domingo, 14 de março de 2021

Luís Parente, o Bonacheirão

 

Luís Parente (1974- ) a pintar um Pastor de tarro e manta.

Quem é quem
Luís Parente (1974- ) é professor de Educação Visual e Educação Tecnológica. Como docente trabalhou desde sempre com diversos materiais, entre eles o barro. Só começou a modelar ao modo de Estremoz há cerca de 6 anos, após ter tido lugar na sua escola uma Acção de Formação promovida pelos Serviços Educativos do Museu Municipal, a qual foi orientada por Isabel Borda d’Água. Foi ela a sua mestra, que o motivou e lhe transmitiu conhecimentos e técnicas. A semente encontrou terreno fértil, geneticamente preparado, já que seu pai, Manuel das Neves Parente (1931-2007), foi aluno de Mestre Mariano da Conceição (1903-1959) nos finais dos anos 40 do séc. XX.
O reconhecimento das potencialidades de Luís Parente levaram a que o Município o convidasse a integrar a equipa dos já referidos Serviços Educativos. Estes têm a seu cargo, entre outras funções, a protecção e salvaguarda dos Bonecos de Estremoz, desenvolvendo actividades educativas junto de crianças, jovens e adultos. Conjuntamente com Jorge da Conceição e Isabel Borda d’Água, Luís Parente foi monitor nas sessões práticas do Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que em 2019 teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte.

Na mira do colecionador
Comecei a colecionar Bonecos de Luís Parente em 2019 e depois de algum interregno, por me ter espraiado por outros barristas, voltei recentemente a adquirir trabalhos seus. Para além disso, aprofundei o conhecimento que tinha sobre a sua produção, a partir de exemplares cuja visualização me facultou. Como corolário natural desse estudo, sistematizei algumas ideias, das quais seguidamente dou conta.

O acto criador
A modelação é muito cuidada e atenta ao pormenor, o que acentua a vertente fortemente naturalista das suas criações. Para cada figura modela uma cabeça e um rosto que tornam essa figura única. As cabeças não são clonadas a partir de um molde de gesso como tradicionalmente vem sendo feito na barrística de Estremoz, visando rentabilizar a produção.
O barrista recusa esse facilitismo, que a seu ver torna a modelação menos nobre. Para além disso, a sua modelação confere também textura a algumas superfícies, o que reforça a representação naturalista.
Tais factos só valorizam o seu trabalho, já que a estética dos Bonecos de Estremoz é uma estética naturalista, caracterizada por uma morfologia e um cromatismo que são os mesmos daquilo que representam.
O cromatismo e a decoração das suas criações são muito próprios.
No caso do cromatismo, apesar de utilizar as cores tradicionalmente dominantes nos Bonecos de Estremoz, o barrista usufrui de uma paleta cromática ampla, que não permaneceu estática no tempo, condicionada aos pigmentos existentes na cidade até cerca dos anos 60 do século XX. O barrista é um homem do seu tempo, que dispõe de uma vasta gama de pigmentos, com os quais gera cores e tons que lhe permitem transmitir ao barro cozido, os sentimentos e as emoções que lhe vão na alma.
No caso da decoração das figuras e para além da predominância das dicromias cor quente-cor fria, o barrista combina cores análogas e tons da mesma cor, bem como cromias de ordem superior, em qualquer dos casos sempre de uma forma criativa e harmoniosa. Em particular, na decoração de peças de vestuário, o barrista recorre a padrões geométricos e vegetalistas que embelezam e valorizam a composição.
As suas criações são apelativas logo após a modelação, impressão que se acentua após a pintura.
Em termos pessoais, Luís Parente suscita empatia já que é afável, simpático e bonacheirão, características que a sua modelação e a sua decoração transmitem a tudo aquilo que cria. Por isso as suas figuras são inconfundíveis, já que patenteiam um estilo muito próprio, revelador de forte personalidade artística.
O barrista parece ter encontrado o seu próprio caminho, o que requer continuação. Não resisto a invocar aqui o poeta sevilhano António Machado (1875-1939):

“Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar…”

O caminho do barrista passa pela conjugação temperada dos preceitos da barrística local com o desafio da inovação e o prazer do acto criador. O futuro pertence-lhe. Todos esperamos que na sua caminhada continue sempre igual a si próprio, com criações que para nosso deleite de espírito, sejam belas, harmoniosas e simpáticas. Este, o trinómio global que é timbre dos seus trabalhos. É ele que nos leva a proclamar:
- Obrigado Luís pelo encantamento dos Bonecos que nos aquecem a alma. Bem haja!

Berço do Menino Jesus (Berço das pombinhas).


Presépio de 3 figuras.


Presépio de 5 figuras.

Santo António.

São João Baptista.

Senhora de pézinhos.

Peralta.

Mulher a passar a ferro.

Senhora a servir o chá.

Mulher a vender chouriços.

Ceifeira.

Mulher da azeitona.

Mulher das galinhas.

Pastor de tarro e manta.

Pastor com um borrego ao colo.

Ceifeira e pastor com um borrego ao colo.

Primavera.


O Amor é cego


Galo no disco.

Galo no arco.

Galo no poleiro.

Cesto com ovos.

Galinha no choco.

5 comentários:

  1. Uma vez mestre, sempre mestre.
    Espetáculo!

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    1. Para o Luís Parente e com um grande abraço, esta estrofe de quatro versos pentasilábicos de rima alternada:
      ….
      O Luís Parente
      é um grande artista.
      Qualquer um o sente,
      face ao barrista.

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