segunda-feira, 26 de maio de 2014

Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade

Secção a manter no jornal regionalista Brados do Alentejo
até à vitória final da Candidatura
(Consulte os links abaixo)

Primavera.
Oficinas de Estremoz do séc. XIX.
Colecção Júlio dos Reis Pereira.
Museu Municipal de Estremoz.


68 - Berços do Menino Jesus - 7  (B.A. nº 902 - 3ª série - 16-03-2017)
67 - Berços do Menino Jesus - 6 (B.A. nº 901 - 3ª série - 02-03-2017)
66 - Berços do Menino Jesus - 5 (B.A. nº 900 - 3ª série - 16-02-2017)
65 - Berços do Menino Jesus - 4 (B.A. nº 899 - 3ª série - 02-02-2017)
64 - Berços do Menino Jesus - 3 (B.A. nº 898 - 3ª série - 19-01-2017)
63 - Berços do Menino Jesus - 2 (B.A. nº 897 - 3ª série - 05-01-2017)
62 - Berços do Menino Jesus - 1 (B.A. nº 896 - 3ª série - 22-12-2016)
61 - O aguadeiro - 11 (B.A. nº 895 - 3ª série - 08-12-2016)
60 - O aguadeiro - 10 (B.A. nº 894 - 3ª série - 24-11-2016)
59 - O aguadeiro - 9 (B.A. nº 893 - 3ª série - 10-11-2016)
58 - O aguadeiro - 8 (B.A. nº 892 - 3ª série - 27-10-2016)
57 - O aguadeiro - 7 (B.A. nº 891 - 3ª série - 13-10-2016)
56 - Mário Lagartinho, bonequeiro de Estremoz (B.A. nº 890 - 3ª série - 29-09-2016)
55 - O aguadeiro - 6  (B.A. nº 888 - 3ª série - 04-08-2016)
54 - O aguadeiro - 5 (B.A. nº 887 - 3ª série - 21-07-2016)
53 - O aguadeiro - 4 (B.A. nº 886 - 3ª série - 07-07-2016)
52 - O aguadeiro - 3 (B.A. nº 885 - 3ª série - 23-06-2016)
51 - O aguadeiro - 2 (B.A. nº 884 - 3ª série - 09-06-2016)
50 - O aguadeiro - 1 (B.A. nº 883 - 3ª série - 26-05-2016)
49 - Mulher a passar a ferro - 4  (B.A. nº 882 - 3ª série - 12-05-2016)
48 - Terrina de Estremoz  (B.A. nº 881 - 3ª série - 28-04-2016)
47 - Mulher a passar a ferro - 3  (B.A. nº 880 - 3ª série - 15-04-2016)
46 - Mulher a passar a ferro - 2 (B.A. nº 879 - 3ª série - 31-03-2016)
45 - Mulher a passar a ferro - 1 (B.A. nº 878 - 3ª série - 17-03-2016)
44 - Fuga para o Egipto - 5  (B.A. nº 877 - 3ª série - 03-03-2016)
43 - Fuga para o Egipto - 4  (B.A. nº 876 - 3ª série - 18-02-2016)
42 - Fuga para o Egipto - 3 (B.A. nº 875 - 3ª série - 04-02-2016)
41 - Fuga para o Egipto - 2 (B.A. nº 874 - 3ª série - 21-01-2016)
40 - Fuga para o Egipto - 1 (B.A. nº 873 - 3ª série - 07-01-2016)
39 - Pastor das migas - 3 (B.A. nº 872- 3ª série - 24-12-2015)
38 - Pastor das migas - 2 (B.A. nº 871 - 3ª série - 10-12-2015)
37 - Pastor das migas - 1 (B.A. nº 870 - 3ª série - 26-11-2015)
36 - O homem dos foguetes (B.A. nº 869 - 3ª série - 12-11-2015)
35 - Senhora a servir o chá - 2 (B.A. nº 868 - 3ª série - 29-10-2015)
34 - Senhora a servir o chá - 1 (B.A. nº 867 - 3ª série - 15-10-2015)
