segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Presépios de barro de Estremoz

Irmãs Flores - Presépio de cantarinha

Conhecem-se presépios de barro de Estremoz desde o séc. XVIII e crê-se que eles terão sido aqui introduzidos pelos monges do Convento de S. Francisco edificado em meados do séc. XIII e cuja tradição presepista é bem conhecida, desde que o fundador da Ordem, S. Francisco de Assis, montou o primeiro presépio do mundo em Greccio (Itália), no Natal de 1223, com a função didáctica de explicar o nascimento de Jesus, ao mesmo tempo que desgostado com as liberdades da Natividade dentro dos Templos, sustinha a adoração do Natal, como nos diz Luís Chaves [1].
As figuras dos presépios de barro de Estremoz são fabricadas por elementos: cabeças, troncos, pernas, braços, que depois são montados de modo a constituir os bonecos. Estes, tal como nós, nascem nus e só depois é que recebem vestidos, capas, safões, cabelos e chapéus. Todas as peças são afeiçoadas à mão, à excepção do rosto dos bonecos, que é feito com moldes e sempre assim foi, devido à dificuldade em o fazer manualmente. As ferramentas que utilizam para trabalhar o barro são a palheta ou teque (de madeira, plástico ou metal, que permite escavar o barro e dar-lhe forma), os furadores (para furar) e o batedor (para estender o barro (embora haja quem o faça com o rolo da maça).
Antes de serem cozidos, os bonecos têm de secar durante vários dias. Depois de cozidos, o que leva um dia, os bonecos levam outro dia para arrefecer. Só então podem ser pintados. Nesta operação são utilizados pincéis finos de várias espessuras e tintas fabricadas com pigmentos minerais: vermelhão (vermelho), almagre (vermelho escuro), zarcão (cor de laranja), terra de sena (castanho), verde bandeira (verde), azul do ultramar (azul), alvaiade (branco) e pó de sapato (preto). As tintas são feitas misturando os pigmentos com água e cola de madeira, um pouco a olho, mas na quantidade adequada para que a tinta agarre bem ao barro e não salte quando se lhe põe verniz, uma vez que depois da pintura estar seca (o que é rápido), os bonecos são envernizados para fixar a tinta.
À criação e venda de presépios bonecos de Estremoz se dedicam na actualidade, barristas como Maria Luísa da Conceição, Irmãos Ginga, Irmãs Flores, Fátima Estróia, Isabel Pires, Célia Freitas, Ricardo Fonseca e Duarte Catela, cada um com o seu toque próprio. 
É de salientar o forte registo etnográfico dos presépios de barro de Estremoz, que ciclicamente permitem reconstituir e comemorar em nossas casas, o nascimento de Cristo Salvador.
BIBLIOGRAFIA
[1] - CHAVES, Luís. O primeiro «Presépio» de Lisboa conhecido (Século XVII). In, O Archeologo Português. Lisboa, Museu Ethnographico Português. S. 1, vol. 21, n.º 1-12 (Jan-Dez 1916), p. 229-230.


Irmãs Flores - Presépio
Irmãs Flores - Presépio de trono ou de altar
Maria Luísa da Conceição - Presépio de assobio
Maria Luísa da Conceição - Presépio
Maria Luísa da Conceição - Presépio
Irmãos Ginja - Presépio
Afonso Ginja - Presépio 
Isabel Pires - Presépio de trono ou de altar 
Fátima Estróia -  Presépio 
Célia Freitas - Presépios
 Duarte Catela - Presépio
Ricardo Fonseca - Presépio 
Ricardo Fonseca - Presépio
Ricardo Fonseca - Presépio alentejano
Jorge da Conceição - Presépio
 Jorge da Conceição - Presépio

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Vem aí o Ano Novo!


