terça-feira, 17 de novembro de 2020

Poesia Portuguesa - 100


Fernando Pessoa (1912). Adolfo Rodríguez Castañé (1887-1978). Óleo sobre tela.

 
Santo António
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
 
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,            
Católico, apostólico e romano.
 
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
 
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.                                        
 
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
 
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
 
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
 
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
 
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
 
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
 
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
 
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
 
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
 
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
 
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
BIBLIOGRAFIA

PESSOA, Fernando. Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro. (Organização de Alfredo Margarido). A Regra do Jogo. Lisboa, 1986.

domingo, 15 de novembro de 2020

Esquerda ou direita?


Fig. 1 - Nossa Senhora a cavalo (Tipo 1, de frente e detrás). José Moreira (1926-1991).

Introdução
A “Fuga para o Egipto” é um evento relatado no Evangelho de São Mateus (Mateus 2:13-25), no qual após a Adoração dos Magos, José foge para o Egipto com Maria sua esposa e seu filho recém-nascido Jesus, após ter sido avisado por um Anjo do Senhor, do massacre de crianças com menos de dois anos, que ia ser perpetrado por ordem de Herodes I, o Grande, receoso que a criança que os Magos proclamavam como novo rei, lhe tomasse o trono e o poder.

Arte cristã
Desde a Idade Média que a “Fuga para o Egipto” constitui um tema recorrente na arte cristã, frequentemente explorado pelos artistas plásticos, que representam Nossa Senhora com o Menino Jesus ao colo, montada numa burrinha e acompanhada por São José, que segue a pé.
A nível da pintura há inúmeras iluminuras dos códices de pergaminho medievais, bem como pinturas sobre os suportes mais diversos (tela, madeira, mármore, vidro, cobre, prata, fresco, etc.). No âmbito da escultura em pedra, a evocação bíblica figura em pias baptismais, túmulos, fachadas, capiteis, edículas, frisos de arquitraves, etc. A ela há a acrescentar ainda a escultura em madeira e barro policromados, bem como painéis de azulejos, vitrais, desenhos e gravuras (em madeira ou a água-forte).
Nessa múltiplas representações, a burrinha que transporta Nossa Senhora (virada para o observador), desloca-se umas vezes para a esquerda e outras vezes para a direita,

Barrística de Estremoz
O presente texto tem por finalidade analisar a “Fuga para o Egipto”, modelada por José Moreira (1926-1991). Como a figura de São José em pé não é geradora de ambiguidade, bastará focar a nossa atenção na Imagem de Nossa Senhora a cavalo. Existem dois tipos desta imagem:
- NOSSA SENHORA A CAVALO (Tipo 1 – Fig.1) - A burrinha marcha para o lado esquerdo do observador e Nossa Senhora está virada para o lado esquerdo do animal e com as costas viradas para o lado contrário (NSAC-Tipo 1).
- NOSSA SENHORA A CAVALO (Tipo 2 – Fig. 2) - A burrinha marcha para o lado direito do observador e Nossa Senhora está virada para o lado direito da asinina e com as costas viradas em sentido oposto (NSAC-Tipo 2).
Tanto na imagem de Tipo 1, como na de Tipo 2, Nossa Senhora monta à amazona numa burrinha cinzenta sem arreios, está sentada sobre uma manta cor de zarcão, terminando por linhas incisas que simulam franjas. Enverga túnica com gola e véu, ambos de cor azul celeste.
Transporta o Menino Jesus ao colo, ao mesmo tempo que o segura com os braços. O Menino está enroupado com uma vestimenta branca, decorada na extremidade com linhas incisas, azuis e cor de zarcão, imitando franjas. Encontra-se ainda envolto numa manta que lhe pende dos ombros e cruza no peito, igualmente branca e com franjas análogas às da extremidade da veste.
Tanto a Fig. 3 como a Fig. 4. mostram bem que as figuras de Nossa Senhora a cavalo do Tipo 1 e do Tipo 2, não são imagens espelhadas uma da outra.

Marcas identitárias de José Moreira
As figuras manufacturadas por José Moreira ostentam marcas identitárias inconfundíveis que o permitem identificar como autor.
O olhar de Nossa Senhora e do Menino Jesus estão definidos por sobrancelhas e pestanas paralelas, sendo estas últimas tangentes às meninas do olho, as quais sendo maiores que noutras representações, tornam o olhar mais expressivo.
Relativamente a outras representações, o asinino tem uma cabeça maior, um olhar mais vivo, as narinas e a boca estão mais bem definidas e os focinhos estão arrebitados, como que procurando afastar-se do pescoço.
A crina do asinino está totalmente virada para o lado do observador, o mesmo se passando com a rabada, comprida e a roçar o chão.
A base em que assenta esta figura tem um topo integralmente verde, ao contrário de outras representações que a têm pintalgada de branco, amarelo e zarcão.

