quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Estremoz - Defesa do Património - 4

Implantado num dos pontos mais elevados da Serra de Ossa, o Castelo de Évora Monte remonta
ao século XII, altura em que a localidade foi conquistada aos mouros por Geraldo Sem Pavor.
A partir daí e até ao presente, sofreu aumento de fortificações e diversas reconstruções.
Foi classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910.

Outra estrutura associativa de defesa do património cultural no concelho de Estremoz é:  
LACE - Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte
Constituída em 2000 e em actividade, liderada por Henrique Sabino até 2004 e após o seu falecimento por Eduardo Basso, tem António Adérito Araújo como Vice-Presidente da Direcção desde a sua fundação. Tem por objectivos a intervenção cívica, cultural e social, através de todas as formas legais, para proporcionar a defesa, dinamização e valorização do património arquitectónico, histórico e cultural, relacionado com o Castelo de Évora Monte. Para a prossecução dos seus fins, a "LACE" poderá promover e realizar dentro e fora do Castelo de Évora Monte, colóquios, conferências, teatro, cinema, cursos de ensino, concertos, récitas, festas, reuniões, jogos lícitos, angariações de fundos, homenagens e toda e qualquer actividade que se enquadre nos seus fins. No cumprimento das suas finalidades, a LACE promoveu desde a sua fundação inúmeras iniciativas e eventos: - 1ª. Apresentação Nacional do Concerto de Música Medieval “TE-DEUM” pelo grupo “Flores da Música” na Igreja de S. Pedro (1999); - Passagem de Ano na Torre/Paço, que reuniu mais de 500 pessoas (1999 e 2000); - Passagem do Ano para o III Milénio (2000-2001); - Comemorações do Aniversário da Assinatura da Convenção de Évora Monte (2000 a 2010); Participação em Bruxelas no Concurso sobre o Euro, promovido pelo Parlamento Europeu (2001); - Festival de Música “Tardes no Castelo” (2001 e 2002); - Convenção Euro de Évora Monte e Feira Euro das Escolas (2002); - Festival de Artes e Música “Tardes no Castelo” - 10 concertos (2002 e 2003); - Comemorações dos 700 Anos do Castelo de Évora Monte (2006); - Percurso do Imaginário de Évora Monte (2006-2010); - Evento “Évora Monte – Castelo Vivo”, com a duração de 8 dias, que incluía exposições, conferências e espectáculos culturais (2007 a 2009); - Evento “Évora Monte – Castelo da Paz”, que incluía a montagem de um Presépio de Rua e animação alusiva à época de Natal (2007 a 2009); - Constituição da “Rede Europeia de Sítios da Paz”, a cuja Direcção a LACE preside, que tem membros em 10 países e já realizou Encontros em Portugal, Holanda, Alemanha, Eslováquia, Croácia e Hungria (2010).

(CONTINUA)

Hernâni Matos

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Palácio Tocha - Quem lhe acode? - 3

CENA DE CAÇA (Escadaria). Fotografia recolhida no Sistema de Referência e
Indexação do Azulejo.

 (Continuação dos nº 838 e 839 de Brados do Alentejo)

