quinta-feira, 13 de julho de 2017

Berardo e Companhia

Fotografia do Município de Estremoz

No passado dia 5 de Julho, o Município de Estremoz distribuiu um comunicado de imprensa, onde dá conta daquela que vai ser a futura utilização do Palácio Tocha, situado no Largo D. José I, 100, em Estremoz. Reproduzo de seguida e na íntegra, o documento então divulgado.
“Apresentação do Museu Berardo de Estremoz
Foi ontem, dia 4 de julho, apresentado o projeto museológico do Museu Berardo de Estremoz, junto ao edifício do Palácio dos Henriques (Palácio Tocha) nesta cidade e com a presença do promotor do investimento, Comendador Joe Berardo, o Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Luís Mourinha, a Diretora Regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira e o Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva.
O Museu Berardo de Estremoz pretende ser um espaço museológico de referência em Portugal, onde o visitante poderá desfrutar do melhor da arte, através de um vasto e diversificado acervo que é constituído pelas várias coleções do universo mais vasto da Coleção Berardo, considerada uma das mais prestigiadas coleções privadas a nível internacional. Para além dos cerca de 1500 painéis que integram a coleção de Azulejos, com exemplares do século XV até à atualidade, o Museu Berardo de Estremoz irá contar com obras das coleções de Arte Deco e Arte Nova, Arte Africana, Arte Shona, figuras em Terracota, cerâmica Bordalo Pinheiro, Arte Latino Americana, Arte Moderna e Contemporânea, coleção Erich Kahn, posters e cartazes, coleção Ernesto de Sousa e Arte Indiana.
No museu será assim possível visitar múltiplas exposições que se desenvolverão com base numa programação anual, que contará com obras de autores dos mais diversos contextos culturais e artísticos, representantes das mais variadas expressões e movimentos concetuais que integraram a história da arte desde o século XV até à atualidade.
A instalação do Museu Berardo de Estremoz envolve a recuperação integral do edifício do Palácio dos Henriques, declarado Monumento de Interesse Público, contribuindo assim para a reabilitação do património cultural da cidade e para a diversificação da oferta cultural e turística do concelho.”
O reverso da medalha
O que o comunicado de imprensa não refere são os compromissos assumidos pelo Município de Estremoz no Protocolo de Cooperação, celebrado a 14 de Julho de 2016 com a Associação de Colecções, de cujo Conselho de Administração é Presidente, o empresário.
De acordo com esse protocolo, a CME obriga-se a: - Pagar todos os custos de manutenção do Museu (água, luz, aquecimento, ventilação, ar condicionado, telefone, internet, elevador, etc.); - Contratar e custear os vencimentos do pessoal afecto ao Museu [Director (1), Assessor do Director (1), Serviço Educativo (2), Assistentes de sala (2), Recepção e bengaleiro (2)]; - Pagar todas as despesas relativas a serviços que sejam realizados por empresas exteriores (vigilância, segurança, contabilidade, limpeza, manutenção de elevadores, manutenção geral do edifício, etc.); - Efectuar a gestão geral e cultural do Museu; - Conceptualizar, produzir e divulgar um plano de comunicação do Museu, que crie notoriedade e um posicionamento consistente, quer do produto museológico e expositivo, quer da zona de influência onde está enquadrado, explorando as suas potencialidades de Turismo Cultural; - Assegurar a colocação de sinalética direccional no concelho e, se possível, nos concelhos vizinhos; - Pagar a despesa total relativa à Produção das exposições (Embalagem e acondicionamento das obras de arte, transporte, seguros por período a determinar, desembalagem ou abertura de caixas, montagem da exposição, material museográfico, informativo e comunicativo, etc.); - Estabelecer relações com terceiros em nome do Museu; - Negociar com terceiros os serviços de dinamização do Museu (Organização de exposições temporárias, serviço educativo, seminários, colóquios, workshops, etc.); - Contratar e manter em seu nome e no da "Colecção Berardo" um seguro de responsabilidade civil que cubra, em cada momento, todos os riscos de perecimento, furto e roubo das obras de arte expostas no local; - Usar de toda a diligência para que a utilização, temporária ou permanente, do espaço envolvente do Palácio não perturbe, mas antes assegure, a dignidade do Museu.
Como única contrapartida financeira às despesas assumidas, pertencerão à CME todas as receitas de visitas ao Museu, cujo preço será por ela fixado.

