terça-feira, 23 de março de 2021

Amizade em tempos de Covid ou sobre os seres que são catedrais

 

Joana Santos. Boniqueira.

Dou comigo a pensar que o corpo com que nascemos nos molda. Como se as características físicas fossem os atributos extensíveis da nossa personalidade. Ou talvez seja ao contrário. Que o corpo se vai moldando de forma a albergar a dimensão dos nossos interesses, dos nossos valores, do nosso conhecimento, de como somos com os outros à medida que crescemos.

Em 2019, quando embarquei no Curso de Técnicas de Figurado de Estremoz, estava longe de imaginar que a minha vida ia dar uma volta de 360 graus. Mas uma grande volta deu a minha vida, de tal forma que, inspirada e apaixonada pelo que tinha aprendido, deixei um emprego certo e decidi dedicar-me à incerteza de ser artesã e fazer bonecos. Uns mais inspirados nos de Estremoz do que outros, mas sempre com os de Estremoz, e o que aprendi no curso, no horizonte e como ponto de partida.

Neste meu salto em queda livre, foram muitos os que me foram abrindo para-quedas, de tal forma que acabei por perceber que afinal não era uma queda, mas sim um voo. E ninguém como o Hernâni Matos, que agora tenho o privilégio de ter como Amigo,  e que me tem acompanhado neste voo e tem sido uma  ponte sólida entre o meu trabalho como artesã e o mundo dos Bonecos de Estremoz.

Não me esqueço o sábado de sol, de um princípio de verão, no dia em que nos conhecemos. Um dia da era estranha dos tempos Covid, que não são ainda dias do passado, mas que espero, possam sê-lo em breve. Ambos de máscara posta, adereço uniformizador da nossa vulnerabilidade humana, escudo que nos protege a vida, mas que nos afasta da riqueza codificada das expressões faciais. O que era para ser uma entrega de uma peça à laia de um café, tornou-se numa conversa que teria durado todo o dia, não fosse a sardinhada em família que o Hernâni tinha agendado para esse sábado.

A mente do Hernâni é como as cartolas dos mágicos, e exerce o mesmo fascínio para quem tem a sorte de privar com ele.  Nem bem acabado que está de sair o primeiro coelho, já uma pomba, um lenço, uma rosa se põem em fila para sair também, num desfile inesgotável e surpreendente, cada um como consequência inevitável do outro. Dos cumprimentos formais "do como está, é um prazer conhecê-lo finalmente", o Hernâni deslindou o primeiro "coelho da sua cartola" com a lenda de São Roque e do seu confinamento visionário, em tempos de outras pandemias, e sobre o cão que lhe trazia pão e que lhe permitiu sobreviver. Do São Roque passou-se aos apitos. Os mais tradicionais, os mais contemporâneos. Fiquei a saber que o Hernâni prefere os mais singelos. Depois a conversa discorreu para a origem carnavalesca das figuras do Amor é Cego, da sua possível inspiração nas obras barrocas com cupidos e outros anjos. Daí passámos à Primavera, às peças de inovação, o percurso histórico dos Bonecos. Outro truque da cartola, e o Hernâni falou do seu percurso profissional como aprendiz de alfaiate, e depois como professor de Física no Liceu. Mencionou um aluno brilhante que teve, o seu perfeccionismo já evidente, e que se transformou num dos grandes do Figurado Português, com o qual tive o privilégio de aprender o que sei de figurado -  o Mestre Jorge Palmela. Logo a conversa se virou para os novos artesãos, os mais velhos, os que já não estão.  E daquela cartola não parariam de sair "coelhos e pombas", na analogia possível aos temas de grande interesse que ali partilhávamos, não tivesse chegado a hora do almoço.

O mercado de sábado, que me parecia acontecer apenas com o propósito de servir de cenário à nossa conversa, era  já um baile de gente a arrumar bancadas e outras de sacos nas mãos a transbordar com ramas verdes, comprando um último ingrediente, ou  fazendo uma última negociação de algum achado em segunda mão, antes do regresso a casa.

E assim, sob o olhar atento da fonte do Sátiro, do escultor Sá Lemos, nos despedimos. Sem abraços, ou outras manifestações de proximidade, porque os tempos não estão para isso.

