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quarta-feira, 14 de junho de 2023

Exposição "Irmãs Flores, 50 anos em 50 Bonecos"




Transcrito com a devida vénia da
newsletter do Município de Estremoz,
de 14 de Junho de 2023.

 EXPOSIÇÃO "IRMÃS FLORES,
50 ANOS EM 50 BONECOS"

Irmãs Flores, duas irmãs que a vida levou a que se unissem e dedicassem a vida à produção do Boneco de Estremoz. Inicialmente por mero acaso e posteriormente por vocação e paixão.

Esta exposição é uma mostra de 50 Bonecos que nos ilustram o percurso de 50 anos de trabalho, amor e dedicação ao Boneco de Estremoz de duas Grandes Mestres, as Irmãs Flores, guardiãs de uma arte popular única que em 2017 viu o seu saber-fazer ser classificado pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

A mostra, a não perder, será inaugurada no sábado, dia 17 de junho de 2023, pelas 18h00, na Galeria D. Dinis e estará patente até dia 2 de setembro de 2023.

Visite!


sábado, 27 de maio de 2023

"O Alentejo e a Cultura: que futuro?" - Manifesto contra o desmantelamento da DRCA

 

Direcção Regional de Cultura do Alentejo, Évora. Fotografia de Pedro Roque (2020),
recolhida através do Google e aqui reproduzida com a devida vénia.

Ao anúncio da extinção da Direção Regional de Cultura do Alentejo e da sua integração na Comissão de Desenvolvimento Regional do Alentejo, um grupo de homens e mulheres, com raízes no Alentejo, respondeu com um protesto contra o que consideram um “clamoroso erro”. O resultado é o manifesto que aqui se publica, subscrito por muitas dezenas de cidadãos, entre as quais figuras conhecidas, como os historiadores António Borges Coelho e António Ventura, os músicos Vitorino, Janita Salomé e Francisco Fanhais, autarcas, escritores, atores e de inúmeras outras profissões.

"O Alentejo e a Cultura: que futuro?'