Algumas efemérides
O Palácio Tocha foi vendido pela Família Sepúlveda da Fonseca à Imobiliária Magnólia da Madeira, Lda, no ano de 2000. Esta, por sua vez, vendeu-o em 2008, à Associação de Colecções.
Na sequência de proposta da Câmara Municipal de Estremoz, datada de 4 de Junho de 2000, o Palácio Tocha foi classificado como monumento de interesse público. Esse o teor da Portaria 40/2014 do Secretário de Estado da Cultura, publicada no Diário da Republica - 2.ª Série, Nº 14, de 21-01-2014.
Tendo sido classificado como de interesse público, de acordo com a Lei 107/2001, de 8 de Setembro, o edifício devia estar identificado através de sinalética própria (Art. 60.º, nº 2f), o que não acontece. Quem o devia ter feito e não fez?
O financiamento das obras
Nas condições do Protocolo de Cooperação ente a CME e a Associação de Colecções, o protocolo só seria válido e definitivo com a aprovação do projecto de candidatura ao abrigo dos apoios financeiros comunitários do Portugal 2020. O financiamento foi aprovado em 31 de Maio do ano em curso, conforme consta do sítio de ALENTEJO 2020 e está disponível em: http://www.alentejo.portugal2020.pt/index.php/projetos-aprovados/category/73-projetos-aprovados (acedido a 5-7-2017). Aí ficámos a saber as características do financiamento: - CÓDIGO DA OPERAÇÃO - ALT20‐08‐2114‐FEDER‐000050; - PROGRAMA OPERACIONAL - Programa Operacional Regional do Alentejo; - EIXO PRIORITÁRIO DO PROGRAMA OPERACIONAL – 8‐Ambiente e Sustentabilidade; - COFINANCIAMENTO – 85%; - NOME DO BENEFICIÁRIO – Associação de colecções; - NOME DA OPERAÇÃO - Museu Berardo Estremoz; - DESPESAS ELEGÍVEIS TOTAIS ATRIBUÍDAS À OPERAÇÃO - 3.475.871 €; - FUNDO - FEDER; - FUNDO TOTAL APROVADO - 2.606.904 €; - OBJECTIVO TEMÁTICO - 06‐Preservar e proteger o ambiente e promover a eficiência energética; - PRIORIDADE DE INVESTIMENTO – 03 ‐ A conservação, proteção, promoção e o desenvolvimento do património natural e cultural;
O comunicado de imprensa e a fotografia
Ficamos sem saber quando arrancam as obras, pois o comunicado de imprensa é omisso em relação a esse ponto. De qualquer modo, dá sempre jeito fazer a apresentação do Museu Berardo de Estremoz, já que as eleições estão à porta. Na fotografia estão todos muito bem, à excepção do edifício que há muito grita por socorro.
Na chapa não aparece nenhum vereador do PS, que embora não tivessem tido créditos fotográficos, se julgarão no direito de terem igualmente créditos eleitorais, já que em reunião camarária votaram favoravelmente a celebração do protocolo entre a CME e a Associação de Colecções.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Caixa Geral de Depósitos? Não obrigado!



O Professor
Sou cliente da CGD desde os 18 anos de idade, ou seja há 52 anos. Em 1972 ingressei como professor na Escola Secundária de Estremoz, passando o meu vencimento a ser pago pelo Ministério da Educação, através da Agência de Estremoz da Caixa Geral de Depósitos, o que aconteceu até me aposentar em 2008. Durante esse período, sempre fui tratado na Agência como Professor e nalguns casos como Senhor Professor. De resto, o título profissional consta da minha ficha de cliente da instituição bancária.
Após me aposentar em 2008 e até à presente data, passei a receber através daquela Agência, a pensão que me foi atribuída pela Caixa Geral de Aposentações. O tratamento que continuei a merecer foi a de Professor ou Senhor Professor, já que não havia razões para mudança.
A morada
Desde 1973 que a minha residência tem sido sempre a mesma, o que, de resto, consta da minha ficha de cliente.
Quando requisito cheques através do Multibanco, indico sempre que estes devem ser cruzados e enviados para a minha morada, que aparece então confirmada no monitor de Multibanco, o que comprova que a CGD sabe muito bem onde eu moro.
Uma ocorrência estranha
No passado dia 16 de Junho entrei em contacto via email com o meu gestor de conta, pessoa afável e de fino trato, que sempre tem mantido comigo o melhor relacionamento e em relação ao qual não tinha nem tenho a apontar nada de censurável. A minha solicitação foi a seguinte: Agradeço que me requisite 10 cheques cruzados para a minha conta ….. e para serem recebidos na minha morada. Obrigado. Os meus cumprimentos.
Foi com estranheza, que no passado dia 19 de Junho, recebi do meu gestor de conta a seguinte mensagem:

