domingo, 15 de maio de 2011

O sentido da visão: Adivinhas

SEM TÍTULO – CEIFEIRA.
Manuel Ribeiro de Pavia (1910-1957).
Desenho a lápis sobre papel (26,5x35 cm).
Colecção particular.

PRÓLOGO
As adivinhas são enigmas formulados pelo povo e que têm sido transmitidas de geração em geração, integrando assim a nossa literatura oral.
Para além de constituírem um passatempo familiar que ajudava a passar as longas noites de Inverno, elas desempenharam sempre um papel educativo, visto estimularem a imaginação criadora, fomentarem o desenvolvimento da inteligência, treinarem a memória e desenvolverem o poder de observação. Para além de tudo isso, oferecem um interesse, vincadamente etnográfico, dado terem sido, na sua maioria, formuladas num contexto de ruralidade, abordando por isso a temática desse universo.
Localizámos cerca de quatro dezenas de adivinhas no âmbito do sentido da visão e delas seleccionámos uma vintena, que estudámos e sistematizámos em dois sub-grupos: “Os olhos” e “A luz e as suas fontes”.

OS OLHOS
Os olhos são os órgãos sensoriais da visão. Algumas adivinhas têm como solução: “O olho”:

“O que é, que é,
Uma caixinha de bem-querer,
Abre e fecha sem ranger?” [5]

“Que é do tamanho dum tostão,
abre e fecha sem cordão?” [6]

Outras têm como resultado: “Os olhos”:

“Juntos vivemos e andamos
Vestindo trajos iguais.
E sendo amigos, jamais
Ver um ao outro estimamos:
Inda que mui longe vamos
Por solitário caminho,
Nenhum sai do pátrio ninho:
Por úteis ambos nos temos,
Mas o que juntos fazemos
Faz qualquer de nós sozinho.” [1]

“Altas janelas,
Que abrem e fecham,
Sem bulir nelas.” [5]

“Altos palácios,
Lindas janelas,
Abrem-se e fecham,
Ninguém mora nelas.” [2]

Algumas têm desfechos mais complexos. Por exemplo: “Os olhos: as pestanas e as meninas-dos-olhos”:

“O que é, que é,
pêlo com pêlo
e a menina fica no meio?” [8]

Outras, têm como decifração “As meninas-dos-olhos”:

“Quais são as meninas
Que, quanto mais belas,
Mais longas cortinas
Põem nas janelas?” [7]

Outras, ainda, têm um desenlace mais vasto, como por exemplo: “Pés, olhos, dedos, dentes e garganta”:

“São dois andantes,
Dois viajantes,
Dez arrecadantes,
Vinte oito moleiros
E uma azenha a moer.” [2]

Finalmente, outras têm como resolução o “Abrir dos olhos”:

“Adivinhar, adivinhar.
Qual é a coisa primeira
Que se faz ao acordar?” [2]

A LUZ E AS SUAS FONTES
O mecanismo da visão tem por base “A luz”, a qual é solução de algumas adivinhas:

“Mais veloz do que eu, ninguém;
Sou linda como as estrelas;
Sem ser nau ando com velas,
De graça todos me têm,
Sou origem das janelas.” [2]

“É do tamanho de uma aresta
E até na casa d’el-rei presta.” [2]

De registar igualmente nas respostas, a presença do contrário da luz, ou seja: “A escuridão”:

“Qual é a coisa, qual é ela
Quanto maior é
Menos se vê?” [3]

Uma fonte de luz que marca forte presença no desenredo é “O sol”:

“Qual é a coisa, qual é,
Que quanto mais se mira,
Menos se vê?” [6]

“Procuram-me muitas vezes,
Tenho estima, o leitor creia,
Mas, se alguém olha para mim,
Faz-me logo cara feia.” [7]

O sol é comparado a Deus, porque “Ninguém o pode olhar”:

“Em que se parece Deus com o Sol?” [2]

São múltiplas as adivinhas cujo resultado é: “A luz da candeia”:

“Qual é cousa, qual é ela,
Do tamanho de uma abelha
E enche a casa até à telha?” [4]

“Qual é a cousa, qual é ela,
Do tamanho duma bolota
E enche a casa até à porta?” [4]

“Qual é cousa
Que cabe dentro duma rasa
E enche a casa até à porta?” [4]

De resto, localizámos uma, cuja resolução é: “A vela, o pavio e a luz”:

“O pai é coto,
O filho é crespo,
O neto é loiro.” [3]

Por fim, assinalámos outra, cuja conclusão é: “A lâmpada eléctrica de incandescência”:

“O que é, que tem a barriga de vidro e a tripa de arame?” [6]

EPÍLOGO
Mais uma vez, agora dentro do contexto limitado “As adivinhas” e nele no âmbito restrito do “Sentido da visão”, foi possível concluir a riqueza da nossa tradição oral, a qual mais do que nunca, urge preservar, como reforço da nossa identidade cultural nacional, em situação de risco numa época de frenética globalização.

BIBLIOGRAFIA
[1] – CURVO SEMEDO. Composições Poéticas. Parte II (1903); Parte III (1817). Lisboa.
[2] - GUERREIRO, M. Viegas. Adivinhas Portuguesas. Fundação Nacional Para A Alegria No Trabalho. Lisboa, 1957.
[3] – LEITE DE CASTRO. “Adivinhas” in Revista de Guimarães, vol. I, nº 3 (1884).
[4] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Porto, 1882.
[5] - LIMA, Augusto Castro Pires de. O Livro das Adivinhas. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1943.
[6] - LIMA, Fernando de Castro Pires de. Qual é a coisa qual é ela? Portugália Editora. Lisboa, 1957.
[7] – MARIA RAQUEL. Agenda Doméstica para 1957. Porto Editora, Porto, 1957.
[8] - MOUTINHO, José Viale. Adivinhas Populares Portuguesas.6ª edição. Editorial Notícias. Lisboa, 2000.
[9] - VIEIRA BRAGA, Alberto. “Folclore” in Revista de Guimarães, vol. XXXIII (1933); vol. XXXIV (1934).

Hoje é dia de penico


Fig.1 - Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, do início do séc. XX.


LER AINDA


PRÓLOGO
Há mais de um ano, que seareiros do humor, resolvemos lavrar os terrenos do Facebook com as araveças da nossa incomodidade. O nosso objectivo, coroado de êxito, foi agitar as águas da blogosfera, onde nem tudo o que luz é oiro e onde proliferam, infelizmente, exemplos de mau gosto, de vazio cultural ou o que é bem pior ainda, de atentados à inteligência de cada um.
É certo que também há quem reme contra a maré do facilitismo e no uso legítimo da liberdade de expressão, procure ser criativo sem ser buçal, bem como ser irreverente sem ser imoral. É esse o terreno da nossa luta.
Ao editarmos então o post “À laia de ode ao penico”, elevámos este acessório à categoria de monumento à defecação e proclamámos a necessidade da sua divulgação e estudo nos seus variados aspectos, a fim de que possa ser preservado.
Voltamos hoje à liça, para terçar armas pela nossa dama: O PENICO PORTUGUÊS. As armas escolhidas foram as múltiplas vertentes da nossa literatura oral, tão gratas ao imaginário e à cultura populares.

A LÍNGUA PORTUGUESA É RICA
“Penico” é um substantivo masculino, de origem obscura [5]. De acordo com os dicionaristas designa o recipiente em louça, ferro, plástico, etc., usado para urinar e defecar, no qual se depõem urina e fezes.
O substantivo penico tem inúmeros sinónimos: bacia de cama, bacio, bispote, calhandro, doutor, mictório, pote, senhor doutor, urinol, vaso de comadre, vaso de noite, vasaréu e viasca. Por aqui se vê, que até a nível de penicos, a língua portuguesa é rica. E a confirmá-lo, faremos uma travessia breve pela nossa literatura oral.

ADAGIÁRIO
Talvez porque o penico se tenha tornado obsoleto ou, pelo menos, tenha caído em desuso, não é vasto o respectivo adagiário. Todavia, ele existe como marca de identidade cultural:

- "Braga é o penico do céu."
- "Não há penico sem tampa.
- "Oleiro que faz o penico, faz logo a tampa.2
- "Penico de barro não cria ferrugem."
- "Penico de barro não dá ferrugem."
- "Penico que muitos mexem acaba fedendo."
- "Penico também é branco."
- "Quem não tem cachorro, caça com gato; Quem não tem penico, caga no mato."

CANCIONEIRO POPULAR
Os dois únicos registos que temos e que referem implicitamente o penico, são as quadras que legendam os bilhetes-postais ilustrados, de fabrico português, que ilustram o presente post. A primeira refere-se à fig. 1 (ESSENCIA DE PENICO):

“Lula chorando por mais
Fresca caca da mamã,
Solta berros e dá ais,
Pede outra dose, amanhã.”

A segunda refere-se à fig. 2 (DESILUSÃO):

“Que coisa tão fina
E tão cheirosa…
Cheira a albumina
É albuminosa”

CALÃO
Ainda que não abundem, existem termos de calão, envolvendo o vocábulo “penico” ou um vocábulo dele derivado:

Mijar fora do penico = Sair da linha = Desrespeitar as regras [1]
Pedir penico = Acovardar-se = Render-se = Desistir por admitir ter sido vencido [7]
Penicada = Penico cheio de urina e dejectos [8]
Penicada = Troça do grau aplicado aos caloiros na Universidade de Coimbra [4]
Peniqueira = Criada de quarto [3]
Peniqueira = Mesa de cabeceira onde se guarda o penico
Chiça penico! = Caraças! [1]

ADIVINHAS
Apenas conhecemos uma adivinha, cuja solução óbvia é "O penico":

“Verde por fora, amarelo por dentro,
Tem uma asa e é fedorento.” [9]

Quanto a esta:

“Que é, que é, que dois homens podem fazer ao mesmo tempo e não é possível a duas mulheres?” [2],

o desenlace óbvio é “Urinar num penico”.

LENGALENGAS
Conhecemos duas lengalengas populares que fazem referência ao penico. Uma delas é conhecida por:

“Varre, varre vassourinha”

“Varre, varre vassourinha
Varre bem esta casinha
Se varreres bem dou-te um vintém
Se varreres mal dou-te um real
Pico pico saltarico
Salta a pulga p'ró penico
Do penico p'rá balança
Disse o rei que fosse à França
Buscar o D. Luís
Que está preso pelo nariz
Os cavalos a correr
As meninas a aprender
Qual será a mais bonita que se irá esconder?”

Quanto à outra, é conhecida por:

“Zé Godinho"

Lá vem o Zé Godinho a cavalo no burrinho,
O burrinho é fraco, a cavalo num macaco,
O macaco é valente, a cavalo numa trempe,
A trempe é de ferro, a cavalo num rodelo,
O rodelo é de sola, a cavalo numa bola,
A bola é vermelha, a cavalo numa telha,
A telha é de barro, a cavalo num cocharro,
O cocharro é de cocha, a cavalo numa floucha,
A floucha é de bico, a cavalo num penico,
O penico é vidrado, a cavalo num cajado,
O cajado é de pinho
E lá vai o Zé Godinho a cavalo no burrinho.”

ALCUNHAS ALENTEJANAS
Também no âmbito das alcunhas alentejanas, algumas têm a ver com o penico:
PENICO – Alcunha identificada em Castro Verde, Estremoz, Monforte, Moura e Ourique: [6]
PENICO DE DUAS ASAS – Alcunha reconhecida em Fronteira. [6]
PENICO DOS RICOS – Designação atribuída a um indivíduo muito vaidoso e que privilegia o relacionamento com pessoas abastadas (Redondo); o visado bajulava os ricos e era subserviente (Moura). [6]
PENICO VIDRADO – Alcunha outorgada a alguém que é pobre, mas muito vaidoso. [6]
PENIQUEIRA - Alcunha confirmada em Fronteira. [6]

EPÍLOGO
Depois do meu texto anterior “À laia de ode ao penico”, reforçado agora com este “Hoje é dia de penico”, não vos posso assegurar que num futuro mais ou menos próximo, não vos vá brindar com nova e monumental penicada. De literatura oral, pois claro! A defesa da língua portuguesa, assim o exige, pelo que eu, nesse domínio como noutros: “Não peço penico!”

BIBLIOGRAFIA
[1] ALMEIDA, José João Almeida. Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas. 2011. [http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf]
[2] - DIAS. Jaime Lopes. Etnografia da Beira. Vol. X. Livraria Férin, Lda. Lisboa, 1970
[3] – FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Diccionário de Língua Portuguesa. 4ª edição. Sociedade Editora Arthur Brandão. Lisboa, 1925.
[4] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[5] – MACHADO, José Pedro Machado. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Vol. 4. 5ª edição. Livros Horizonte. Lisboa, 1989
[6] - RAMOS, Francisco Martins; SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.
[7] - SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[8] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.
[9] - VIEIRA BRAGA, Alberto. “Folclore” in Revista de Guimarães, vol. XXXIV (1934).

Publicado inicialmente a 15 de maio de 2011

Fig.2 - Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Sentido da visão: Calão

 MULHER COM VÉU - Jaime Martins Barata (1899-1970). Óleo sobre tela.

PREÂMBULO
Seja qual for o contexto em que nasceu ou seja usado, o calão transvaza largamente o seu núcleo inicial de cultores e é incorporado na linguagem corrente do cidadão comum. Daí fazer sentido aqui, uma abordagem do mesmo, em termos de literatura oral e no contexto do sentido da visão.
Uma tal abordagem será centralizada em termos tais como “vista”, “olho”, “ver”, “olhar”, “luz”, “cor”, “doenças da visão” e “cegueira”.
VISTA
A visão (vista) será, porventura o sentido mais eficaz na gestão da nossa interacção com o mundo que nos cerca. Por sua vez, o calão potencia fortemente o substantivo feminino, adjectivando-o em cada caso, da maneira mais adequada:
- Vista aguda = Perspicácia [3]
- Vista alegre = O lenço [2] (Calão de Minde)
- Vista armada = Visão com o auxílio de instrumentos ópticos [3]
- Vista baixa = O porco [2] (Calão de Minde)
- Vista de olhos = Relance rápido, superficial [3]
- Vista desarmada = Visão sem o auxílio de instrumentos ópticos [3]
- Vista grossa = Cumplicidade [3]
- Vista grossa = Ver e fazer de conta que não vê [1]
- Vistas curtas = Diz-se de pessoa pouco inteligente = De espírito tacanho [3]
- Vistas largas = Diz-se de pessoa inteligente e de espírito liberal e aberto [3]
OLHO
O calão adjectiva amplamente o(s) olho(s) como órgãos sensoriais da visão. E com tudo isso, a língua portuguesa sai mais rica:
- Medir a olhómetro = Avaliar à vista [4]
- Olho à Belenenses = Olho azul devido a uma pancada [3]
- Olho alerta! = Chamada para algum perigo [3]
- Olho ao peito = Olho negro [3]
- Olho atrás, olho adiante = Cautelosamente [3]
- Olho clínico = Aptidão = Capacidade = Perspicácia [3]
- Olho comprido = Bisbilhotice [3]
- Olho da providência – Protecção divina [3]
- Olho da rua = Ao ar livre =No meio da rua [3]
- Olho de águia = Perspicaz = Inteligente [3]
- Olho de azougue = Perspicaz = Inteligente [3]
- Olho do céu = O Sol [3]
- Olho gordo (grande) = Diz-se que o tem pessoa invejosa [3]
- Olho no Cristo que é de prata = Frase com que se chama a atenção para se vigiar algo que pode ser furtado [3]
- Olho por olho = Pagar-se na mesma moeda [3]
- Olho traseiro = O cu [3]
- Olho vê, mão pilha = Diz-se de gatuno que age com rapidez [3]
- Olho vivo = Olhar de pessoa inteligente
- Olho vivo! = Atenção! = Cautela! [3]
- Olho vivo, pé ligeiro = É preciso estar com atenção e pronto a desaparecer [3]
- Olho-de-boi = Clarabóia [3]
- Olhos envinagrados = Olhos avermelhados, de bêbado [3]
- Olhos atravessados = Olhos vesgos ou travessos [3]
- Olhos de amêndoa = Olhos oblíquos [3]
- Olhos de besugo = Olhos esbugalhados [3]
- Olhos de carneiro mal morto = Olhos mortiços [3]
- Olhos de garça = Olhos verdes ou azuis [3]
- Olhos de gazela = Olhos suaves, meigos [3]
- Olhos de goraz = Olhos esbugalhados, protuberantes [3]
- Olhos em alvo = Olhos mortiços [3]
- Olhos em bico = Ficar espantado = Olhos parecidos com os dos chineses [3]
- Olhos nos olhos = Frente a frente [3]
- Olhos que te viram ir = Diz-se quando se perde uma oportunidade que já não voltará [3]
VER
O exercício da visão consiste no acto de ver, termo que é verbo e substantivo com largo espectro de significâncias, reforçadas em contexto de calão:
- Ver a Deus pelos pés = Receber uma fortuna inesperada [3]
- Ver à légua = Ver longe = Prever [3]
- Ver a primeira luz = Nascer [3]
- Ver a vida a andar para trás = Andar em maré de azar [3]
- Ver arder as barbas do vizinho = Ver em outrem algo que também lhe pode acontecer [3]
- Ver Braga por um canudo = Não alcançar o que se desejava [3]
- Ver cabelos num ovo = Ver de mais [3]
- Ver cobra = Ficar espantado = Assustar-se
- Ver com estes que a terra há-de comer = Jura em que se invocam os olhos [3]
- Ver com olhos de ver = Observar com atenção [3]
- Ver com os olhos e comer com a testa = Desejar algo inacessível que se contempla, mas não se pode usufruir [3]
- Ver com sete olhos = Observar minuciosamente [3]
- Ver de que lado sopra o vento = Esperar pelos acontecimentos para agir conforme as circunstancias [3]
- Ver em que param as modas = Aguardar os acontecimentos [1]
- Ver as estrelas = Sofrer de repente uma grande dor [3]
- Ver estrelas = Referência a uma situação que se gora [4]
- Ver flamingos à meia-noite = Sofrer de repente uma grande dor = Ver-se embaraçado ou perdido [3]
- Ver furo = Reconhecer uma possibilidade = Ver uma oportunidade [3]
- Ver lobo = Diz-se de pessoa que ficou assustada com o que viu [3]
- Ver longe = Prever = Ser perspicaz [3]
- Ver moscas (mosquitos) na outra banda = Ver muito bem = Estar a inventar coisas [3]
- Ver navios = Não se conseguir o que se deseja = Ter uma desilusão [1]
- Ver o argueiro no olho alheio e não ver a trave no seu = Criticar os defeitos alheios e não conhecer os próprios [3]
- Ver o caso mal parado = Não descortinar solução para um problema [3]
- Ver o céu por dentro = Morrer [3]
- Ver o cu ao pé das calças = Apanhar um grande susto [3]
- Ver o fim do túnel = Ver o resultado final = Admitir melhoria de situação [3]
- Ver o fundo ao tacho (prato, canastra, saco) = Acabarem-se os rendimentos = Acabar-se tudo [3]
- Ver o padeiro = Ter cópula [4]
- Ver o padeiro = Ver navios [4]
- Ver o sol aos quadradinhos = Ser ou estar preso [4]
- Ver os touros de palanque = Presenciar qualquer tumulto em lugar seguro [1]
- Ver para crer (como S. Tomé) = Só acreditar no que se vê ou está irrefutavelmente provado [3]
- Ver passar os comboios = Não estar ocupado = Não ser contemplado numa situação de favor [4]
- Ver passarinho novo (verde) = Andar optimista = Ter uma surpresa agradável [3]
- Ver pelo mesmo prisma = Analisar segundo o mesmo ponto de vista [3]
- Ver pelo rabo (canto) do olho = Ver de esguelha = Ver sem querer ver = Ver superficialmente [3]
- Ver pelos olhos de outrem = Julgar pelo que outro viu ou disse [3]
- Ver por um canudo = Não conseguir o desejado [3]
- Ver por um óculo = Perder = Deixar distanciar-se = Perder de vista [4]
- Ver se pegam as bichas = Lançar um argumento, opinião ou acção a ver se os outros aceitam = Tentar convencer [3]
- Ver sombras no escuro = Idem [3]
- Ver tudo cor-de-rosa = Só ver o lado bom do mundo [3]
- Ver tudo negro = Não encontrar solução para um assunto ou problema = Diz-se de pessoa pessimista [3]
- Ver uma bruxa = Apanhar uma repreensão severa [1]
- Ver uma bruxa = Ver-se embaraçado [3]
- Veremos, como diz o cego = Frase com que se manifesta dúvida ou incredulidade perante um facto possível de acontecer [3]
- Ver-se à brocha = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se à rasca = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se à vara = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se amarelo = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se azul = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se da cor da abelha = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se da cor da pele do Diabo = Estar aflito ou em apuros [3]
- Ver-se doido = Sentir-se atarantado, sem saber o que fazer [3]
- Ver-se e desejar-se = Estar muito atrapalhado = Estar sobrecarregado [3]
- Ver-se em assados = Estar em dificuldades [3]
- Ver-se em calças pardas = Estar em dificuldades [3]
- Ver-se em calças pardas = Ser severamente castigado [4]
- Ver-se em calças pardas = Ver-se em dificuldades [1]
- Ver-se em maus lençóis = Estar em dificuldades [3]
- Ver-se em palpos de aranha = Ver-se em situação embaraçosa e difícil = Estar desorientado [3]
- Ver-se em panças = Estar em dificuldades [3]
- Ver-se em talas = Ver-se em dificuldades [1]
- Ver-se entre a cruz e a caldeirinha = Ver-se em dificuldades = Estar perante um dilema [3]
- Ver-se gago = Ver-se em dificuldades = Estar perante um dilema [3]
- Ver-se grego = Deparar-se uma dificuldade que muito trabalho e tempo demora a resolver-se [3]
- Ver-se grego = Estar em dificuldades [4]
- Ver-se nas amarelas = Ver-se em dificuldades ou perigo [3]
- Ver-se nas ataqueiras = Ver-se em dificuldades ou perigo [3]
OLHAR
O “olhar”, verbo de sentido abrangente, mas também substantivo preciso, marca tal como o verbo e substantivo “ver”, um significativo registo no nosso calão:
- Olha o bicho! Olha o bicho! = Expressão com que se chama a atenção para algo que se estreia, como uma peça de vestuário [3]
- Olha o bufo = Vem gente = Vem polícia [2] (Calão do Porto)
- Olha o passarinho = Forma de chamar a atenção, sobretudo de crianças [3]
- Olhar com bons olhos = Ver ou avaliar com aprovação [3]
- Olhar como boi para palácio = Não compreender nada de um assunto ou do que se passa [3]
- Olhar como boi para palácio = Não ligar apreço = Não dar importância [1]
- Olhar contra o governo = Olhar de esguelha = Estar contra [3]
- Olhar contra o governo = Ser vesgo [1]
- Olhar das chedas o carro = Olhar alguém com desprezo [3]
- Olhar de alto = Olhar com sobranceria [3]
- Olhar de banda = Olhar com desconfiança [3]
- Olhar de banda como o Miranda = Referência a quem olha de esguelha [3]
- Olhar de esconso (esguelha) = Referência a quem olha de esguelha [3]
- Olhar de frente = Manifestar coragem [3]
- Olhar de lado = Olhar com sobranceria [3]
- Olhar para (ante) ontem = Estar pensativo ou distraído [3]
- Olhar para a sombra = Começar a ter vaidade = Namoriscar [3]
- Olhar para dentro = Dormir [3]
- Olhar para o ar = Estar sem fazer nada [3]
- Olhar para o boneco = Estar sem fazer nada = Distrair-se [3]
- Olhar para o próprio umbigo = Ser narcisista e egoísta [3]
- Olhar para o Sete-Estrelo = Olhar o céu = Estar distraído = Estar sem fazer nada [3]
- Olhar para o tempo = Andar na vadiagem = Andar sem fazer nada [1]
- Olhar pelo canto (rabo) do olho = Olhar de soslaio = Olhar disfarçadamente [3]
- Olhar pelo físico = Defender-se de excessos [3]
- Olhar por alguém = Tratá-lo = Protegê-lo [3]
- Olhar por baixo = Diz-se fingidora, sonsa [3]
- Olhar por cima da burra = Olhar alguém com desprezo ou superioridade [3]
- Olhar por cima da burra = Ser severo com alguém [4]
- Olhar por cima dos ombros = Tratar alguém com severidade [1]
- Olhar por si = Defender as suas conveniências [3]
- Olhar quebrado = Olhar lânguido [3]
LUZ
A luz que atinge o globo ocular está na base do mecanismo da visão e de alguns termos de calão no âmbito da visão:
- Deitar o luzio = Olhar = Observar [2]
- Luz = Dinheiro [2]
- Luzeiro = Pedra preciosa = Brilhante = Dia [5]
- Luzente = Pedra preciosa = Brilhante = Dia [5]
- Luzento = Brilhante [2]
- Luzernas = Os olhos [1]
- Luzes = O dia [2]
- Luzio = Dia [1]
- Luzio = Lampião [1]
- Luzio = Olho [1]
- Luzio = Olhos = Olhar [4]
- Luzir-lhe o olho = Mostrar muito interesse por algo [4]
- Pescas de luzio = Olhadela 0 Piscadela de olhos [2]
COR
Como característica da imagem, a cor não deixa de estar presente no calão:
- Cor de burro quando foge = Cor esquisita = Cor inqualificável [1]
- Cor do Senhor dos Passos da Graça = Roxo desbotado [3]
DOENÇAS DA VISÃO
Sendo a visão uma mais valia, as perturbações da visão teriam necessariamente que estar presentes no calão:
- Pitosca = Zarolho = Míope [1]
- Pitosga = Pitosga [1]
- Zambaio = Vesgo [1]
- Zanaga = Vesgo [1]
- Zarolho = Cego de um olho [2]
- Zarolho = Vesgo [1]
CEGUEIRA
A cegueira ou perda do sentido de visão, está igualmente presente no calão, através de termos ou frases, alguns de conteúdo vernáculo:
- Bater uma ceguinha = Masturbar-se [5]
- Cega = Bebedeira [4]
- Cega = Bebedeira = Masturbação [5]
- Cegada = Grupo de mascarados que percorrem as ruas no Carnaval = Grande confusão = festa muito animada [5]
- Cegante = Alfinete com brilhantes [4]
- Cegante = Anel com brilhantes [2]
- Cego = Estudante que interrogado pelo professor e não tendo estudado, responde: “Peço desculpa, mas não vi. Não pude ver.” [2]
- Cego como uma toupeira = Alguém que vê muito mal [3]
- Cegueta = Indivíduo cego dum olho [2]
- Cegueta = Indivíduo cego dum olho ou estrábico [4]
- Cegueta = Pessoa que vê mal [5]
- Ceguinha = Masturbação [5]
- Ceguinho = Pénis [5]
- Ceguinho seja eu = Forma de jura com que se pretende que acreditem em, nós [3]
NOTA FINAL
Independentemente do fascínio que a abordagem do calão exerceu sobre nós, tivemos que dar a mesma por terminada, para não fastidiar mais o leitor. Muito ainda ficou, naturalmente por dizer.

BIBLIOGRAFIA
[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[2] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[3] - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[4] – NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[5] – PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.

domingo, 8 de maio de 2011

O sentido da visão: Adagiário

CEIFEIRA DE ESTREMOZ (1926) - aguarela de Mestre ALBERTO DE SOUZA (1880-1961), notável aguarelista e ilustrador, que calcorreou o país de lés a lés na primeira metade do século XX, funcionando como consciência plástica da Nação.

Na sequência do post anterior, subordinado à epígrafe "O sentido da visão: Cancioneiro", apresentamos hoje mais de dezasseis dezenas de adágios, sistematizados por vinte e quatro tópicos, os quais integram o conjunto por nós catalogado. Naturalmente, que mais uma vez, estre trabalho corresponde a uma sinopse que deixa de parte, variantes e corruptelas.

A visão (vista) é um dos sentidos que permite observar e analisar o meio ambiente:

- A cegueira quando dá é pela vista.
- A malícia tem vista fraca e memória forte.
- A paciência é boa para a vista.
- Cada um vê mal ou bem, conforme os olhos que tem.
- Doença que não é vista, não é conhecida.
- Entre amigos, a vista basta.
- Longe da vista, longe do coração.
- Mais faz a vista do amo do que as suas mãos.
- Morte não vista é mal crida.

Os órgãos sensoriais da visão são os olhos:

- A juventude é a idade em que os olhos brilham sem ver.
- Dois olhos enxergam mais que um só.
- Graça de olhos tarde envelhece.
- Olho de mãe, olho de falcão.
- Olho de menino, olho de diabinho.
- Olhos que não choram não sabem ver.
- Os mortos aos vivos abrem os olhos.

O mecanismo da visão tem por base os raios luminosos que atingem o globo ocular:

- A luz que vai adiante é a que alumia.
- A candeia que vai à frente alumia duas vezes.
- A candeia, debaixo do alqueire, não comunica a sua luz.
- À luz da candeia faz tua meia.
- À luz da candeia, não há mulher feia.
- A luz se apaga mais depressa do que se acende.
- A luz, onde está o fogo, aparece.
- Mais vale um raio de Sol que um arrátel de sabão.
- O excesso de luz produz a cegueira.
- O sol quando nasce é para todos.

Para a maioria de nós:

- Os ouvidos são mais infiéis que os olhos.

Os olhos dizem muita coisa:

- Os olhos não enganam, nem mesmo quando pretendem enganar.
- Os olhos são o espelho da alma.

À cor dos olhos são atribuídos significados:

- Olho azul em portuguesa é erro da natureza.
- Olho azul em raça portuguesa é velhaco com certeza.
- Olhos verdes, olhos de traidor.

O movimento dos olhos cronometra o tempo:

- Menos tempo gasta um postilhão a andar uma légua, que um preguiçoso a abrir os olhos.
- Num volver de olhos ao mau vento, volta-lhe o capelo.

È através do mecanismo da visão que se forma no cérebro a imagem do que vemos, assim como dela a forma, a volumetria, a medida, a profundidade, a textura, o contraste, a luminosidade, o brilho e naturalmente a cor:

- Azul e verde, ranho na parede.
- Das cores a grã; da fruta a maçã.
- Em vendo amarelo, todo me descanelo.
- Gostos e cores não se discutem.
- O azul é o almoço do sol.
- O castanho-escuro corre o mole e o duro.
- O verde é esperança; quem espera sempre alcança.

Os espelhos reflectem a nossa imagem e assim, através deles, a maioria de nós consegue observar o seu rosto:

- Ao cego não dão cuidado os espelhos.
- Levantou-se a torta e pôs-se ao espelho.
- Para quê cego com espelho?
- Tiraram-me o espelho por feia, e deram-no à cega.

Há dificuldades de visão (astigmatismo, estrabismo, hipermetropia, miopia) que podem ser corrigidas, através do uso de óculos com lentes adequadas:

- Quatro-olhos vêem mais que dois.
- Se não vejo pelos olhos, vejo pelos óculos.

A falta do sentido da visão constitui a cegueira:

- A cegueira quando dá é pela vista.
- A ver vamos como diz o cego.
- A ver vamos, dizia o cego e cada vez via menos.
- Achou o cego um dinheiro.
- Antes cegues que mal vejas.
- Antes torto que cego de vez.
- Bem cego é quem muito vê por aro de peneira.
- Cego é aquele que vê e não quer ver.
- Cego é quem não vê por uma peneira.
- Deus podia ter botado os cegos no mundo, para vigiar os que vêem.
- É mais cego aquele que não quer ver do que aquele que não vê.
- Janelas fechadas são olhos de cego.
- Louvar-me num cego para julgar das cores.
- Maria, antes com um olho só, do que com um filho.
- Marido, não vejas! Mulher, cega não sejas!
- Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei.
- Não há cego que se veja.
- Não pode o cego distinguir cores.
- O ambicioso é um cego a caminhar com pernas de pau.
- O olho do cego é na mão.
- O pior cego é o que não quer ver.
- Os cegos desesperados por si se consolam.
- Quem dá a vista aos outros, cego fica.
- Quem não enxerga por trás de cerca de vara é cego.
- Se o cego guia o cego, correm ambos o risco de cair.
- Sonhava o cego que via.
- Um cego não pode ser guia de outro cego.
- Um cego não pode ser juiz em cores.

Uma boa visão exige cuidados de saúde:

- A palha no olho alheio e não a trave no nosso.
- Cada um vê o argueiro no olho do vizinho, e não vê a tranca no seu.
- Nada é bom para os olhos.
- O mal do olho cura-se com o cotovelo.
- Quando o nó se faz piolho, com mal anda o olho.
- Quem quiser olho são, ate a mão.
- Sol roxo, água a olho.

Quando dormimos fechamos os olhos:

- Se não dorme meu olho, folga meu osso.

A religião não podia deixar de ter múltiplas ligações aos olhos:

- Com o olho e com a fé não zombarei.
- Fui para me benzer e quebrei o olho.
- O amor e a fé nos olhos se vê.
- Quem, por virtude, se abate aos olhos dos homens, eleva-se aos olhos de Deus.
- Santos da Catalunha, olhos grandes e vista nenhuma.

O amor nasce com o próprio acto de visão:

- O amor e a fé nos olhos se vê.
- O amor é cego mas vê muito longe.
- O amor, ainda que cego para ver, é lince para adivinhar.
- A mão na dor e o olho no amor.
- Os olhos da namorada têm luz mais viva do que a do sol.
- Coração de mãe, olhos de mãe.
- O amor nasce da vista e vai ao coração.

Os olhos são sentinelas que nos mantêm alerta em relação às ameaças a que podemos estar sujeitos:

- Abre um olho para comprar e os dois para vender.
- Ao amigo que não é certo, com um olho fechado e outro aberto.
- Chaves de Faro, prados de Loulé, e criados de S. Brás, olho vivo e pé atrás.
- Contas na mão e olho no ladrão.
- Mãos na roca, olhos na porta.
- Não fies nem um tostão de quem põe os olhos no chão.
- Não metas em tua casa quem dois olhos haja, senão trigo e cevada.
- Os que falam com olhos fechados querem ver os outros enganados.
- Quem com mau vizinho há-de vizinhar, com um olho há-de dormir e com outro vigiar.
- Traze de olho o criado que ronha.
- Um olho no burro, o outro no cigano.
- Um olho no prato, outro no gato.

A mulher marca presença no adagiário da visão:

- A mulher do cego para quem se enfeita?
- A viúva rica com um olho chora e com outro repenica.
- Devemos procurar a mulher antes com os ouvidos que com os olhos.
- Levantou-se a torta e pôs-se ao espelho.
- Mulher honrada não tem ouvidos nem olhos.
- Olho de mãe, olho de falcão.
- Quem não tem mulher, muitos olhos há mister.

Os olhos têm naturalmente a ver com sentimentos:

- A doçura tira nojo e a gordura abre olho.
- A inveja tem os olhos vesgos para o bem, e pulmões de ferro para apregoar o mal.
- Ao medo sobejam os olhos.
- Aos olhos da inveja, todo o sucesso é crime.
- Facilmente aos olhos se afigura aquilo que se pinta ao desejo.
- Gente baixa só tem olho no interesse.

Com os olhos se chora, produzindo lágrimas, em estados emocionais alterados: casos de dor, medo, aflição, raiva, tristeza, depressão, saudade, alegria exagerada, etc.:

- A linguagem das lágrimas, não a entendem os corações de argila.
- As chamas da caridade secam as lágrimas da dor.
- As grandes desventuras não têm lágrimas.
- As lágrimas são o forte das mulheres.
- As lágrimas são, quase sempre, o último sorriso do amor.
- Ás mulheres parece que trazem as lágrimas numa bilha.
- Chorar com um olho e rir com o outro.
- Chorar por um olho azeite e, por outro, vinagre.
- Chorem olhos de teu amigo e ele enterrar-nos-á vivo.
- Fugi do homem orgulhoso, que se envergonha de verter lágrimas.
- Lágrimas abrandam pedras.
- Lágrimas abrandam penas.
- Lágrimas com pão ligeiras são.
- Lágrimas de herdeiros, risos secretos.
- Lágrimas de mulher são tempero de malícia.
- Lágrimas de mulher valem muito e custam-lhe pouco.
- Lágrimas de sermão e chuva de trovoada, cai na terra e não vale nada.
- Nada seca mais depressa do que as lágrimas.
- Não choram os olhos as perdas das coisas que não cansaram os braços.
- Não os olhos que choram, senão as mãos que trabalham.
- Os olhos que não têm chorado, não vêem nada.
- Que mil olhos chorem, menos os meus.

Os animais também estão presentes no adagário sobre a visão:

- Aos olhos tem a morte quem a cavalo passa a ponte.
- Cria o corvo, tirar-te-á o olho.
- Em tempo nevado, o olho vale um cavalo.
- Não há coisa encoberta senão olhos de toupeira.
- O cavalo engorda com o olho do dono.
- O olho do amo engorda o cavalo.
- Quem a cavalo passa a ponte, ao olho vê a morte.

Através dos olhos conseguimos percepcionar a beleza:

- A beleza da mulher é uma das suas armas, as lágrimas são outra.
- A beleza depressa se acaba.
- A beleza é frágil; a virtude é eterna.
- A beleza enche os olhos mas não enche a barriga.
- A beleza está nos olhos de quem a vê.
- A beleza exterior inspira amor; a interior inspira estima.
- A beleza não se põe na mesa.
- A beleza não tem senão a profundidade da pele.

Podemos também apreender a boniteza:

- Boniteza não põe mesa.
- Bonito é o que bonito parece.
- Lindos olhos, feio bicho.

Podemos igualmente ter ou não a noção de feiura:

- À luz da candeia, não há mulher feia.
- Nem tudo o que é feio é mau.
- O desejo torna formoso o que é feio.

A acção do olhar precede a alimentação:

- Abre o olho, que assam carne.
- Comer sem beber, cegar e não ver.
- Mau é ter os olhos maiores do que a barriga.
- Os olhos comem primeiro que a boca.
- Os olhos não comem sopas.
- Os olhos também comem.
- Pão com olhos, queijo sem olhos, e vinho que salte aos olhos.

Porque julgamos que todos viram “com olhos de ver”, o que era nosso objectivo mostrar, damos por terminado o presente post.

Hernâni Matos