Sendo do conhecimento público que está prevista a integração da(s) Direcção Regional de Cultura na(s) Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, os subscritores, defensores da sua importância como organismo autónomo, decidem manifestar-se através do presente documento.
Para um país cronicamente preocupado com os elevados índices de pobreza e dos parâmetros de bem-estar e desenvolvimento económico, aquém da média europeia, tudo o que à Cultura respeita é relegado para plano secundário, sem que, da parte dos decisores políticos, exista sensibilidade e percepção do erro em que persistem. Não obstante, e apesar dessa indiferença, ela “move-se” e, mesmo no interior do país, em acelerado ritmo de envelhecimento e de desertificação, são as práticas culturais, tais como a gastronomia, o artesanato, as tradições religiosas e profanas e inúmeras formas de actividades laborais e de transformação tradicionais, da carne, do leite e do vinho, mas, também, do empenho artístico do povo, no que respeita ao teatro, à música, à dança, ao folclore, que, associadas a monumentos de vária ordem e a sítios arqueológicos inseridos em importantes e ricas paisagens, movimentam e, em não poucas situações, sustêm, economicamente, lugares e terras e prendem, ainda, os seus habitantes a lugares cujo sustento de outrora desapareceu, na voragem de outros paradigmas económicos e sociais.
Com cerca de um terço do território nacional, o Alentejo foi palco de passagem e habitat de inúmeros povos, os quais deixaram vestígios abundantes da sua actividade, da sua organização social e das suas práticas “divinas”. O Alentejo e as suas gentes são, hoje, um caldo de Cultura que deriva do convívio e apropriação de técnicas de muitas origens e que resulta numa riqueza ímpar, que há que preservar, estudar e desenvolver.
Com uma economia assente na produção agrícola, ao longo de séculos, e numa divisão do território profundamente desigual e injusta, da qual resultou a concentração da riqueza num reduzido número de famílias e uma pobreza extrema da esmagadora maioria dos Alentejanos, restou a esperança e a luta por melhores condições de vida, mas que, por fim, na década de 50/60 do século XX, gerou o êxodo para o litoral do país e para o estrangeiro.
O Alqueva, que se propunha democratizar a exploração e a posse da terra, foi uma desilusão que o presente e o futuro se encarregam de demonstrar, com a introdução de culturas nocivas para a natureza, o ambiente, o património e a paisagem, parecendo haver ainda uma maior concentração da posse da terra, agravada pela sua venda a pessoas e grupos estrangeiros, numa dimensão nefasta, de cujos proventos nada sobra, nem para o Alentejo, nem para o país.
A aposta parece ser, pois, antes que aconteça o impensável – alienar o património ao capital estrangeiro, tal como à terra se fez –, a de que se defenda esse património único.
Património que, nas suas diferenciadas formas de apresentação e manifestação, é um denominador comum para os Alentejanos, enquanto identidade colectiva e regional.
Defender este legado é manifestar solidariedade institucional e reconhecimento, a todos aqueles que fizeram, e fazem, do seu quotidiano uma luta, sem tréguas, contra a desertificação da memória e do território e que, incompreensivelmente, são esquecidos por quem decide e traça, a régua e esquadro, políticas estranhas à realidade dos seus dias e do seu futuro.
A estratégia de defesa, manutenção e desenvolvimento cultural exige, dos poderes públicos, uma atenção redobrada, com o envolvimento de técnicos e especialistas, empenhados cientificamente na abordagem necessária e nas diferentes fases da sua indispensável intervenção, do mesmo modo que, na sua abordagem técnica, se exige, no campo da deliberação e da gestão, equipas com profundo conhecimento científico e estratégico, para a necessária decisão de prioridades. Acresce a imprescindível apetência para o diálogo, com particulares, autarquias, clero, técnicos e outros intervenientes. No fundo, uma proximidade com grande parte dos decisores, assim como com associações, agentes culturais e público.
Tem mantido estas funções a Direção Regional de Cultura do Alentejo, na qual temos sentido um comportamento sério, altamente responsável e de grande empenho e que, apesar da crónica falta de verbas, tem sabido e procurado manter a causa da Cultura, no Alentejo, um organismo vivo e ao serviço da comunidade e do seu desenvolvimento, assim como da sua história e da defesa de valores considerados da sua identidade e memória.
É, pois, um sinal de alerta e de grande preocupação para os signatários o desmantelamento previsto da Direção Regional de Cultura do Alentejo e a sua integração na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. Não parece avisado politicamente que um organismo desta natureza, que tem cumprido, com rigor e competência, ao longo de décadas, a gestão do património e a promoção das mais diversas iniciativas culturais, dê lugar a uma amálgama de organismos não explicados, até ao momento, mas cuja legislação já está em marcha, nomeadamente, pela Lei n.º 58/2018, de 21 de Agosto, e pela Lei n.º 27/2022, de 17 de Junho.
Tal como os seres humanos, poderíamos dizer que o território, para além do seu aspecto físico, também tem espírito e é necessário zelar pela sua manutenção. Será que, a par da alienação da terra, com monoculturas estranhas à região, exaurindo até ao limite recursos hídricos, vamos assistir, impávidos e serenos, a um retrocesso cultural, devido a políticas mal calculadas ou intencionalmente canhestras, para atingir desígnios ainda não esclarecidos?
É tempo de exigirmos respostas às tutelas políticas sobre o que se pretende, e de exigir a salvaguarda de quanto se fez até aqui, com o esforço e a criatividade de muitas gerações, do nosso tempo e dos que nos precederam. Em sua memória, é imperioso o protesto e a exigência do respeito que a Cultura nos deve merecer.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

CURIOSIDADES - Figurado de Estremoz de Inocência Lopes

 

Inocência Lopes na Casa do Alentejo, em Lisboa. Fotografia de Luís Mendeiros . CME.

APRECIE AQUI EM PORMENOR

Esta a designação da exposição inaugurada no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, na passada 5ª feira, dia 18 de Maio, pelas 11 horas e que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 3 de Setembro.
Ao acto inaugural compareceram cerca de 2 dezenas de pessoas, entre familiares, amigos e admiradores da barrista Inocência Lopes, que ali foram testemunhar a estima que nutrem por ela e pelo seu trabalho.
O evento foi iniciado por Isabel Borda d’Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, que historiou o percurso formativo da barrista e elogiou o seu trabalho. Seguidamente usou da palavra a artesã, que justificou o título da Exposição e que emocionada agradeceu o apreço manifestado pelos presentes, assim como o trabalho de mestria dos seus formadores, bem como o enquadramento proporcionado pelo Município, pelo CEARTE e pela ADERE-CERTIFICA.