Bom dia Professor Hernani,
Para dar seguimento ao seu pedido, necessitamos de atualizar os seus dados nomeadamente:
CC
Comprovativo morada
Comprovativo profissão
Cumprimentos,

A minha resposta, via email, foi a seguinte:

Senhor….
A Caixa sabe onde eu moro, pois manda-me os cheques para cá. Também sabe que sou professor aposentado, por a Caixa Geral de Aposentações fazer a transferência para a minha conta.
Se são novas regras, devem estar a brincar comigo. Eu não me sujeito a isso...
Obrigado.
Os meus cumprimentos.

Naturalmente que continuo a ter do meu gestor de conta um elevado conceito. Já o mesmo não digo dos seus superiores hierárquicos, que estarão por trás daquela estranha exigência, da qual ele se viu forçado a ser porta-voz.
Fiquei deveras desagradado com o sucedido e entendo que no mínimo, um superior hierárquico do meu gestor de conta, me devia pedir desculpa do sucedido. Também seria desejável que se preocupassem mais com o crédito mal parado, concedido a “clientes de colarinho branco”.
Até serem prestadas as desculpas que me são devidas, se alguém trouxer à baila a minha instituição bancária de sempre, sou levado a proclamar:
- CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS? NÃO OBRIGADO! 
Post-Scriptum
Face à exigência que me foi veiculada através do meu gestor de conta, fui à Caixa de Multibanco da Agência e requisitei os cheques pretendidos. Como habitualmente, o monitor confirmou a minha morada e acabei por receber os cheques em casa. Parafraseando o saudoso Fernando Pessa, é caso para dizer:
- E ESTA HEIN?

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Palavras Guardadas



Um aspecto da sessão de apresentação do livro “PALAVRAS GUARDADAS” de
Contantina Babau, na Casa de Estremoz. Fotografia de seu neto, Nuno Ângelo.

