sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Bonecos de Estremoz: Irmãs Flores (1.ª parte)


Fig. 1 - Irmãs Flores. Perpétua (1958- ) à esquerda e Maria Inácia (1957) à direita.
Fotografia de 2018 da autoria de Luís Mendeiros. Arquivo fotográfico do autor.

A extensão do texto e o considerável
número de ilustrações, aconselhou que
fosse dividido em duas partes,
 que serão publicadas sucessivamente.
Esta é a 1.ª parte.

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Irmãs Flores foi o nome escolhido como barristas, pelas irmãs Maria Inácia Fonseca e Perpétua Fonseca, como forma de homenagear a sua mãe, já que dela não herdaram o apelido Pisa-Flores.
Maria Inácia Fonseca é natural de São Bento do Ameixial, Estremoz, onde nasceu a 30 de Abril de 1957. Filha legítima de João Inácio Fonseca, de 34 anos de idade, motorista, e de Matilde Augusta Pisa-Flores, também conhecida por Matilde Augusta Casaca, de 34 anos de idade, doméstica, ambos residentes no Monte do Papa Tremoços (1). Dos 12 aos 15 anos trabalhou no campo em tarefas sazonais e fora delas foi costureira. Entre 1975 e 1980 frequentou a Escola Secundária de Estremoz, onde concluiu o Curso Complementar dos Liceus (2). Em 17 de Setembro de 1977 casou catolicamente com João Alberto Mateus, comerciante, e adoptou o apelido Mateus.
Perpétua Matilde Fonseca, irmã de Maria Inácia e filha dos mesmos pais, nasceu no mesmo local, a 7 de Abril de 1958 (6). Dos 12 aos 17 anos foi cabeleireira. Entre 1975 e 1980 frequentou a Escola Secundária de Estremoz, onde concluiu o Curso Geral dos Liceus (7). Em 11 de Maio de 1985 casou catolicamente com Francisco Maria Marranita Sousa, electricista, e adoptou o apelido Sousa.

Discípulas de Mestra Sabina Santos
Maria Inácia e Perpétua são discípulas de Mestra Sabina Santos com quem começaram a trabalhar (Fig. 2), a Maria Inácia em 1972 e a Perpétua em 1975. Quando falam de Mestra Sabina Santos fazem-no com enlevo e saudade. Com ela aprenderam a arte que transmitiram a seu sobrinho Ricardo Fonseca, um barrista de corpo inteiro, que com elas trabalha, lado a lado.
Com a aposentação de Mestra Sabina Santos, em 1988, ficaram com o legado dos seus utensílios, tintas, moldes das caras e dos tronos e Bonecos mais antigos. Criaram então a sua própria oficina-ateliê, primeiro na Rua das Meiras, 8 e daí transitaram, em 1999, para o Largo da República, 16. Aqui se mantiveram até 2010, ano em que se fixaram no Largo da República, 31-32 (Fig. 1), sempre na procura de melhores condições de trabalho e de atendimento do público.
Na minha condição de etnólogo amador e autodidacta, o registo etnográfico das imagens profanas, e em particular dos personagens da faina agro-pastoril, será porventura o mais forte atractivo dos Bonecos de Estremoz, que me leva à oficina-loja das irmãs Flores, minhas vizinhas, a quem visito amiúde no Largo da República, fascinado pela magia emergente das suas mãos de barristas populares.

O Traje Popular Português 
Em 2007 lancei às Irmãs Flores o desafio de criar novos modelos de Bonecos de Estremoz, inspirados maioritariamente em aguarelas de Mestre Alberto de Sousa. O resultado foi a criação de 36 novas figuras que deram origem à colecção “O Traje Popular Português” e a uma exposição homónima que, numa iniciativa da Associação Filatélica Alentejana, esteve patente ao público de 17 de Fevereiro a 21 de Abril de 2007, no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz.

Bonecos da Gastronomia
Como fruto de uma incursão à oficina-loja das irmãs Flores, resultou o livro “Bonecos da Gastronomia” (3), dado à estampa em 2009, numa edição da Câmara Municipal de Estremoz, por ocasião da XVII Cozinha dos Ganhões. A 1ª edição deste livro é ilustrada por 16 imagens de Bonecos das Irmãs Flores, dos quais 11 são “Bonecos da Tradição” e 5 são “Bonecos da Inovação” (Coqueira, Queijeira, Mulher a cozinhar, Padeiro e Vendedora de queijos).
A materialização do livro foi possível graças ao companheirismo do poeta António Simões, das barristas Irmãs Flores, do fotógrafo José Cartaxo e do designer Carlos Alves. A concretização duma ideia inicial minha, encheu-nos a todos de imenso júbilo e desde logo foi equacionado o desenvolvimento mais aprofundado dessa ideia.
Decorrido um ano sobre a primeira edição do livro “Bonecos da Gastronomia”, reconheci que este começou por ser um trabalho de base. Daí que numa primeira fase tivesse concluído que o conjunto dos dezasseis Bonecos que figuraram na primeira edição do livro pudesse ser estruturado, agrupando--os em cinco subconjuntos perfeitamente hierarquizados: Recolha de matérias-primas, Preparação de matérias-primas, Confecção de alimentos, Venda e distribuição de alimentos e Consumo de alimentos.
Numa segunda fase, efectuei o levantamento do que podia ser acrescentado a cada subconjunto, visando torná-lo mais completo. Depois de alguma reflexão, os “Bonecos da Gastronomia” (4), passaram a ser em número de trinta e seis, tendo sido introduzidos vinte e um novos Bonecos e abandonado outro. Desses vinte e um Bonecos, sete já pertenciam à galeria tradicional dos Bonecos de Estremoz. Os restantes catorze foram criação das Irmãs Flores. São eles: Azeitoneira, Caçador, Pescador, Roupeiro, Amassadeira, Forneira, Pisador, Manteeiro, Aguadeira da ceifa, Vendedora de criação no mercado, Taberneiro, Mondadeira a comer, Mulher ao poial dos cântaros e Homens a petiscar.
Nessa criação, efectuada com um severo respeito pela tradicional técnica de manufactura dos Bonecos de Estremoz, foi por vezes utilizada documentação do meu arquivo fotográfico, o que permitiu conferir rigor à contextualização de cada figura.