Infância e juventude
A barrista, de seu nome completo, Inocência Isabel Gonçalves Saias Lopes, nasceu em 1973 no Monte do Redondinho, na Freguesia de Évora Monte e foi a terceira de quatro irmãos (2 rapazes e 2 raparigas). Foi baptizada na Igreja de S. Pedro em Évora Monte, vila e freguesia onde completou o 1º e o 2º ciclo do Ensino Básico. Desse tempo, lembra-se das brincadeiras de infância com outras crianças suas vizinhas, de ser muito reservada na escola e tem boas recordações das férias de Verão.
Começou a trabalhar muito jovem, revelando interesse e até mesmo paixão pelo artesanato, de tal modo que aos 15 anos já dizia que um dia havia de ter uma loja de artesanato no Castelo de Évora Monte. Com 15/16 anos frequentou um curso de tecelagem e de tinturaria vegetal, a que se seguiu uma formação em tapetes de Arraiolos. Dos 18 aos 20 anos foi baby-sitter e mais tarde foi viver para Quarteira durante um ano, entre 1994 e 1995, aí trabalhando em Hotelaria.
Aos 16 anos começou a namorar com um jovem de 19, José Manuel da Silva Lopes, que conhecia desde a escola primária e com quem casou em 1993, em cerimónia realizada na Igreja de São Pedro, em Évora Monte. Do casamento nasceria um filho, José Manuel Gonçalves Lopes, actualmente com 25 anos de idade e designer gráfico, interessado por tudo que é arte e que já revelou potencialidades de poder dar continuidade ao trabalho da mãe, como barrista de bonecos de Estremoz.
Em 2003/2004, Inocência Lopes frequentou um Curso de Formação Profissional do IEFP, com equivalência ao 9º ano de escolaridade. Em 2005 concretizou o antigo sonho de abrir uma loja de artesanato dentro do Castelo de Évora Monte, o que veio a acontecer no nº 11 da Rua da Convenção, local onde até 1915 tinha funcionado o Celeiro Comum, fundado por alvará de D. João IV, em 1642. Devido à sua localização, a loja passaria a ser designada por Loja de Artesanato Celeiro Comum e entre outras coisas eram ali comercializadas cadeiras alentejanas, louça regional, artefactos em cortiça e pantufas de pele. Em 2010, frequentou algumas aulas de Técnicas de Modelação de Bonecos de Estremoz, ministradas por Isabel Borda d´Água no Museu Municipal de Estremoz, as quais não puderam ter continuidade, por motivos de natureza pessoal. Entretanto, frequentou várias formações em pintura e técnicas de artes decorativas, visando comercializar os seus trabalhos. Todavia, a atracção exercida pelos Bonecos de Estremoz, revelar-se-ia crucial.

O nascimento da barrista
Em 2019 frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que teve lugar no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. O Curso foi promovido pelo CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em parceria com o Município de Estremoz. O Curso com a duração de 150 horas e de Nível QNQ 2, teve formação técnica a cargo do barrista Mestre Jorge da Conceição. Em 2022 recebeu Carta de Artesão e de Unidade Produtiva Artesanal na área da Cerâmica Figurativa, emitida pelo CEARTE.
Também em 2022 foi reconhecida como artesã produtora de Bonecos de Estremoz. O reconhecimento consta de um certificado atribuído pela Adere-Certifica, organismo nacional de acreditação a quem compete a certificação de produções artesanais tradicionais, com garantia da qualidade e autenticidade da produção.
O ano de 2022 é um ano relevante na vida de Inocência Lopes, que passa a produzir e a comercializar Bonecos de Estremoz, como artesã certificada. Trata-se de uma condição que para além de constituir uma mais valia na salvaguarda do Boneco de Estremoz, a enche de orgulho por constituir o reconhecimento da qualidade e do mérito do seu trabalho como barrista.

A exposição em si
A exposição intenta dar-nos uma ideia do que é o trabalho da barrista na actualidade, para o que recorre a cerca de 40 trabalhos, distribuídos por diferentes tipologias; - IMAGENS DEVOCIONAIS: Menino Jesus do Missal, Nossa Senhora da Conceição, Pão de Santo António, Rainha Santa Isabel (Milagre das Rosas), Santo António com o Menino ao colo; - PRESÉPIOS: Presépio de 3 figuras, Presépio da manta alentejana; - FIGURAS DA FAINA AGRO-PASTORIL NAS HERDADES ALENTEJANAS: Dia da espiga, Mulher dos carneiros, Mulher dos enchidos, Mulher dos perus, Par do Rancho Convenção de Évora Monte; - FIGURAS QUE TÊM A VER COM A REALIDADE LOCAL: Dama, Mulher a vender chouriços, Peralta; - FIGURAS INTIMISTAS QUE TÊM A VER COM O QUOTIDIANO DOMÉSTICO: Mulher a lavar a roupa, Senhora a servir o chá, Senhora ao espelho; - FIGURAS DE NEGROS: Preta florista, Rei negro (par); - FIGURAS ALEGÓRICAS: Amor é cego (par), Vitória de Estremoz, Primavera (duas), Primaveras de arco (três); - ASSOBIOS: Arco enfeitado, Candelabro enfeitado, Pucarinho enfeitado, Terrina enfeitada;
O conjunto dos trabalhos agora expostos integra na sua maioria, o núcleo central dos Bonecos de Estremoz, habitualmente designado por “Bonecos da Tradição”. Em particular, algumas das figuras expostas inspiram-se em exemplares da colecção Júlio dos Reis Pereira, pertencente ao acervo do Museu Municipal de Estremoz. Todavia e para além disso, no conjunto agora exposto figuram exemplares englobáveis naquilo que se convencionou designar por “Bonecos da Inovação”. Trata-se de modelos que ainda não tinham sido criados por outros barristas. Tal é o caso de composições como “Dia da espiga”, “Par do Rancho Convenção de Évora Monte” e “Presépio da manta alentejana”, que ostentam em comum, marcas identitárias da cultura alentejana, nomeadamente a nível do traje. Tal é ainda o caso dos assobios designados por “Arco enfeitado”, “Candelabro enfeitado”, “Pucarinho enfeitado”, “Terrina enfeitada”. Neste caso, a inovação foi acompanhada de uma verdadeira mudança de paradigma. Com efeito e até ao presente, os assobios de barro vermelho de Estremoz, apresentavam como padrão comum, o facto de a sua decoração integrar uma ave, uma figura antropomórfica (Senhora de pezinhos, Peralta, Sargento) ou uma figura mista (Amazona, Peralta a cavalo, Sargento a cavalo). A partir de agora e com Inocência Lopes, os assobios passam também a integrar espécimes de olaria enfeitada como elementos decorativos. Trata-se de uma inovação visualmente harmoniosa, que eu aplaudo e subscrevo.
“CURIOSIDADES” (2023) é a primeira exposição individual de Inocência Lopes, que a encara como um misto de realização pessoal e de reconhecimento e valorização do seu trabalho. Anteriormente e em termos colectivos, a barrista já participara em certames como a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde (2022) e a FIA - Feira Internacional de Artesanato, em Lisboa (2022).

Características do trabalho da barrista
Na execução dos seus trabalhos, Inocência Lopes respeita os cânones da técnica de produção e da estética dos Bonecos de Estremoz, o que vem fazendo desde o início da sua formação como barrista. É um trabalho que vem aprofundando, na procura incessante da perfeição e do seu próprio caminho, através da afirmação de um estilo caracterizado por marcas identitárias diferenciadoras que a vão distinguindo dos outros barristas.
A representação do olhar e das maçãs do rosto é inconfundível e o cromatismo das suas figuras, vivo ou suave, é sempre harmonioso.
Congratulo-me com a qualidade dos trabalhos agora expostos por Inocência Lopes, que nos revelam a existência de uma nova estrela no firmamento da barrística popular de Estremoz. Mais uma vez se constata a importância e a relevância que teve o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, promovido em 2019 pelo CEARTE, em parceria com o Município de Estremoz.