No passado dia 10 de Junho, teve lugar na Casa de Estremoz, a partir das 10 horas, a apresentação do livro “PALAVRAS GUARDADAS” da poetisa estremocense Constantina Babau.
A sessão iniciou-se com a intervenção de Marisa Serrano que falou em representação do Município, seguindo-se José Carlos director da Editora Paulus e Fátima Lameiras em nome da família. Fez a apresentação da obra, o autor destas linhas.
Em 2009, a poetisa lançou o livro de poemas “ESTREMOZ E EU”, a que se seguiu em 2015 “ESTREMOZ, EU E A CANETA DE DEUS”, pelo que o livro agora dado à estampa não será, decerto, o seu último livro, já que a poetisa tem sempre palavras guardadas para nos revelar o que lhe vai na alma. E felizmente que essas palavras não se perdem, porque graças à “Divina Arte Negra”, ficam perpetuadas em suporte físico de papel.
No livro “PALAVRAS GUARDADAS”, a modalidade de poesia dominante é a décima, embora ao sabor da inspiração também surjam e por ordem decrescente de número: quadras, sextilhas e quintilhas.
Pessoa de fortes convicções religiosas, a sua poesia reflecte a sua profunda fé em Deus e em Jesus Cristo, bem como uma intensa devoção por Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Conceição e Rainha Santa Isabel. São traços indeléveis da sua poesia marcadamente intimista e de cariz religioso, que remontam aos livros que antecederam o actual. Para além disso, o livro poetiza ainda nove grandes temas: - REFLEXÃO SOBRE O ACTO POÉTICO - A poesia não se aprende, nasce com o poeta e é uma herança. Rima-se sem querer e fazer poesia é ler o livro do pensamento. Este, é liberto pela poesia, que assim desempenha uma função terapêutica; - AMOR À FAMÍLIA - Dá muito valor à família e ainda hoje sente a falta da mãe; - SENTIMENTOS - Dá importância à amizade, enaltece a felicidade e valoriza a alegria. Dá conselhos relativamente à tristeza e à inveja. Rejeita a solidão, é assaltada pela dúvida, diz viver na incerteza e sente intensamente a saudade, da qual a maior de todas é a saudade da mãe; - IDADES DA VIDA - Fala-nos sobretudo da sua infância e da velhice, com realce para esta última. Faz um balanço da vida e dá um conselho aos jovens: “Vão gozando a mocidade / Aproveitem bem a vida / Se estão na flor da idade / Essa flor vai ser perdida / E depois de ressequida / As folhas irão cair / Vão ter que se despedir / As forças vãolhe faltar /Agora podemse rir / Um dia vão cá chegar”; - AMOR A ESTREMOZ - Da cidade diz: “És a pérola mais brilhante / Do Alentejo és a rosa / As pedras são diamantes / Estremoz terra mimosa”. Em particular, dedica poemas ao Castelo, à Igreja de Santa Maria, à Capela da Rainha Santa, ao Centro Histórico, ao Cortejo do Trabalho de 1963, aos Bonecos de Estremoz, à Feira Medieval, ao Gadanha, à União de Freguesias, à Rádio Despertar, ao Aniversário dos Bombeiros e ao Intermarché; - AMOR AO ALENTEJO - É uma constante na sua poesia; - ADMIRAÇÃO POR PERSONALIDADES E GRUPOS - Umas de âmbito nacional como Ronaldo, Manuel Luís Goucha, Nicolau Breyner e a Selecção Nacional. A nível local, o Prior, a Rádio Despertar, os Bombeiros Voluntários e Joaquim Vermelho; - FESTAS CÍCLICAS - Fala do Carnaval da sua Infância e do Natal; - CRÍTICA SOCIAL - Fala do desprezo de alguns pela pobreza, constata que a miséria continua e fala da falta de perspectivas da juventude.
Por tudo aquilo que nos diz em “PALAVRAS GUARDADAS”, sou levado a felicitar a poetisa por nos ter distinguido com este livro, que é um fiel reflexo da sua grande alma de poeta popular.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Côvado à vista!



O padrão medieval de côvado surgiu a descoberto e devidamente sinalizado no FESTIVAL DA RAINHA - IV Feira Medieval de Estremoz, que nos passados dias 20 e 21 de Maio, teve lugar no Castelo de Estremoz. Congratulo-me por o Município ter aceite uma sugestão minha, devidamente fundamentada e apresentada já lá vão dois anos e meio.

