domingo, 4 de julho de 2010

A Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo


    Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo – Azulejos Barrocos Joaninos (1744-1749) da
Aula de Física da Universidade do Espírito Santo (hoje sala 120 da Universidade de Évora)
e que atesta a preocupação dos jesuítas com a modernização do ensino científico.


A EXPERIÊNCIA DOS HEMISFÉRIOS DE MAGDEBURGO
A experiência dos Hemisférios de Magdeburgo foi efectuada em 8 de Maio de 1654, em Magdeburgo (Alemanha), pelo burgomestre da cidade, o jurista e físico Otto Von Guericke (1602-1686), perante o Imperador Friedrich Wilhelm von Brandenburg (1620-1688) e a sua corte.

Otto von Guericke, gravura de Anselm van Hulle (1601-1674).

A experiência visava a separação de dois hemisférios de cobre, de 51 centímetros de diâmetro, unidos por contacto comum com um anel de couro, formando uma área fechada, da qual foi extraído o ar com recurso a uma bomba de vácuo, inventada pelo próprio Von Guericke. Em cada hemisfério existiam anéis para prender cabos ou correntes que eram puxados em sentidos opostos.
Os espectadores ficaram completamente surpreendidos ao verificar que diferentes grupos de homens, puxando com toda sua força em sentidos opostos, não conseguiram separar os hemisférios. O mesmo aconteceu com dois grupos de 8 cavalos puxando em sentidos opostos. Só depois dum grande esforço da parte dos cavalos, é que foi possível separar os hemisférios, o que só foi conseguido por não ser perfeito o vácuo alcançado através da rudimentar bomba de vácuo de Von Guerick. Em contrapartida, deixando entrar o ar para o interior dos hemisférios através duma torneira de admissão, era possível separar os hemisférios sem qualquer dificuldade.

Gravura de Gaspar Schott (1608 - 1666), executada em 1657, reproduzindo a experiência dos hemisférios de Magdeburgo, realizada em 1654. Publicada no livro de Otto Von Guericke “ Experimenta nova (ut vocantur) Magdeburgica de vacuo spatio”, editado em 1672.

A experiência seria repetida ainda no mesmo ano em Berlim, com 24 cavalos.
Com esta experiência Von Guerick demonstrou:
- a imensa força que a atmosfera podia exercer sobre os corpos;
- a existência de pressão atmosférica sobre os corpos;
- a existência do vazio.
A interpretação corrente do resultado experimental é a de que os hemisférios não se separam enquanto a pressão atmosférica for superior à pressão do ar no interior dos hemisférios. Uma vez conseguida a igualdade de pressões, através da entrada de ar, é fácil a separação dos hemisférios.
Com a sua experiência, Von Guerick pôs fim, de forma espectacular às ideias que vinham sendo defendidas desde Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e segundo as quais a Natureza teria “horror ao vácuo”, preenchendo imediatamente, a todo custo, qualquer espaço que fosse deixado sem matéria.
A UNIVERSIDADE DE ÉVORA
A criação da Universidade de Évora data de 18 de Outubro de 1558, por Bula de Paulo IV e a abertura solene das aulas ocorreu no dia 1 de Novembro de 1559, sendo 1º Reitor o Padre Leão Henriques.
A Universidade de Évora foi suprimida em 1759 pelo Marquês de Pombal, quando da expulsão da Companhia de Jesus. No período que medeia entre 1841 e 1979, o edifício esteve ocupado pelo Liceu Nacional André de Gouveia. Após um hiato de 200 anos, ocorreu uma reestruturação em 1973, primeiro, como Instituto Universitário, e pelo Decreto de 14 de Dezembro de 1979, como Universidade de Évora.
Na Universidade de Évora cursaram, no período áureo, vultos da Cultura Humanística Universal como Luís de Molina, Sebastião Barradas, Francisco Suarez, Pedro da Fonseca, Manuel Álvares Baltazar Teles, Francisco da Fonseca, António Franco, S. Francisco de Borja, padre António Vieira, D. Afonso Mendes, Patriarca da Abissínia e o arcebispo de Braga D. José, filho de D. Pedro II.
Na volumosa construção trabalharam alguns dos maiores arquitectos quinhentistas: Afonso Alvares, Manuel Pires, Diogo de Torralva e Cristóvão de Torres.
Do seu conjunto monumental e artístico destacam-se silhares de azulejos historiados, de temática bíblica, mitológica, literário-poética (Virgílio, Platão, Arquimedes, Aristóteles), do Humanismo e das leis naturais, que revestem todas as aulas quinto-joaninas (1744-49).

Publicado inicialmente a 4 de Julho de 2010

BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Túlio. Évora – Arte e História. 2º edição. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1987.
ESPANCA, Túlio. Évora – Encontro com a Cidade. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1988.

sábado, 3 de julho de 2010

Provérbios de Julho


Cena da Vida Rural. Alentejo, década de 40.
Fotografia de Artur Pastor (1922-1999).

