terça-feira, 1 de setembro de 2020

Outros frades


Fig. 1 – Frade orando. José Moreira (1926-1991).


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Introdução
Em texto anterior, sob a epígrafe “Frade a cavalo”, fundamentei a presença do frade na barrística popular de Estremoz, cujas primeiras representações se crê remontarem ao séc. XIX.
A inexistência de frades em Estremoz nos séculos XX e XXI, não viria a ser impeditiva da sua presença na imagética popular modelada no barro em Estremoz. É o que iremos ver seguidamente.
Frade orando
Trata-se da imagem de um frade de mãos postas (Fig. 1), em atitude de oração. Enverga um hábito castanho, com capa e capucho. À cintura tem atado um cordão dourado com duas pontas a terminar em borla, pendentes para o lado esquerdo da figura.
A capa, o capucho e os punhos do hábito ostentam uma orla dourada, ao gosto barroco.
Na cabeça, o cabelo castanho foi tonsurado, revelando na cabeça do frade, uma “Coroa de Cristo” com o cabelo algo já crescido. No rosto, de feições muito simples, é visível um minúsculo nariz em relevo. Dois pontos negros simulam os olhos, rematados por dois traços castanhos que figuram as pestanas e as sobrancelhas, sendo o traço daquelas tangente ao ponto que representa a menina do olho.
A boca é representada por uma linha vermelha. Em cada uma das faces é perceptível uma roseta alaranjada.
O frade calça um par de sandálias que espreitam debaixo do hábito.
A figura não tem base e assenta à frente nas sandálias e atrás no hábito. Para isso, o hábito é mais curto à frente que atrás, tal como acontece nos vestidos das Senhoras de Pezinhos.
O exemplar tem cerca de 11 cm de altura e tanto pode constituir uma peça isolada, como ser elemento de uma composição mais vasta e que é desconhecida.


Fig. 2 – Frade passeando (gancho de meia). Luísa Batalha (1959-  ).

Frade a passear
Agora estamos em presença de um frade a passear (Fig. 2). Traja um hábito castanho, com capa e capucho. À cintura tem atado um cordão dourado com duas pontas pendentes para o lado direito da figura.
O clérigo tem cada uma das mãos enfiadas na manga do braço contrário.
A capa, o capucho, os punhos e a parte inferior do hábito ostentam uma orla dourada, ao jeito barroco.
Na cabeça, o cabelo castanho foi tonsurado, revelando na cabeça do frade, uma “Coroa de Cristo” integralmente desprovida de cabelo. No rosto, as feições são muito simples, sendo visível um minúsculo nariz em relevo. Dois pontos negros simulam os olhos, rematados por um traço negro que imita as sobrancelhas. A boca é representada por uma linha vermelha. Em cada uma das faces é perceptível uma roseta alaranjada.
A figura não tem base e assenta integralmente na orla do hábito.
O exemplar mede cerca de 5 cm de altura e tem a particular de ter uma funcionalidade, que é a de poder ser utilizado como gancho de meia. Para o efeito, a imagem possui dois ganchos de arame espetados no tronco do exemplar. Um à frente, virado para cima, para nele passar o fio, que do novelo pode ser redireccionado para as agulhas. O outro nas costas, virado para baixo, para pregar na blusa ou no vestido da mulher, na parte superior do peito, geralmente do lado esquerdo.
A terminar
Para além dos frades, existem outras figuras do clero presentes na barrística popular de Estremoz. São elas, o padre e o bispo que integram as procissões e o conjunto dos ganchos de meia. Nestes dois tipos de peças também aparece o sacristão. Por sua vez, a freira também está representada nos ganchos de meia.  

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