Reconhecimento do padrão medieval de côvado
Em finais de Dezembro de 2014, iniciei um conjunto de 3 artigos no jornal Brados do Alentejo, nos quais dava conta do reconhecimento da existência na primitiva Casa da Câmara de Estremoz, de um padrão medieval de côvado. Este consistia num sulco vertical de 66 cm, observável no segundo colunelo à direita da porta de entrada e parcialmente coberto com argamassa.
Chamada de atenção ao Município de Estremoz
A existência em Estremoz de uma medida-padrão medieval é uma mais valia em termos arqueológicos, históricos, metrológicos e turísticos. A partir daquela data, Estremoz passou a figurar por direito próprio, na rota das medidas-padrão medievais portuguesas. Considerei desde logo, ser da máxima importância, a inventariação, preservação e valorização daquele padrão. Daí que tenha sugerido ao Município de Estremoz para que procedesse à remoção da argamassa que ainda a ocultava parcialmente, que a sinalizasse e a divulgasse na imprensa nacional, notificando também a Academia Portuguesa de História e o Instituto Português da Qualidade, da existência da mesma.
Medidas medievais de comprimento
O sistema de medidas de comprimento usado em Portugal na Idade Média para medir e transaccionar tecidos, incluía o “côvado” (66 cm) e a uniformidade do seu valor terá sido generalizado a todo território nacional, provavelmente desde os meados do séc. XIII, o que facilitaria o combate à fraude. Todavia, alguns mercadores usavam medidas mais curtas que o devido. Daí a necessidade da existência de medidas-padrão para aferir a autenticidade das medidas usadas pelos mercadores.
As Ordenações Afonsinas registam a obrigatoriedade das medidas terem marcas a certificar a sua validade, fixando também multas a aplicar a quem usasse medidas sem marcas de aferição ou comprimento insuficiente. A aferição das medidas usadas pelos mercadores seria feita pelo seu confronto com as medidas-padrão gravadas na pedra, devendo aquelas encaixar nestas, sem folgas no sentido do comprimento. A marcação das medidas aferidas deveria ser realizada por alguém habilitado para o fazer, assegurando a autenticidade das marcas e a sua aceitação pelas partes envolvidas numa transacção comercial: mercadores e compradores.
Localização do padrão
A localização da medida-padrão de côvado na primitiva Casa da Câmara de Estremoz não é ocasional, uma vez que visando salientar a sua legalidade, as medidas padrão eram gravadas em locais importantes ligados à Coroa ou à Igreja, junto de locais onde se desenvolvia o comércio, pelo que a feira medieval de Estremoz teria lugar no Largo do Castelo, local onde se situa a primitiva Casa da Câmara de Estremoz. Virgínia Rau no livro “Feiras Medievais Portuguesas/Subsídios para o seu estudo” (1943), diz-nos que a Feira franqueada de Estremoz foi criada em 1463 por D. Afonso V.
Datação provável da ocultação do padrão
As medidas medievais de comprimento foram abolidas e consideradas ilegais a partir de 1 de Janeiro de 1860, data da entrada em vigor de um decreto assinado por D. Pedro V, que implementava o Sistema Métrico Decimal, que tinha como unidade de comprimento o metro.
A partir daquela data, a medida-padrão de côvado era desnecessária para a aferição de côvados usados no comércio. Passaria a ser apenas um sulco no mármore dum colunelo da primitiva Casa da Câmara. Provavelmente terá sido nesta época que o padrão medieval de côvado terá sido preenchido com argamassa.
Publicado no Jornal E nº 178, de 1 de Junho de 2017

terça-feira, 30 de maio de 2017

Poetas em defesa da olaria de Estremoz - 08


António Simões (1934- )

Poeta, professor, pedagogo e tradutor beringelense. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Colaborador da imprensa regional: Brados do Alentejo (Estremoz) e Rodapé (Beja). Publicou poesia na imprensa nacional: Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Jornal de Letras, O Século. Publicou igualmente na imprensa regional: Revista Convívio (Coimbra). Obras: Soneto de água e outros (Poesia, 1994), A Festa das letras (Poesia, 1995), Minha mãe amassa o pão (Poesia, 2001), Antologia de Poesia Anglo-Americana (Bilingue, 2002), Amor é um Fogo que Arde sem se Ver e outros sonetos (Poesia, 2004). Traduziu para a Campo das Letras, a partir do Inglês, livros de Andy Warhol: Anjos, Anjos, Anjos e Amor, Amor, Amor e as histórias para crianças: Noite de Natal, É duro ter 5 anos e Babushka. Tem diversas traduções na antologia de poemas Os Dias do Amor, publicada em Janeiro de 2009 pela editora Ministério dos Livros.
São de realçar aqui, as décimas inéditas, ainda não publicadas em livro, “Um pucarinho é bastante”, nas quais o autor glosa uma bem conhecida quadra do poeta António Sardinha, pertencente ao poema “O elogio do púcaro”.

UM PUCARINHO É BASTANTE 

Mote

Amor, se fores à feira,                  
Traz-me uma prenda galante.
Não quero nada d’ourives,
Um pucarinho é bastante.

I

Vive amor de quase nada,
Vive dum pouco que é tanto,
Duma lágrima de pranto
Dum gesto, duma mirada.
Ou da ternura embrulhada
Numa risada fagueira.
Digo à minha companheira
Por quem meu ser se desvela:
Traz-me uma prenda singela,
Amor, se fores à feira.

II

Traz-me o silêncio pasmado
Da praça que é o Rossio,
Ou o sussurro do rio
Correndo quase olvidado
Sob o chão empoeirado.
Se lá passares diante,
Traz do Sátiro cantante,
Essa água de ternura
Que amor sacia e perdura,
Traz-me uma prenda galante.