No regresso a casa vim a pensar no quanto aquele homem de 74 anos, ao qual praticamente só vi os olhos, leva dentro. Tanto conhecimento, tanta força, tanta generosidade, tanto amor por tantas coisas e um incomensurável pelos Bonecos, que o seu corpo mais não poderia ser se não um corpo alto, basilar, com a elegância da idade e das coisas interessantes às quais dedica o seu tempo.

Desde então são inúmeras as vezes que trocamos ideias. Não se cingem aos bonecos, nem ao eterno dilema, tão velho como a própria arte em si, da tradição versus a inovação, que pano para longas mangas tem dado aos Bonecos da Cidade Branca. Outros temas afloram, alguns de cariz mais atual, outros mais poéticos e oníricos. Em todos eles sempre a mesma generosidade, cuidado, mente crítica,  conhecimento profundo, sensibilidade e, a qualidade mais preciosa entre todas - humanidade. 

Seres como Hernâni são seres raros, bons, necessários cuja contribuição para o bem maior é indelével. E por isso têm corpos como catedrais, fortes, amplos, erguidos, para que neles possa existir o universo vasto que contêm. 

Que acabem rápido estes dias covidescos, e que a nossa amizade possa fazer-se de mais dias de verão, numa esplanada de Estremoz, irradiada pelo sol e pela partilha de saber, de interesses comuns e pelos nossos sorrisos.

 

Joana Santos

Foros do Queimado, 1 de Março de 2021



Joana Santos no seu atelier.

domingo, 21 de março de 2021

O professor Hernâni

 

Sónia Caldeira. Professora. Deputada à Assembleia Municipal em Estremoz.


As minhas lembranças do professor Hernâni remontam a meados dos anos 90 em que eu era aluna na Escola Secundária de Estremoz e ele, professor. Fui aluna de Técnicas de Laboratoriais de Química, uma vez que sempre fui mais da Química das reações, das ligações e fusões, do que da Física dos movimentos, forças e leis. O professor Hernâni era mais da Física tendo acabado por nunca ter sido meu professor. De qualquer forma não passou despercebido, não só por ser marido da minha querida professora Fátima, mas também porque pessoas como ele, não passam indiferentes a ninguém.
Recordo-me do seu ar imponente e da sua voz altiva que punha qualquer turma em sentido naquele corredor dos laboratórios de Física e de Química. Todos os respeitavam, todos lhe reconheciam qualidades de um excelente professor de Física e de um grande dinamizador de atividades…
Anos mais tarde, em 2005, reencontrei o professor Hernâni na Assembleia Municipal. Ele da bancada da CDU e eu da bancada do PS, num tempo em que eu iniciava as minhas lides na política e ele já quase tinha um mestrado nesta área. Estive ali para aprender, as minhas poucas intervenções passariam despercebidas a qualquer um, ao contrário das intervenções do professor Hernâni, cujas palavras ecoavam ora em tom de convicção, ora em tom de manifestação, no imponente salão Nobre dos Paços do Concelho.
Ao longo dos tempos os nossos caminhos continuaram a cruzar-se e em 2014 fomos ambos convidados para ser colunistas do Jornal E. Foi nessa altura que redescobri o seu grande interesse pela filatelia, pelos usos e costumes do Alentejo e dos alentejanos e a sua grande paixão pelos “nossos” Bonecos de Estremoz. Percebi também que tudo o que escreve é baseado em informação recolhida e criteriosamente selecionada.
Respondendo ao seu convite estive presente na apresentação do seu penúltimo livro “O Franco-Atirador”. Os seus textos/reflexões são centrados em problemas sociais e visam a tomada de consciência e o despertar para mudanças essenciais que contribuam para um mundo mais justo e igualitário.
Nos últimos tempos vou acompanhando alguns dos seus textos no blog “Do Tempo da Outra Senhora”. Aguardo com expetativa o lançamento do próximo livro.
Obrigado professor Hernâni, estou certa que será sempre uma referência para Estremoz e que o seu legado nunca se perderá.
 
Sónia Caldeira
Estremoz, 23 de Fevereiro de 2021

sexta-feira, 19 de março de 2021

Hernâni Matos, pois claro!


Maria de Fátima Crujo. Professora.