33 - As fiandeiras (B.A. nº 866 - 3ª série - 01-10-2015)
32 -  São Pedro, Pescador, Apóstolo, Porteiro do Céu, 1º Bispo de Roma, 1º Papa e Mártir (B.A. nº 865 - 3ª série - 17-09-2015)
31 - Nossa Senhora da Imaculada Conceição (B.A. nº 864 - 3ª série - 06-08-2015)
30 - São João Baptista, Percursor, Profeta e Mártir (B.A. nº 863 - 3ª série - 23-07-2015)
29 - Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir (B.A. nº 862 - 3ª série - 09-07-2015)
28 - O meu amigo José Moreira  (B.A. nº 861 - 3ª série - 25-06-2015)
27 - José Moreira, o inovador  (B.A. nº 860 - 3ª série - 11-06-2015)
26 - Santa Bárbara (B.A. nº 859 - 3ª série - 28-05-2015)
25 - Bonecos de Estremoz na literatura oral (B.A. nº 858 - 3ª série - 14-05-2015)
24 - Bom filho à casa torna (B.A. nº 857 - 3ª série - 30-04-2015)
23 - Um burro singular (B.A. nº 856 - 3ª série - 16-04-2015)
22 - A hierarquia do presépio de trono  (B.A. nº 855 - 3ª série - 02-04-2015)
21 - Os Bonecos de Estremoz na Exposição do Mundo Português (B.A. nº 854 - 3ª série - 19-03-2015)
20 Ricardo Fonseca, o benjamim dos barristas (B.A. nº 853 - 3ª série - 05-03-2015)
19 - Uma questão de nomenclatura (B.A. nº 852 - 3ª série -19-02-2015)
18 - Pastor das migas (B.A. nº 851 - 3ª série - 05-02-2015)
17 - As Primaveras  (B.A. nº 850 - 3ª série - 22-1-2015)
16 - Os apitos da Maria Inácia  (B.A. nº 849 - 3ª série - 08-1-2015)
15 - Cada coisa no seu lugar!  (B.A. nº 848 - 3ª série - 25-12-2014) 
14 - Armando, bonequeiro de Estremoz (B.A. nº 847 - 3ª série - 11-12-2014)
13 - Rebaptizemos, pois (B.A. nº 846 - 3ª série - 27-11-2014) 
12 - Baptizar é preciso! (B.A. nº 845 - 3ª série - 13-11-2014)
11 - O preço dos bonecos  (B.A. nº 844 - 3ª série - 30-10-2014)
10 - Põe o chapéu. Tira a carapuça (B.A. nº 843 - 3ª série - 16-10-2014)
 9 - Santo António no figurado de Estremoz (B.A. nº 842 - 3ª série - 02-10-2014)
 8 - Tipos de colecções de Bonecos de Estremoz (B.A. nº 841 - 3ª série - 11-09-2014)
 7 - Coleccionar Bonecos de Estremoz (B.A.nº 840 - 3ª série - 07-08-2014)
 6 - Tradição, inovação e mudança de paradigma (B.A.nº 839 - 3ª série - 24-07-2014)
 5 - Conexão entre patrimónios imateriais da Humanidade (B.A.nº 838 - 3ª série - 10-07-2014)
 4 - Galeria dos Bonecos de Estremoz (B.A.nº 837 - 3ª série - 26-06-2014)
 3 - Marcas de identidade  (B.A.nº 836 - 3ª série - 12-06-2014)
 2 - Invariância e Mutabilidade nos Bonecos de Estremoz (B.A.nº 835 - 3ª série - 29-05-2014)
 1 - À laia de justificação (B.A.nº 834 - 3ª série - 15-05-2014)
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A lavagem na gíria popular