Alentejo do Passado
Em 2011 lancei às Irmãs Flores o desafio de criarem figuras que integrassem uma colecção que designei por “Alentejo do Passado”, estruturada em 8 grandes áreas, procurando dar uma visão do Alentejo do passado: Pastorícia, Colecta, Ciclo do pão, Ciclo do azeite, Ciclo do vinho, Tiragem da cortiça, Na horta, Na cidade. Esta colecção absorveu a colecção “Bonecos da Gastronomia”, mas com vista à sua concretização foram criados 34 novos “Bonecos da inovação” (Pastor a fazer colher, Ordenha de ovelhas, Tosquia de ovelhas, Roupeiro a caminho da rouparia, Ordenha de vacas, Porqueiro, Lavrador a cavalo, Semeador, Ganhão a lavrar, Mondadeira a mondar, Ceifeiro, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho numa eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro no moinho, Varejador, No rabisco, Juntando a azeitona, Vindimadora a vindimar, Vindimador a carregar cesto com uvas, Transporte de uvas no tino, Adegueiro, Tirador de cortiça, Empilhador, Carrada de cortiça, Hortelão, Hortelão a caminho do mercado, Peixeiro, Talhante, Ervanário, Brinholeira, Mulher ao pé do poço, Mulher acarretando água, Família a comer).
A colecção “Alentejo do Passado” deu origem a uma exposição homónima, de iniciativa da Associação Filatélica Alentejana e que esteve patente ao público, de 19 de Novembro de 2011 a 14 de Janeiro de 2012, no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz. Os visitantes foram confrontados com barrística popular do mais alto nível, que regista com rigor e fidelidade o que eram as fainas agro-pastoris do Alentejo d’antanho, bem como a vida na cidade, até cerca de meados do século XX.

Memórias do Tempo das Outra Senhora
Em 2012, associando-se ao lançamento do meu livro “MEMÓRIAS DO TEMPO DA OUTRA SENHORA / ESTREMOZ--ALENTEJO”(……..), as Irmãs Flores criaram 6 novos “Bonecos da Inovação” (o Professor, o Sapateiro Joaquim António Chouriço, o Cavalinho de pau, Jogo do botão, Corrida de rodas e Jogo do pião), que passaram a integrar a colecção “Alentejo do passado”, patente ao público na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana no Centro Cultural de Estremoz.

Mudança de Paradigma
Do exposto se conclui que os “Bonecos da Inovação” vieram enriquecer (e de que maneira!), a barrística popular estremocense. Com a criação de “Bonecos da Inovação”, houve mesmo nalguns casos uma “Mudança de Paradigma”, com a nossa barrística a atingir a sua mais alta expressão, na confecção de figuras mais complexas e de execução mais morosa. Cito como exemplo figuras de “Alentejo do Passado” tais como: Ganhão a lavrar, Lagareiro, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho na eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro no moinho, Transporte de uvas no tino e Carreteiro transportando cortiça.
As Irmãs Flores estão de parabéns, pois sem se afastarem um milímetro sequer dos cânones tradicionais da barrística popular estremocense, têm sabido inovar, criando novos públicos com apetência por aquilo que é diferente dentro do tradicional. E elas estão no caminho certo, pois se a sua mestria é pautada, por um lado, pela mais estrita fidelidade aos materiais, à tecnologia e às cores, não deixam todavia de manifestar inquietude que se expressa na criação de novos modelos de Bonecos de Estremoz, que têm a ver com a nossa identidade cultural, local e regional. Por isso são embaixatrizes de vanguarda da nossa Arte Popular transtagana e a comunidade estremocense revê-se com enlevo na elevada qualidade artística do seu trabalho, o que aqui se testemunha, por ser uma verdade insofismável. Bem hajam pois, pelo deleite de espírito que nos proporcionam e que muito contribui para o reforço da identidade cultural alentejana.

Participação em certames
Até ao presente, já participaram nas seguintes feiras: Fatacil (Lagoa), Vila Franca de Xira, Pombal, FIA (Lisboa), Vila do Conde, Foz do Douro (Porto), Palácio de Cristal (Porto), Mercado Ferreira Borges (Porto), Santo Tirso, FIAPE (Estremoz) e Cozinha dos Ganhões (Estremoz). Actualmente só participam nas duas últimas.
Em Portugal têm participado em exposições individuais e colectivas no Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, no Museu de Olaria de Barcelos e no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa. No estrangeiro expuseram em Valladolid, Nantes, Paris (Notre Dame), Bruxelas, Hamburgo, Toronto e Brasil.

Discípulos
Maria Inácia tem uma filha, Sónia Mateus (1979- ), que foi aluna da minha mulher e que é professora no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Perpétua tem um filho, João Sousa (1986- ), que foi meu aluno e é médico. Como “Filho de peixe, sabe nadar”, os primos revelaram naturais aptidões para modelar o barro ao modo de Estremoz. Tenho na minha colecção peças modeladas por eles na juventude e com as respectivas marcas de autor.
Na oficina-ateliê das Irmãs Flores, além de trabalhar o seu sobrinho, Ricardo Fonseca, trabalha Leolinda Inácia Parreira Pereira (1966- ), uma colaboradora que se ocupa de tarefas de pintura.

BIBLIOGRAFIA
1 - Maria Inácia Fonseca - Assento de Nascimento Informatizado nº 1008 de 2009, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
2 - Maria Inácia Fonseca - Processo individual de aluna nº 4260.
3 - MATOS, Hernâni. Bonecos da Gastronomia – 1ª ed. Câmara Municipal de Estremoz. Estremoz, 2009.
4 - MATOS, Hernâni. Bonecos da Gastronomia – 2ª ed. Associação Filatélica Alentejana. Estremoz, 2010
5 - MATOS, Hernâni. Memórias do Tempo da Outra Senhora / Estremoz – Alentejo. Edições Colibri. Lisboa, 2012.
6 - Perpétua Matilde Fonseca - Assento de Nascimento Informatizado nº 676 de 2009, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
7 - Perpétua Matilde Fonseca - Processo individual de aluna nº 4263.


Fig. 2 - Sabina Santos (1921-2005) nos anos 70 do séc. XX, tendo à sua direita as
discípulas Maria Inácia Fonseca (1957- ) e Perpétua Sousa (1958- ).
Fotografia de Xenia V. Bahder. Arquivo fotográfico do autor.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Bonecos de Estremoz: Ana das Peles (2.ª parte)


Fig. 1 - Berço do Menino Jesus (das pombinhas).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

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Já vimos que a velha bonequeira Ana das Peles [1] foi o instrumento primordial da recuperação da extinta tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz, empreendida pelo escultor José Maria de Sá Lemos nos anos 30 do séc. XX. Chegou a altura de conhecer alguns dos seus Bonecos (Fig. 1 a Fig. 28).


Fig. 2 - Nossa Senhora ajoelhada.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

 Fig. 3 - São José ajoelhado.
Ana das Peles (1938).Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 4 - Rei Mago a cavalo (Belchior).
Ana das Peles (c. 1940). Colecção Jorge da Conceição.

Fig. 5 - Rei Mago a cavalo (Baltasar).
Ana das Peles (c. 1940). Colecção Jorge da Conceição.

Fig. 6 - Rei Mago a cavalo (Gaspar).
Ana das Peles (c. 1940). Colecção Jorge da Conceição.

Fig. 7 - Pastor ajoelhado com um chapéu à frente.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

 Fig- 8 - Pastor ajoelhado com um borrego à frente.
Ana das Peles (c. 1940).

Fig. 9 - Nossa Senhora a cavalo.
Ana das Peles (c. 1940). Museu Nacional de Etnologia.

Fig. 10 – Pastor.
Ana das Peles (1938).Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 11 – Pastor das migas. Ana das Peles (1938).
Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 12 – Fiandeira.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

  Fig. 13 - Matança do porco.
Ana das Peles (c. 1940).

Fig. 14 - Mulher dos enchidos.
Ana das Peles (c. 1940). Museu Nacional de Etnologia.

Fig. 15 - Mulher das castanhas.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 16 - Mulher a vender chouriços.
Ana das Peles (c. 1940). Museu Nacional de Etnologia.

Fig. 17 - Lanceiro com bandeira.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 18 - Sargento no jardim.Ana das Peles (1938).
Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 19 -  Mulher a lavar a roupa.
Ana das Peles (c. 1940).

Fig. 20 - Mulher a passar a ferro.
Ana das Peles (c. 1940). Colecção Jorge da Conceição.

Fig. 21 - Senhora a servir o chá.
Ana das Peles (c. 1940). Colecção Jorge da Conceição.

Fig. 22 - Senhora ao toucador.
Ana das Peles (c. 1940).

Fig. 23 - Senhora de pezinhos.
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 24 - Preta grande (Preta florista).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 25 – Pomba no choco (assobio).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 26 - Cesto com ovos (assobio).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 27 – Peralta. (assobio).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

Fig. 28 – Amazona. (assobio).
Ana das Peles (1938). Ex-colecção Azinhal Abelho.

domingo, 18 de agosto de 2019

E vão quantos?




E vão quantos?
A resposta a esta sacramental pergunta é unívoca: 73. Fui parido no ano de 1946. No que respeita às centúrias: 1 e 9 são 10, noves fora 1. No referente a decénios, 4 e 6 são 10, noves fora 1. Também no que concerne à idade, 7 e 3 são 10, noves fora 1. Como estão a ver, a minha cronologia assenta no 1. É a revelação de que sou único, singular, excepcional e sem igual. Acontece ainda que nasci em Agosto. Daí que seja leónico e solar. O resto vem por acréscimo, tanto defeitos como qualidades.

E que tenho sido eu?                      
A sinopse da minha vida pessoal regista como marcos principais os seguintes: Parido, bebé de fraldas, puto de bibe e peão. Gaiato de calções, usei a opa da Igreja e como lusito marquei passo nas formaturas da Mocidade Portuguesa. Revoltado na Instrução Primária porque tive um professor que nunca o devia ter sido. Miúdo de Liceu, tornei-me um jovem descrente por tudo aquilo que via à minha volta. Corredor de fundo e saltador em altura, fui amputado para me deixar dessas coisas. Todavia, reaprendi a marchar, a andar de bicicleta e a dançar, já que nadar nunca se esquece. Concluí o Curso Liceal e fiquei livre da tropa, sem necessidade de fugir à guerra colonial. Na época já tinha consciência política, graças a alguns professores, ao meu pai e a amigos mais velhos com os quais acompanhava. Entrei na Universidade e no movimento associativo estudantil, fiz greves e manifestei-me, já que se vivia em plena crise académica e eu tinha o Maio de 68 na massa do sangue. Estudei que era por isso que por ali andava, fiz poesia e integrei o movimento desintegracionista. Quando dei por mim tinha acabado o curso. Físico, tornei-me professor sem querer e fui mestre-escola durante 36 anos.  
Pelo meio, amei, casei, fui pai e muitas vezes fui feliz. Recentemente, os meus alicerces deram de si e cheguei a estar do outro lado. Vagueei entre aquilo que dizem ser o céu, o inferno e o purgatório. Em todos estes locais fui rejeitado. Dai a razão de estar hoje aqui.
Falta-me plantar uma árvore, tarefa adiada porque me doem as costas. Para o ano logo se vê. E se Deus não quiser? - perguntarão alguns. A resposta é simples. Fica a árvore por plantar e eu curado das costas.

E que mais?
Desde os longínquos tempos do bibe e do pião que sou recolector de objectos materiais que me enchem as medidas. Assim me tornei filatelista, cartofilista, bibliófilo e ex-librista. Para além disso, o fascínio da ruralidade e o culto da tradição oral, levaram-me a reunir objectos que integram o registo da identidade cultural alentejana. Daí que por necessidade me tenha tornado investigador, historiador, etnógrafo e etnólogo com interesses pessoais na história local e na arte popular alentejana, muito em especial a arte pastoril e a barrística popular estremocense. Tenho montado exposições iconográficas, apresentado comunicações e como escritor, jornalista e blogger, tenho publicado livros e textos que constituem o reflexo da minha intervenção cívica. Para além disso, sou ambientalista, libertário, igualitário, solidário, livre pensador e, é claro, franco-atirador.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Cabaça enfeitada


Cabaça enfeitada, adquirida no Mercado das Velharias, em Estremoz.

As minhas incursões ao Mercado das Velharias em Estremoz, dão regularmente os seus frutos. Recentemente adquiri uma cabaça enfeitada, cuja descrição passo de imediato a fazer.
Trata-se de uma cabaça com base plana e corpo de formato periforme. Superfície esculpida em baixo relevo, ornamentada com motivos fitográficos, configurando ramos de sobreiro com folhas e bolotas. Trabalho feito à navalha.
Aproximadamente a meio da altura, a cabaça apresenta um estrangulamento, envolvido por uma correia que serve de dispositivo de suspensão e que utiliza 3 passadores em madeira. Na parte superior, apresenta uma abertura fechada por uma tampa de madeira com um orifício para prender à correia. Junto à abertura, as iniciais TSG (Teresa Serol Gomes). Altura: 14 cm.
                                                        
Publicado inicialmente em 16 de Agosto de 2019

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Bonecos de Estremoz: Ana das Peles (1.ª parte)


Fig. 1 - Sá Lemos trocando impressões com ti Ana das Peles numa sala de aulas da
Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério de Carvalho
(1915-1988), publicada no semanário estremocense “Brados do Alentejo” nº 250,
de 10 de Novembro de 1935. Arquivo fotográfico do autor.
Nasceu às 8 horas da manhã de 22 de Novembro de 1869 numa casa da Rua da Porta da Lage, na freguesia de Santo André, concelho de Estremoz. Filha legítima de Manuel Joaquim da Silva, proprietário, natural de Fornos de Algodres e de Maria Domingas, governadeira de sua casa, natural da freguesia de São Bento do Cortiço, concelho de Estremoz.
Ana Rita seria baptizada a 15 de Dezembro de 1869, na igreja paroquial de Santo André, Estremoz (1). Em data que não consegui determinar, casou com Jacinto Manuel, natural de Bencatel.

Trabalho com Sá Lemos
José Maria de Sá Lemos, director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves desde 21 de Abril de 1932, constatando que está extinta a tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz, atribui a si próprio a missão da sua recuperação, para o que precisaria da colaboração de alguém que em tempos os tivesse confeccionado. Teve conhecimento da existência de Ana Rita da Silva, então com 63 anos de idade, que em tempos manufacturara os Bonecos de assobio e assistira à feitura dos Bonecos, mas entendia que não era capaz de os fazer. Sá Lemos intuiu que seria, por se lhe ter tornado evidente que a técnica era a mesma. Dois anos levou a convencê-la, mas como “Quem porfia, sempre alcança”, Sá Lemos alcançou o seu objectivo, estimulando-a, orientando-a e trabalhando em conjunto com ela na Escola (Fig. 1). Em Novembro de 1935, em artigo publicado no jornal Brados do Alentejo (12), confessa que a sua missão fora coroada de êxito. Daí para a frente existirá uma frutuosa cooperação entre ambos e é com ela que sob a sua orientação, que o oleiro Mariano da Conceição, mestre de olaria na Escola, aprende a arte bonequeira.
Em 1935 os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa (Fig. 6) ocorrida em Lisboa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris (Fig. 7) e em 1940 na Exposição do Mundo Português (fig. 3), promovida em Lisboa. Aí os Bonecos de Mariano da Conceição estiveram a ser pintados por sua mulher Liberdade da Conceição (Fig. 4), face à impossibilidade de Mariano estar presente por ser funcionário público.

Fala um neto de Ana Rita
O cineasta José Manuel Silva Madeira, neto de Ana Rita, prestou-me o seguinte depoimento escrito (4) sobre a avó: “A minha avó era conhecida por Ti Ana das Peles, mas o seu nome próprio era Ana Rita da Silva. Era a mãe de minha mãe e de duas tias.
Uma das minhas tias, a Ti Luzia, era casada com Mestre Cassiano que viera de Elvas e aprendera o ofício de barro fino na Cerâmica Estremocense de Mestre Emídio Viana, situada na Rua do Lavadouro, em Estremoz. Dali saiu para montar olaria de barro grosso na Rua do Afã, 36-B, no Bairro de Santiago, em Estremoz.
A minha avó vendia louça de barro vermelho de Mestre Cassiano no mercado de sábado em Estremoz e durante a semana era almocreve, uma vez que se deslocava às aldeias e vilas do concelho, com um burro aprestado de alforges, contendo pratos, panelas e outros objectos utilitários que vendia. Nas suas deslocações comprava peles secas de animais que viriam a ser utilizadas na manufactura de golas, casacos, pantufas, tapetes, etc., o que está na origem da sua alcunha “Ana das Peles”.
Era uma mulher independente, que assegurava a vida da família num tempo em que as mulheres raramente saíam à rua, ficando em casa e ocupando o seu tempo nas tarefas domésticas, bem como nos bordados e na costura.
O seu marido (o meu avô) morreu vítima da gripe espanhola. Assim ela era a única pessoa que sustentava economicamente a família.
A minha avó tinha o dom de fazer mezinhas e de curar pessoas, como era corrente naquele tempo, quando as famílias não tinham posses para ir aos médicos. Tinha essas práticas não só junto da família, como de outras pessoas que a procuravam. Para mim, era uma pessoa muito estranha, que eu considerava uma espécie de bruxa que me assustava, pelo que eu tremia na sua presença.
A sua reputação está indissociavelmente ligada à recuperação dos “Bonecos de Estremoz”, uma vez que o escultor José Maria Sá Lemos, director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves de Estremoz, contou com ela para a recuperação duma tradição que se tinha perdido no tempo. E dava-lhe conselhos para aperfeiçoar a sua técnica e sobre as cores a usar. A reputação dos Bonecos de Estremoz veio a espalhar-se, pelo que se tornaram muito apreciados e foram adquiridos pelos principais museus do país.
O fim da vida da minha avó foi dramático, já que viveu na miséria antes de morrer nos Quartéis, no Bairro de Santiago, onde muitas pessoas idosas e sem meios económicos eram abandonadas e esquecidas até chegar a morte. No entanto, a sua reputação ultrapassou fronteiras, sobretudo depois da Exposição do Mundo Português”.

A oficina de Ana das Peles
A senhora Felicidade da Luz Rodrigues Carrapiço (1930- ), de 88 anos de idade e actualmente moradora na Rua Brito Capelo, nº 3 (já morou noutros números desta rua), informou-me que a ti Ana das Peles morava e tinha oficina (Fig. 2) na Rua Brito Capelo nº 21, onde ainda há bem pouco tempo era a churrasqueira “Frango e Companhia” de José Maria Calquinhas. Era aí que comercializava as suas criações.

Sá Lemos como agente de vendas de Ana das Peles
Duas cartas de Sá Lemos endereçadas a Azinhal Abelho e que acompanhavam a colecção de Bonecos de Ana das Peles pertencente ao poeta, a qual eu adquiri em Julho de 2018, revelam que Sá Lemos funcionava como agente de vendas de Ana das Peles.
A primeira carta, dactilografada em papel timbrado pessoal, expedida de Estremoz por Sá Lemos e datada de 4 de Março de 1938, diz a certo trecho (8): “Relativamente à encomenda dos bonecos, temos de esperar algum tempo, porquanto a “ti Ana” está a dar os últimos toques numa encomenda, isto é, em várias pequenas encomendas. Só depois dará começo à sua, mas eu esforçar-me-ei para que não demore demasiado. Porém sabe que ela já não tem forças para grandes corridas. A colecção tem já alguns exemplares novos, alguns dos quais adquiridos no museu de Elvas, donde trouxe também uma cantarinha enfeitada, género pucarinho.”
A segunda carta, igualmente dactilografada em papel timbrado pessoal, expedida de Estremoz por Sá Lemos e datada de 7 de Maio de 1938, diz a certa altura (10): “A “Ti Ana” cá está amanhando os bonecos que encomendou, mas ela produz tão morosamente que não é fácil atender os pedidos com a rapidez que eu desejava. Agora veio ainda uma pessoa pedir-me o compromisso de mandar loiças e Bonecos de Estremoz à exposição regional de Coimbra, e como estou sempre pronto a contribuir para um melhor conhecimento das coisas bonitas do Alentejo, escusado será dizer-lhe que lhe assegurei o meu concurso, embora ainda não saiba como.”
Para além destas duas cartas há mais três cartas manuscritas em papel não timbrado, pertencentes ao espólio documental do poeta Azinhal Abelho, adquirido pela Câmara Municipal de Borba em 2007, e cuja consulta me foi facultada em Julho de 2018 pelo presidente António José Lopes Anselmo.
A terceira carta foi expedida de Estremoz por Sá Lemos e datada de 17 de Abril de 1942, três dias antes da inauguração da Pousada de Santa Luzia em Elvas [1] . Na parte que se refere a Bonecos de Estremoz diz (6): “Hoje mesmo lhe remeto alguns dos bonecos que pediu na sua carta. Vão numa cesta, que fará o favor de me devolver pela mesma via. Assim evitaremos uma caixa de madeira que ficaria mais cara.
Desculpe não lhe mandar tudo o que me pede, mas foi o que se conseguiu arranjar por agora. Vão lhe ser remetidos pela camioneta como é seu desejo.
Amanhã lhe enviarei a factura dos bonecos e transporte.”
No final da carta há um “post scriptum”:
“P.S. - Nota dos bonecos remetidos: - 7 lanceiros com bandeira; - 2 mulheres a dobar; - 1 mulher das galinhas; - 1 mulher dos enchidos; - 1 pastor a comer; - 1 pastor das migas; - 2 pastores ajoelhados com um borrego; 2 pastores com dois borregos; - 2 ofertantes das pombas; - 2 pucarinhos enfeitados; - 2 cantarinhas.”
A quarta carta foi também expedida de Estremoz por Sá Lemos e datada de 22 de Abril de 1942, três dias depois da inauguração da Pousada de Santa Luzia em Elvas. A parte que nos chamou a atenção refere (7) “Antes de mais nada quero felicitá-lo pela linda festa de inauguração que teve na poética Pousada de Santa luzia, e que eu acompanhei através da E. N. 39. [2] Oxalá que lhe traga proveito material, porquanto espiritual não faltará.
Agora aguardo a oportunidade de lhe fazer uma visita, o que não poderá ser tão cedo, mas eu saberei esperar com paciência.
Hoje envio-lhe a factura dos bonequitos de Estremoz que lhe remeti, pedindo desculpa de não lhe poder enviar todos os que me pediu na sua carta.
Logo que possa mande-me o cabaz pois é um traste que me está sempre a fazer falta.”
A quinta carta, igualmente expedida de Estremoz por Sá Lemos e datada de 4 de Dezembro de 1942, comunica que (8): “O S.P.N. [3] pediu-me dez presépios para o Natal. Também outros me têm pedido, mas o que é certo é que eu já não tenho probabilidades para atender essas encomendas. Este ano vou fechar as contas deste negócio com um aumento grande de trabalhos. No Porto já há uma casa que vende
estes bonecos e que eu mando daqui. Se ao meu amigo for possível liquidar a factura dos que foram para a Pousada, era favor que muito agradecia, pois deseja fechar as contas deste ano com tudo liquidado.”
A decoração da Pousada foi feita com recurso a Bonecos, como nos revela Augusto Cunha (3): “Na Pousada de Santa Luzia tudo o que era regional se aproveitou para o seu recheio e decoração: as mantas de Reguengos, os bonecos de barro de Estremoz, as graciosas mobílias alentejanas, as louças, as pinturas ingénuas…”.

A velha de Estremoz
A fama de Ana das Peles chegou a países como a França. Neste país, no “L’Itinéraire Portugais”, editado pela Grasset em Paris, em 1940, o escritor francês de origem belga, Albert t’Serstevens (1886-1974), fala sobre “A velha de Estremoz”, na sequência da visita que fez a Estremoz (13): “…fomos ver uma mulher muito idosa que modela e pinta figuras de barro a que chamam aqui “bonecos” e como não há uma única que não seja enternecedora, trouxemos uma caixa cheia.
Não sei como é que se chama esta velha e não faço questão de saber. A arte popular é essencialmente anónima e a chamada arte ganharia em sê-lo. Uma obra de arte basta-se a si própria, o estado civil de quem a criou não acrescenta nada a não ser o palavreado dos críticos.”
Mais adiante acrescenta: “Esta velha de Estremoz imprime às suas obras uma originalidade e uma poesia tão grandes, que eu reconheceria uma entre mil outras mãos. No seu corpo ressequido brilha uma alma de criança e essa felicidade sempre jovem ilumina tudo o que ela cria.
Encontrámo-la atrás da sua banca – uma tábua em cima duma caixa – ao lado de uma janela tapada por um jornal.
Cabeça comprida, quase simiesca, não fosse a testa alta e os olhos magníficos, ampliados por óculos enormes.
O lenço negro que lhe cobre a cabeça (Fig. 5), torna extraordinário o rosto marcado por rugas e lavrado pelo claro-escuro. Com mãos rudes afeiçoa no barro o corpo de um personagem para o qual modelará de seguida o vestuário e os adornos. Não dispõe de outros utensílios, a não ser as mãos e uma velha faca de cozinha; junto dela, em cima de um banco, um alguidar de esmalte onde molha os dedos.”
Continuando, refere: “… e encontramos entre as obras desta velha os tipos tradicionais: José, Maria, os reis magos, os pastores, os camponeses, os mercadores, os artesãos, todo esse pequeno mundo que rodeia familiarmente o Presépio, na Provença, em Praga ou no campo italiano. Como se faz noutros países, ela representa os homens da sua província, mas acrescenta-lhes a sua própria poesia na forma e na cor, o que faz destes bonecos de barro criaturas espirituais.
Além disso, ela vai muito além da observação do seu Alentejo, das suas profissões e dos seus costumes. A sua imaginação está repleta de negros coroados de plumas ou de capacetes complicados, alegorias estranhas onde se pode ver a cornucópia e a venda do amor é cego. Ela sabe, à partida, que nada é trivial, que cada coisa é um pedaço de céu. Ela faz um poema de um cestinho cheio de ovos e de duas galinhas numa cerca. Ela põe aves por todo o lado, e o presépio do menino Jesus, branco e azul, decorado com florzinhas, serve de poleiro a pombas, galinhas, galos, aves vermelhas e brancas como não há em parte nenhuma.
Ela conhece, enfim, a alegria das estações e a alegria de estar no mundo: como aquela Primavera (é assim que ela lhe chama), um negro sorridente que segura uma grande bandeja cheia de flores multicolores; e essa figura a que ela chama “O soldado no jardim”, um copo assente num pé, tendo no meio, sentado numa cadeira, com a cabeça inclinada com serenidade, imagem do pobre diabo livre da guerra que reencontra o seu campo, a sua razão de ser, a sua alegria de camponês.”

Falecimento de Ana das Peles
Ana Rita da Silva faleceu às 5 horas do dia 19 de Fevereiro de 1945 no Hospital da Misericórdia de Estremoz, com 75 anos de idade, vítima de senilidade. Era viúva há dez anos de Jacinto Manuel, natural de Bencatel (2).

Elogio fúnebre de Ana das Peles
O elogio fúnebre de Ana da Peles foi feito por Sá Lemos em artigo intitulado “Morreu a Ti Ana das Peles (11), o qual reproduzo na íntegra:
“Como eu me lembro daquela tarde quente em que a convenci a tentar o ressurgimento dos bonequitos de Estremoz! Foi no pavilhão, ali no Rossio, em que se expunham os trabalhos da Escola Industrial [4], e onde, a par de algumas peças de olaria, um púcaro de Estremoz de avantajadas proporções, decorado no bojo com bonecos (Fig. 8).
Havia dois anos que me esforçava por trazê-la para junto de mim a tentar esse ressurgimento. E nessa tarde, então, nessa tarde quente, asfixiante, quando ela admirava o tal púcaro, aceita por fim a iniciar-se no teimoso empreendimento.
Com que saudade eu recordo a companheira de alguns anos que ela foi nesta campanha tão agradável!
Como eu recordo as suas mãos finas amoldando o barro em tratos preconcebidos e amorosos, como mãe estremosa endomingando os meninos! Com que jeito e arte vestia o pelico aos seus pastores e ajoelhava os borregos a seus pés!
Morreste, velhinha, mas os teus bonecos não morrerão. Ficarão vivendo como se fossem a tua própria alma. Ficarão aqui e ficarão pelo mundo culto espalhados a atestar a tua delicada
sensibilidade, nesta admirável arte popular.
Morreu a Ti Ana das Peles, a última abencerragem, como lhe chamou Celestino Davide. Lá a fomos levar, numa terça-feira, à sua última jazida, feita do mesmo barro com que modelou os seus bonecos. Bem hajas pelo que do teu espírito deixaste nesses bonequitos que tanta gente culta têem apaixonado. Dorme em sossego, que eles não morrerão.
Estremoz, 20 de Fevereiro de 1945 / Sá Lemos.”

BIBLIOGRAFIA                         
1 - Ana Rita da Silva (Ana das Peles) – Assento de Baptismo nº 152 de 1869, da Freguesia de Santo André, concelho de Estremoz.
2 - Ana Rita da Silva (Ana das Peles) – Transcrição do Assento de Óbito nº 9 de 1945 da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
3 - CUNHA, Augusto. Pousada de Santa Luzia - Elvas in PANORAMA, nº9, Junho de 1942, vol. 2. Lisboa, 1942.
4 - MADEIRA, José Manuel Silva. Depoimento sobre Ti Ana das Peles. Paris, 2017. sp.
(5) - MARQUES CRESPO, José Lourenço. Estremoz e o seu Termo Regional. Edição do autor, Estremoz, 1950 (pág. 194).
6 - SÁ LEMOS, José de. Carta a Azinhal Abelho. Estremoz, 17/4/1942. ASSUNTO: Encomenda de bonecos de Ana das Peles feita por Azinhal Abelho, concessionário da Pousada de Santa Luzia, em Elvas. Espólio documental do poeta Azinhal Abelho, pertencente ao Arquivo da Câmara Municipal de Borba.
7 - SÁ LEMOS, José de. Carta a Azinhal Abelho. Estremoz, 22/4/1942. ASSUNTO: Encomenda de bonecos de Ana das Peles feita por Azinhal Abelho, concessionário da Pousada de Santa Luzia, em Elvas. Espólio documental do poeta Azinhal Abelho, pertencente ao Arquivo da Câmara Municipal de Borba.
7 - SÁ LEMOS, José de. Carta a Azinhal Abelho. Estremoz, 4/12/1942. ASSUNTO: Encomenda de bonecos de Ana das Peles feita por Azinhal Abelho, concessionário da Pousada de Santa Luzia, em Elvas. Espólio documental do poeta Azinhal Abelho, pertencente ao Arquivo da Câmara Municipal de Borba.
8 - SÁ LEMOS, José de. Carta a Azinhal Abelho. Estremoz, 4/3/1938. ASSUNTO: Encomenda de bonecos de Ana das Peles feita por Azinhal Abelho. Arquivo de Hernâni Matos.
10 - SÁ LEMOS, José de. Carta a Azinhal Abelho. Estremoz, 7/5/1938. ASSUNTO: Encomenda de bonecos de Ana das Peles feita por Azinhal Abelho. Arquivo de Hernâni Matos.
11 - SÁ LEMOS, José de. Morreu a Ti Ana das Peles in Brados do Alentejo nº 736, 25/02/1945. Estremoz, 1945 (pág. 1).
12 - SÁ LEMOS, José de. Os bonecos de Estremoz / “Versos Irónicos em barro” in Brados do Alentejo nº 250, 10/11/1935. Estremoz, 1935 (pág. 5).
13 - T’SERSTEVENS, Albert. La vieille d’ Estremoz in L’Itinéraire Portugais”, 3ª ed. Grasset. Paris, 1955 (pág. 132 a 134).



[1] A Pousada de Santa Luzia em Elvas, foi inaugurada a 19 de Abril de 1942. Construída pelo Ministério das Obras Públicas e entregue ao Secretariado de Propaganda Nacional dirigido por António Ferro, teve como 1º concessionário o poeta Azinhal Abelho.
[2] Emissora Nacional.
[3] Sindicato de Propaganda Nacional. 
[4] A exposição decorreu durante a Feira de S. Tiago. Em geral, esta realizava-se em Estremoz de 25 (Dia de S. Tiago) a 27 de Julho e era a mais importante do ano. Abundante de queijo, calçado, quinquilharias, produtos agrícolas e hortícolas e pecuária. As restantes eram a Feira de Santo André (de 30 de Novembro a 3 de Dezembro) e a Feira de Maio no 2º sábado e 2º domingo do mês de Maio (5)-pág.194.

Hernâni Matos 

Fig. 2 - Ti Ana das Peles a pintar Bonecos na sua oficina na Rua Brito Capelo nº 21
em Estremoz, local onde também residia na época. Fotografia de Rogério de
Carvalho (1915-1988). Arquivo fotográfico do autor.

Fig. 3 - Durante a Exposição do Mundo Português, os Bonecos de Estremoz de ti Ana
das Peles marcaram também presença numa vitrina expositora no “Pavilhão da Vida
Popular”, na “Sala de Artes e Ofícios”. Fotografia publicada no livro “MUNDO
PORTUGUÊS/ IMAGENS DE UMA EXPOSIÇÃO HISTÓRICA/1940”. SNI. Lisboa, 1956.

Fig. 4 - Liberdade da Conceição, mulher de Mariano da Conceição a pintar Bonecos
de Estremoz na Exposição do Mundo Português. Fotografia do documentário
“A Grande Exposição do Mundo Português” (1940), de António Lopes Ribeiro. 

Fig. 5 - Ana das Peles [Ana Rita da Silva (1869-1945)]. Fotografia de Albert t’Serstevens
(1886-1974). Arquivo fotográfico do autor.

Fig. 6 - Inauguração da Exposição de Arte Popular Portuguesa, realizada em Lisboa,
em 1936, nas instalações do Secretariado de Propaganda Nacional. Oliveira Salazar
conversando com o etnólogo Francisco Lage, frente a uma vitrina onde estão patentes
Bonecos de Estremoz, da autoria de Ana das Peles. Fotografia de Mário Novais (1899-1967).
Fotografia da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Fig. 7 - Exposição Internacional de Paris, 1937. Pavilhão de Portugal. Sala de Arte
Popular. Na vitrina estão expostos Bonecos de Estremoz, da autoria de Ana das Peles.
Fotografia de Mário Novais (1899-1967). Fotografia da Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian.


Fig. 8 - Um trecho da exposição de trabalhos da Escola Industrial António
Gonçalves no pavilhão da Feira de Santiago, que no ano de 1935, teve lugar
entre 25 de Julho e 5 de Agosto. O pavilhão de exposições fora mandado
construir pela Câmara Municipal e situava-se num dos cantos do Rossio Marquês
de Pombal. Em segundo plano, um púcaro de Estremoz de avantajadas proporções,
decorado no bojo com Bonecos de Estremoz, como refere Sá Lemos no elogio
fúnebre a Ana das Peles (11). Fotografia do Arquivo Fotográfico Municipal de
Estremoz / BMETZ.