Texto redigido com predominância
das iniciais do nome do visado:
Hernâni António Carmelo de Matos

 

Mal o ano chegou, mais concretamente, no começo do mês em curso, mandou missiva. Ai, conseguirei cumprir?

Catarina, ajuda-me. Confirma aí, o antecessor que te apresentou ao mundo… antes de Carmelo, chama-se…?

– …

Ah, maravilha! Haja alfabeto!

Anteontem, madrugada adentro, ambiente criado, concentrei-me e consegui caracterização.

Homem da cultura, ativista, melómano, apreciador de artistas e de aguarelistas, complementa o curso de ciências, amando conjuntamente as artes e ainda os herdeiros das cantigas de amigo e de amor, ansiando constantemente homenagear com afinco Antero, os Antónios, e Almada, o Almeida, Cesário e Camões, os modernistas e os mais que couberem.

Mestre maior a avivar memórias, habitual mentor, é hábil conhecedor de adágios e aforismos, anexins dos antepassados, o antigo mister campesino. Curioso por aprender mais e mais ainda, é um colecionador compulsivo de arte campestre, ajudante máximo da arte dos artesãos da cidade e do Alentejo, não se cansando de mostrar os de agora, que maravilhosamente manuseiam a massa à moda antiga.

É colaborador assíduo dos meios de comunicação cá da cidade com crónicas e comentários carregados de maravilhosas metáforas e habitualmente muito atento às causas maiores, à contribuição cívica como cidadão deste aglomerado e dos arredores, do cantinho, do mundo.

Em 1995, em maio, aproximou amigos, de modo multidisciplinar, e assegurou apresentações, ajustadas à área, de múltiplas comunicações acerca da água. Da mesma maneira, constantemente agrupa colegas, atribui um mote, e matuta na melhor maneira de criar concursos.

Há anos, convidou-me a apresentar a minha coleção de corujas, conseguindo que se carregassem milhares, de muitos materiais, o que cativou adeptos do colecionismo, colhendo agradáveis apreciações.

Acabo aqui, caro colega, almejando cabeça e musculada massa cinzenta que aguente acompanhar-te em mais coisas mil, manifestando além do mais, e atenta no meu humilde conselho, que conserves a mesma atividade abundante e absoluta firmeza.

Concluo, assim, este é o habilidoso, acelerado, célebre e metódico Hernâni António Carmelo de Matos, pois com certeza!


Maria de Fátima Crujo
Estremoz, 21 de Fevereiro de 2021



 Fátima Crujo declamando um poema em 31 de Outubro de 2010, no acto
inaugural  da Exposição “PINTURA DE RUI ALVES”,  promovida pela
 Associação Filatélica Alentejana na Sala de Exposições do Centro
 Cultural de Estremoz.

terça-feira, 16 de março de 2021

Três em um


Geógrafo. Professor. Ex-Presidente da Câmara Municipal de Borba.

Nem todos tiveram o privilégio de ter o Hernâni Matos como professor, como colega e como amigo.

Hernâni professor
O primeiro contacto que tive com ele tinha quinze anos. Fui seu aluno na disciplina de “Mercadorias” no ano letivo 1972/73 e frequentava o Curso Geral de Comércio na Escola Industrial e Comercial de Estremoz.
Um grande professor, não só em tamanho, mas também em qualidade. Com a sua voz de trovão, transmitia os conhecimentos num anfiteatro do primeiro piso a uma turma de “índios” que o respeitavam, onde se aprendia, mas também havia espaço para brincar. Lembro-me de ouvir, no silêncio da aula, os gritos que soavam por toda a escola, da professora Olívia Lencastre, já falecida.
Fui finalista naquele ano e ao consultar a típica pasta de finalistas com dedicatórias dos professores e colegas, deparei com esta dedicatória do meu ex-professor: “Sr. Guarda Verdades, que não as guarde sempre: Hernâni Matos”.