MULHER A LAVAR A ROUPA. Irmãs Flores.
Marcas manuscritas: Irmãs Flores/Estremoz.
Dimensões (cm): Alt. 17,5; Larg. 5,8; Prof. 11,5 cm.
Peso (g): 448. Colecção particular.

A presente colectânea de “dizeres” sobre a “lavagem” enquanto acto de limpeza, culmina um árduo trabalho de pesquisa efectuado em dezoito fontes bibliográficas distintas e só por si, é revelador da opulência e exuberância da língua portuguesa:

- Acabar-se como sabão na mão de lavadeira = Gastar-se muito rapidamente
- Às mãos lavadas = Sem dificuldade; Sem trabalho = Gratuitamente
- Dar uma lavagem = Obter facilmente uma retumbante vitória
- De mão lavada = De graça = Gratuitamente
- Lá vai água = Frase com que se acompanha o lançamento de qualquer coisa.
- Lavada = Arte de pesca de rede envolvente de arrasto.
- Lavadas = Iguaria que consiste em fatias de pão e de tomate, alhos pisados, um fio de azeite e sal (Pias/Serpa)
- Lavadas = Iguaria que consiste em fatias de pão e de tomate, alhos pisados, um, fio de azeite e sal (Pias/Serpa)
- Lavadeiro = Cesto grande e redondo com que em algumas praias se mede a sardinha
- Lava-dente = Beberete; pingóla
- Lava-dentes = Descompostura (Trás-os-Montes)
- Lavaceiro = Intrujão (Trás-os-Montes)
- Lavado = Quartilho de vinho
- Lavado de ares = Arejado = Ventilado
- Lavado em lágrimas = Choroso
- Lavado em lágrimas = Que chora muito
- Lavadoura = Junta de bois que no meio de duas, ajuda a puxar um carro (Alentejo)
- Lavadura = A água que serviu para lavar a loiça onde se comeu e que se deita como alimento aos porcos criados em casa
- Lavadura = Água, em que se lavou a loiça de mesa e que se dá como alimento a porcos.
- Lavagem = Caldo diluído, feito pelos toxicodependentes com algodões já utilizados como filtros em “chutos” anteriores.
- Lavagem = Comida para porcos 
- Lavagem ao cérebro = Processo de mudança profunda de pensamento, de identidade ou de personalidade, originado por uma influência exterior poderosa.
- Lavagem cerebral = Interrogatório político conduzido de maneira a quebrar a resistência psicológica do acusado, levando-o a fazer a sua própria auto-crítica e a, finalmente, confessar-se culpado
- Lavagem de dinheiro = Actividade que pretende esconder ou disfarçar a origem irregular ou fraudulenta de dinheiros
- Lavajado = Sujo = Besuntado pela água do lavajo
- Lavajado = Sujo pela água do lavajo (Alentejo).  
- Lavajar = Emporcalhar n a água do lavajo; banhar-se em água suja; Emporcalhar-se no lavajo. (Alentejo e Algarve. (Alentejo)
- Lavajo = Pequeno pântano ou charco; atoleiro; pia dos porcos. (Alentejo)
- Lavajola = Terreno baixo que se alaga de água no Inverno
- Lavajona = Mulher suja e sem vergonha
- Lavamento = Lavadura
- Lavapé = Solenidade que se celebra na quinta-feira maior e em que se comemora o facto de Jesus haver lavado os pés aos discípulos
- Lava-pés = Cerimónia que a Igreja Católica celebra na semana santa e que consiste em lavar os pés aos pobres
- Lava-pés = Cerimónia que se pratica na Quinta-Feira Santa e na qual o sacerdote, assistido por dois ministros, lava o pé direito de 13 homens, clérigos ou seculares, à imitação e em celebração do que fez Jesus aos seus discípulos, na última Ceia
- Lavar = Mostrar arrependimento pelo pranto = Chorar
- Lavar a bateria à face do baluarte = Rasá-la ao longo de todo o lanço do muro 
- Lavar a cara = Estar sempre a referir-se a obséquios prestados, na presença da pessoa que os recebeu
- Lavar a honra = Desafrontar-se de injúrias 
- Lavar a mão em = Bater = Dar pancada em (Brasil) 
- Lavar as cores = Dissolvê-las na água para as purificar e temperá-las
- Lavar as mãos = Declinar responsabilidades
- Lavar as mãos de algum negócio ou facto = Eximir-se de uma responsabilidade que ele pode causar = Subtrai-se às suas consequências  
- Lavar com lágrimas = Mostrar-se arrependido, chorando incessantemente
- Lavar roupa = Falar mal dos ausentes
- Lavar roupa suja = Falar mal dos ausentes
- Lavar um desenho = Aplicar nele as competentes cores aguadas
- Lavar uma injúria ou afronta no sangue de alguém = Vingá-la, matando ou ferindo
- Lavar-se como um gato = Lavar-se superficialmente 
- Lavar-se de uma calúnia  = Reabilitar-se = Tornar-se digno pelo seu comportamento ulterior
- Lavar-se em água de rosas = Regozijar-se
- Lavático = Clister
- Lavático = Próprio para clister
- Lavativo = Clister
- Lavativo = Lavático
- Lavatório = A água que se bebe depois da comunhão 
- Lavatório = Capacete de ferro alemão, da guerra de 1914-18  
- Lavatório = Mistura de água e vinho usada na região de Mação, na lavagem do coração dos porcos, quando se desmancham por ocasião da matança
- O vento lavou as terras = O vento enxaguou as terras
- Rir-se o sujo do mal lavado = Troçar de alguém com defeito que o próprio também tem
- Ser de bofes lavados = Ter bom coração = Ser simples
  
BIBLIOGRAFIA
(1) - BARROS, Vítor Fernando e MARTINS GUERREIRO, Lourivaldo. Dicionário de Falares do Alentejo. Campo das Letras. Porto, 2005.
(2) - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho-Editor. Lisboa, 1901.
(3) - CALDAS AULETE, Francisco Júlio. Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza (1ª ed.). Parceria António Maria Pereira. Lisboa, 1881.
(4) - CALDAS AULETE, Francisco Júlio. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (5ª ed.). Editora Delta. Rio de Janeiro, 1987.
(5) - DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/lavagem
(6) - FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Dicionário de Língua Portuguesa (1ª ed.). Livraria Editora Tavares Cardoso e Irmão. Lisboa, 1899.
(7) - GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
(8) - HOUAISS, António e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Círculo de Leitores, Lisboa, 2002.
(9) - LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
(10) - LEITÃO, Humberto e LOPES, J. Vicente. Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual. Centro de Estudos Históricos Ultramarinos. Lisboa, 1963.
(11) - MACHADO, José Pedro. Grande Dicionário da Língua Portuguesa). Publicações Alfa. Lisboa, 1991.
(12) - MACHADO, José Pedro. Grande Enciclopédia da língua Portuguesa. Círculo de Leitores, Lisboa, 1997.
(13) - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes (2º ed.). Editorial Notícias. Lisboa, 2000.
(14) - PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
(15) - SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
(16) - SILVA BASTOS, J. T. da. Diccionário Etymológico, Prosódico e Orthográfico da Língua Portuguesa. Parceria António Maria Pereira. Lisboa, 1928.
(17) - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.
(18) - TAVARES DA SILVA, D. A. Esboço Dum Vocabulário Agrícola Regional. Separata dos Anais do Instituto Superior de Agronomia, Vol. XI. Lisboa, 1942.

domingo, 18 de maio de 2014

Adagiário da lavagem da roupa


MULHER A LAVAR A ROUPA (1986). Sabina Santos (1921-2005).
Marcas manuscritas: Estremoz/Portugal/Sabina Santos.
Dimensões (cm): Alt. 15,0; Larg. 6,4; Prof. 11,0 cm.
Peso (g): 350. Colecção particular.

Temos vindo a estudar uma peça da barrística popular estremocense, conhecida por “Mulher a lavar a roupa”
Nesse estudo enveredámos como é nosso hábito pelos territórios da literatura oral, Começamos pelo adagiário.
O adagiário da lavagem de roupa regista 37 especímenes, dos quais 10 são variantes. Foi agrupado em seis tópicos: Sujidade, Limpeza, Água, Lavar, Corar, Enxaguar, Lavadeira. Dentro de cada um deles, os adágios foram contextualizados. Assim:

Sujidade
É sabido que:
- Em toda a casa há roupa suja,
assim como:
- Sujo não é pecado.
- A roupa suja lava-se em casa. (1)
Por vezes, por falta de roupa:
- Mais se queixa o que suja do que o que lava.

Limpeza
A limpeza é necessária, já que
- A limpeza, Deus a amou. (2)
- O que está limpo não enjoa.

Água
A água é indispensável na lavagem:
- A água tudo lava. (3)
- Água fria, lava e cria.
- Água suja, sempre lava. (4)
Todavia, já que a sujidade é plural, não se consegue lavar só com água, sendo necessário sabão, já que:
- Água sobre água, nem suja nem lava.
Todavia:
- Água e sabão fazem o homem são.

Lavar
É preciso ter em conta que:
- Nem toda a roupa vai à lavadeira.
- Quem muito lava a roupa é porque muito a suja.
- Rodilha suja, sempre limpa; água suja, sempre lava; mulher asseada, sempre limpa.
Na lavagem:
- Mão lavada sujidade tira.
- Roupa velha não dura nada.
- A pedra não dá roupa; tira a roupa.
Daí que haja quem proclame:
- Lavaste, estragaste.
e exija:
- Não quero saber de nada, quero a roupa lavada.
- Não tenho nada com o sabão, mas com a roupa lavada.
Na lavagem pode haver extravio de roupa:
- A pia não dá roupa.

Corar
Alguma roupa é posta a corar em cima de montes de mato:
- A roupa da carqueja ao longe alveja.

Enxugar
A seguir à lavagem, a roupa tem que ser enxugada. Na verdade:
- Quem lavou, sempre enxugou.
Por isso:
- Quem lava quando chove, enxuga quando pode.
Corre-se também um risco:
- Roupa suja mal enxuta, põe logo a limpa a perder.

Lavadeira
Sobre a lavadeira, é consensual que:
- A boa lavadeira no bico de uma pedra lava.(5) 
- Boa lavadeira na ponta do pé lava. (6)

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(1) Variante:
- Roupa suja lava-se em casa.
(2) Variantes:
- A limpeza, Deus a faz e a amou
- A limpeza Deus amou, mas mais amou quem a guardou.
- A limpeza, Deus a formou.
(3) Variantes:
- A água lava tudo.
- A água tudo lava, menos quem se louva e as más-línguas.
- A água lava tudo, menos quem se louva e as más-línguas.
(4) Variante:
- Água suja, também lava.
(5) Variante:
- Uma boa lavadeira num pico de pedra lava.
(6) Variante:
A boa lavadeira na ponta do pé lava.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 18 de Maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

1 - À laia de justificação

Senhora dos pézinhos.
Oficinas de Estremoz do séc. XIX.
Colecção particular.


1 - À Laia de justificação

Nesta secção, a partir de hoje, como franco-atírador e guerrilheiro ao serviço de causas nobres, ponho o meu verbo e o resto da gramática, ao serviço da Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Esta secção será uma trincheira e uma tribuna pela qual serei responsável único, ainda que em consonância com o jornal regionalista Brados do Alentejo, cuja Direcção em boa hora aceitou o repto de criar uma secção e mantê-la viva até à vitória final da Candidatura.
Esta secção visa potenciar e levar a bom termo, através do seu contributo, uma Candidatura com a qual nos identificamos, já que os bonecos de Estremoz nos estão na massa do sangue.
Cada boneco de Estremoz fala-nos de um contexto antropológico, social ou religioso. Fala-nos também do seu criador e dos sonhos que lhe povoam a mente. Fala-nos ainda das técnicas ancestrais que o artista popular domina e que lhe brotam à flor das mãos.
Cada boneco é fruto de uma relação de amor de quem procura fazer tudo a partir do nada que é a massa informe de barro. Todavia é também a expressão viva do ganha-pão diário de quem tem necessidade de assegurar a sua subsistência e a dos seus.
Cada boneco é um panfleto de cores garridas e de claridades do sul, próprias desta terra transtagana.
Tomar um boneco nas mãos é criar sinestesias que envolvem os nossos cinco sentidos. É como possuir uma bela mulher que nos enche as medidas e por quem sentimos exactamente o mesmo desejo da semente que fecunda a Terra-Mãe. Por isso, eu amo os bonecos de Estremoz. Daí que subscreva com alma e coração, a sua Candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A lavadeira


MULHER A LAVAR A ROUPA (1986). Liberdade da Conceição (1913-1990).
Marcas: ESTREMOZ/PORTUGAL aposta por carimbo (0,8 cm x 2 cm) e
 Liberdade (Manuscrita). Dimensões (cm): Alt. 14,0; Larg. 7,1;  Prof.. 12,6 cm.
Peso (g): 322. Colecção particular (Cortesia de Jorge da Conceição).
  
A roupa suja-se com o uso, tornando-se necessário proceder à sua lavagem, a fim de remover a sujidade, para que fique limpa.
Em Estremoz, até à vulgarização das máquinas de lavar roupa nos anos 60 do século passado, a roupa suja era lavada em contexto doméstico pela dona da casa ou então por mulheres chamadas “lavadeiras” (1) que a iam buscar a casa das freguesas (2), já acondicionada por estas em taleigos, que eram transportados por burros com cangalhas.
Para não haver risco de confusão, a roupa de cada família era marcada com iniciais, números, estrelas, cruzes, bolas a cheio, etc. Para além disso, a freguesa fazia sempre um rol da roupa que mandava lavar. Dele nos fala a lavadeira Gracinda, magistralmente interpretada por Beatriz Costa (1907-1996) no filme “Aldeia da Roupa Branca”, realizado em 1938 por Chianca de Garcia (1898-1983):
……………………………
Três corpetes, um avental,
Sete fronhas, um lençol,
Três camisas do enxoval,
Que a freguesa deu ao rol.
………………………………

Antes de ser lavada, a lavadeira tinha o cuidado de apartar a roupa por qualidades: branca, de cor, fronhas, lençóis, camisas, camisolas, etc.
A lavagem era efectuada em tanques, lavadouros, celhas, alguidares e mesmo na água corrente de ribeiros, podendo ser feita sem recurso a barrela ou recorrendo a ela.
No primeiro caso, a roupa começava por ser ensaboada em cima de uma lage do ribeiro ou do lavadouro ou de uma tábua de lavar roupa, com a superfície ondulada, apoiada no bordo do tanque, da celha ou do alguidar. A roupa era esfregada com força com os punhos fechados ou recorrendo a uma escova.
Em continuação, a roupa era posta a corar (3), isto é, exposta ao sol sobre a erva ou numa bancada com rede, acabando por branquear por acção do sol. Durante esse período era regada para se manter húmida e não encarquilhar.
Seguidamente, a lavadeira enxaguava a roupa lavada no ribeiro ou num recipiente contendo água limpa, afim de remover todos os resíduos de sabão e de sujidade. Depois, a roupa era torcida e mesmo sacudida, a fim de eliminar a maior quantidade possível de água que a impregnava. Finalmente, a roupa era pendurada num estendal ou esticada sobre a erva, para secar por evaporação, quer pela acção do sol, quer pela do vento. Depois de seca, a roupa era dobrada e espalmada com as mãos, ficando em condições de ser passada a ferro.
Para lavar a roupa com barrela, procedia-se como foi descrito anteriormente até à cora. Depois de ensaboada e esfregada, a roupa era acamada numa vasilha, mantendo todo o sabão que trazia. Seguidamente, punha-se por cima da roupa, um pano forte, contendo cinza peneirada (para não levar carvão), deitando-se por cima água a ferver, a qual originava uma solução alcalina que branqueava a roupa. Esta ficava algumas horas na barrela, após o que era retirada e novamente ensaboada e esfregada, sendo novamente posta a corar. No fim da cora, a roupa era enxaguada, torcida, sacudida e posta a secar.

Publicado inicialmente em 14 de Maio de 2014
  
(1) - A profissão de lavadeira, transmitida geralmente de geração em geração, desapareceu com o aparecimento da água canalizada e com o evoluir da tecnologia, não passando hoje de um registo na nossa memória. Era uma profissão dura e desgastante, dado o elevado número de horas de trabalho, em que eram sobrecarregadas as costas, os rins, os braços e os joelhos. Estes últimos eram, todavia, protegidos por joelheiras para não se ferirem.
(2) - Estas eram senhoras da burguesia ou da classe alta. A roupa era recolhida e trazida lavada, em dia certo da semana e o pagamento era feito à peça.
(3) - O tempo de cora dependia da intensidade da luz solar e da necessidade de branqueamento, tendo em conta a natureza das nódoas.

  

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Companheiros de estrada

Passeio de domingo no Bosque de  Boulogne (1899)
Henri Evenepoel (1872–1899)
Óleo sobre tela (190 × 300 cm)
Musée des Beaux-Arts de Liège 

É bem conhecida a minha postura perante o mundo e a vida, bem como a capacidade de trilhar caminhos com quem pensa de maneira distinta da minha. São aqueles a quem chamo os companheiros de estrada. Naturalmente que aquilo que consigo caminhar com cada um deles é diferente, porque eles são diferentes entre si e ninguém pode impor passos a outro.
Sou um homem livre, sem peias nem albardas no pensamento. Não sigo cartilhas, sejam elas da Rua da Palma, da Soeiro Pereira Gomes, do Largo do Rato, da Rua de S. Caetano ou do Largo do Caldas. Sou um franco-atirador, como gosto de dizer. Prezo muito a amizade e lidar com pessoas com carácter. São factores que para mim, valem mais que quaisquer interesses político-partidários e não se veja aqui da minha parte qualquer formulação axiomática contra os partidos, os quais considero pilares da democracia. Veja-se sim a importância que atribuo à amizade e ao carácter das pessoas. Para mim, a palavra é sagrada e os compromissos assumidos devem ser respeitados. Não se pode fazer como alguns miúdos que quando estão a perder, mudam as regras do jogo. Isso é falta de carácter e ao proceder assim, quem o faz perde credibilidade e fiabilidade em acordos futuros. Quando um companheiro de estrada me impõe passos que eu não queria dar, termina o companheirismo de estrada. Sabem porquê? Gato escaldado, de água fria tem medo”.     



segunda-feira, 5 de maio de 2014

Dom Duarte de Bragança e os Bonecos de Estremoz

Dom Duarte de Bragança durante a sua visita ao stand da CME na FIAPE 2014, tendo à sua direita,
o Presidente da CME, Luís Mourinha e, à sua esquerda, o Presidente da AM, Nuno Rato.
(Fotografia de Maria Miguéns)
  

Visita de Dom Duarte de Bragança À FIAPE 2014
Sua Alteza Real, o Senhor Dom Duarte de Bragança, foi no passado dia 4 de Maio, convidado pelo Município de Estremoz, a integrar a Comissão de Honra da Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Imaterial da Humanidade. O convite ocorreu no decurso da visita efectuada por Dom Duarte à FIAPE 2014 – Feira Internacional de Agropecuária e Artesanato de Estremoz. Aqui chegou cerca das 11 h 30 min, tendo visitado o Pavilhão da Autarquia, onde recebeu os cumprimentos do Presidente da edilidade, Luís Mourinha. Visitou depois a Feira, acompanhado do Presidente da Assembleia Municipal, Nuno Rato, bem como por um grupo de simpatizantes e apoiantes, com os quais almoçou no recinto da Feira cerca das 13 h 30 min.
A presença de Dom Duarte em Estremoz, terminou com uma visita ao Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, a qual foi guiada pelo seu Director, Hugo Guerreiro e que deixou Dom Duarte encantado com a magia irradiante dos Bonecos de Estremoz.
Dado o prestígio nacional e internacional de Dom Duarte de Bragança, um Homem dedicado a causas nobres, a Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Imaterial da Humanidade, sai reforçada e ganha peso com a sua presença na Comissão de Honra.

Notas biográficas de D. Duarte de Bragança
Dom Duarte de Bragança, de seu nome completo, Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança é reconhecido pelo Governo da República como sendo o legítimo herdeiro do trono de Portugal e o Chefe da Casa Real Portuguesa.
Dom Duarte de Bragança frequentou o Colégio Militar, o Instituto Superior de Agronomia e o Instituto de Estudos Africanos, em Genève. Entre 1968 e 1971 cumpriu o serviço militar em Angola como tenente-piloto da Força Aérea Portuguesa. Foi o Presidente da Campanha Timor 87, uma campanha de apoio à independência de Timor-Leste e é Presidente do Grupo Internacional de Reinstalação dos Refugiados do ex-Ultramar Português
D Duarte de Bragança reivindica politicamente a reinstauração da monarquia constitucional em Portugal e com ela o uso dos títulos de: Rei de Portugal, Príncipe Real de Portugal, Infante de Portugal, Príncipe da Beira, Duque de Barcelos, Duque de Bragança, Duque de Guimarães, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, Conde de Barcelos, Conde de Neiva, Conde de Ourém, Grão-mestre da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Grão-mestre da Ordem Equestre e Militar de São Miguel da Ala. É Bailio Grã-Cruz de Honra e Devoção da Ordem Soberana e Militar de Malta e Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro (Áustria).

   
Dom Duarte de Bragança e o Presidente da CME, Luís Mourinha, junto à reconstituição de uma
fonte campestre no stand da CME na FIAPE 2014.  
(Fotografia de Maria Miguéns)