A magistral ilustração de Stuart de Carvalhais (1887-1961), com a qual ilustro a presente crónica, tem por título “Cumprimentos do Ano” e foi publicada na capa da revista “Ilustração Portuguesa”, nº 410, de 29 de Dezembro de 1913. Ela sugere a despedida do “Ano Velho”, aí representado por um ancião de ar respeitável, sentado, vencido decerto pelo desgaste e pelas mazelas da vida. Junto a ele, duas crianças, das quais a mais velhinha lhe entrega um ramo de flores, decerto como reconhecimento do legado positivo que o Ano Velho lhes doou.
Não tenho motivo algum que me leve a crer que esta alegoria de Stuart não fosse apropriada em 1913. Todavia, considero que, actualmente, ela carece de sentido. Por isso me despeço de 2011 com mágoa, azedume e revolta, porque os portugueses nunca perderam tanta qualidade de vida e direitos democráticos como no ano de 2011. Pelo menos até agora. E porquê? Por culpa dos políticos que temos, dos políticos que tivemos e dos políticos que não tivemos, ainda que uma maioria significativa de nós, os gostasse de ter tido.
Conhecedor da obra do poeta popular António Aleixo (1899-1949), identifico-me bastante com o seu pensamento, a começar pelo modo como o poeta se enquadra na Sociedade:

“Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade que,
baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.“

Concordo também com o juízo que faz do Poder:

“Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.”

Na óptica do poeta, é um juízo que não é nada positivo:

“Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será uma ciência...”

Por isso o poeta considera ter o direito de protestar:

“Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!”

E vai ao ponto de advertir o Poder:

“Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério!”

Proclama igualmente que a situação pode (e digo eu, deve) mudar:

“Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.”

Perder a vida será na sua opinião, o que menos importa:

“Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão? “

Nunca o pensamento de António Aleixo foi tão pertinente como hoje, por congregar duma forma excepcional uma análise da situação com alguma orientação para a acção. E acreditem que eu percebo da poda. Sou da geração do Maio de 68 em Portugal, doutros tempos de luta e porventura o primeiro divulgador de António Aleixo em Lisboa, em sessões de Canto Livre, em que participavam companheiros como o Zeca, o Adriano, o Fanhais ou o Fanha. Eu era um alentejano fininho com um metro e noventa de altura e olhos de carneiro mal morto. Quando ocupávamos a cantina de Ciências para afrontar o Poder, este cagava-se todo e mandava a polícia de choque contra nós. Nós não nos cagávamos, porque tínhamos tudo no sítio. A nossa força era a consciência política, a unidade, a disciplina e a resistência militante. Tínhamos na massa do sangue a poesia do Daniel Filipe (1925-1964) - Pátria Lugar de Exílio:

“(…) Tendes jornais.
usai-os
tendes exércitos
usai-os
tendes polícia
usai-a
tendes juízes
usai-os
usai-os contra nós
procurai esmagar-nos
cantando resistimos.”

Mais de quarenta anos depois, com toda a adrenalina dos meus 65 anos, repudio a política canalha que nos (des)governa e proclamo alto e bom som:


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Adoração dos Magos na Pintura Universal


A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/ 1320)
Giotto (c/ 1267 – 1337)
Têmpera em painel (45 × 44 cm)
Metropolitan Museum of Art, New York


“A Adoração dos Magos” é o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
IDADE MÉDIA - Giotto (c/ 1267 – 1337), italiano;
RENASCENÇA - Irmãos Van Limburg (1375 – 1416), holandeses; Fra Angelico (1387 – 1455), italiano; Rogier van der Weyden (1399/1400 – 1464), flamengo; Andrea Mantegna (1431 – 1506), italiano; Hugo van der Goes (c/ 1440 – 1482), flamengo; Sandro Botticelli (c/ 1445 – 1510), italiano; Hans Memling (c/ 1433 – 1494), flamengo; Leonardo da Vinci (1452 – 1519), italiano; Hieronymus Bosch (c/ 1450 – 1516), holandês; Geertgen tot Sint Jans (c/ 1460/65 – c/ 1488/93), holandês; Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494), italiano; Filippino Lippi (c/ 1457 – 1504), italiano; Albrecht Dürer (1471 – 1528), alemão; Pieter Bruegel “O Velho” (c/ 1520 – 1569), flamengo; Pieter Aertsen (1507/08 – 1575), flamengo;
BARROCO - Peter Paul Rubens (1577 – 1640), flamengo; Diego Rodriguez da Silva y Velázquez (1599 – 1660), espanhol;
As referências bíblicas à “Adoração dos Magos” surgem em MATEUS 2:
“1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta:
6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo {Miquéias 5,2}.
7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exacta em que o astro lhes tinha aparecido.oração
8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
12. E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho.”