- A jeira de Maio vale os bois e o carro, e a de Julho vale os bois e o jugo.
- Água de Julho no rio não faz barulho.
- Água de Julho, no rio não faz barulho.
- Água de Julho, no rio não faz barulho.
- Aí por Sant' Ana limpa a pragana.
- Aí por Santa Marinha vai ver tua vinha; qual a achares, tal a vindima.
- Aí por Santa Marinha vai ver tua vinha; tal a acharás, tal a vindimarás.
- Ao quinto dia verás que mês terás.
- Chuva de Julho que não faça barulho.
- Chuva de Julho, por Santa Marinha, vem com a cabacinha; por São Tiago traz o canado.
- Chuva de Julho, Sant'Ana vem com a cabacinha e Santiago traz o canado.
- Chuva de Julho: Santa Marinha vem com a cabacinha e S. Tiago com o canado.
- Chuva de Julho: Santa Marinha vem com a cabacinha e S. Tiago com o canado.
- Chuva de Santa Marinha vem com a cabacinha e pelo São Tiago traz o canado.
- Deus ajudando, vai em Julho mercando.
- Dezembro com Julho ao desafio traz Janeiro frio.
- Dia de São Tiago, pinta o bago.
- Dia de São Tiago, vai à vinha e acharás bago.
- Dia de São Tiago, vai à vinha e prova o bago.
- Em dia de São Tiago, vai à vinha e acharás baço.
- Em dia de São Tiago, vai à vinha e acharás bago.
- Em Julho abafadiço, fica a abelha no cortiço.
- Em Julho ceifo o trigo e debulho e, em o vento soprando, o vou limpando.
- Em Julho eu o ceifo e o debulho.
- Em Julho eu o ceifo e o debulho.
- Em Julho faz vasculho.
- Em Julho já há pouco gorgulho.
- Em Julho nunca a água do rio fez barulho.
- Em Julho tudo farás, só o teu verde não ceifarás.
- Em Julho tudo farás, só o teu verde não ceifarás.
- Em Julho, ao quinto dia verás que mês terás.
- Em Julho, ceifa o trigo e faz o debulho. E, em o vento soprando, vai-o limpando.
- Em Julho, ceifo o trigo e o debulho, e em o vento soprando o vou limpando.
- Em Julho, esperam-se à água.
- Em Julho, eu o ceifo e o debulho.
- Em Julho, foice na mão.
- Em Julho, prepara o vasculho.
- Em Julho, reina o gorgulho.
- Em Julho, tudo farás, só o teu verde não ceifarás.
- Em Junho, Julho e Agosto, senhora não sou vosso.
- Frio em Julho, abrasa em São Tiago.
- Janeiro gear, Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer, Junho ceifar, Julho debulhar. Agosto engravelar, Setembro vindimar. Outubro revolver. Novembro semear. Dezembro nascer.
Janeiro gear. Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer. Junho ceifar, Julho debulhar, Agosto engravelar. Setembro vindimar, Outubro revolver. Novembro semear, Dezembro nasceu Deus para nos salvar.
- Julho abafadiço, fica a abelha no cortiço.
- Julho abafadiço: abelhas no cortiço.
- Julho calmoso faz o ano formoso.
- Julho claro como olho de gado.
- Julho debulhar; Agosto engravelar.
- Julho é o mês das colheitas, Agosto é o mês das festas.
- Julho é o mês das colheitas, Agosto o mês das festas.
- Julho fresco, Invemo chuvoso, estio perigoso.
- Julho fresco, pouco vinho no teu copo.
- Julho passado sempre foi melhor.
- Julho pela manhã, recorre à lua figueira.
- Julho quente traz o Diabo no ventre.
- Julho quente, seco e ventoso, trabalha sem repouso.
- Julho sem pulgas no cão, vento norte e muito frio é sinal de pouco pão.
- Julho, ceifa-se o trigo e a debulha.
- Julho, debulhar.
- Julho, debulhar; Agosto, engravelar.
- Julho, o verde e o maduro.
- Junho, como punho; Julho, já fazem barulho; Agosto, mudam o rosto.
- Junho, Julho e Agosto, senhora não sou vosso.
- Junho, Julho, Agosto, senhora, não sou vosso.
- Luar de Janeiro, sol de Julho.
- Maio engrandecer, Junho ceifar, Julho debulhar.
- Não há maior amigo do que Julho com seu trigo.
- Nevoeiro de S. Pedro, põe em Julho o vinho a medo.
- Não há maior amigo que Julho com seu trigo.
- Não há maior amigo que o Julho com seu trigo.
- Não há maior inimigo que Julho com seu trigo.
- Não há melhor amigo que Julho com o seu trigo.
- Nevoeiro de S. Pedro, põe em Julho o vinho a medo.
- Nevoeiro de São Pedro põe em Julho o vinho a medo.
- No dia de São Tiago, a velha vai ao bago.
- No São Tiago pinta o bago.
- O mês de Julho dá o pão e o gorgulho.
- Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu um Deus para nos salvar; Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, ceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar.
- Passado Julho, o celeiro atulho.
- Pela Madalena recorre à tua figueira.
- Pelo S. Tiago pinta o bago e cada pinga vale um cruzado.
- Pelo São Tiago cada pingo vale um cruzado.
- Pelo São Tiago pinta o bago e cada pinga vale um cruzado.
- Pelo São Tiago pinta o bago.
- Pelo São Tiago vai à vinha e apanha o bago.
- Pelo São Tiago vai à vinha e prova o bago.
- Pelo São Tiago, na vinha acharás bago; se não for maduro, será inchado.
- Por muito que Julho queira ser, pouco há-de chover.
- Por muito que queira Julho ser, pouco há-de chover.
- Por Sant’Ana limpa a pragana.
- Por Santa Maria vai ver a tua vinha e qual a achares tal a vindima.
- Por Santa Maria vai ver a tua vinha.
- Por Santa Marinha visita a tua vinha; tal a acharás, tal vindima farás.
- Por São Tiago na vinha pinta o bago.
- Por São Tiago, vai à vinha e acharás bago.
- Por todo o mês de Julho, o celeiro atulho.
- Quando Julho está a começar, as cegonhas começam a voar.
- Quem em Julho ara e fia, ouro cria.
- Quem trabalha em Julho, para si trabalha.
- Se Julho for abafadiço, fica a abelha no cortiço.

Publicado inicialmente em 3 de Julho de 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Julho, mês das colheitas


A ceifa no Alentejo. Alberto de Souza (1880-1961). Aguarela sobre papel (14x20 cm).