III

Amor é simplicidade
E com pouco se contenta.
Seja aos vinte ou aos oitenta,
O amor não tem idade.
Ele só quer a verdade:
Por isso, amor, não te esquives,
Porque a meu lado tu vives
E sabes bem como eu sou,
Este recado te dou:
Não quero nada d’ourives.

IV

O amor cabe num beijo,
Por maior que seja amor.
Seja ele como for,
É sempre igual ao desejo.
Por tudo o que sinto e vejo,
Para um coração amante,
O que é pequeno é gigante.
E para encher d’alegria
Quem ama, sofre e confia,
Um pucarinho é bastante.

sábado, 20 de maio de 2017

A importância de comemorar Abril


ESTREMOZ – 26 de ABRIL DE 1974 - Apoteose na recepção ao esquadrão do RC3
que participou nas operações militares do 25 de Abril de 1974.

Comemorar o 25 de Abril é renegar 48 anos de ditadura fascista.
Comemorar o 25 de Abril é festejar a liberdade reconquistada.
Comemorar o 25 de Abril é homenagear todos aqueles que através de múltiplas formas de luta, souberam resistir e dizer não.
Comemorar o 25 de Abril é mostrar reconhecimento ao glorioso Movimento das Forças Armadas, por em boa hora ter desencadeado um golpe militar que derrubou o regime opressor, há 48 anos no poder.
Comemorar o 25 de Abril é importante porque tem uma dupla função pedagógica. Por um lado, mostrar aos mais novos como era Portugal antes do 25 de Abril. Por outro lado, levá-los a compreender que o 25 de Abril foi um marco importante e insubstituível na luta pela cidadania, cuja prática não seria hoje possível sem ele.
Comemorar o 25 de Abril permite avivar memórias, o que não interessa a alguns que não estariam onde estão, se não fosse o 25 de Abril. Fogem às Comemorações do 25 de Abril, tal como o diabo foge da cruz. É que a realização de cerimónias públicas, nomeadamente a realização de sessões de assembleias municipais ou de freguesias, faculta aos respectivos membros o exercício dos direitos de cidadania. Através deles a oposição tem toda a legitimidade de questionar opções tomadas e apontar outros caminhos. Mas isso não lhes interessa. Não gostam de canto polifónico. São monocórdicos e cantam a uma só voz. Não se identificam com as práticas de cidadania, nomeadamente o recurso ao princípio do contraditório. Julgam que ainda estamos no Tempo da Outra Senhora. Há que lhes mostrar que não. Que não é assim.


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Museu Municipal de Estremoz - Exposição de Sílvia Lézico



De 15 de Abril a 11 de Junho de 2017, na sala de exposições temporárias do Museu Municipal de Estremoz, estará patente ao público a Exposição “Quem tem vagar, faz colheres: Arte Pastoril, Ilustração e Design” de Sílvia Lézico.
No certame estão expostas cerca de 20 peças de autor, inspiradas na arte pastoril, conceito que convém explicitar.
Em tempos não muito longínquos, o dia-a-dia do pastor alentejano decorria ao ar livre, no meio de permanente e incomensurável solidão. Daí que ocupasse o tempo que lhe sobrava da guarda do rebanho, criando artefactos conhecidos genericamente por “arte pastoril”, os quais eram confeccionados com os materiais correntes na região: cortiça, corno, cana, bunho e madeira. A multiplicidade de trabalhos executados incluía as colheres, o que está na origem do adágio “Quem não tem que fazer, faz colheres” ou da variante “Quem tem vagar, faz colheres”, que deu o título à exposição.
Sílvia Lézico, designer e ilustradora, desde 2012 que tem desenvolvido um trabalho que passa pelo cruzamento do design e da ilustração com a arte pastoril. É esse trabalho que vem agora a público, o que tem desde logo duas consequências importantes. Por um lado, reacende e resgata tradições ancestrais, olvidadas pela malha do tempo e com isso valoriza a cultura popular e a identidade cultural alentejana. Por outro lado, reinventa objectos que desencadeiam eles próprios a sua própria memória futura.

Hernâni Matos

As fotografias seguintes foram recolhidas do Facebook do Município de Estremoz