Hernâni colega
Uns anos mais tarde vou reencontrar o Hernâni Matos, agora como colega!
Estávamos num período quente em termos políticos, onde com frequência surgiam reuniões gerais de alunos, reuniões gerais de professores e reuniões gerais de escola, em que as guerras partidárias surgiam com frequência, muito típicas do período quente pós 25 de Abril de 1974.
O Hernâni lá estava sempre na linha da frente! Lembro-me perfeitamente das suas intervenções, com o tal vozeirão, apoiado politicamente na linha da UDP com a qual eu também simpatizava e das “guerras” com os simpatizantes do PCP e do MES, porque nesse tempo os “direitolas” nem piavam, e quando tentavam, rapidamente eram abafados.
O seu papel ativo na política local como militante da UDP, com o nosso amigo Albano Martins e muitos outros, foi marcante em Estremoz e na região.
 
Hernâni amigo
Hernâni é um grande amigo do seu amigo, sempre disposto a colaborar e participar nos mais diversos tipos de atividades de natureza política ou cultural.
Com a teimosia e persistência que o caracterizam, fez um importante trabalho na área da filatelia e conseguiu, desenvolver e dinamizar esta atividade, através da organização de certames filatélicos importantes, com participantes portugueses e espanhóis, promovendo a filatelia, o colecionismo e simultaneamente a cultura estremocense e alentejana.
Foi graças ao seu grande empenho e dedicação à filatelia que recebeu variados prémios e distinções nesta área. Homem grande e grande homem com intervenção importante na divulgação da cultura popular alentejana e em especial dos “Bonecos de Estremoz”, classificados recentemente pela Unesco como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Ângelo João Guarda Verdades de Sá
Estremoz, 25 de Fevereiro de 2021

Hernâni Matos

domingo, 14 de março de 2021

Luís Parente, o Bonacheirão

 

Luís Parente (1974- ) a pintar um Pastor de tarro e manta.

Quem é quem
Luís Parente (1974- ) é professor de Educação Visual e Educação Tecnológica. Como docente trabalhou desde sempre com diversos materiais, entre eles o barro. Só começou a modelar ao modo de Estremoz há cerca de 6 anos, após ter tido lugar na sua escola uma Acção de Formação promovida pelos Serviços Educativos do Museu Municipal, a qual foi orientada por Isabel Borda d’Água. Foi ela a sua mestra, que o motivou e lhe transmitiu conhecimentos e técnicas. A semente encontrou terreno fértil, geneticamente preparado, já que seu pai, Manuel das Neves Parente (1931-2007), foi aluno de Mestre Mariano da Conceição (1903-1959) nos finais dos anos 40 do séc. XX.
O reconhecimento das potencialidades de Luís Parente levaram a que o Município o convidasse a integrar a equipa dos já referidos Serviços Educativos. Estes têm a seu cargo, entre outras funções, a protecção e salvaguarda dos Bonecos de Estremoz, desenvolvendo actividades educativas junto de crianças, jovens e adultos. Conjuntamente com Jorge da Conceição e Isabel Borda d’Água, Luís Parente foi monitor nas sessões práticas do Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que em 2019 teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte.

Na mira do colecionador
Comecei a colecionar Bonecos de Luís Parente em 2019 e depois de algum interregno, por me ter espraiado por outros barristas, voltei recentemente a adquirir trabalhos seus. Para além disso, aprofundei o conhecimento que tinha sobre a sua produção, a partir de exemplares cuja visualização me facultou. Como corolário natural desse estudo, sistematizei algumas ideias, das quais seguidamente dou conta.

O acto criador
A modelação é muito cuidada e atenta ao pormenor, o que acentua a vertente fortemente naturalista das suas criações. Para cada figura modela uma cabeça e um rosto que tornam essa figura única. As cabeças não são clonadas a partir de um molde de gesso como tradicionalmente vem sendo feito na barrística de Estremoz, visando rentabilizar a produção.
O barrista recusa esse facilitismo, que a seu ver torna a modelação menos nobre. Para além disso, a sua modelação confere também textura a algumas superfícies, o que reforça a representação naturalista.
Tais factos só valorizam o seu trabalho, já que a estética dos Bonecos de Estremoz é uma estética naturalista, caracterizada por uma morfologia e um cromatismo que são os mesmos daquilo que representam.
O cromatismo e a decoração das suas criações são muito próprios.
No caso do cromatismo, apesar de utilizar as cores tradicionalmente dominantes nos Bonecos de Estremoz, o barrista usufrui de uma paleta cromática ampla, que não permaneceu estática no tempo, condicionada aos pigmentos existentes na cidade até cerca dos anos 60 do século XX. O barrista é um homem do seu tempo, que dispõe de uma vasta gama de pigmentos, com os quais gera cores e tons que lhe permitem transmitir ao barro cozido, os sentimentos e as emoções que lhe vão na alma.
No caso da decoração das figuras e para além da predominância das dicromias cor quente-cor fria, o barrista combina cores análogas e tons da mesma cor, bem como cromias de ordem superior, em qualquer dos casos sempre de uma forma criativa e harmoniosa. Em particular, na decoração de peças de vestuário, o barrista recorre a padrões geométricos e vegetalistas que embelezam e valorizam a composição.
As suas criações são apelativas logo após a modelação, impressão que se acentua após a pintura.
Em termos pessoais, Luís Parente suscita empatia já que é afável, simpático e bonacheirão, características que a sua modelação e a sua decoração transmitem a tudo aquilo que cria. Por isso as suas figuras são inconfundíveis, já que patenteiam um estilo muito próprio, revelador de forte personalidade artística.
O barrista parece ter encontrado o seu próprio caminho, o que requer continuação. Não resisto a invocar aqui o poeta sevilhano António Machado (1875-1939):

“Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar…”

O caminho do barrista passa pela conjugação temperada dos preceitos da barrística local com o desafio da inovação e o prazer do acto criador. O futuro pertence-lhe. Todos esperamos que na sua caminhada continue sempre igual a si próprio, com criações que para nosso deleite de espírito, sejam belas, harmoniosas e simpáticas. Este, o trinómio global que é timbre dos seus trabalhos. É ele que nos leva a proclamar:
- Obrigado Luís pelo encantamento dos Bonecos que nos aquecem a alma. Bem haja!

Berço do Menino Jesus (Berço das pombinhas).


Presépio de 3 figuras.


Presépio de 5 figuras.

Santo António.

São João Baptista.

Senhora de pézinhos.

Peralta.

Mulher a passar a ferro.

Senhora a servir o chá.

Mulher a vender chouriços.

Ceifeira.

Mulher da azeitona.

Mulher das galinhas.

Pastor de tarro e manta.

Pastor com um borrego ao colo.

Ceifeira e pastor com um borrego ao colo.

Primavera.


O Amor é cego


Galo no disco.

Galo no arco.

Galo no poleiro.

Cesto com ovos.

Galinha no choco.

sexta-feira, 12 de março de 2021

O Pernas

 

Mateus Serra. Engenheiro.

Conheci o Hernâni, quando ambos estudava-mos no Colégio de Estremoz, no ano fatídico que o acidente, o erro médico, o azar ou lá o que fosse, lhe roubou uma perna, fazendo que a alcunha que recentemente lhe havíamos posto, deixasse de ser pronunciada.
O Pernas que nasceu por ser magro, alto e com as pernas longas, passou a ser o Hernâni, com todas as suas valências, nascidas talvez também por causa dessa perda dramática.
Voltei a vê-lo, passados talvez três ou quatro anos. Falámos de tudo, com realce para as ciências e as letras. Depois disso, só voltei a saber do Hernâni, pelas redes sociais e fiquei maravilhado com as coisas que escrevia. Crítico mordaz num estilo que me fazia lembrar os clássicos surrealistas. Escrever brincando, deixando meio escondida a mensagem, num ritmo quase poético. Estilo. É o estilo, que caracteriza os seus escritos e que o faz diferente.
Gosto do Hernâni, da sua verticalidade e dos seus escritos que espero, venham a ser lidos por todos. Só não gostei da alcunha Pernas.
 
Mateus Serra
Borba, 20 de Fevereiro de 2021

quinta-feira, 11 de março de 2021

Um lutador


Isabel Taborda Oliveira. Professora. Ex-vereadora do Pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Estremoz.

Meu Amigo Hernâni, que problema tenho! Como exprimir a grande admiração, respeito e amizade, sendo um zero na escrita?
Admiro o seu grande amor por Estremoz e pelas suas gentes. Sempre com um enorme sentido de justiça e isenção. Com persistência, lutando sem tréguas pela verdade e homenageando as pessoas que fizeram a nossa História.
Um grande obrigado pela sua obra e que continue por muitos anos.

 

Isabel Taborda Oliveira
Estremoz, 20 de Fevereiro de 2021