O mês de Julho era anteriormente conhecido por Quintilis em latim, uma vez que era o quinto mês do calendário romano, que começava em Março.
Em 46 a.C., Júlio César, reformou o calendário romano, acrescentando dois meses, Unodecembris e Duocembris, no final do ano de 46 a.C., deslocando assim Januarius e Februarius para o começo do ano de 45 a.C. Os dias dos meses foram fixados numa sucessão de 31, 30, 31, 30... de Januarius a Decembris, à excepção de Februarius, que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, teria 30 dias. Com tais mudanças, o calendário anual passou a ter doze meses que perfaziam 365 dias.
Em 44 a.C., Júlio César foi homenageado pelo Senado, que mudou o nome do mês Quintilis para Julius, visto ser o mês em que César nasceu.
Julho tem 31 dias e é o sétimo mês do calendário juliano e também do caledndário gregoriano, utilizado na maior parte do mundo e que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de Fevereiro do ano 1582, para substituir o calendário juliano.
É, em média, o mês mais quente na maior parte do Hemisfério Norte (onde é o segundo mês de Verão) e o mês mais frio em grande parte do Hemisfério Sul (onde é o segundo mês de Inverno). A segunda metade do ano começa em Julho. No Hemisfério Sul, Julho é o equivalente sazonal de Janeiro no Hemisfério Norte.
Julho começa no mesmo dia da semana que Abril de um ano comum e que Janeiro em anos bissextos. Num ano comum nenhum outro mês termina no mesmo dia da semana que Julho, enquanto que num ano bissexto, Julho termina no mesmo dia da semana que Janeiro.
Os Signos do Zodíaco que correspondem ao mês de Julho são:
- Caranguejo (21 de Junho a 22 de Julho;
- Leão (23 de Julho a 22 de Agosto).
A pedra zodiacal de Julho é o rubi.
Como noutros meses há datas especiais a assinalar. Temos Dias Internacionais (ONU):
- 1º sábado de Julho - Dia Internacional das Cooperativas;
- 11 de Julho - Dia Mundial da População.
Temos também outras datas comemorativas:
-  Primeiro Domingo de Julho – Dia Mundial do Salvamento.
- 1 de Julho - Dia da Região e das Comunidades Madeirenses;
                      Dia Mundial da Arquitectura;
                      Dia da Mulher Portuguesa;
                      Dia da Força Aérea Portuguesa;
                      Dia do Antigo Estudante de Coimbra;
                      Dia das Bibliotecas.
- 2 de Julho – Dia da Polícia de Segurança Pública.
- 4 de Julho - Dia Mundial do Salvamento.
- 7 de Julho - Dia das Cooperativas.
- 8 de Julho - Dia da Marinha.
- 11 de Julho - Dia Mundial da População.
- 12 de Julho - Dia Mundial contra o Trabalho Infantil.
- 13 de Julho - Dia do Agricultor;
                       Dia Mundial do Rock.
- 14 de Julho – Dia do Doente;
                       Dia Mundial da Liberdade de Expressão.
- 20 de Julho – Dia Internacional da Amizade.
- 22 de Julho – Dia do Cantor Lírico.
- 25 de Julho - Dia do Exército Português.
- 26 de Julho - Dia Mundial dos Avós.
- 28 de Julho – Dia Nacional da Conservação da Natureza.
Temos ainda datas patrióticas (Portugal):
- 25 de Julho (1139) - Trava-se a Batalha de Ourique. D. Afonso Henriques derrota os reis mouros da Península, o que se traduz na Reconquista Cristã de Portugal. A data é assinalada no Dia do Exército Português.
- 25 de Julho (1415) - Parte do Tejo a Armada de D. João I, para a conquista de Ceuta.
- 26 de Julho (1139) – Afonso, conde portucalense é aclamado rei de Portugal e proclama a sua independência face a Leão.
No calendário Mariano, Nossa Senhora, Mãe de Deus, é honrada com muitos e muitos títulos e festejada ao longo do ano. No mês de Julho temos:
- Dia 1 de Julho – Dia de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
- Dia 13 de Julho - Dia de Nossa Senhora da Rosa Mística.
- Dia 16 de Julho - Dia de Nossa Senhora do Carmo.
- Dia 29 de Julho - Dia de Nossa Senhora da Ajuda.

Publicado inicialmente em 1 de Julho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

D. Carlos I, Fotógrafo Amador‏

Fotografia obtida pelo Monarca. Fundação da Casa de Bragança – Palácio Ducal de Vila Viçosa.

1. EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA "D. CARLOS I, FOTÓGRAFO AMADOR"
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Numa iniciativa do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança esteve patente ao público na Sala de Exposições Temporárias do Castelo de Vila Viçosa, entre 20 de Junho e 20 de Setembro de 2010, uma exposição de fotografia, designada “D. Carlos I, Fotógrafo amador”. As fotos pertenciam ao Arquivo Fotográfico do Paço Ducal de Vila Viçosa, constituído por:
- um núcleo de cerca de cinquenta álbuns de família (cerca de 2000 fotos), muitos deles organizados pelo próprio Rei a bordo do Yacht Amélia;
- um conjunto de maços com cerca de 1000 fotografias idênticas de D. Carlos I, destinadas a serem oferecidas;
- álbuns e os maços de fotografias (cerca de 7000), das visitas reais, das fotografias oficiais e das cerimónias protocolares oferecidas pelos melhores fotógrafos da época.
Deste vasto conjunto apenas estiveram em exposição, reproduções de sessenta espécies, principalmente da autoria de D. Carlos I, distribuídas por quatro temas:
- As mais antigas (1887), as experiências (1888) e as ofertas;
- As fotografias para apoio à pintura e que serviriam de modelo ao quadro que surgiria mais tarde;
- As reportagens com títulos que ilustram o tema abordado;
- Uma família de fotógrafos.
A mostra visava divulgar um arquivo que é desconhecido da maioria dos investigadores e simultaneamente dar uma nova perspectiva da vida e dos interesses da Família Real, nos últimos anos da Monarquia.
O respeito que me merece a memória daquele a quem Ramalho Ortigão apelidou de “O martyrisado”, levou-me a que, pensando nos meus leitores, fizesse aqui o traçado fiel do perfil biográfico do Monarca.
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2. SINOPSE DUM REINADO
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D. Carlos I, mais tarde cognominado “O Diplomata”, nasceu no Palácio da Ajuda, a 28 de Setembro de 1863, sendo baptizado ria igreja de S. Domingos em 19 de Outubro do mesmo ano, recebendo o nome de Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha. É filho primogénito de El-Rei D. Luís I e da rainha senhora D. Maria Pia de Sabóia; neto paterno de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha e da rainha D. Maria II; neto materno do rei de Itália Vítor Manuel.
Casou em Lisboa, na Igreja de S. Domingos, a 22 de Maio de 1886 com a princesa Maria Amélia Luísa Helena de Orléans (28-9-1865, 25-10-1951), neta de Luís Filipe, rei de França e filha de Luís Filipe Alberto, conde de Paris e duque de Orléans, e de sua esposa, Maria Isabel Francisca de Assis, infanta de Espanha.
Do casamento nasceram:
1. D. Luís Filipe (21-3-1887, 1-2-1908), vítima como o pai do regicídio;
2. D. Maria Ana (14-12-1887, 14-12-1887), falecida à nascença;
3. D. Manuel II (15-11-1889, 2-7-1932), que sucedeu no trono a D. Carlos I e viria a ser o último rei de Portugal, tendo recebido os cognomes de “O Patriota” e “O Bibliógrafo”.
O reinado de D. Carlos I, iniciado em 19 de Outubro de 1889, por morte de D. Luís I, decorreu num ambiente efervescente, marcado por uma série de graves acontecimentos:
 O “Ultimatum” inglês, apresentado ao governo português, em 11 de Janeiro de 1890, motivado pelo traçado do chamado “mapa cor-de-rosa”, acerca de limites territoriais em Africa;
 A tentativa gorada de Revolução Republicana de 31 de Janeiro de 1891, associada à revolta militar do Porto, na sequência da enorme agitação causada pelo “Ultimatum” inglês;
- O recrescimento das lutas políticas entre republicanos e monárquicos;
- A Ditadura de João Franco (2-5-1907 a 4-2-1908).
- A eclosão de revoltas por todo o Ultramar;
- Nova tentativa gorada de Revolução Republicana, em 21 de Janeiro de 1908;
- E, finalmente, a 1 de Fevereiro de 1908, quando a Família Real regressava de Vila Viçosa com destino a Lisboa, D. Carlos I, sofre um atentado republicano em pleno Terreiro do Paço, sendo vitimado, bem como o filho mais velho, o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe. O segundo filho, D. Manuel II, é aclamado Rei de Portugal pelas Cortes, a 6 de Maio de 1908. Dois anos mais tarde é implantada a República (5-10-1910) e a Família Real embarca na Ericeira (6-11-1910), no iate real "Amélia IV”, para o exílio em Inglaterra.
D. Carlos I foi educado para ser rei, revelando desde muito jovem cedo uma forte aptidão para as artes, para o desporto e para a observação da natureza, dedicando-se com notável êxito a um conjunto variado de actividades de que sobressaem, a Arte, a Oceanografia, a Ornitologia e o Desporto (caça, pesca e equitação).

