terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Bonecos de Santo Aleixo

BONECOS DE SANTO ALEIXO

Os Bonecos de Santo Aleixo são títeres tradicionais do Alentejo, originários da aldeia homónima, manipulados por rurais e que outrora percorriam o Alto Alentejo, apresentando os seus espectáculos em herdades, feiras e povoados.
São marionetas de varão, de vinte a quarenta centímetros, manipuladas por cima. Actuam num pequeno palco de madeira com cenários pintados em cartão. O palco dispõe de uma rede dupla de cordéis, colocada verticalmente entre os bonecos e o público. A iluminação é obtida através de candeias de azeite e o acompanhamento musical é feito por uma guitarra portuguesa.
O repertório engloba peças de tradição oral e de teor religioso, assim em como textos da chamada literatura de cordel. Os seus personagens são o Padre Chancas (representante da autoridade eclesiástica) e o Mestre-sala (o mestre de cerimónias que tem uma moca, com a qual castiga ou abraça o Padre, enquanto o mesmo prega.
Existem registos da sua existência já no século XVIII, como refere o Padre Joaquim da Rosa Espanca in “Memorias de Vila Viçosa”, onde relata que em 1798. o Padre Vicente Pedro da Rosa mandara apreender e queimar, defronte da sua casa, uns títeres “a que chamavam de Santo Aleixo e em que figurava desonesta e vilmente um Padre Chanca”.
Em meados do século XIX, foram “reelaborados” os seus textos por um certo Nepomuceno, guarda de herdades e natural de Santo Aleixo. O espectáculo dos bonecos foi mantido posteriormente durante várias décadas por Ti Manel Jaleca, cuja mulher os herdara e seguidamente durante cerca de três décadas por Manuel Talhinhas, camponês com grande poder de improvisação e cantador. Em 1967 conheceram grande divulgação graças à acção de Michel Giacometti e Henrique Delgado. Os bonecos foram adquiridos em 1978 pela Assembleia Distrital de Évora, são propriedade do CENDREV de Évora e estão expostos no Teatro Garcia Resende, nesta cidade. Actores profissionais garantem a permanência do espectáculo, utilizando réplicas, reproduzidas por Joaquim Carriço Rolo, artesão da aldeia da Glória, no concelho de Estremoz.
O repertório dos Bonecos de Santo Aleixo é vasto e inclui as peças: 
- Aldonso e Doroteia 
- Auto da Criação do Mundo 
- Auto do Nascimento do Menino 
- Baile das Cantarinhas 
- Baile dos Anjinhos 
- Baile dos Cágados 
- Confissão da Beata 
- Confissão do Mestre Salas 
- Contradança
- Disputa entre o Sol e a Lua 
- Fado do Senhor Paulo d’Afonseca e da Menina Vergininha 
- Filomena e Zeferino 
- O Lará 
- Os Martírios do Senhor (Auto da Paixão) 
- Passo do Barbeiro 
- Saiadas (bailinho) 
- Sermão do Padre Chancas 
A fama dos Bonecos de Santo Aleixo transvazou o nosso país, uma vez que têm participado em certames internacionais, um pouco por todo o lado: Alemanha, Bélgica, Brasil, China, Espanha, França, Grécia, Holanda, Índia, Inglaterra, Macau, México, Moçambique, Rússia e Tailândia.
Os Bonecos de Santo Aleixo são anfitriões da Bienal Internacional de Marionetas de Évora – BIME que se realiza desde 1987.
Graças à acção do CENDREV está assegurado a continuidade dos Bonecos de Santo Aleixo como forma de expressão artística genuinamente alentejana.




BONECOS DE SANTO ALEIXO - 1 (De CENDREV)

BONECOS DE SANTO ALEIXO - 2 (De CENDREV)


BONECOS DE SANTO ALEIXO SÃO ANFITRIÕES DA BIENAL DE MARIONETAS DE ÉVORA  (De LUÍS GARCIA)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ladrões!

Imagem recolhida com a devida vénia do website
ACTIVISMO DE SOFÁ - http://www.ativismodesofa.net/


Como funcionário público aposentado, estou revoltado com governos PS e PSD, com ou sem CDS em conúbio, que gastaram à tripa forra, sem que estivessem mandatados ou tivessem dinheiro para tal.
O expoente máximo da loucura, foi José Sócrates.
Só uma atitude é possível: o direito legítimo à insurreição. Há que lhes fazer a folha.
Cumprindo as regras em vigor, nós descontámos para vir a receber mais tarde. É património nosso. Não podemos ser vítimas de loucos, que abusando do poder e para satisfação de clientelas pessoais, gastaram o dinheiro que não era deles.
Até ser feita justiça, o mínimo que podemos fazer, é denunciá-los e chamar-lhes:
- LADRÕES!


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Fuga de Peniche

VER (1ª metade do Século XVIII). Painel de azulejos (142 cm x 142 cm) representando
dama com espelho e telescópio. Colecção Berardo.

Homenagem
Passam hoje 54 anos sobre a famosa fuga do Forte de Peniche, uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo, protagonizada a 3 de Janeiro de 1960 por Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho. Esta fuga, uma das mais espectaculares evasões de toda a história do fascismo, marca o início do exílio de Álvaro Cunhal até ao 25 de Abril. No encerramento das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal (1913-2013), político e Homem de Cultura, repesquei um texto meu, editado no Facebook, a 29 de Outubro de 2012. É a minha singela homenagem aqueles que com coragem e firmeza souberam dizer não à besta fascista. Como diz Manuel Alegre, na Trova do Vento que passa:

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Um Homem nunca se rende
Fuzilando o cristalino espelho que reflecte majestaticamente a sua presunçosa figura, a dama oitocentista com as mamas empinadas por cingido colete e arrastando pelo chão o frou-frou das sedas daquele vestido à Maria Antonieta, interroga o espelho como se fosse um qualquer inspector Casaca da António Maria Cardoso:
- Espelho meu! Espelho meu! Haverá alguém mais belo do que eu?
Para desespero da dama, o espelho não responde. Era essa a postura dos heróicos resistentes que nos negros tempos da outra Senhora, se recusavam a responder quando torturados. Por mim, ainda hoje digo:
- Um Homem nunca se rende. Mesmo de fato e gravata.


sábado, 28 de dezembro de 2013

48 - Terrina de Estremoz


 Terrina (Anos 60 do séc. XX).
Olaria Alfacinha.
Colecção particular.


Estamos em presença de uma terrina de secção circular com pegas laterais relevadas. Bojo saliente com plissado entre as pegas.  Pé recuado, de inflexão para o exterior. Tampa de encaixe com plissado no bordo, encimada por tufo de folhas donde emergem quatro flores com caule de arame, à semelhança do que acontece nas tampas das cantarinhas e dos pucarinhos. A terrina tem tampa e está assente num prato de forma circular, raso, de covo pouco acentuado.
Tanto o interior da terrina, como o da tampa ou o fundo do prato não se encontram pintados, revelando que o conjunto é todo ele, de barro vermelho. Trata-se de uma peça manufacturada no torno e posteriormente submetida a secagem, seguida de decoração com pigmentos minerais, completada por envernizamento, a qual tem funções meramente ornamentais.
No que respeita à decoração, a parte superior do bojo ostenta fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. Já a parte inferior do bojo e as asas têm fundo zarcão. Na zona de inflexão do pé, a decoração é vegetalista, estilizada, a verde bandeira. O bojo apresenta um plissado tricolor, semelhante ao das cantarinhas e dos pucarinhos, com fundo amarelo no qual se dispõem paralela e alternadamente, faixas em zarcão e em verde bandeira. A tampa pompeia fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. O bordo é em zarcão, encimado por plissado semelhante ao do bojo. O tufo de folhas é em verde bandeira. As flores apresentam quatro pétalas em cores diferentes: amarelo, zarcão, azul e verde, qualquer delas pintalgadas. O prato tem fundo azul-turquesa, ornamentado na orla do rebaixo com um filete simples, em zarcão. 
Em termos dimensionais (cm) as características são as seguintes: - TERRINA: altura total – 28,5; altura sem tampa – 17; altura da tampa – 15; diâmetro do fundo – 17,8; diâmetro do bojo – 22,5; diâmetro exterior da abertura – 14; diâmetro interior da abertura – 12,5; diâmetro exterior da tampa – 15; - PRATO: diâmetro exterior da aba – 27; diâmetro do fundo – 18.
No que respeita a peso (g), as características são: - TERRINA – 1277g; - TAMPA: 756 g; - PRATO: 1206 g.
No verso da terrina, encontra-se gravada a marca OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL, com o texto distribuído por três linhas, com as dimensões de 2,5 cm x 4,5 cm. A mesma marca aparece estampada duas vezes no fundo do prato em que se apoia a terrina.
As terrinas eram fabricadas na Olaria Alfacinha nos anos 60 do século XX e eram decoradas por Maria José Cartaxo, mulher de Caetano da Conceição. Trata-se de artefactos mais raros que a cantarinha, o pucarinho e o candelabro, que dão para arregalar a vista e aquecer o coração.

Terrina de Estremoz


A barrística popular estremocense causa-nos surpresas a todo o momento. No nosso caso, que não somos propriamente virgens nestas andanças, para além dos “brincos” (brinquedos), conhecíamos apenas uma tríade de peças de grandes dimensões, modeladas na roda e decoradas com as cores garridas dos bonecos de Estremoz. Eram elas: a cantarinha, o pucarinho e o candelabro, nos seus três formatos: pequeno, médio e grande. Todavia a tríade, transformar-se-ia em quaterno, graças à aquisição recente no Mercado das Velharias, em Estremoz, de uma peça com tipologia similar.  Trata-se de uma terrina com tampa e assente num prato. Quer o interior da terrina, quer o da tampa ou o fundo do prato não se encontram pintados, revelando que o conjunto é todo ele, de barro vermelho. Sob o ponto de vista do material, podemos dizer assim que se trata de uma peça de barro vermelho, decorada no exterior. Tecnicamente é uma peça manufacturada no torno e posteriormente submetida a secagem, seguida de decoração com pigmentos minerais, completada por envernizamento. A terrina não se destina assim a desempenhar a usual função de uma terrina, que é a de levar a sopa ou o caldo á mesa da refeição. Trata-se de uma terrina com funções meramente decorativas, a expor numa vitrina, num aparador ou num centro de mesa.
Em termos dimensionais (cm), a peça tem as características que passo a quantificar. Começando pela terrina: altura total – 28,5; altura sem tampa – 17; altura da tampa – 15; diâmetro do fundo – 17,8; diâmetro do bojo – 22,5; diâmetro exterior da abertura – 14; diâmetro interior da abertura – 12,5; diâmetro exterior da tampa – 15. Quanto ao prato: diâmetro exterior da aba – 27; diâmetro do fundo – 18.
No que respeita a peso (g), a peça tem as características seguintes: terrina – 1277g; tampa – 756 g; prato – 1206 g.
Em termos descritivos, trata-se de uma terrina de secção circular com pegas laterais relevadas. Bojo saliente com plissado entre as pegas.  Pé recuado, de inflexão para o exterior. Tampa de encaixe com plissado no bordo, encimada por tufo de folhas donde emergem quatro flores com caule de arame, à semelhança do que acontece nas tampas das cantarinhas e dos pucarinhos. Terrina assente num prato de forma circular, raso, de covo pouco acentuado. 
Quanto à decoração, a parte superior do bojo ostenta fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. Já a parte inferior do bojo e as asas têm fundo zarcão. Na zona de inflexão do pé, a decoração é vegetalista, estilizada, a verde bandeira. O bojo apresenta um plissado tricolor, semelhante ao das cantarinhas e dos pucarinhos, com fundo amarelo no qual se dispõem paralela e alternadamente, faixas em zarcão e em verde bandeira. A tampa pompeia fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. O bordo é em zarcão, encimado por plissado semelhante ao do bojo. O tufo de folhas é em verde bandeira. As flores apresentam quatro pétalas em cores diferentes: amarelo, zarcão, azul e verde, qualquer delas pintalgadas. O prato tem fundo azul-turquesa, ornamentado na orla do rebaixo com um filete simples, em zarcão. 
No verso da terrina, encontra-se gravada a marca OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL, com o texto distribuído por três linhas, com as dimensões de 2,5 cm x 4,5 cm. A mesma marca aparece estampada duas vezes no fundo do prato em que se apoia a terrina. Esta marca permite-nos concluir que se trata de uma peça da barrística popular estremocense, manufacturada na Olaria Alfacinha. A nosso ver, aquela marca, de dimensões razoáveis, era usada exclusivamente nas peças de olaria decoradas com as mesmas cores garridas dos bonecos de Estremoz e que como tal não foi contemplada no estudo “Bonecos de Estremoz / Marcas de Autor da Família Alfacinha / 1934-2012”, da autoria de Hugo Guerreiro e dada à estampa nos “Cadernos de Estremoz nº 3, editados pelo Município, em 2012.  
O historial da peça é singelo. Segundo Maria Inácia Fonseca Mateus, uma das Irmãs Flores, estas peças eram fabricadas na Olaria Alfacinha nos anos 60 do século XX e eram decoradas por Maria José Cartaxo, mulher de Caetano da Conceição. Segundo ela não terão sido produzidas muitas peças e lembra-se de ter havido encomendas da Embaixada Inglesa, em Lisboa. Trata-se assim de uma peça decorativa, mais rara que a cantarinha, o pucarinho e o candelabro. Uma peça que dá para arregalar a vista e aquecer o coração.