O que pensa a Câmara?
De acordo com a edição de 11 de Setembro, do jornal “Brados do Alentejo”, o Presidente do Município, Luís Mourinha, disse estar preocupado com a degradação do Palácio Tocha e acrescentou ter sido recentemente contactado verbalmente pelos interessados, no sentido de o imóvel ser adaptado a Hotel, situação a que a Câmara não se opõe.
Quem é o proprietário do Palácio Tocha?
Tenho conhecimento de que o Palácio Tocha foi vendido pela Família Sepúlveda da Fonseca à Imobiliária Magnólia da Madeira, Lda, no ano de 2000. Esta, por sua vez, vendeu-o em 2008, à Associação de Colecções, de cujo Conselho de Administração é Presidente, o Comendador José Manuel Rodrigues Berardo (Joe Berardo). Na prática o proprietário do Palácio Tocha é o conhecido empresário e coleccionador de Arte, Joe Berardo.
Já foi o homem dos dois mil milhões de euros. Fez parte da lista da revista norte-americana "Forbes" como um dos homens mais ricos do mundo. Actualmente, segundo a revista “Exame”, os activos de Joe Berardo sofreram uma forte desvalorização e estão actualmente avaliados em 340 milhões. A sua menina dos olhos continua a ser a sua colecção de Arte, avaliada pela Christie's em 316 milhões de euros.
Sem sombra de dúvida que o Comendador é o maior coleccionador privado português, cujas notáveis colecções abrangem um largo espectro de domínios como Arte Moderna e Contemporânea, Cartazes de Ernesto de Sousa, Azulejos, Arte Publicitária, Cerâmica das Caldas, Arte Déco, Escultura Contemporânea do Zimbabué, Arqueologia, Etnografia, Mineralogia e Paleontologia.
As suas colecções distribuem-se e estão salvaguardadas em locais tão diversos como o Centro Cultural de Belém (Lisboa), os jardins luxuriantes do Monte Palace (Ilha da Madeira), a Quinta da Bacalhôa e a Bacalhôa Vinhos (Azeitão) e as Caves da Aliança Vinhos de Portugal (Sangalhos). 
Sem sombra de dúvida que para além de grande investidor, o Comendador é como diriam os franceses “un esprit de finesse”, dotado de rara sensibilidade para as Artes.
O que poderá fazer a Câmara?
O Presidente do Município, Luís Mourinha, disse em entrevista ao jornal Brados do Alentejo, estar preocupado com a degradação do Palácio Tocha. Não constituirá delito de opinião, pensar que a Câmara não se deve ficar pela mera preocupação. Admito que o Comendador possa desconhecer o estado de degradação acelerado do edifício de que é proprietário e que foi classificado em Janeiro passado como imóvel de interesse público. Daí ser minha convicção de que a Câmara, como entidade que propôs em 2000 a classificação do imóvel, deva fazer algo mais. Penso que devia alertar o proprietário para a degradação que documentei em edições anteriores deste jornal. Decerto que será a entidade mais qualificada para o fazer, uma vez que esteve na génese do processo de classificação do imóvel e é a legítima representante da comunidade local. A esta assiste-lhe o direito à fruição dos valores e bens que integram o património classificado e tem igualmente o dever de o defender e conservar, impedindo a sua destruição, deterioração ou perda. Quem melhor para defender os interesses da comunidade, que o Município eleito?
O que deverá fazer o proprietário?
É sabido que o edifício é uma jóia arquitectónica da cidade e um tesouro em património azulejar, no qual ressalta o envolvimento de Estremoz e do seu termo, na luta pela independência nacional no decurso da crise dinástica de 1383-85 e contra o jugo filipino. São páginas de História Regional e Nacional que estão ali contadas.
De acordo com a legislação em vigor, o proprietário tem o dever de conservar, cuidar e proteger devidamente o edifício, de modo a assegurar a sua integridade e a evitar a sua perda, destruição ou deterioração. Deve também executar os trabalhos ou as obras que o serviço competente, após o devido procedimento, considerar necessários para assegurar a salvaguarda do edifício.
Tendo em conta que o proprietário é uma pessoa de bem e com rara sensibilidade para as Artes, creio que uma vez alertado pelo Município para o estado de degradação do imóvel, não deixará de assumir as suas responsabilidades, travando e invertendo a tragédia muda que ali se está a passar, o que seria gratificante para a comunidade local.


 CONQUISTA DE ESTREMOZ – 1383 (Sala das batalhas). Fotografia recolhida
no Sistema de Referência e Indexação do Azulejo.

BATALHA DO AMEIXIAL – 1663 (Sala das batalhas). Fotografia recolhida
no Sistema de Referência e Indexação do Azulejo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Bonecos na Assembleia Municipal de Estremoz

Barbeiro sangrador.
José Moreira, (1926-1991). 
Colecção particular.

Unanimidade
Na reunião da Assembleia Municipal de Estremoz, de 26 de Setembro passado, foi aprovado por unanimidade, o reconhecimento da Produção de Figurado de Barro de Estremoz como Património Imaterial de Interesse Municipal. Esta aprovação finaliza o processo de classificação, cuja iniciativa política pertenceu à Câmara, a qual na sua reunião do transacto dia 17 de Setembro, aprovara também por unanimidade aquele reconhecimento.  Trata-se do primeiro passo de um processo iniciado pelo Município e que visa conseguir o registo da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO.
À margem da votação
Apesar da unanimidade conseguida na votação, choca-me o facto desta ter sido feita “a seco”, sem qualquer intervenção, tanto da bancada da situação, como das bancadas da oposição. Neste ponto da ordem de trabalhos, os senhores deputados municipais entraram mudos e saíram calados. Guardaram-se para as habituais trocas de galhardetes entre bancadas e entre bancadas e a Câmara, nas quais a Assembleia é pródiga.
Seria de esperar que os Bonecos de Estremoz, supremos ex-líbris e os melhores embaixadores da nossa cidade, merecessem algum apontamento afectivo por parte dos senhores deputados municipais. É que os Bonecos de Estremoz nascem das mãos mágicas dos barristas que deles fazem o seu ganha-pão e que coleccionadores, estudiosos e publicistas, defendem como dama e arvoram como estandarte. Resultado: Câmara-1, Assembleia-0.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Luvas brancas


Hoje, sem razão aparente ou talvez não, ofereceram-me um par de luvas brancas, o que não deixou de me surpreender por vários motivos. Em primeiro lugar, tenho as mãos limpas e não preciso de esconder a sujidade. Em segundo lugar, porque acho que as minhas mãos não contaminam ninguém. E finalmente, porque as minhas mãos grandes, correspondentes ao quarenta e seis biqueira larga dos meus pés, são a minha forma de comunicar afectos.
Luvas brancas para quê?


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

9 – Santo António no figurado de Estremoz

Santo António (séc. XVIII). 
Oficinas de Estremoz.
Colecção Júlio Reis Pereira.
Museu Municipal de Estremoz.

O culto de Santo foi incentivado em Estremoz pelos religiosos da ordem de S. Francisco de Assis, sediados no Convento de S. Francisco, desde os primórdios da sua construção no século XIII, em data imprecisa, balizada pelos reinados de D. Sancho II – D. Afonso III (1239-1255).
A popularidade do culto antoniano levou o povo a recriar pequenos altares nas suas casas e a ter o Santo exposto em oratórios. A procura de imagens estará na origem do aparecimento da figura de Santo António na barrística popular estremocense. As fontes de inspiração possíveis são: - A imagem seiscentista de Santo António em lenho dourado, do altar homónimo do Convento de São Francisco em Estremoz, situado no lado esquerdo da Capela Maior e referenciada nas Memórias Paroquiais de 1758; - A Imagem seiscentista de Santo António em mármore branco existente no nicho da parte superior das Portas de Santo António, em Estremoz.
No acervo do Museu Municipal de Estremoz existem imagens que vão desde o século XVIII até à actualidade e com dimensões e atributos variáveis. Nessas imagens, Santo António enverga um hábito franciscano cingido à cintura por um cordão e uma capa. Calça sandálias e está assente numa peanha oca que pretende imitar as de talha. Na mão esquerda, o Doutor da Igreja segura um livro no qual está sentado o Menino Jesus. Qualquer das imagens ostenta auréolas. A mão direita do taumaturgo segura um lírio ou um crucifixo, que conjuntamente com o livro e o Menino Jesus, são outros dos atributos deste Santo.
De salientar que nas imagens há elementos amovíveis (auréolas, Menino Jesus, cruz, lírio e até a própria cabeça de Santo António), que eram retirados da imagem e guardados, até o devoto ver o ser desejo satisfeito. Daí que em muitas destas imagens faltem alguns destes elementos. A pressão sobre o Santo a fim de que produzisse milagres, ia ao ponto de alguns porem a sua imagem de castigo, virada para a parede. Em casos extremos, a imagem era posta de cabeça para baixo e até mesmo atada a um cordel e mergulhada num poço. Seria para o Santo refrescar as ideias e fazer o milagre pretendido? Vejam lá o extremo a que podia chegar a religiosidade popular…

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Estremoz - Defesa do Património - 3

A hoje inexistente Igreja de Santo André, situava-se na Rua 5 de Outubro, em
Estremoz. Muito rica e Imponente no seu estilo barroco, foi sede de Paróquia.
A sua construção iniciada em 1705, levou 20 anos, tendo sido inaugurada em
26 de Novembro de 1725. Diz-nos Marques Crespo em “Estremoz e o seu Termo
Regional”, que a Igreja de Santo André, de uma só nave, sete capelas e exterior
majestoso, viu abater com muito estrondo a sua abobada, no dia 8 de Outubro
de 1940, cerca das 22 horas e 30 minutos, não tendo ocorrido felizmente qualquer
desastre pessoal. A partir daí, o culto e a actividade paroquiana passaram a ser
exercidos no vizinho templo do Convento de S. Francisco. Diz-nos ainda Marques
Crespo, que desde logo foram tentadas as reparações necessárias, que foram
sofrendo interrupções, por serem dispendiosas. A demolição da Igreja de Santo
André no ano de 1960, foi sem sombra de dúvida, o maior crime perpetrado
contra o património construído em Estremoz. A demolição foi efectuada às
ordens do regime de Salazar, então no poder e em força, pois ainda não eclodira
a guerra colonial. O arrasamento criminosamente executado visou a construção
no local, do chamado Palácio da Justiça, edifício cinzento e incaracterístico,
símbolo de uma distorcida capacidade empreendedora do Estado Novo, que
não olhava a meios para atingir os seus fins. Este viria a ser inaugurado a 3 de
Abril de 1964 com pompa e circunstância pelo mais alto magistrado da Nação,
modo como se designava então, eufemísticamente, o Presidente da República,
Almirante Américo Tomaz - Foto de C. J. Walowski (1891).

