tela.
St.-Pauluskerk, Antwerp.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (c. 1609).
Caravaggio (1573 – 1610).
Óleo sobre tela (314 × 211 cm).
Museo Regionale, Messina.
A ADORAÇÃO DOS PASTORES (1612–14).
El Greco (1541-1614).
Oil on canvas (319 × 180 cm).
Museo del Prado, Madrid.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1622).
Gerrit van Honthorst (1590 – 1656).
Óleo sobre tela (164 × 190 cm).
Wallraf-Richartz Museum, Cologne.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1638-39).
Francisco de Zurbarán (1598-1664).
Óleo sobre tela.
Musée de Grenoble.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1646 [1])
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606 – 1669).
Óleo sobre tela (97 × 71 cm).
Alte Pinakothek, Munich.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1646 [2]).
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606 – 1669).
Óleo sobre tela (65 × 55 cm).
National Gallery, London.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1660-1679).
Jan Havicksz Steen (c. 1626 – 1679).
Óleo sobre tela (53 × 64 cm).
Rijksmuseum, Amsterdam.
A NATIVIDADE (1872).
William Bell Scott (1811-1890).
Óleo sobre tela.
National Gallery of Scotland, Edinburgh.
ADORAÇÃO DOS PASTORES (1886-94).
James Tissot (1836-1902).
Aguarela opaca sobre grafite em papel cinza.
Brooklyn Museum, New York.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Noite de Natal

 
Preparação da consoada. Ilustração de Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970),
para bilhete-postal emitido pelos CTT.

Nos anos 50-60 do século passado, eu e os meus pais passávamos normalmente a noite da missadura em casa da minha tia Estrela, no nº 17, do Largo do Espírito Santo, em Estremoz. Fazíamos o lume de chão para nos aquecermos e para grelharmos a chouriça, o lombinho e o toucinho das sete carnes. O pingo que escorria das missaduras era cuidadosamente aparado com nacos de pão. Até dava para nos lambermos a comer pão assim.
Por cima das nossas cabeças, o fumeiro – espécie de enfermaria para os enchidos – onde luzidias e gulosas chouriças, morcelas e farinheiras ficavam a curar, aguardando a sua vez da gente se poder repimpar com elas.
Ti Manel Alturas, o meu avô materno, tocava ronca e com a sua voz esganiçada, cantava:

"Olha o Deus Menino
Nas palhas deitado,
A comer toicinho
Todo besuntado!"

A mesa estava posta para o ritual da comezaina da noite. Pão caseiro, fruta da época, arroz doce e bolos que as mulheres atarefadas preparavam durante todo o dia. Ele era a boleima, o bolo podre, o bolo de laranja, as filhoses, as azevias as argolinhas que os mais crescidos empurravam com vinho doce ou com vinho abafado, depois de termos despachado a chouriça, o toucinho e os lombinhos. Tudo acompanhado com brócolos ou couve-flor e regado com vinho da adega do Zé da Glória. E sabem o que vos digo? Não me lembro de alguma vez ter ouvido falar em colesterol.
Na lareira, crepitava o madeiro de Natal. Eu passava a noite a brincar ao pé do lume, a ouvir falar e cantar os mais velhos. Só saía dali cerca da meia noite quando me mandavam para a rua, ver o Pai Natal entrar pela chaminé. Durante muitos anos não consegui perceber a razão exacta pela qual, o bom do Pai Natal entrava precisamente na altura em que eu saía. Depois de ter percebido isto, os presentes minguaram a olhos vistos. Para vos falar disto é por que sei qual a diferença exacta que há entre os dois natais.

Publicado inicialmente a 5 de Janeiro de 2012

Texto adaptado do texto anterior "Memórias do Espírito Santo"

Carta ao Menino Jesus. Ilustração de Laura Costa (activa 1920-1950),
para bilhete-postal emitido pelos CTT em 1942.

Cântico do Natal. Ilustração de Laura Costa (activa 1920-1950),
para bilhete-postal emitido pelos CTT em 1942.

 
As Prendas do Menino Jesus. Ilustração de Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970),
para bilhete-postal emitido pelos CTT em 1943.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Presépios de barro de Estremoz

