É sabido que sou um coca
bichinhos que cumpre o fado de andar metido no barro. Numa das minhas mais
recentes incursões no digital, descobri e acabei por adquirir o objecto
olárico, cuja descrição passo de imediato a fazer.
Escultura modelada em barro
vermelho, representando um pastor junto ao tronco de uma árvore ou melhor parte
dela, visto que só está representado o tronco que se bifurca em dois ramos abertos
nas extremidades, as quais nos revelam ser oco o seu interior.
A observação pormenorizada do
tronco revela que a sua modelação procurou representar a ausência de casca
junto á base da árvore, pelo que se trata dum sobreiro que sofreu extracção de
cortiça.
O pastor é representado como
calçando botas e vestindo calças e camisa, sobre os quais enverga respectivamente
safões e pelico, representados com todos os seus componentes. Na cabeça usa um
chapéu com fita, de aba e copa, ambas normais, mas esta última com duas “amolgadelas“
á frente, como é usual.
Os pés do pastor estão representados
na bem conhecida posição de “10 para as 2” e os braços de tal modo que o cajado
(de madeira) é seguro a meio pela mão esquerda e a extremidade superior pela
mão direita.
A observação da cabeça do
pastor revela uma modelação cuidada nos seus pormenores, os quais se encontram
todos representados.
A escultura tem uma altura de
34 cm e assenta numa base materializada por uma placa de forma elíptica com 20
cm de eixo maior e 16 cm de eixo menor.
Na modelação foram
representadas texturas: cabelo (cabeça),
lã (pelico e safões), cortiça (tronco do sobreiro), solo (base da escultura).
Na base e colada frente ao pé
direito, uma placa com as iniciais “E V”, iniciais de Mestre Emídio Viana
(1869-1954), proprietário da extinta Cerâmica Estremocense Lda, situada na Rua
do Lavadouro, nº ?, em Estremoz. Um homem polifacetado: desenhador,
caricaturista, ceramista, empreendedor, comerciante, editor de postais
ilustrados, ciclista, praticante de desportos motorizados, filatelista, coleccionador
de Bonecos de Estremoz e prestigiado estremocense. Um homem com H grande, a
quem tiro o chapéu e de quem tenho o prazer de, a partir de agora, ter uma
escultura sua na minha colecção. Uma escultura que não foi criada com finalidade
meramente decorativa, embora a tivesse. É que Mestre Emídio Viana tinha não só alma
de artista, como era também um grande empreendedor. Por isso, a escultura tinha
também uma funcionalidade: era a base de um candeeiro eléctrico, como é
revelado pelos restos de fio condutor que assomam nas extremidades abertas das
ramificações do tronco. As aberturas serviriam, como é fácil de concluir, para
encaixe de casquilhos de lâmpadas. “Deus disse: Haja luz e houve luz” (Génesis
1:3).
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