3. O ARTISTA

Como pintor, D. Carlos I foi discípulo do pintor aragonês Mestre Henrique Casanova (1850-1913) e apesar de ter experimentado várias técnicas, especializou-se sobretudo na aguarela e no pastel, sendo as temáticas predominantes, o mar, a paisagem alentejana e a fauna. Do seu trabalho como artista merece referência a opinião do escritor Ramalho Ortigão (1836-1915) (8): “Idealmente refugiado no culto da pintura, em que foi eximio, attingiu uma das mais altas eminências a que póde ascender o espírito. Foi consagrado “artista”". De D. Carlos I – artista, disse o naturalista e seu assistente nas Campanhas Oceanográficas Albert Girard (4): “Como Artista estou a vêr os Seus pasteis, as Suas aguarellas, os Seus desenhos à penna, as Suas gravuras, as reproducções d'essas obras que tantas revistas nacionaes e estrangeiras illustraram; a facilidade da Sua maneira, a profusão do Seu pincel, por tal forma espalhado que difficil seria, senão impossível, reunir todas as Suas obras; os Seus triumphos nas exposições do Grémio Artístico, na ultima Exposição universal de Paris, na Sociedade Nacional de Bellas Artes, na Exposição universal de S. Luiz, na de Bellas Artes de Barcelona; e ainda, ha bem pouco, Société Artistique dés Amateurs.
É que Elle tinha a expontaneidade do artista de raça, que n'um traço a lápis affirma a sua individualidade.”

“O Sobreiro”, pastel sobre cartão, executado pelo Rei em 1905. Fundação da Casa de Bragança – Palácio Ducal de Vila Viçosa.

Sobre a obra artística de D. Carlos I diz também o seu biógrafo, o escritor e jornalista Rocha Martins (7): “Fialho de Almeida, republicano, no tempo em que criticou D. Carlos como governante, irreverrente ao referir-se às obras dos pintores, depois chegados à supremacia, não poude deixar d’analisar, com respeito e louvor, certo trabalho do chefe de estado monárquico que conquistara na arte uma realeza”.

4. O OCEANÓGRAFO

Aos estudos oceanográficos dedicou D. Carlos I, a sua mais profunda atenção. Assim, em 1 de Setembro de 1896, nasceu a Oceanografia portuguesa, quando D. Carlos iniciou, a bordo do seu primeiro iate “Amélia”, uma série de 12 Campanhas Oceanográficas ao longo da costa atlântica de Portugal que se prolongariam até 1906, com o objectivo principal de inventariar e estudar a fauna marinha da costa portuguesa, acção que para além do inegável interesse científico se revelava de bastante interesse prático, por permitir maximizar o rendimento da indústria e do comércio da pesca, dada a enorme importância económica da indústria piscatória em Portugal. O monarca efectuou ainda o estudo das correntes e o reconhecimento da topografia dos fundos oceânicos.
Os resultados dessas investigações receberam amplos elogios de cientistas estrangeiros e estão compilados em quatro seguintes livros publicados. Em 1897: Yacht «Amelia» – Campanha oceanographica de 1896. Em 1899: ¬Pescas maritimas – I – A pesca do atum no Algarve em 1898. Em 1902: Rapport préliminaire sur les Campagnes de 1896 à 1900 – Fascicule I – Introduction – Campagne de 1896. Em 1904: Ichthyologia – II – ¬Esqualos obtidos nas costas de Portugal durante as campanhas de 1896 a 1903.
A divulgação científica das Campanhas Oceanográficas oceanográficas de D. Carlos foi ainda efectuada através da participação em exposições públicas nacionais e internacionais, onde figuravam espécimes recolhidos, redes e instrumentos utilizados, bem como desenhos.
O mérito da sua obra científica de D. Carlos I foi internacionalmente reconhecido, como o atesta a profusão de diplomas que lhe foram outorgados pelas mais prestigiadas instituições científicas de antanho.
Para o Professor Luís Saldanha (1937-1997) (6), um dos mais conhecidos biólogos marinhos portugueses “A actividade oceanográfica do Rei D. Carlos de Bragança abriu as portas a uma disciplina completamente nova em Portugal” , pelo que muito justamente considera “D. Carlos de Bragança, pai da oceanografia portuguesa”. Para Maria Manuela da Câmara Falcão (3) “Assim, Carlos I de Portugal e Alberto I de Mónaco fundaram a Oceanografia e com ela abriram à Humanidade a última fronteira do Planeta, os Oceanos”.

D. Carlos de Bragança, a bordo iate Amélia II. Aquário Vasco da Gama, Lisboa.

5. O NATURALISTA

De acordo com o naturalista e colaborador Alberto Girard (4), D. Carlos I ”…tinha a memoria da vista: forma, cor, tom, tudo apprehendia rapidamente e para sempre fixava com a Sua inexcedível memória…”, De acordo com o biólogo, Professor Mário Ruivo (11) “Temos aqui dois elementos de base, para suportar, potencialmente, a personalidade de um Naturalista, sobretudo no campo da Sistemática”. É assim que D. Carlos I, publica em 1903 um primeiro fascículo do “Catálogo illustrado das aves de Portugal”, a que se segue em 1907 um segundo fascículo, onde ainda segundo Mário Ruivo (11) “…são referidas algumas dezenas de espécies portuguesas, com a referida nomenclatura científica e sinonímia mais importante, e os respectivos nomes vulgares em português, francês, espanhol, inglês e, italiano, sendo acompanhadas de breves indicações sobre a suas distribuição geográfica, arribações, e nalguns casos, comportamento”, o que representa uma contribuição fundamental para o inventário da nossa fauna ornitológica. Contudo, a obra de D. Carlos I, como naturalista, ficaria sobretudo ligada ao inventário da fauna marinha da costa portuguesa.

Projecto de D. Carlos para a capa da sua obra “Estudos Ornitológicos”. Aquário Vasco da Gama, Lisboa
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6. UM BALANÇO
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No reinado de D. Carlos I, há a destacar eventos como:
- As vitórias na campanha de África, contra o Gungunhana e namarrais;
- As celebrações do V Centenários do nascimento do Infante D. Henrique, no Porto (1894), e do IV Centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, em Lisboa (1898);
- Um certo desenvolvimento das colónias;
- A ligação das ilhas dos Açores ao continente pelo cabo submarino;
- As visitas a Portugal de soberanos estrangeiros: Eduardo VII de Inglaterra (1903), Afonso XIII de Espanha (1905), Guilherme II da Alemanha (1905) e do Presidente República Francesa, Emile Loubet (1905), visitas que foram retribuídas e que correspondem a um notável trabalho diplomático.
Apesar de todos estes aspectos positivos do seu reinado e da notoriedade que alcançou a nível científico, tanto nacional como internacionalmente, D. Carlos I não conseguiu resolver os graves problemas políticos resultantes, por um lado, de uma profunda crise interna e do ambiente internacional, favorável ao desaparecimento das monarquias na Europa.
Em entrevista ao Diário francês “Le Temps” de Novembro de 1907, dizia D. Carlos: “Nunca esqueci, um instante sequer, quais são os meus deveres para com a minha coroa e para com o meu querido país”. Entendimento diferente tinham os republicanos, daí ser vítima de um atentado perpetrado em pleno Terreiro do Paço, a 1 de Fevereiro de 1908, quando regressava de Vila Viçosa. Os regicidas, os republicanos, Alfredo Costa e Manuel Buíça, mortos no próprio local do atentado, foram elevados à categoria de heróis nacionais. Diz-nos Margarida Magalhães Ramalho (10): “No dia seguinte, poucos jornais tarjaram de preto e a notícia foi dada displicentemente. Sobre D. Carlos pouco se disse. No estrangeiro, mesmo na França republicana, o atentado é condenado veementemente e em toda a imprensa estrangeira a figura do rei desaparecido é largamente enaltecida, lembrando-se o político, o artista e o homem de ciência. Por cá, são as figuras de Costa e Buiça que merecem o carinho do público, abrindo-se mesmo subscrições para os órfãos deste último”.
Para o jurista e jornalista Miguel Sousa Tavares (14) “Se a Maçonaria matou El-Rei D. Carlos, cada português, todos os portugueses, mataram El-Rei segunda vez, na escura cobardia colectiva, na estranha aceitação do crime e das suas consequências políticas”.
Em entrevista publicada pelo jornal “Correio da Manhã”, no dia dia 27 de Janeiro de 2008, o então Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa (GOL), António Reis, esclareceu que “Por doutrina, a Maçonaria não é contra a monarquia, mas contra as monarquias absolutas e contra as ditaduras, por violarem um dos grandes princípios da Maçonaria que é a Liberdade”. Porém e de acordo com ele “A Maçonaria combateu a monarquia concreta de D. Carlos que com o governo de João Franco, de 1906 a 1908, teve uma deriva ditatorial, cuja responsabilidade pertence ao próprio rei. Foram estas circunstâncias que levaram a Maçonaria a preparar o derrube da monarquia”. Apesar de tudo e segundo o Grão-Mestre do GOL, “A Maçonaria “não interveio, nem directa, nem indirectamente” no regicídio de 1908, com o qual não concordou”.
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7. A FOTOGRAFIA E A CARTOFILIA
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D. Carlos I foi um amante da fotografia, arte a viver os seus primeiros tempos de pioneirismo e que também cultivou, registando para a posteridade, reportagens das múltiplas actividades em que se viu envolvido (campanhas oceanográficas, caçadas, regatas, comboios, etc).
É no reinado de D. Carlos que são introduzidos em Portugal os bilhetes-postais ilustrados.
O primeiro bilhete-postal ilustrado português foi emitido pelos correios e data de 4 de Março de 1894, quando da comemoração do 5° Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique. Seguiu-se-lhe o do VIl Centenário do Nascimento de Santo António, em 1895, e os do IV Centenário da Índia, em 1898.
O primeiro bilhete-postal ilustrado português de fabrico não oficial, exigindo a colagem de um selo de franquia ordinária, foi editado em 1895 pela Companhia Nacional Editora, a propósito do Centenário de Santo António.
Desde então para cá, correios e particulares nunca mais pararam na emissão e edição de bilhetes-postais ilustrados para comemorar efemérides, homenagear personalidades, fazer propaganda oficial ou religiosa, divulgar monumentos, paisagens ou costumes regionais e evocar acontecimentos históricos.
Com o aparecimento dos bilhetes-postais surgiu o seu coleccionismo (Cartofilia) e os coleccionadores (cartófilos).
Naturalmente que D. Carlos e com ele a família real seriam tema de edições particulares de postais ilustrados, o mesmo acontecendo com as visitas de soberanos estrangeiros, atrás referidas. Alguns desses bilhetes-postais ilustrados circularam com o selo do lado da imagem e são designados por TCV’s – timbre-cotê-vues.

Bilhete-postal ilustrado, edição privada, não identificada, reproduzindo sua Majestade, envergando a farda de Almirante General da Armada, cerca de 1906. Porte de 10 reis. Expedido de LISBOA para BRUXELAS no dia 16-3-1906. Colecção de Hernâni Matos.
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8. BIBLIOGRAFIA
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1. AQUÁRIO VASCO DA GAMA. El-Rei D. Carlos. A história de um dos pioneiros mundiais no estudo da Oceanografia.
4. GIRARD, Alberto (1909). Elogio Académico de Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Carlos I, Presidente da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Typographia da Academia.
5. MARQUES, Oliveira (1954). História do Selo Postal Português. Volume I – Continente. Porto: Mercado Filatélico.
7. MARTINS, Rocha (1926). D. Carlos, História do seu Reinado. Lisboa; A.B.C.
8. ORTIGÃO, Ramalho (1908). REI D. CARLOS – O Martyrisado. Lisboa: Typographia “A Editora”.
9. RAMALHO, Margarida Magalhães (2003). Cadernos de Desenho – D. Carlos de Bragança. Lisboa: Edições INAPA.
10. RAMALHO, Margarida Magalhães (2001). FOTOBIOGRAFIAS SÉCULO XX – REI D. CARLOS. Lisboa: Círculo de Leitores.
11. RUIVO, Mário (1958). D. Carlos de Bragança – Naturalista e Oceanógrafo. Lisboa: Fundação da Casa de Bragança.
12. SERRÃO, J. Veríssimo (1986). História de Portugal, Volume X. Lisboa: Verbo.
13. SERRÃO, Joel (1976). Pequeno Dicionário de História de Portugal. Lisboa: Iniciativas Editoriais.
14. TAVARES, Francisco Sousa Tavares (1960). Combate Desigual. Lisboa: Edição de Autor.

sábado, 19 de junho de 2010

Assim não vamos lá!


Na Biblioteca Municipal de Estremoz, pode-se consultar a imprensa periódica local, mas não é possível obter fotocópias pagas, porque atrasadamente, um senhor Vereador do Pelouro da Cultura deu instruções nesse sentido. Isso porque em tempos, alguém mandou encadernar a maior parte da imprensa local, pelo que a extracção de fotocópias terá, alegadamente, dado origem a que as encadernações se começassem a desconjuntar. Depois de anos a fio, isso ter constituído prática corrente por quem ali trabalhava, quem quiser agora realizar investigação na imprensa local, vê-se coagido a tirar notas à mão, como nos tempos em que não havia fotocopiadora. Achamos esta medida de uma prepotência inqualificável, uma vez que se proibiu a extracção de fotocópias, sem que fosse criada uma alternativa viável a essa prática.
A Constituição, no seu artigo 37.º, assegura-nos o direito à informação, sem impedimentos nem discriminações, direito esse que não pode ser impedido ou limitado. Porém, quem quiser fazer pesquisa na imprensa local, encontra na nossa Biblioteca, obstáculos que não deveria encontrar e que não se depararam a outros que os antecederam. As condições proporcionadas deveriam ser análogas, mas não são, apesar da Constituição no seu Artigo 13.º, assegurar a todos a igualdade perante a lei. Que fazer então?:
1. Revogar a proibição de extracção de fotocópias pagas da imprensa local;
2. Dotar a Biblioteca de um scanner adequado e afectar pessoal à tarefa de digitalização da imprensa local;
3. Solicitar aos actuais directores da imprensa local, que façam depósito na Biblioteca, das versões pdf existentes dos seus jornais e o passem a fazer periodicamente, para actualização.
4. Num site a criar para a Biblioteca Municipal de Estremoz, inserir uma hiperligação para a “Hemeroteca Digital de Estremoz”, onde estaria alojada toda a imprensa local, presente e passada.
Eu não acredito em fatalidades, mas é por estas e por outras, como esta proibição bacoca, que não passamos da cepa torta. É assim que atingimos os padrões europeus? À velocidade do caracol em marcha-atrás? Não o creio. E o leitor?

Publicado também no Jornal ECOS, nº 087 de 17-6-2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Nós e os números - O número Quatro

CRISTO REI COM OS QUATRO EVANGELISTAS, NO INÍCIO DO NOVO TESTAMENTO - Iluminura do ”Codex Amiatinus”, o mais antigo manuscrito sobrevivente da Bíblia quase completa na versão Vulgata Latina, considerado o exemplar mais preciso do texto de São Jerónimo. Criado no reino anglo-saxónico de Northumbria no século VIII, como um presente para o Papa. Conservado em Florença, na Biblioteca Medicea Laurenziana.

AONDE SE FALA DO QUATRO

Na MATEMÁTICA, “quatro” é o sucessor de “três”, o quarto número natural, o segundo número par e o primeiro número composto, com divisores 1, 2 e 4, cuja soma é 7. Além disso, “quatro” é o segundo quadrado perfeito, é divisível por dois e é também o dobro e o quadrado de dois. “Quatro” é ainda o número de lados do quadrilátero, polígono que por decomposição pode originar “quatro” triângulos iguais.
Na MATEMÁTICA existe o chamado “Teorema das quatro cores”, cujo enunciado é o seguinte: “Dado um mapa plano, dividido em regiões, quatro cores chegam para o colorir, de forma a que regiões vizinhas não partilhem a mesma cor.” Note-se que regiões que só se tocam num ponto não são consideradas vizinhas. O teorema foi demonstrado em 1976 por Appel (matemático americano) e Haken (matemático alemão), com recurso a um computador IBM360. Em 1994, foi feita uma demonstração mais simples da autoria dos matemáticos americanos Paul Seymour, Neil Robertson, Daniel Sanders e Robin Thomas, mas o recurso ao computador continua a ser indispensável.
Na MATEMÁTICA existe também o chamado “Problema dos quatro quatros”, formulado no romance infanto-juvenil ”O Homem que Calculava”, do autor brasileiro Júlio César de Mello e Souza, que sob o pseudónimo Malba Tahan, narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir na Bagdá do século XIII. De acordo com o autor, é possível gerar todos os números inteiros entre 0 e 100, utilizando, para além dos quatro quatros, operações como: adição (+), subtracção (-), multiplicação (*), divisão (/), factorial (n!), termial (n?) e exponenciação (x n). Entretanto, foi demonstrada a existência de uma solução geral para o problema. Para os inteiros até ao número 10, a solução é a seguinte:


O “quatro” é objecto de uma superstição conhecida por “Tetrafobia”, que consiste na aversão ou medo ao número “quatro”. Esta superstição é partilhada por países do Leste Asiático, como a China continental, a ilha de Taiwan, o Japão e a Coreia, nos quais a palavra “quatro” é homófona da palavra “morte”. O número 4 é assim ignorado, tal como os números 14, 24, 34, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, devido à presença do dígito 4 na composição destes números. Números como estes são eliminados da numeração de portas, andares, mesas em restaurantes, matrículas de automóveis, comboios, aviões, barcos, etc. Em vez de 4, 14, 24, escreve-se 3A, 13A e 23A e num arranha-céus, a seguir ao andar 39 é logo o 50, isto é atribui-se o 50 onde devia ser 40. Quem exporta para estes países tem que ter em conta esta realidade na numeração de objectos e na designação de modelos de série, para não incorrer no risco de ver a mercadoria recusada.
Na FÍSICA, “quatro” é o número atómico do metal Berílio, os tempos do motor de explosão (admissão, compressão, explosão e escape), as fases da Lua, as estações do ano (Primavera, Verão, Outono, Inverno), os trimestres e os quartos da hora.
Na GEOGRAFIA, “quatro” são os pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), bem como as cores suficientes para pintar qualquer mapa plano, de modo a que dois países vizinhos não partilhem a mesma cor.
Na ZOOLOGIA, “quatro” membros têm os primatas e os quadrúpedes e “quatro” são as cavidades do coração (duas aurículas e dois ventrículos).
Na MINERALOGIA: “quatro” é a dureza da Fluorite na escala de dureza de Mohs e a fusibilidade da Actinolite na escala de fusibilidade de Kobell.
Em IMPRESSÃO utiliza-se a chamada “Quadricromia”, processo de impressão a “quatro” cores, que emprega o sistema CMYK de três cores primárias mais o preto, ou seja, Ciano (Cyan), Magenta (Magenta), Amarelo (Yellow) e Preto (blacK). A letra K no final significa Key (Chave) pois o preto que é obtido com as três primeiras cores, CMY, não reproduz fielmente tons mais escuros, sendo necessário a aplicação de preto "puro". As 4 cores principais do sistema CMYK são: Ciano, Magenta, Amarelo (Yellow) e Preto (Black). As cores secundárias deste sistema são: azul violeta (magenta + ciano), vermelho (magenta + amarelo) e verde (amarelo + ciano). A união de todas essas cores da escala, origina a cor preta no centro dela. Com o sistema CMYK consegue-se reproduzir a maioria das cores do espectro visível e tem-se uma base para quase toda a reprodução gráfica.
Nos BARALHOS DE CARTAS, “quatro” naipes tem o baralho (ouros, copas, espadas e paus, no baralho francês).
Nos JOGOS, “quatro” linhas têm os campos de jogos.
Na HISTÓRIA, “quatro” são as dinastias portuguesas (Afonsina, Joanina, Filipina e Brigantina).
Na POESIA, “quatro” versos tem a quadra e “quatro estrofes” tem um soneto (Duas quadras e dois tercetos).
Na MÚSICA, “O Anel do Nibelungo” é um ciclo de “quatro” óperas épicas do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883), constituído pelas óperas “Ouro do Reno”, “A Valquíria”, “Siegfried” e “Crepúsculo dos Deuses”.
Na FILOSOFIA, “quatro” são os elementos de Empédocles (495/490-435/430 a.C.) (Terra, Água, Ar e Fogo) e “quatro” são as qualidades (Quente, Frio, Húmido e Seco), assim como “quatro” são as virtudes fundamentais (Sabedoria, Fortaleza, Temperança e Coragem) para Platão (428/427 – 348/347 a.C.), , no seu livro “República”. Para os pitagóricos, quatro representava a justiça, por ser um quadrado perfeito, o produto de dois factores iguais. Para Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) e de acordo com a “Teoria dos Quatro Discursos”, o discurso humano é uma potência única, que se actualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a lógica.
Na MEDICINA GREGA e segundo o médico grego Hipócrates (460-377 a.C.), defensor da “Teoria dos quatro Humores”, existiam no organismo quatro humores (sangue, linfa, bílis amarela e bílis negra), relacionados com os quatro elementos da natureza (terra, água, ar e fogo) e com as quatro qualidades (calor, secura, frio e humidade). Da relação entre esses quatro humores resultariam os diferentes temperamentos: sanguíneo, fleumático, bilioso e melancólico. O estado de equilíbrio ou de desequilíbrio entre os humores, dava origem respectivamente a estados de saúde ou de doença.
Na BOTÂNICA o aparecimento de trevos de quatro folhas é raro, pelo que são prenúncio de sorte. De acordo com lendas celtas, os druidas praticavam rituais de colheita de plantas e animais que traziam boa ou má sorte. Acreditavam assim, por exemplo, que quem possuísse um trevo de quatro folhas poderia incorporar os poderes da floresta e a sorte dos deuses, adquirindo então o dom da prosperidade. Para tal, era necessário ganhá-lo de presente e depois presentear três pessoas. Porquê? Porque três é a Trindade, o resultado da procriação do homem e da mulher que é o filho, formando o trio. Três é o primeiro número perfeito e tem significado espiritual, sendo representado por um triângulo. Por outro lado, oferecer a alguém um objecto, que incorpore na sua decoração um trevo de quatro folhas, é formular-lhe votos de prosperidade, saúde e fortuna. Há quem considere ainda que cada folha do trevo tem um significado próprio: Esperança, Fé, Amor, Sorte, bem como o número de folhas (4) - representa um ciclo completo, como as 4 Estações, as 4 fases da Lua ou os 4 elementos da Natureza: Ar, Fogo, Terra e Água, segundo a “Teoria dos 4 Elementos”. Tradicionalmente o trevo de quatro folhas é considerado como um poderoso amuleto e usado em iconografia diversa.
Na POESIA CLÁSSICA, para o poeta grego Hesíodo (cerca do Séc. VIII a.C.), na sua obra “Os trabalhos e os dias”, ao longo da História, o Homem conheceu quatro raças ou idades: a do ouro, a da prata, a do bronze e a do ferro. Este mito das idades ilustra a ideia de Justiça de Hesíodo. Estas quatro eras cronológicas da Mitologia Grega Clássica, serão retomadas por Ovídio (43 a.C. - 17 d.C.) nas suas “Metamorfoses”.
Na MITOLOGIA GREGA, os ventos eram nove deuses responsáveis pelo vento, todos comandados por Éolo e a cada um dos quais estava atribuída uma direcção cardinal. Havia Quatro Grandes Ventos:
- Bóreas (N), o vento norte, frio e violento;
- Zéfiro (O), o vento oeste, suave e agradável;
- Eurus (L), o vento leste, criador de tempestades;
- Nótus (S), o vento sul, quente e formador de nuvens;
Havia ainda Quatro Ventos Menores:
- Kaikias (NE), o vento nordeste;
- Apeliotes (SE), o vento sudeste;
- Lips (SO), o vento sudoeste;
- Siroco (NO), o vento noroeste;
Na MITOLOGIA ROMANA, a deusa Ceres equivalente à deusa Demeter da MITOLOGIA GREGA é a deusa da Terra, responsável pela existência das “quatro” Estações.
Na MITOLOGIA HINDU, Brama o deus da criação é representado com “quatro” cabeças.
Na MITOLOGIA CHINESA há “quatro” animais sagrados associados à criação do Mundo. São eles: o dragão, o unicórnio, a fénix e a tartaruga.
Na MITOLOGIA NÓRDICA existem “quatro” anões guardiães dos quadrantes. São eles: Nordhri (Norte), Austri (Leste), Sudhri (Sul), e Vestri (Oeste). Segundo esta mitologia, das tetas da vaca Audumla, símbolo da fecundidade, corriam “quatro” rios de leite.
No CRISTIANISMO são “quatro” os evangelistas: Mateus (antigo publicano, chamado por Jesus Cristo para ser um dos doze Apóstolos), Marcos (discípulo de São Pedro), Lucas (médico) e São João (discípulo de Jesus e o mais novo dos doze Apóstolos. Eles são os autores dos Evangelhos que têm o respectivo nome, aceites simultaneamente pela Igreja Católica e pela Igreja Evangélica e que assim integram o Novo Testamento da Bíblia.
NA BÍBLIA, é farta a referência ao “quatro”. A título meramente exemplificativo:
- E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços (Génesis 2:10).
- E fundiu quatro argolas para as quatro extremidades do crivo de cobre, para os lugares dos varais (Êxodo 38:59).
- Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas (Êxodo 22:1).
- Todo o insecto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma abominação (Levítico 11:20).
- Tudo o que anda sobre o ventre, e tudo o que anda sobre quatro pés, ou que tem muitos pés, entre todo o réptil que se arrasta sobre a terra, não comereis, porquanto são uma abominação (Levítico 11:42).
- Franjas porás nas quatro bordas da tua manta, com que te cobrires (Deuteronómio 22:12).
- E quatro homens leprosos estavam à entrada da porta, os quais disseram uns aos outros: Para que estaremos nós aqui até morrermos? (2 Reis 7:3).
- Os porteiros estavam aos quatro lados; ao oriente, ao ocidente, ao norte, e ao sul (1 Crónicas 9:24).
- Estas três coisas me maravilham; e quatro há que não conheço (Provérbios 30:18).- Por três coisas se alvoroça a terra; e por quatro que não pode suportar (Provérbios 30:21).
- Estes três têm um bom andar, e quatro passeiam airosamente (Provérbios 30:29).
- Porque visitá-los-ei com quatro géneros de males, diz o SENHOR: com espada para matar, e com cães, para os arrastarem, e com aves dos céus, e com animais da terra, para os devorarem e destruírem (Jeremias 15:3).
- E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam (Ezequiel 37:9).
- E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas (Ezequiel 1:6).
- E o SENHOR me mostrou quatro carpinteiros (Zacarias 1:20).
- E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam (Actos dos Apóstolos 21:9).
- E havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás (Apocalipse 4:6).
- E depois destas coisas vi quatro anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma (Apocalipse 7:1).
- E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o mar, (Apocalipse 7:2).
- A qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates (Apocalipse 9:14).
- E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano, a fim de matarem a terça parte dos homens (Apocalipse 9:15).
- E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha (Apocalipse 20:8).
Os “quatro” anjos de que fala o apóstolo João no livro bíblico “Apocalipse”, são conhecidos como os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” (Conquista, Guerra, Fome e Morte).
A simbologia bíblica, o número quatro representa quadrangulação em simetria, como em “quatro ventos” (Apocalipse 7:1) e “quatro cantos da Terra” (Apocalipse 20:8).
Na LINGUAGEM METAFÓRICA, são de salientar as expressões:

Foi o diabo a quatro = Foi um cargo dos trabalhos = Houve incidentes de toda a ordem
Moita quatro vinténs = Quando o outro não dá resposta
É tão certo como dois e dois serem quatro = É absolutamente verdadeiro
O rapaz come por quatro = O rapaz come muito
O homem bebe por quatro = O homem bebe muito
Aos quatro ventos = Por toda a parte
Trecho a quatro mãos = Trecho para ser executado no mesmo piano, simultaneamente por duas pessoas

Nos PROVÉRBIOS, merecem destaque os seguintes:

- Bela, boa, rica e casta é mulher de quatro andares.
- Homem velhaco, três barbas ou quatro.
- Mesmo a um homem morto, quatro homens para o tirar de casa.
- Mulher grávida de três meses encobre, de quatro quer mas não pode.
- O diabo a quatro.
- Quatro coisas destroem a justiça: o amor, o ódio, o medo e a ganância.
 Quatro horas dorme o santo, cinco o que não é tanto, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto.
- Quatro olhos vêem mais que dois.
- Quatro virtudes engrandecem o homem: delicadeza, sabedoria, honestidade e fidelidade.
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Na MEDICINA POPULAR, identificámos a prescrição:
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“Quatro sardinhas assadas,
Tiradas da salgadeira;
É remédio aprovado
Para o mal da catarreira.”
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A nível de SUPERSTIÇÕES, lembramo-nos desta:
 - Quando um galo canta quatro vezes antes da meia-noite, é sinal de morte.
No domínio das ORAÇÕES POPULARES, há alguma como esta que outrora era rezada em Beja, ao deitar:
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“Quatro cantos tem a casa,
Quatro velas a arder,
Nossa Senhora me acompanhe
Esta noite, se eu morrer.

Jesus na boca, Jesus no peito,
Jesus na cama onde m’eu deito.” [1]

No contexto do CANCIONEIRO POPULAR, para além de quadras que já foram citadas a propósito do número "três", são de destacar a propósito do número "quatro" as seguintes:

“4 com 5 são nove,
A conta não quer mentir;
Bem tolo é quem se mata
Por criadas de servir. [1]

“4 com 5 são nove,
Mais amores tenho eu;
Se eu quizesse mais teria,
Foi sorte que Deus me deu.” [1]

“Grande árvore é o carvalho,
Dá quatro castas de fruto:
Bugalho e bugalhinhos,
Landes e maçãs de cuco.” [2]

No âmbito das LENGALENGAS, salientamos:

“Um, dois, três, quatro;
Quantos pêlos tem o gato?
- Ainda estão para nascer!
Um, dois, três quatro!” [2]

[1] - PIRES, A. Thomaz. Cantos Populares Portugueses, vol. IV. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1910.
[2] – DELGADO, Manuel Joaquim. A Etnografia e o Folclore do Baixo Alentejo. Separata da Revista Ocidente. Lisboa, 1956.



OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE – Pintura de Viktor Vasnetsov (1848-1926), executada em 1887.

ZÉFIRO, O DEUS GREGO DO VENTO OESTE E A DEUSA CHLORIS – Pintura de 1875 de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905), datada de 1875.

CERES (VERÃO) – óleo sobre tela do pintor francês Jean-Antoine Watteau (1684-1721), executado em 1712 e existente na Galeria Nacional de Arte, em Washington, nos EUA.