Publicado inicialmente em 28 de Dezembro de 2011

A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1408-1409)
Irmãos Van Limburg (1375 – 1416)
Manuscrito iluminado (24 × 17 cm)
Metropolitan Museum of Art, New York
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/1445)
Fra Angelico (1387 – 1455)
Têmpera em painel (Diâmetro 137 cm)
National Gallery of Art, Washington DC
A VISÃO DOS MAGOS (c/ 1445 – 1448)
Rogier van der Weyden (1399/1400 – 1464)
Óleo em painel (91 × 40 cm)
Gemäldegalerie der Staatlichen Museen, Berlin
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/ 1461)
Andrea Mantegna (1431 – 1506)
Têmpera em painel (76 × 76,5 cm)
Galleria degli Uffizi, Florence
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/1470/75)
Hugo van der Goes (c/ 1440 – 1482)
Óleo em painel (150 × 247 cm)
Gemäldegalerie der Staatlichen Museen, Berlin
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1475)
Sandro Botticelli (c/ 1445 – 1510)
Têmpera em painel (111 × 134 cm)
Galleria degli Uffizi, Florence
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1479)
Hans Memling (c/ 1433 – 1494)
Óleo em painel (46 × 57 cm)
Memling Museum, St.John's Hospital, Bruges
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1479)
Hans Memling (c/ 1433 – 1494)
Óleo em painel (46 × 57 cm)
Memling Museum, St.John's Hospital, Bruges
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1485-1500)
Hieronymus Bosch (c/ 1450 – 1516)
Óleo em painel (138 × 144 cm)
Museo del Prado, Madrid
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/1485)
Geertgen tot Sint Jans (c/ 1460/65 – c/ 1488/93)
Óleo em painel (Painel principal: 111 × 69 cm; abas: 71 × 39 cm)
Národní galerie, Sternberg Palace, Prague
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1488)
Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494)
Têmpera em painel (285 × 240 cm)
Ospedale degli Innocenti, Florence
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1496)
Filippino Lippi (c/ 1457 – 1504)
Óleo em painel (258 × 243 cm)
Galleria degli Uffizi, Florence
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1504-05)
Albrecht Dürer (1471 – 1528)
Óleo em painel (100 × 114 cm)
Galleria degli Uffizi, Florence
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1556-62)
Pieter Bruegel “O Velho” (c/ 1520 – 1569)
Têmpera sobre tela (124 × 169 cm)
Royal Museums of Fine Arts of Belgium, Brussels
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (c/ 1560)
Pieter Aertsen (1507/08 – 1575)
Óleo em painel (168 × 179 cm)
Rijksmuseum, Amsterdam
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1617-18)
Peter Paul Rubens (1577 – 1640)
Óleo sobre tela (245 × 325 cm)
Musée des Beaux-Arts, Lyon
A ADORAÇÃO DOS MAGOS (1619)
Diego Rodriguez da Silva y Velázquez (1599 – 1660)
Óleo sobre tela (203 × 125 cm)
Museo del Prado, Madrid