Contactos
Visando facilitar o contacto com a barrista, disponibilizo aqui os vários modos de o fazer: INOCÊNCIA LOPES / Artesanato - Celeiro Comum de Évora Monte / Rua da Convenção 11, 7100-314 Évora Monte / TELEFONE: 966 759 534 / EMAIL: celeirodocomum@hotmail.com

Publicado no jornal E, nº 215, de 25 de Maio de  2023

Isabel Borda d'Água apresentando Inocência Lopes e a sua exposição. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.

Uma visão geral da exposição de Inocência Lopes. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.

 Inocência Lopes com o marido, filho e nora. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.


Bonecos de Estremoz de Inocência Lopes

 

Nossa Senhora da Conceição

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“CURIOSIDADES” é o título da exposição de Bonecos de Estremoz da barrista evora montense Inocência Lopes, que desde 18 de Maio e até 3 de Setembro estará patente ao público no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.
A exposição intenta dar-nos uma ideia do que é o trabalho da barrista na actualidade, para o que recorre a cerca de 40 trabalhos, distribuídos por diferentes tipologias; - IMAGENS DEVOCIONAIS: Menino Jesus do Missal, Nossa Senhora da Conceição, Pão de Santo António, Rainha Santa Isabel (Milagre das Rosas), Santo António com o Menino ao colo; - PRESÉPIOS: Presépio de 3 figuras, Presépio da manta alentejana; - FIGURAS DA FAINA AGRO-PASTORIL NAS HERDADES ALENTEJANAS: Dia da espiga, Mulher dos carneiros, Mulher dos enchidos, Mulher dos perus, Par do Rancho Convenção de Évora Monte; - FIGURAS QUE TÊM A VER COM A REALIDADE LOCAL: Dama, Mulher a vender chouriços, Peralta; - FIGURAS INTIMISTAS QUE TÊM A VER COM O QUOTIDIANO DOMÉSTICO: Mulher a lavar a roupa, Senhora a servir o chá, Senhora ao espelho; - FIGURAS DE NEGROS: Preta florista, Rei negro (par); - FIGURAS ALEGÓRICAS: Amor é cego (par), Vitória de Estremoz, Primavera (duas), Primaveras de arco (três); - ASSOBIOS: Arco enfeitado, Candelabro enfeitado, Pucarinho enfeitado, Terrina enfeitada;
“CURIOSIDADES” (2023) é a primeira exposição individual de Inocência Lopes, que a encara como um misto de realização pessoal e de reconhecimento e valorização do seu trabalho. Uma exposição cuja visita recomendo vivamente.


Santo António com o Menino Jesus ao colo

Pão de Santo António

Menino Jesus do Missal

Rainha Santa Isabel (Milagre das Rosas)

Presépio de 3 figuras

Presépio da manta alentejana


Mulher dos carneiros

Mulher dos perus

Mulher dos enchidos

Dia da espiga

Par do Rancho Convenção de Évora Monte

Mulher a vender chouriços

Dama

Peralta

Mulher a lavar a roupa

Senhora a servir o chá

Senhora ao espelho

Preta florista


Reis negros (par)

Amor é cego (par)

Vitória de Estremoz

Primavera

Primavera

Primavera de arco

Primavera de arco

Primavera de arco

Arco enfeitado (assobio)

Candelabro enfeitado (assobio)

Pucarinho enfeitado (assobio)

Terrina enfeitada (assobio)

quinta-feira, 30 de março de 2023

Mestre Emídio Viana (1869-1954), ceramista estremocense

 


É sabido que sou um coca bichinhos que cumpre o fado de andar metido no barro. Numa das minhas mais recentes incursões no digital, descobri e acabei por adquirir o objecto olárico, cuja descrição passo de imediato a fazer.

Escultura modelada em barro vermelho, representando um pastor junto ao tronco de uma árvore ou melhor parte dela, visto que só está representado o tronco que se bifurca em dois ramos abertos nas extremidades, as quais nos revelam ser oco o seu interior.