Irmãs Flores - Presépio de cantarinha

Conhecem-se presépios de barro de Estremoz desde o séc. XVIII e crê-se que eles terão sido aqui introduzidos pelos monges do Convento de S. Francisco edificado em meados do séc. XIII e cuja tradição presepista é bem conhecida, desde que o fundador da Ordem, S. Francisco de Assis, montou o primeiro presépio do mundo em Greccio (Itália), no Natal de 1223, com a função didáctica de explicar o nascimento de Jesus, ao mesmo tempo que desgostado com as liberdades da Natividade dentro dos Templos, sustinha a adoração do Natal, como nos diz Luís Chaves [1].
As figuras dos presépios de barro de Estremoz são fabricadas por elementos: cabeças, troncos, pernas, braços, que depois são montados de modo a constituir os bonecos. Estes, tal como nós, nascem nus e só depois é que recebem vestidos, capas, safões, cabelos e chapéus. Todas as peças são afeiçoadas à mão, à excepção do rosto dos bonecos, que é feito com moldes e sempre assim foi, devido à dificuldade em o fazer manualmente. As ferramentas que utilizam para trabalhar o barro são a palheta ou teque (de madeira, plástico ou metal, que permite escavar o barro e dar-lhe forma), os furadores (para furar) e o batedor (para estender o barro (embora haja quem o faça com o rolo da maça).
Antes de serem cozidos, os bonecos têm de secar durante vários dias. Depois de cozidos, o que leva um dia, os bonecos levam outro dia para arrefecer. Só então podem ser pintados. Nesta operação são utilizados pincéis finos de várias espessuras e tintas fabricadas com pigmentos minerais: vermelhão (vermelho), almagre (vermelho escuro), zarcão (cor de laranja), terra de sena (castanho), verde bandeira (verde), azul do ultramar (azul), alvaiade (branco) e pó de sapato (preto). As tintas são feitas misturando os pigmentos com água e cola de madeira, um pouco a olho, mas na quantidade adequada para que a tinta agarre bem ao barro e não salte quando se lhe põe verniz, uma vez que depois da pintura estar seca (o que é rápido), os bonecos são envernizados para fixar a tinta.
À criação e venda de presépios bonecos de Estremoz se dedicam na actualidade, barristas como Maria Luísa da Conceição, Irmãos Ginga, Irmãs Flores, Fátima Estróia, Isabel Pires, Célia Freitas, Ricardo Fonseca e Duarte Catela, cada um com o seu toque próprio. 
É de salientar o forte registo etnográfico dos presépios de barro de Estremoz, que ciclicamente permitem reconstituir e comemorar em nossas casas, o nascimento de Cristo Salvador.
BIBLIOGRAFIA
[1] - CHAVES, Luís. O primeiro «Presépio» de Lisboa conhecido (Século XVII). In, O Archeologo Português. Lisboa, Museu Ethnographico Português. S. 1, vol. 21, n.º 1-12 (Jan-Dez 1916), p. 229-230.


Irmãs Flores - Presépio
Irmãs Flores - Presépio de trono ou de altar
Maria Luísa da Conceição - Presépio de assobio
Maria Luísa da Conceição - Presépio
Maria Luísa da Conceição - Presépio
Irmãos Ginja - Presépio
Afonso Ginja - Presépio 
Isabel Pires - Presépio de trono ou de altar 
Fátima Estróia -  Presépio 
Célia Freitas - Presépios
 Duarte Catela - Presépio
Ricardo Fonseca - Presépio 
Ricardo Fonseca - Presépio
Ricardo Fonseca - Presépio alentejano
Jorge da Conceição - Presépio
 Jorge da Conceição - Presépio

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Vem aí o Ano Novo!


A magistral ilustração de Stuart de Carvalhais (1887-1961), com a qual ilustro a presente crónica, tem por título “Cumprimentos do Ano” e foi publicada na capa da revista “Ilustração Portuguesa”, nº 410, de 29 de Dezembro de 1913. Ela sugere a despedida do “Ano Velho”, aí representado por um ancião de ar respeitável, sentado, vencido decerto pelo desgaste e pelas mazelas da vida. Junto a ele, duas crianças, das quais a mais velhinha lhe entrega um ramo de flores, decerto como reconhecimento do legado positivo que o Ano Velho lhes doou.
Não tenho motivo algum que me leve a crer que esta alegoria de Stuart não fosse apropriada em 1913. Todavia, considero que, actualmente, ela carece de sentido. Por isso me despeço de 2011 com mágoa, azedume e revolta, porque os portugueses nunca perderam tanta qualidade de vida e direitos democráticos como no ano de 2011. Pelo menos até agora. E porquê? Por culpa dos políticos que temos, dos políticos que tivemos e dos políticos que não tivemos, ainda que uma maioria significativa de nós, os gostasse de ter tido.
Conhecedor da obra do poeta popular António Aleixo (1899-1949), identifico-me bastante com o seu pensamento, a começar pelo modo como o poeta se enquadra na Sociedade:

“Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade que,
baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.“

Concordo também com o juízo que faz do Poder:

“Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.”

Na óptica do poeta, é um juízo que não é nada positivo:

“Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será uma ciência...”

Por isso o poeta considera ter o direito de protestar:

“Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!”

E vai ao ponto de advertir o Poder:

“Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério!”

Proclama igualmente que a situação pode (e digo eu, deve) mudar:

“Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.”

Perder a vida será na sua opinião, o que menos importa:

“Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão? “

Nunca o pensamento de António Aleixo foi tão pertinente como hoje, por congregar duma forma excepcional uma análise da situação com alguma orientação para a acção. E acreditem que eu percebo da poda. Sou da geração do Maio de 68 em Portugal, doutros tempos de luta e porventura o primeiro divulgador de António Aleixo em Lisboa, em sessões de Canto Livre, em que participavam companheiros como o Zeca, o Adriano, o Fanhais ou o Fanha. Eu era um alentejano fininho com um metro e noventa de altura e olhos de carneiro mal morto. Quando ocupávamos a cantina de Ciências para afrontar o Poder, este cagava-se todo e mandava a polícia de choque contra nós. Nós não nos cagávamos, porque tínhamos tudo no sítio. A nossa força era a consciência política, a unidade, a disciplina e a resistência militante. Tínhamos na massa do sangue a poesia do Daniel Filipe (1925-1964) - Pátria Lugar de Exílio:

“(…) Tendes jornais.
usai-os
tendes exércitos
usai-os
tendes polícia
usai-a
tendes juízes
usai-os
usai-os contra nós
procurai esmagar-nos
cantando resistimos.”

Mais de quarenta anos depois, com toda a adrenalina dos meus 65 anos, repudio a política canalha que nos (des)governa e proclamo alto e bom som: