Marcas: ESTREMOZ/PORTUGAL aposta por carimbo (0,8 cm x 2 cm ) e
Liberdade
(Manuscrita). Dimensões (cm): Alt. 14,0; Larg. 7,1; Prof.. 12,6 cm .
Peso (g): 322. Colecção particular
(Cortesia de Jorge da Conceição).
A roupa suja-se com o uso, tornando-se necessário
proceder à sua lavagem, a fim de remover a sujidade, para que fique limpa.
Em Estremoz, até à vulgarização das máquinas de
lavar roupa nos anos 60 do século passado, a roupa suja era lavada em contexto
doméstico pela dona da casa ou então por mulheres chamadas “lavadeiras” (1) que a iam
buscar a casa das freguesas (2), já acondicionada por estas em taleigos, que
eram transportados por burros com cangalhas.
Para não haver risco de confusão, a roupa de cada
família era marcada com iniciais, números, estrelas, cruzes, bolas a cheio,
etc. Para além disso, a freguesa fazia sempre um rol da roupa que mandava lavar. Dele nos fala a lavadeira Gracinda, magistralmente interpretada por
Beatriz Costa (1907-1996) no filme “Aldeia da Roupa Branca”, realizado em 1938
por Chianca de Garcia (1898-1983):
……………………………
Três
corpetes, um avental,
Sete fronhas,
um lençol,
Três camisas
do enxoval,
Que a
freguesa deu ao rol.
………………………………
Antes de ser lavada, a lavadeira tinha o cuidado de
apartar a roupa por qualidades: branca, de cor, fronhas, lençóis, camisas, camisolas, etc.
A lavagem era efectuada em tanques, lavadouros,
celhas, alguidares e mesmo na água corrente de ribeiros, podendo ser feita sem
recurso a barrela ou recorrendo a ela.
No primeiro caso, a roupa começava por ser
ensaboada em cima de uma lage do ribeiro ou do lavadouro ou de uma tábua de
lavar roupa, com a superfície ondulada, apoiada no bordo do tanque, da celha ou
do alguidar. A roupa era esfregada com força com os punhos fechados ou
recorrendo a uma escova.
Em continuação, a roupa era posta a corar (3), isto
é, exposta ao sol sobre a erva ou numa bancada com rede, acabando por branquear
por acção do sol. Durante esse período era regada para se manter húmida e não
encarquilhar.
Seguidamente, a lavadeira enxaguava a roupa lavada
no ribeiro ou num recipiente contendo água limpa, afim de remover todos os resíduos
de sabão e de sujidade. Depois, a roupa era torcida e mesmo sacudida, a fim de
eliminar a maior quantidade possível de água que a impregnava. Finalmente, a
roupa era pendurada num estendal ou esticada sobre a erva, para secar por evaporação,
quer pela acção do sol, quer pela do vento. Depois de seca, a roupa era dobrada
e espalmada com as mãos, ficando em condições de ser passada a ferro.
Para lavar a roupa com barrela, procedia-se como
foi descrito anteriormente até à cora. Depois de ensaboada e esfregada, a roupa era acamada
numa vasilha, mantendo todo o sabão que trazia. Seguidamente, punha-se
por cima da roupa, um pano forte, contendo cinza peneirada (para não levar
carvão), deitando-se por cima água a ferver, a qual originava uma solução
alcalina que branqueava a roupa. Esta ficava algumas horas na barrela, após o que era retirada e novamente
ensaboada e esfregada, sendo novamente posta a corar. No fim da cora, a roupa
era enxaguada, torcida, sacudida e posta a secar.
Publicado inicialmente em 14 de Maio de 2014
(1) - A profissão de lavadeira, transmitida
geralmente de geração em geração, desapareceu com o aparecimento da água
canalizada e com o evoluir da tecnologia, não passando hoje de um registo na
nossa memória. Era uma profissão dura e desgastante, dado o elevado número de
horas de trabalho, em que eram sobrecarregadas as costas, os rins, os braços e
os joelhos. Estes últimos eram, todavia, protegidos por joelheiras para não se
ferirem.
(2) - Estas eram senhoras da burguesia ou da classe
alta. A roupa era recolhida e trazida lavada, em dia certo da semana e o
pagamento era feito à peça.
(3) - O tempo de cora dependia da intensidade da
luz solar e da necessidade de branqueamento, tendo em conta a natureza das
nódoas.
Recordar o trabalho da lavadeira foi muito interessante. A minha avó materna (mãe do meu tio Jacinto) sempre teve lavadeira, que era quase considerada como uma pessoa de família. Era uma senhora muito pobre, que vivia de lavar roupa a diversas freguesas. Quando chegava a casa da minha avó, tomava o o pequeno almoço sentada numa cadeira baixinha ao lume de chão e só depois ia para o tanque no quintal, lavar a roupa. esta tarefa durava uma grande parte do dia, pois a lavagem da roupa exigia muitas voltas.
ResponderEliminarSempre me fez muita confusão a lavagem da roupa no Inverno, em que se criava uma placa de gelo ( caramelo) na água do tanque; a lavadeira partia-a para poder começar a lavar a roupa. As mãos ficavam roxas com o frio e mesmo assim, lavava com toda a genica que podia, dizia-se que era para aquecer!!
Zu:
EliminarObrigado pelo teu comentário. E também pela preciosa informação prestada.
Beijinhos.
Entre os seus muitos afazeres também a minha mãe chegou a lavar roupa para fora como então sem dizia na zona saloia.
ResponderEliminarMas nem sempre o processo de branqueamento das peças brancas era tão higiénico como o atrás descrito. Quando as nódoas eram de gordura ou de certas frutas recorria-se a uma infusão de excrementos de porco ou mesmo de cão. Faziam a mistela e lá enfiavam a roupinha mais badalhoca, esperavam um certo tempo, horas, deixando as enzimas, bactérias e outras bichezas trabalhar. Depois faziam como o atrás foi referido. V.Santos
Vítor:
EliminarObrigado pelo seu comentário e pela preciosa informação prestada.
Os meus cumprimentos.
Recordar faz bem ao ego, mesmo que os tempos sejam "da outra senhora". Obrigados
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ResponderEliminarEste post da lavadeira fez-me recordar os meus tempos de meninice. Grande parte das minhas férias escolares eram passadas com os meus avós em Figueiredo, Amares. As minhas primas iam lavar a roupa ao Rio Cávado, e levavam- nos com elas (eu e meus irmãos). Levavam para comer bacalhau cru, broa, azeitonas e vinho. Nós crianças, merendávamos em conjunto com elas. Comíamos e bebíamos o que acabei de referir. Isso mesmo, até o vinho bebíamos. Todas as semanas, à 5ª feira lá íamos nós, enquanto elas levavam a roupa da família toda, eu e meus irmãos dedicávamo-nos a explorar os arredores do rio, tomávamos banho naquelas águas quentes e transparentes, brincávamos com outras crianças que, tal como nós, acompanhavam os familiares. Recordo que a distância a percorrer para lá chegar era enorme, "cortávamos" caminho pelas bouças de mato, ficávamos com as pernas todas arranhadas das silvas e das ortigas. As minhas primas faziam exatamente o que mencionou sobre as lavadeiras, o processo era exatamente o mesmo. É muito bom recordar esses tempos. Obrigada por estes gratos momentos, porque recordar é (mesmo!) viver.
Ermelinda:
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário e pela preciosa informação prestada.
Volte sempre.
Os meus cumprimentos.
As lavadeiras que recolhiam a roupa nas 2^ feira, tnham compromisso de a entregar à 5^ No Alentejo usavavam os burros para a transportar. Cada lavadeira podia encarregar se de lavar para várias madames.Era de facto uma árdua terefa, sobretudo no Inverno.
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