A observação pormenorizada do tronco revela que a sua modelação procurou representar a ausência de casca junto á base da árvore, pelo que se trata dum sobreiro que sofreu extracção de cortiça.

O pastor é representado como calçando botas e vestindo calças e camisa, sobre os quais enverga respectivamente safões e pelico, representados com todos os seus componentes. Na cabeça usa um chapéu com fita, de aba e copa, ambas normais, mas esta última com duas “amolgadelas“ á frente, como é usual.

Os pés do pastor estão representados na bem conhecida posição de “10 para as 2” e os braços de tal modo que o cajado (de madeira) é seguro a meio pela mão esquerda e a extremidade superior pela mão direita.

A observação da cabeça do pastor revela uma modelação cuidada nos seus pormenores, os quais se encontram todos representados.

A escultura tem uma altura de 34 cm e assenta numa base materializada por uma placa de forma elíptica com 20 cm de eixo maior e 16 cm de eixo menor.

Na modelação foram representadas texturas:  cabelo (cabeça), lã (pelico e safões), cortiça (tronco do sobreiro), solo (base da escultura).

Na base e colada frente ao pé direito, uma placa com as iniciais “E V”, iniciais de Mestre Emídio Viana (1869-1954), proprietário da extinta Cerâmica Estremocense Lda, situada na Rua do Lavadouro, nº ?, em Estremoz. Um homem polifacetado: desenhador, caricaturista, ceramista, empreendedor, comerciante, editor de postais ilustrados, ciclista, praticante de desportos motorizados, filatelista, coleccionador de Bonecos de Estremoz e prestigiado estremocense. Um homem com H grande, a quem tiro o chapéu e de quem tenho o prazer de, a partir de agora, ter uma escultura sua na minha colecção. Uma escultura que não foi criada com finalidade meramente decorativa, embora a tivesse. É que Mestre Emídio Viana tinha não só alma de artista, como era também um grande empreendedor. Por isso, a escultura tinha também uma funcionalidade: era a base de um candeeiro eléctrico, como é revelado pelos restos de fio condutor que assomam nas extremidades abertas das ramificações do tronco. As aberturas serviriam, como é fácil de concluir, para encaixe de casquilhos de lâmpadas. “Deus disse: Haja luz e houve luz” (Génesis 1:3).





Mestre Emídio Viana (1869-1954), ceramista estremocense.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Contributo pessoal para uma evocação de Mestre Álvaro Chalana (1916-1983), oleiro redondense

 


Foi inaugurada ontem, dia 18 de Março, no Museu do Barro, na Vila de Redondo, a exposição “A evocação de um Mestre: Álvaro Chalana – Já não há quem queira dar/uma filha a um oleiro”.
Mestre Álvaro Chalana (1916-1983), oleiro, poeta e músico, tem perfil biográfico traçado pelo Dr. António Carmelo Aires no seu livro “Cerâmica de Redondo”. Este investigador da cerâmica redondense, possuidor de uma inigualável colecção de peças oláricas de Redondo, ontem mesmo publicou no Facebook um extracto do vasto conjunto de peças de diferentes tipologias, produzidas por aquele Mestre. Disse a propósito “Associo-me à Evocação a Mestre Alvaro Chalana um dos mais notáveis oleiros redondenses do Sec. XX”.
Foi através da publicação do Dr. Carmelo Aires, que tive conhecimento da exposição que decerto irei visitar e que me senti igualmente estimulado a associar-me à evocação promovida pelo Museu do Barro de Redondo, divulgando peças oláricas do Mestre, apenas de duas tipologias: pratos e bacias, falantes ou não. pintadas e esgrafitadas. Maioritariamente decoradas com uma tricromia verde, amarelo, ocre-castanho, de temática predominantemente floral, zoomórfica, antropomórfica e mista, mas também brasonada e monumental.
Os pratos e bacias de Mestre Álvaro Chalana apresentam determinadas tipologias de decoração nas abas ou nos bordos:
- Arcos verdes, contíguos, com a concavidade virada para o interior, total ou parcialmente preenchidos a amarelo;
- Esponjados a verde;
- Decoração geométrica;
- Decoração foral.