Epílogo              
José Moreira modelava maioritariamente imagens de Nossa Senhora a cavalo do Tipo 1, tal como o fizeram e fazem os barristas de Estremoz, na sequência da revitalização da produção de Bonecos efectuada nos anos 30 do séc. XX, por iniciativa do escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971). Todavia, também modelava imagens de Nossa Senhora a cavalo do Tipo 2, em número muito menor, possivelmente por distracção, já que estando Nossa Senhora virada para o observador, a crina e a rabada estão viradas para lá do plano do papel.
Ana das Peles (1869-1945), da qual José Moreira foi discípulo, modelava a burrinha a marchar para o lado direito do observador e Nossa Senhora virada para o lado direito do asinino e com as costas viradas em sentido oposto, mas punha a crina e a rabada para o lado do observador.
Maioritariamente os asininos de José Moreira marcham para a esquerda, tal como os equídeos de figuras como “Cavaleiro”, “Amazona”, “Lanceiro a cavalo” e “Lanceiro a cavalo com bandeira.
Face à pergunta “Esquerda ou direita?” que constituiu o título do presente texto, a resposta inequívoca é: “Esquerda, pois claro!”.

Fig. 2 - Nossa Senhora a cavalo (Tipo 2, de frente e detrás). José Moreira (1926-1991).

Fig. 3 - Nossa Senhora a cavalo (Tipo 1 e Tipo 2, ambas de frente). José Moreira (1926-1991).

Fig. 4 - Nossa Senhora a cavalo (Tipo 1 e Tipo 2, ambas detrás). José Moreira (1926-1991).

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Poesia Portuguesa - 099


Joaquim José Vermelho (1927-2002). Arquivo Fotográfico Municipal de Estremoz / BMETZ.

Joaquim José Vermelho (1927-2002). Colaborou na imprensa nacional e regional, nomeadamente nos jornais: A Planície (Moura), Brados do Alentejo (Estremoz), Democracia do Sul (Évora), Eco de Estremoz, Jornal de Almada, Jornal de Estremoz, Jornal de Notícias (Porto), O Calipolense e Primeiro de Janeiro (Porto). Colaborou igualmente em revistas como Almanaque Alentejano, Boletim da Casa do Alentejo, Revista Filme, Revista Celulóide, Revista do IEFP, Revista Objectiva, Revista Olaria, Revista Transtagana e Revista Visor. Obras: Barros de Estremoz (1990), Pousada da Rainha Santa Isabel, Histórias de um Castelo (1992), Estremoz Terra de Encantos (1995), Estremoz Património (1996), 500 Anos / Santa Casa da Misericórdia de Estremoz (Co-autor, 2002), Nas lavras do tempo… Sementes e Raízes (2003), Poesia (2003), Ler nas Pedras (2004), Sobre as Cerâmicas de Estremoz (2005).


BONECOS DE ESTREMOZ
Joaquim Vermelho
 
Bonecos de Estremoz na cantareira
da saleta de estar, sempre sorrindo:
a Primavera vive ali florindo
ao lado do Pastor, da Azeitoneira!

Nesse canto da casa há claridade,
passam beijos de sol da fantasia;
vivem ali os sonhos de outra idade,
fagueiras ilusões da mocidade,
nessa bonecaria!

É um "mundo" de sonho, encantador,
que os meus olhos contemplam, enlevados;
"planície fora segue o bom pastor
mais os seus fartos gados!"

Moços de harmónio, cheirando a função,
camponeses de fato domingueiro!!
De todos se desprende uma canção
que me vem embalar o coração
o santo dia inteiro!

E toda a minha terra, num sorriso,
eu guardo no cantinho dessa casa,   
sentindo o coração a arder em brasa,
vivendo o Paraíso!

Figuras de Presépio! O Deus menino
nas palhas a sorrir, meigo, deitado;
a boa Virgem olha o pequenino
e S. José de lado! Que divino
encanto irradia esse barro moldado!

Meu lindo bonequinho! Tão bizarro!
És um beijo de eterna mocidade,
deram-te vida as mãos que o mole barro
moldaram com carinho e habilidade!

Um bocado de barro, e nada mais!
Mas quanta vida, quanta cor encerra!
A resumir em si carinhos tais,
sonhos da minha terra!

E nas feiras alegres do Alentejo,
com toda essa graça que o bom Deus lhe pôs,
nas bocas dos rapazes são desejos
os meus lindos bonecos de Estremoz!
 

sábado, 7 de novembro de 2020

Isabel Pires e a Alegoria do Outono

 

Alegoria do Outono (2018). Isabel Pires (1955-  ).

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Folhas secas e frutos maduros
O Outono é a estação do ano compreendida entre o Verão e o Inverno, que corresponde entre nós, aos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Caracteriza-se por um declínio gradual da temperatura e é marcada por tempo chuvoso, ventoso e pouco ensolarado.
Uma das características principais da estação é a mudança da coloração das folhagens das árvores, que passam a apresentar tons amarelados e avermelhados e caem. O Outono é assim a estação da libertação que abre as portas a uma futura renovação na Primavera seguinte.
No Outono, os frutos já estão maduros e começam a cair no chão, pelo que têm lugar as colheitas das culturas de Verão (milho, girassol, etc.), de muitos tipos de frutos (uvas, maçãs, peras, marmelos, etc.) e de frutas secas (castanhas, nozes, avelãs, etc.).

O Outono na Tradição Oral
As colheitas de Outono estão presentes na tradição oral. Em particular, no CANCIONEIRO POPULAR, que põe os meses a falar: “Eu sou o Setembro / Que tudo recolho, / Trigos e milhos, / Palhas e restolho.” e “Eu sou o Outubro, / O mês dos Outonos, / Engrosso as terras / Proveito dos donos.”.
As colheitas de Outono estão igualmente presentes no ADAGIÁRIO. Relativamente a Setembro, o adagiário regista que “Agosto amadura, Setembro derruba” e “Em Setembro, colhendo e comendo”, mas recomenda: “Para vindimar deixa Setembro acabar”. Para além disso, afirma que: “Pelo São Miguel (29/09) os figos são mel” e “Setembro que enche o celeiro, salva o rendeiro”.
No que respeita a Outubro, o adagiário proclama que “Outubro sisudo colhe tudo” e pormenoriza algumas dessas colheitas: - Milho e feijão: “Em Outubro não fies só lã; recolhe o teu milho e o teu feijão, senão de Inverno tens a tua barriga em vão”; - Castanha: “Pelo São Simão (28/10), quem não faz um magusto, não é cristão”; - Fava: “Por São Simão (28/10), fava na mão” - Uva: “ Por São Lucas (18/10) bem sabem as uvas” e “Por São Simão e São Judas (28/10), colhidas são as uvas”.

Referências poéticas
A temática do Outono tem sido abordada por muitos poetas portugueses. Do Outono nos fala Fernando Pessoa[i] no poema “No entardecer da terra”[ii] : “No entardecer da terra / O sopro do longo Outono / Amareleceu o chão. / Um vago vento erra, / Como um sonho mau num sono, / Na lívida solidão.  (…)
Do Outono fala também Florbela Espanca[iii] no soneto “Outonal”[iv]: (…) / “Outono dos crepúsculos doirados, / De púrpuras, damascos e brocados! / - Vestes a terra inteira de esplendor!” (…). No soneto “Ruínas” [v] acrescenta: “Se é sempre Outono o rir das Primaveras, / Castelos, um a um, deixa-os cair... / Que a vida é um constante derruir / De palácios do Reino das Quimeras!” (…).
Do Outono nos fala ainda Miguel Torga [vi]  no poema homónimo: “ Tarde pintada / Por não sei que pintor. / Nunca vi tanta cor / Tão colorida! / Se é de morte ou de vida, / Não é comigo. / Eu, simplesmente, digo / Que há tanta fantasia / Neste dia, / Que o mundo me parece / Vestido por ciganas adivinhas, / E que gosto de o ver, e me apetece / Ter folhas, como as vinhas.”

Alegorias do Outono na Pintura
Em Portugal, pintores como Columbano Bordalo Pinheiro[vii] e José Malhoa[viii], entre outros, utilizaram as características do Outono atrás referidas ao criarem composições alegóricas desta estação do ano.
Essas mesmas características constituem o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destaco cronologicamente: Francesco del Cossa[ix], Giuseppe Arcimboldo[x], Pieter Pauwel Rubens[xi], Nicolas Poussin[xii], Rosalba Carriera[xiii], Jacob van Strij[xiv],  Jacob Cats[xv] , Jean-François Millet[xvi] e Frederic Edwin Church[xvii].

Alegoria do Outono na Barrística de Estremoz
Na Barrística de Estremoz, existem exemplares designados genericamente por Primaveras, cuja característica principal é ostentarem um arco com flores apoiado nos ombros e circundando a cabeça. A origem de tais Bonecos remonta pelo menos ao séc. XIX. Para além de serem figuras de Entrudo, são alegorias à estação homónima, que evocam remotos rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza, os quais vieram a ser assimilados pela Igreja Católica, que começou a comemorar o Entrudo.
O ano tem quatro estações, pelo que faz sentido existirem alegorias para todas elas. Foi o que pensou a barrista Isabel Pires que criou alegorias para as estações em falta. O presente texto tem por finalidade analisar a Alegoria do Outono de Isabel Pires.

Morfologia da figura
Formalmente e em termos morfológicos a Alegoria do Outono é semelhante à de alguns modelos de Primavera. Assim: 1 - Ostenta um arco ornamentado com o que simula serem folhas secas de uma planta indeterminada e parras secas repartidas em lóbulos pontiagudos que configuram estrelas, tal como o arco da Primavera está enfeitado com flores; 2 - Segura numa das mãos um cacho de uvas e na outra, um cabaz de vime com os frutos da época: diospiros, romãs, marmelos, castanhas, nozes, uvas. Existe aqui uma analogia com o que se passa nalguns modelos de Primavera, que sustentam uma cornucópia numa das mãos e na outra um ramalhete de flores; 3 - A cabeça está adornada com uma grinalda de folhas secas, tal como a cabeça da Primavera pode estar ataviada com plumas, toucados ou chapéus.
Para além destas analogias formais entre a Alegoria do Outono de Isabel Pires e certos modelos de Alegorias das Primavera, há a salientar que a Alegoria do Outono: 1 - Traja um vestido rodado em tom de Bordeaux, com gola verde de inspiração vegetalista e orla bicolor verde-amarela, cores que para além do Bordeaux são igualmente cores de folhas. As mangas do vestido estão decoradas com um fileira de folhas secas dispostas no sentido longitudinal. Uma guirlanda de folhas secas desce do ombro esquerdo em direcção ao cesto e ali se bifurca em duas guirlandas que seguem em direcção à orla do vestido, donde pendem parcialmente; 2 – Calça meias brancas e botas de cor Bordeaux. Estas têm a extremidade do cano com uma orla verde de inspiração vegetalista, da qual pendem folhas secas de cor Bordeaux e amarelo acastanhado; 3 - Assenta numa base circular de cor verde, orlada no topo com girassóis; 4 – O rosto está muito bem definido e é revelador do tratamento fortemente naturalista que a barrista imprime às suas criações. De salientar que os brincos pendentes das orelhas configuram duas folhas, de cor amarela.

Cromatismo da figura
Sob um ponto de vista cromático são dominantes os tons de Bordeaux e de amarelo, característicos das folhas secas e da fruta da época.

Simbolismo da Alegoria
Em termos simbólicos, a Alegoria do Outono, tal como a Alegoria da Primavera, está ligada à renovação da natureza. Assenta numa base verde, cor que simboliza a esperança e a renovação, aqui associadas ao Outono. As parras secas que ornamentam a composição, configuram estrelas, fontes de luz associadas ao simbolismo celeste, nomeadamente a esperança e a renovação. Os girassóis que ornamentam a base, dada a sua mobilidade em relação ao Sol, são um símbolo de instabilidade, aqui associado ao fluir da natureza e à sucessão cíclica das estações do ano.

Epílogo
O Outono é a estação das frutas, das folhas secas, da renovação. É o Inverno que se avizinha. Mas no dizer de Albert Camus[xviii], “Outono é outra Primavera, cada folha uma flor.”. Essa a intuição e também a convicção de Isabel Pires, que teve a sagacidade de criar uma Alegoria do Outono ou melhor, a primeira Alegoria do Outono na Barrística de Estremoz. Para além da qualidade da execução e da criatividade, pelo seu pioneirismo é merecedora de toda a nossa admiração, o que aqui registo e sublinho.
 
BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Florbela. Charneca em Flor. Livraria Gonçalves. Coimbra, 1931.
ESPANCA, Florbela. Livro de Máguas - Soror Saudade. Livraria Gonçalves. Coimbra, 1931.
EVANGELISTA, Júlio. Cantares de todo o ano. Colecção Educativa – Série F – N.º 6. Campanha Nacional de Educação de Adultos. Lisboa, s/d.
PESSOA, Fernando. No entardecer da terra in Ilustração Portuguesa , 2ª série, nº 83. Lisboa, 28-1-1922.
TORGA, Miguel. Diário X. Edição do autor. Coimbra, 1968.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 7 de Novembro de 2020

[i] Fernando Pessoa (1888-1935). 
[ii] Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 83. Lisboa: 28-1-1922.
[iii] Florbela Espanca (1894-1932).
[iv] De “Charneca em Flor”.
[v] De “Livro de Máguas - Soror Saudade”.
[vi] De “Diário X”.
[vii] Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929, pintor naturalista e realista.
[viii] José Malhoa (1855-1933), pintor naturalista.
[ix] Francesco del Cossa (c. 1435-c. 1477), pintor italiano, renascentista.
[x] Giuseppe Arcimboldo (1526-1593), pintor italiano, maneirista.
[xi] Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), pintor flamengo, barroco.
[xii] Nicolas Poussin (1594-1665), pintor francês, barroco.
[xiii] Rosalba Carriera (1675-1757), pintora italiana, barroca.
[xiv] Jacob van Strij (1756-1815), pintor holandês, barroco.
[xv] Jacob Cats (1741-1799), pintor holandês, rócócó.
[xvi] Jean-François Millet (1814-1875), pintor francês, realista.
[xvii] Frederic Edwin Church (1826-1900), pintor americano, romântico.
[xviii] Albert Camus (1913-1960), escritor franco-argelino.
 


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

A Cegueira do Amor da Boniqueira


O Amor é Cego (2020) - Frente . Joana Oliveira (1978-  ).

Da minha lavra e como preito, dedico à Boniqueira 
esta estrofe de quatro versos hexasilábicos
de rima alternada:

O amor é cego,
Tem venda nos olhos.
O seu superego
não acha escolhos.

Os meus olhos sentem-se fascinados pela imagem transmitida pantograficamente da alma para as mãos da barrista, que permanentemente nos encanta e seduz com a magia transbordante que irradia da morfologia, da cromática e da estética patente nas suas criações.
Obras que simultânea e legitimamente constituem uma proclamação panfletária de auto-afirmação do seu estilo muito próprio no seio da Barrística de Estremoz. É um clamor insubmisso que lhe sai da alma:
-
Esta sou eu! 


O Amor é Cego (2020) - Trás. Joana Oliveira (1978-  ).

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Isabel Pires e o velho camponês alentejano


Velho camponês alentejano (2020). Isabel Pires (1955- ).


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Quem é a barrista
Isabel Catarrilhas Pires (1955-  ) é uma consagrada barrista da velha guarda. Começou a modelar o barro em 1986 por auto-aprendizagem e com alguma orientação de Quirina Marmelo. Inspirou-se nos modelos expostos no Museu Municipal de Estremoz, mas desde sempre conferiu ao seu trabalho um cunho muito pessoal.
Está certificada como artesã de Bonecos de Estremoz pela ADERE-CERTIFICA, ”entidade promotora da certificação de produções artesanais tradicionais, sinónimo da garantia da qualidade e autenticidade da produção.”
É uma barrista com uma produção diversificada que se espraia pelas diferentes tipologias de Bonecos de Estremoz. Nas suas criações enfatiza a identidade regional alentejana e é-lhe grata a temática da terceira idade.
A análise de uma figura reunindo os dois requisitos anteriores é objecto do presente texto.

Retrato de velho
Trata-se de uma figura antropomórfica masculina, envergando calças e capote, calçando botas e com a cabeça coberta por um chapéu.
Do capote emergem dois braços descaídos cobertos por mangas e com as mãos abertas, das quais a direita se apoia numa bengala.
A imagem assenta numa base cilíndrica de cor verde com pintas alternadamente amarelas e vermelhas a circundar a orla do topo superior.
O capote alentejano tem aba larga, gola forrada a pele de borrego e três romeiras. A abotoadura frontal do capote é assegurada por 3 botões. Duas patilhas fixas com botões na banda esquerda da romeira superior asseguram a abotoadura em dois botões pregados na banda direita.
O chapéu sem fita, tem copa cilíndrica com topo abaulado convexamente e aba circular virada para baixo.
As calças e as mangas do casaco são singelas, não merecendo nenhuma referência especial.
O capote, a bengala e a gola do capote são de cor castanha, de diversas tonalidades, sendo a última matizada. As calças são de cor azul. O chapéu, as botas, as mangas do casaco e os botões são de cor negra.

Simbólica da figura
Importa descobrir e relevar todas as mensagens encerradas na figura. Em primeiro lugar, o SIMBOLISMO DAS CORES: - Castanho, cor neutra ligada à terra, à natureza e aos agricultores; - Azul, cor fria associada ao céu e que veicula as ideias de tranquilidade, serenidade e harmonia. - Negro, cor neutra associada ao luto, ao respeito, ao isolamento e à solidão.
Em segundo lugar, o SIMBOLISMO DO CAPOTE, peça de vestuário que tem a ver com a identidade regional alentejana, porque simboliza a protecção conferida aos camponeses na sua labuta à chuva, ao frio e ao vento das mais rigorosas invernias.
Em terceiro lugar, o SIMBOLISMO DA BENGALA, acessório que entre outras funções é um auxiliador da locomoção de pessoas idosas, doentes ou com traumatismos.
A tipologia do capote, a singeleza das calças, a fisionomia do rosto e o recurso à bengala, permitem concluir estarmos em presença de um velho camponês alentejano.

Análise
Ao contrário do que acontece noutros criadores, nenhum componente da figura foi unicamente pintado, já que todos eles foram modelados e apresentam volumetria.
A modelação foi apurada e revela um rosto bem delineado. Os olhos têm profundidade com as órbitas brancas delimitadas por duas pestanas negras e nas quais se inserem meninas do olho igualmente negras, encimadas por espessas sobrancelhas grisalhas. Igualmente o nariz, a boca, o queixo, as orelhas e o cabelo grisalho estão bem definidos. O nariz apresenta narinas e é observável a morfologia das orelhas. O rosto apresenta rugas. As mãos estão bem definidas e nelas os dedos ostentam unhas, como se de mãos reais se tratasse. As calças amachucadas revelam uso. No capote é perceptível a textura da lã na gola, os botões apresentam orifícios por onde passa a linha e a romeira superior arqueada sugere que o idoso caminha contra o vento. Tudo isto integra as marcas identitárias da barrista e é revelador do tratamento naturalista das suas figuras, fruto da importância que concede aos pormenores na execução das mesmas. Nesse sentido distancia-se do estilo mais popular doutros barristas do presente e do passado. As suas criações tais como as de Jorge da Conceição, cada um à sua maneira, têm um cunho mais erudito que as restantes, sem contudo deixarem de ser Bonecos de Estremoz. Com efeito, de acordo com o CADERNO DE ESPECIFICAÇÕES PARA A CERTIFICAÇÃO DOS BONECOS DE ESTREMOZ, “… a inovação estética não constitui um problema per si pois é garante da renovação de tipologias e temáticas dos Bonecos de Estremoz.”
De salientar que na decoração da figura, a barrista utilizou sabiamente uma harmoniosa tricromia com recurso a duas cores neutras (castanho e preto) e uma cor fria (azul). Às primeiras está associada pouca energia e à segunda está associado o frio. Creio que sob o ponto de vista cromático, foram as cores mais adequadas para associar à terceira idade, considerada o Inverno da vida.
Como é sabido, valorizo muito os barristas possuidores de marcas identitárias muito próprias e cujo estilo os distingue de outros barristas. Por isso, pela qualidade e riqueza da modelação, pela harmonia cromática da decoração e pela original conjugação da identidade regional alentejana com a temática da terceira idade, a barrista é merecedora das minhas felicitações:
- Parabéns, Isabel Pires!
Publicado inicialmente a 26 de Outubro de 2020

Isabel Pires (2015) a modelar o barro no seu atelier. 
Fotografia recolhida
com a devida vénia no Facebook do Município de Estremoz. 

Figuras da faina agro-pastoril e inovação


Carreteiro transportando sacos de trigo. Irmãs Flores.

Figuras da faina agro-pastoril da tradição
A recuperação da produção de Bonecos de Estremoz, extinta desde 1921, foi concretizada em 1935 e nos anos seguintes, graças à acção do escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), que para o efeito recorreu primeiro à velha barrista Ana das Peles (1869-1945) e depois ao mestre oleiro Mariano da Conceição (1903-1959).
Uma tal recuperação incluiu as figuras que retratam as actividades agro-pastoris do Alentejo do passado e que podem ser agrupadas nos seguintes grupos:
PASTORÍCIA – Inclui: Pastor de tarro e manta, Pastor com um borrego ao ombro, Pastor com dois borregos, Pastor das migas, Pastor a comer, Maioral e ajuda a comer, Pastor do harmónio, Mulher dos carneiros, Mulher dos perus, Mulher das galinhas, Matança do porco e Mulher dos enchidos.
CICLO DO PÃO – Inclui: Ceifeira.
CICLO DO AZEITE – Inclui: Mulher da azeitona.
Todos estas figuras são “Bonecos da tradição”, possuem todas elas os seus próprios atributos e ainda são modeladas na actualidade por barristas seguidores da estética de Sá Lemos.

Figuras da faina agro-pastoril e inovação
Para além das figuras atrás referidas, existe um número considerável de outras, retratando igualmente as actividades agro-pastoris do Alentejo do passado, as quais foram criadas por iniciativa dos barristas ou por sugestão de coleccionadores ou de estudiosos da barrística popular estremocense.
Fruto de um levantamento por mim efectuado, decerto correndo o risco de omissões, dada a complexidade do levantamento, identifiquei 81 dessas figuras, as quais por oposição às anteriores, são designadas por “Bonecos da inovação”. Tais figuras distribuem-se por 8 grandes áreas da actividade agro-pastoril, a saber:
- COLECTA: Caçador, Pescador.
- PASTORÍCIA: Pastor sentado a fazer uma colher, Pastor junto à fogueira, Pastor de tarro e alforge, a comer sentado, Pastor de barrete com alforge ao ombro, Pastor com alforge e cornas, Pastor de capote com cabeça descoberta, Pastor de capote com cão, Pastor de capote com tarro e manta, Pastor com tarro, Pastor de colete com tarro e manta sentado, Pastor deitado debaixo da árvore a tocar gaita de beiços, Pastor sentado debaixo da árvore com borregos, Pastor a dormir a sesta debaixo da árvore com borregos, Pastor a fazer as migas de cabeça descoberta, Pastor de tarro e manta com corna e barril a comer, Pastor sentado a limpar o suor, Pastor na choça, Pastor a tirar água do poço, Ordenha de ovelhas, Tosquia de ovelhas, Mantieiro, Roupeiro a caminho da rouparia, Homem a ordenhar vaca, Mulher a ordenhar vaca, Roupeiro na rouparia, Porqueiro, Matança do porco e mulheres dos enchidos, Mulher dos enchidos junto à chaminé, Vendedora de criação a caminho do Mercado.
- CICLO DO PÃO: Lavrador abastado, Ganhão a lavrar, Semeador, Mondadeira, Mondadeira a mondar, Mondadeira a comer, Mondadeira sentada a descansar, Ceifeiro, Ceifeiro com alforge e canudos, ceifeira com canudos, Ceifeira sentada, Aguadeira da ceifa, Coqueira, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho na eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro junto ao moinho, Moleiro a entregar sacos de farinha, Amassadeira, Forneira.
- CICLO DO AZEITE: Varejador, No rabisco, Juntando a azeitona, Rancho do acabamento, Lagareiro.
- CICLO DO VINHO: Vindimadora a vindimar, Vindimadora, Vindimador a carregar cesto com uvas, Transporte de uvas no tino, Pisadores, Taberneiro,
- CICLO DA CORTIÇA: Tirador de cortiça, Empilhador, Carreiro transportando cortiça.
- NA HORTA: Hortelão a cavar, Carroça com hortelão a caminho do mercado.
- NO MONTE: Namoro junto ao poço, Mulher ao pé do poço, Mulher a transportar água à cabeça, Mulher ao poial dos cântaros, Aguadeiro rural, Mulher com taleigo e cesto de ovos, Fiandeira com cesto de ovos na cabeça, Cozinha dos ganhões, Família a comer, Serão rural à lareira, Mulher a bordar, Mulher a fazer meia, Bailarico rural.

O contributo da Irmãs Flores
A esmagadora maioria destes “Bonecos da inovação” (54 num total de 81) foram criados pelas barristas Irmãs Flores (1957,1958 - ), criação à qual não sou estranho e convém explicar porquê.
Colecciono Bonecosde Estremoz há mais de 40 anos, pelo que a minha insaciável curiosidade intelectual me levou à condição de investigador da Barrística Popular Estremocense. Trata-se de uma temática multidimensional, que me interessa nos seus múltiplos aspectos. Um deles é o registo etnográfico contido nas figuras que representam os personagens das fainas agro-pastoris do Alentejo de finais do séc. XIX – meados do séc. XX.
Em 2009 publiquei o livro “Bonecos da Gastronomia”, ilustrado com 16 imagens de Bonecos de Estremoz da temática homónima, por mim encomendados às Irmãs Flores, dos quais 11 eram “Bonecos da tradição” e 5 eram “Bonecos da inovação”. O livro foi reeditado em 2010, reproduzindo então 36 figuras da mesma temática, todas elas encomendadas às Irmãs Flores, das quais 16 eram “Bonecos da tradição” e 20 eram “Bonecos da inovação”.
Em 2011 lancei às Irmãs Flores o desafio de criarem Bonecos que integrassem uma colecção que designei por “Alentejo do Passado”, que registasse com rigor e fidelidade o que eram as fainas agro-pastoris do Alentejo de finais do séc. XIX – meados do séc. XX, estruturada em 8 grandes áreas: Colecta, Pastorícia, Ciclo do pão, Ciclo do azeite, Ciclo do vinho, Ciclo da cortiça, Na horta, Na cidade. Esta colecção absorveu a colecção “Bonecos da Gastronomia” e com vista à sua concretização, foram criados 34 novos “Bonecos da inovação”. A colecção “Alentejo do Passado” integrou assim 54 “Bonecos da inovação”, todos eles criados pelas Irmãs Flores, muitas vezes recorrendo ao meu arquivo fotográfico e documental, o que permitiu conferir rigor à contextualização de cada figura.
A criação dos “Bonecos da inovação” de que venho falando, veio enriquecer (e de que maneira!), a barrística popular estremocense. Nalguns casos ocorreu mesmo uma mudança de paradigma, com a nossa barrística a atingir a sua mais alta expressão, na confecção de figuras mais complexas e de execução mais morosa. Cito como exemplo, figuras como: Ganhão a lavrar, Lagareiro, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho na eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro no moinho, Transporte de uvas no tino e Carreteiro transportando cortiça. Na altura, tive a oportunidade de escrever: “As Irmãs Flores estão de parabéns, pois sem se afastarem um milímetro sequer dos cânones tradicionais da barrística popular estremocense, têm sabido inovar, criando novos públicos com apetência por aquilo que é diferente dentro do tradicional. E elas estão no caminho certo, pois se a sua mestria é pautada, por um lado, pela mais estrita fidelidade aos materiais, à tecnologia e às cores, não deixam todavia de manifestar inquietude que se expressa na criação de novos modelos de Bonecos de Estremoz, que têm a ver com a nossa identidade cultural, local e regional.”

Outros contributos
A seguir às Irmãs Flores, o barrista que mais inovou no número de figuras do âmbito agro-pastoril foi José Moreira (1926-1981) com um modo de representação igualmente popular como as Irmãs Flores, ainda que com um estilo bastante diferente. Segue-se o barrista Rui Barradas (1953- ) com um modo de representação mais erudito, seguido de Jorge da Conceição (1963- ), expoente máximo da representação erudita. 

Balanço Final
À semelhança do que se passou com as Imagens Devocionais e com os Presépios, creio ter ficado comprovado de uma forma clara, o papel desempenhado pela inovação como agente de enriquecimento e valorização do domínio das figuras da faina agro-pastoril.

Hernâni Matos 

Publicado inicialmente em 26 de Setembro de 2020


Namoro junto ao poço. Afonso Ginja.

Serão rural. Afonso Ginja.

Pastor de barrete com alforge ao ombro. Aclénia Pereira.

Pastor deitado debaixo da árvore a  tocar gaita de beiços. Aclénia Pereira.

Pastor sentado a limpar o suor. Aclénia Pereira.

Mulher a ordenhar vaca. Aclénia Pereira.

Ceifeiro. Duarte Catela.

Caçador. Irmãs Flores.

Pescador. Irmãs Flores.

Mantieiro. Irmãs Flores.

Tosquia de ovelhas. Irmãs Flores.

Roupeiro. Irmãs Flores.

Mondadeira a mondar. Irmãs Flores.

Mondadeira a comer. Irmãs Flores.

Ceifeiro a ceifar. Irmãs Flores.

Carreteiro transportando sacos de trigo. Irmãs Flores.

Moleiro junto ao moinho. Irmãs Flores.

Moleiro a entregar sacos de farinha. Irmãs Flores.

Amassadeira. Irmãs Flores.

Forneira. Irmãs Flores.

Família a comer. Irmãs Flores.

Vindimadeira. Irmãs Flores.

Transporte de uvas no tino. Irmãs Flores.

Pisadores. Irmãs Flores.

Taberneiro. Irmãs Flores.

Carreteiro transportando cortiça. Irmãs Flores.

Pastor de tarro e manta com capote. Isabel Pires.

Pastor de capote com cão. Isabel Pires.

Lavrador abastado. Jorge da Conceição.

Pastor com tarro. Jorge da Conceição.

Pastor com alforge e cornas. Jorge da Conceição.

Mondadeira. Jorge da Conceição.

Ceifeiro e ceifeira com canudos. Jorge da Conceição.

Aguadeiro rural. Jorge da Conceição.

Mulher a transportar água à cabeça. Jorge da Conceição.

Pastor a tirar água do poço. José Moreira.

Pastor sentado debaixo da árvore com borregos. José Moreira.

Pastor a dormir a sesta debaixo da árvore com borregos. José Moreira.

Fiandeira com cesto de ovos na cabeça. José Moreira.

Mulher dos enchidos junto à chaminé. José Moreira.

Varejador. José Moreira.

Tirador de cortiça. José Moreira.

Camponesa de taleigo e cesto de ovos. Liberdade da Conceição.

Coqueira. Quirina Marmelo.

Cozinha dos ganhões. Quirina Marmelo.

Pastor de capote, de cabeça descoberta. Rui Barradas.

Pastor de colete com tarro e manta, sentado. Rui Barradas.

Pastor a fazer as migas, de cabeça descoberta. Rui Barradas.

Pastor de tarro e manta, com corna e barril, a comer. Rui Barradas.


Pastor junto à fogueira. Rui Barradas.

Mondadeira sentada. Rui Barradas.


Ceifeira sentada. Rui Barradas.

Mulher a fazer meia. Rui Barradas.

Mulher a bordar. Rui Barradas.

Matança do porco e mulheres dos enchidos. Ricardo Fonseca e Vasco Fonseca.

Porqueiro. Sabina da Conceição.

Semeador. Sabina da Conceição.