domingo, 25 de dezembro de 2011

Coroas de plantas usadas no Natal


Azevinho. Imagem recolhida em http://safarigarden.commercesuite.com.br/


Durante a época natalícia, as portas de muitos lares ostentam coroas de Natal, feitas com ramagens entrelaçadas de plantas de cores diferentes:
- O azevinho, um arbusto de folhas afiadas e cortantes, com frutos de cor vermelho-vivo, o qual sobrevive ao mais rigoroso dos invernos europeus;
- O visco branco, arbusto de folhas arredondadas e de textura macia, com frutos brancos;
- A hera, planta trepadeira delicada, flexível, com folhas macias e frutos negros.
Qual a origem de tal tradição?
O azevinho era uma árvore sagrada para os druidas. No calendário celta, o azevinho corresponde ao período compreendido entre 8 de Julho e 4 de Agosto. Devido à dureza da sua madeira, os antigos celtas usavam esta árvore para confeccionar as pontas de seta. Devido a essa característica, o azevinho é considerado como símbolo de firmeza, força e resistência. Na mitologia celta, o azevinho representava o aspecto masculino das divindades e acreditava-se ter o poder de repelir o mal. O visco branco representava o aspecto feminino das divindades (imortalidade e fertilidade) e acreditava-se ser capaz de curar qualquer doença.
Na mitologia escandinava, o azevinho representava Frey (deus belo e forte que comandava o tempo e a prosperidade). O visco branco representava Freya (deusa do amor e da sensualidade). Daí advém a crença que beijar uma pessoa sob uma coroa de Natal, permitirá encontrar o amor da sua vida ou manter de forma saudável uma ligação existente, agraciando o casal com o dom da fertilidade.
A cor invariavelmente verde da hera e o seu carácter aconchegante, tornaram-na um símbolo de imortalidade, amizade e fidelidade, pelo que na antiga Grécia era entregue aos noivos na cerimónia de casamento.
O azevinho, o visco branco e a hera, pelo simbolismo que encerram, são arbustos considerados protectores. Daí serem utilizados para confeccionar coroas natalícias que se colocam nas portas, para trazer boa sorte e protecção
“Boca de hera, coração de azevinho", proclama um provérbio irlandês, repleto de sabedoria celta, provavelmente como registo da “possibilidade de se poder ser simultaneamente suave e resistente”.
Após a cristianização dos antigos cultos pagãos, o azevinho tornou-se um símbolo de Natal, acreditando-se que o azevinho, durante a fuga da Sagrada Família para o Egipto, estendeu os seus ramos para a esconder, impedindo que os soldados de Herodes matassem o Menino Jesus. Então Maria, como sinal de agradecimento, abençoou o azevinho que, desde então, permaneceu sempre verde. O verde permanente das suas folhas representa a vida eterna, as bagas vermelhas simbolizam a crucificação de Jesus e os seus espinhos afugentam os espíritos malignos.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 25 de Dezembro de 2011


 VISCO BRANCO - Imagem recolhida em: http://www.varbak.com/

HERA – Imagem recolhida em: http://obotanicoaprendiznaterradosespantos.blogspot.com

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Searinhas do Menino Jesus


Searinha do Menino Jesus. Fotografia de Carlos Dalves (http://olhares.aeiou.pt)

Uma tradição que ainda hoje se cumpre no Alentejo é a sementeira das “Searinhas do Menino Jesus”, já referida por A. Thomaz Pires (2) e que se efectua cerca de um mês antes do Natal.
Consiste esta tradição em lançar, em pequenos recipientes (pires ou chávenas) alguns grãos de trigo que são humedecidos com água para germinar, após o que são diariamente borrifados com a mesma, a fim de os rebentos se manterem viçosos.
As searinhas são utilizadas no presépio e no oratório, assim como são levadas à mesa da Consoada, na crença de que o Menino Jesus abençoe o trigo, de modo que nunca falte pão em casa e na mesa.
A. Thomaz Pires cita D. José Coroleu (Las supersticiones de la humanidad) quando afirma que as searinhas “(…) recordam as sementes semeadas nos testos pelas mulheres Phrygias, e que levavam ao terrado para germinarem aos raios do Sol.”.
Parece não restarem dúvidas que se trata de mais um aproveitamento cristão duma tradição pagã. Na verdade, a festa pagã do solstício de Inverno que comemorava o renascimento do Sol, foi substituída pela festa cristã do Natal, que celebra o nascimento de Cristo. Daí que usos e costumes que lhe estavam associados tenham sido adaptados ao Cristianismo, pelo que são reminiscência das antigas crenças.


BIBLIOGRAFIA
(1) - PESTANA, M. Inácio. Etnologia do Natal Alentejano. Assembleia Distrital de Portalegre. Portalegre, 1978.
(2)  – PIRES, A. Thomaz. A noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis. 2ª edição. António José Torres de Carvalho. Elvas, 1928

Publicado inicialmente em 19 de Dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

A Santa Inquisição e o assado de borrego

Auto-de-fé promovido pela Inquisição Portuguesa
na Praça do Comércio em Lisboa, antes do terramoto de 1755.
Gravura anónima do séc. XVIII.