Outra estrutura associativa de defesa do património cultural em Estremoz é:
Associação Filatélica Alentejana
Fundada em 1983 e liderada por Hernâni Matos, vocacionada para as actividades exposicionais, tem desenvolvido entre outras, actividades que se situam na área da Defesa do Património. São de referir as seguintes exposições:
- NO ÂMBITO DA ARTE POPULAR: No princípio foi a Arte Pastoril (2004); Exposição Retrospectiva do Trabalho das Irmãs Simões (2008); Bonecos da Gastronomia (2009 e 2010); Arte Conventual – O Falar das Mão de Guilhermina Maldonado (2010); Alentejo do Passado (2011); António Canoa – Artesão da Ruralidade (2012); António Coelho – Memórias dos Campos (2012); António Moreira – Artes do Fogo (2012); Arte Pastoril – Memórias de um Coleccionador (2012); O Vasilhame de Barro de Estremoz (2012).
- NO DOMÍNIO DA ETNOGRAFIA: Memórias dos Campos de Além-Tejo (2006); O Natal Português (2007); O Traje Popular Português (2007); É Natal (2008); O Traje Popular Alentejano (2010); As Mulheres do Meu País (2011); Comemorações do Cinquentenário do Cortejo do Trabalho de 1963 (2013).
- Na ÁREA DO PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO: Rossio de Outros Tempos (2006); Estremoz vista por Rogério Carvalho (2007); Memórias do Espírito Santo (2009); Igreja de Santo André - História dum Crime (2010); Defesa do Património (2010).
Noutros sectores são de referir:
- NO CAMPO DA POESIA POPULAR foram realizados até ao presente, vinte e um Encontros de Poetas Populares do Concelho de Estremoz, os quais foram convidados a fazer décimas, glosando motes subordinados a temas locais ou regionais.
- NO PLANO DAS CONFERÊNCIAS, foram proferidas até ao presente, as seguintes:
“O Pastor Como Ex-Líbris do Alentejo” (2006), por Hernâni Matos; “A romaria de Santo Amaro de 1729 – Projecto de História ao Vivo”, por Pedro Silva e Francisca de Matos (2007); “Mestre Mariano da Conceição, o Alfacinha” (2013), por Hernâni Matos; “Santo António na Tradição Popular Estremocense” (2013), por Hernâni Matos;
De salientar ainda que na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana no Centro Cultural de Estremoz, estão permanentemente patentes ao público as colecções de bonecos de Estremoz “O Traje Popular Português” e “Alentejo do Passado”, bem como uma colecção de “Vasilhame de Barro de Estremoz.
(Continua)


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Figurado de Barro de Estremoz reconhecido como Património Imaterial de Interesse Municipal

Primavera.
Oficinas de Estremoz do séc. XVIII
Colecção Júlio dos Reis Pereira
Museu Municipal de Estremoz

Transcrevo com regozijo e com a devida vénia,
a Notícia do Município de Estremoz, nº 1746,
de 17 de Setembro de 2014.
  
Na reunião de Câmara de hoje, 17 de Setembro de 2014, foi aprovado por unanimidade, o reconhecimento da Produção de Figurado de Barro de Estremoz como Património Imaterial de Interesse Municipal, processo que vai ainda ser submetido à Assembleia Municipal para finalização do processo de classificação.
O Município de Estremoz assume o dever de proteger, valorizar e divulgar o Património Cultural da sua zona geográfica, nomeadamente na área do Imaterial. O Saber-Fazer de uma Figura de Barro de Estremoz (vulgo Boneco de Estremoz), é um património imaterial local de expressão única no mundo que importa valorizar, num primeiro momento, através de um reconhecimento municipal, para que assim os Barristas vejam reconhecido o mérito de continuarem uma tradição, com mais de 300 anos de existência, mas também para que o concelho assuma esta herança cultural como de relevância excepcional para o seu desenvolvimento integral.
Assume-se assim este património imaterial como uma herança multissecular de inestimável valor cultural para o concelho, bem como para os seus cidadãos e que importa transmitir devidamente valorizado, estudado e preservado às novas gerações.
Este é o primeiro passo de um processo, já iniciado pelo Município e que procura chegar ao registo da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO.