sábado, 4 de agosto de 2012

Palavras, para quê?




À Catarina, minha filha

Primeiras
Agosto não será, porventura, o mês mais propício à escrita ou à leitura de textos extensos e muito menos pretensamente doutrinários ou intelectuais. Nesta época do ano, criadores e receptores de mensagens, jibóiam como podem e sabem, chegando a exsudar copiosamente. Todavia, a calorina não é impeditiva que alguém como eu, prisioneiro dos encantos da arte pastoril, frequente o Mercado das Velharias em Estremoz. Ali me dirijo ciclicamente em expedições cirúrgicas e precisas, com olhos de ver a minha alma e tudo aquilo que a sustenta, em demanda de objectos-emoções, que aguardam para serem possuídos e amados. Então cresço e sou maior do que eu. Tenho o destino marcado, diria um poeta do fado.
É nestas circunstâncias que procuram a minha companhia, espécimenes aparentemente ininteligíveis, mas que eu acabo por decifrar.

Segundas
A filigrana incisiva da ponta da navalha é o reflexo perfeito e real dos requebros de alma, de quem com a gesta anímica do saber falar das mãos, resolveu transmitir à conversada, através da perpetuação na madeira, a mensagem sincera do mais profundo do seu âmago.
Sabido que o 9 caracteriza o tempo de gestação humana, a rosácea nonalobada que culmina o crescimento através de folhas e espigos alicerçados numa base cordiforme, símbolo do amor, traduz a assunção da disponibilidade de constituir família e ser pai. Essa a mensagem bem portuguesa subscrita nas cores verde rubra da bandeira pátria, por um pegureiro da região de Estremoz.

Publicado inicialmente a 4 de Agosto de 2012

3 comentários:

  1. Interessante colher que penso ter sido feita à mão por qualquer pastor do nosso Alentejo. É certo o que diz que o mês de Agosto não é muito dado à leitura. É um mês propicio ao descanso e ao lazer, mudança de ares. Resta pouco tempo para o trivial.
    Rosa Casquinha

    ResponderEliminar
  2. Rosa:
    Obrigado pelo seu comentário.
    Foi um pastor do concelho de Estremoz.
    Um abraço para si, amiga.

    ResponderEliminar
  3. A arte artesanal do badalo.

    ResponderEliminar