Poucas coisas igualarão o sublime, aromático e gostoso assado de borrego com que fui regalado neste almoço de domingo.
Se fosse o Padre António Delicado (1) e se o Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé me autorizasse a fazer declarações, eu adagiaria: “Pela boca morre o alentejano!”. Todavia, se Sua Reverência não me autorizasse, das duas uma: ou pagava Bula ou ia dar com os costados ao mais próximo cárcere do Santo Ofício. Aí, de acordo com os Cânones em uso, permaneceria imerso em vinha de alhos, até ser considerado apto a ser assado em lume mais ou menos brando, conforme superior determinação do Inquisidor-Mor. Todavia, como não sou muito gordo, ficaria bem passado, enquanto o Diabo esfrega um olho. Terminada a assadura, Sua Reverência proclamaria:
- Está bem passado o herege. Graças a Deus!
Nesta altura acordei do pesadelo causado por uma digestão difícil que me conduzira à sonolência pós-repasto. E acordei no preciso momento em que a minha pele esturricada pelo lume, rejeitava com frontalidade aquele piedoso “Graças a Deus”. Chiça que não ganhei para o susto!

(1)– António Delicado. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Inverno na Bíblia Sagrada

PAISAGEM DE INVERNO (1610).
Denis van Alsloot (1570-1628).
Óleo sobre madeira (36 x 47 cm).


São múltiplas as referências bíblicas ao Inverno:

- “Enquanto durar a Terra, jamais faltarão sementeira e colheita, frio e calor, Verão e Inverno, dia e noite.” (Génesis 8,22)
- “Estabeleceste os limites da Terra, e formaste o Verão e o Inverno.” (Salmos 74,17)
- “Eis que o Inverno já passou! A chuva já se foi!” (Cântico dos Cânticos 2,11)
- “Também aprenderam que a esperança do ingrato se derrete como a geada do Inverno, e que se espalha como água que não é utilizada.” (Sabedoria 16,29)
- “Tudo será abandonado aos abutres dos montes e às feras selvagens. No Verão, sobre eles estarão as aves de rapina, e sobre eles todas as feras selvagens passarão o Inverno.” (Isaías 18,6)
- “Porque Te tornaste uma protecção para o fraco, um apoio para o indigente na hora da sua aflição, um esconderijo no tempo das águas e uma sombra no sol forte. Porque o ímpeto dos tiranos é como a chuva de Inverno,” (Isaías 25,4)
- “O rei estava na ala de Inverno do palácio, pois era o nono mês; e havia um braseiro aceso diante do rei.” (Jeremias 36,22)
- “Vou derrubar a casa de Inverno e a casa de Verão. Serão destruídas as casas de marfim, desaparecerão os palácios de luxo - oráculo de Javé.” (Amós 3,15)
- “Rezai para que a vossa fuga não aconteça no Inverno, nem num dia de sábado.” (São Mateus 24,20)
- “Naquele dia, sairão águas vivas de Jerusalém. Metade correrá para o mar do lado Nascente e metade para o mar do lado Poente, tanto no Verão como no Inverno.” (Zacarias 14,8)
- “Rezai para que isto não aconteça no Inverno.” (São Marcos 13,18)
- “Em Jerusalém celebrava-se a festa da Dedicação. Era Inverno.” (São João 10,22)
- “Aliás, o porto não era propício para passar o Inverno. A maioria foi de opinião que se devia partir dali e tentar chegar até Fénix. Este é um porto de Creta, ao abrigo dos ventos Noroeste e Sudoeste. Ali poderiam passar o Inverno.” (Actos dos Apóstolos 27,12)
- “Passados três meses, embarcámos num navio alexandrino, que passara o Inverno na ilha e que tinha os Dióscuros como emblema.” (Actos dos Apóstolos 28,11)
- “Mas talvez eu fique convosco ou até passe aí o Inverno, para que me forneçais os meios para prosseguir viagem.” (I Coríntios 16,6)
- “Procura vir antes do Inverno. Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos enviam-te saudações.” (II Timóteo 4,21)
- “Vou enviar-te Ártemas ou Tíquico. Quando chegar aí, faz o possível por vires ter comigo a Nicópolis, onde resolvi passar o Inverno.” (Tito 3,12)
- “Em Jerusalém celebrava-se a festa da Dedicação. Era Inverno. (São João 10,22)