domingo, 1 de março de 2015

Efemérides de Abril (Nova versão)

30 de Abril
A 30 de Abril de 1974, chega ao Aeroporto da Portela, em Lisboa, depois de 14
anos de exílio no Leste, o secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal (1913-2005),
acompanhado por Domingos Abrantes e a companheira Conceição Matos.
29 de Abril
A 29 de Abril comemora-se o Dia Internacional da Dança, instituído em 1982 pelo
Conselho Internacional da Dança (CID), entidade criada sob a égide da Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A data foi escolhida
para recordar o nascimento do coreógrafo francês Jean-Georges Noverre (1727-1810),
um dos pioneiros da dança moderna, com o objectivo de celebrar esta arte e mostrar
a sua universalidade, para além das barreiras políticas, éticas e culturais.
28 de Abril
A 28 de Abril de 1855, nasce em Caldas da Rainha, o pintor, desenhador e professor
de Belas Artes, José Malhoa (1855-1933), pioneiro do Naturalismo em Portugal e um
dos pintores portugueses que mais se aproximou do Impressionismo. Das suas obras
mais famosas, destacamos “Os Bêbados” (1907), “O Fado” (1910) e “Praia das Maçãs”
(1918). FADO (1910). José Malhoa. Óleo sobre tela (150 x 183 cm), pertença do Museu
da Cidade e actualmente exposto no Museu do Fado, em Lisboa.
27 de Abril
A 27 de Abril de 1521, Fernão de Magalhães (1480-1521), que se notabilizou por ter
organizado a primeira viagem de circum-navegação, morre em combate na Ilha de
Mactan nas Filipinas. Retrato anónimo de Fernão de Magalhães (séc. XVI ou XVII).
The Mariner's Museum Collection, Newport, USA.
26 de Abril
A 26 de Abril comemora-se o Dia Nacional do Utente de Saúde.
25 de Abril
A 25 de Abril de 1974 verifica-se o derrube da ditadura mais velha da Europa –
o regime de Salazar e de Caetano - graças à acção militar coordenada do
Movimento das Forças Armadas – MFA, cuja origem remonta ao clima de
instabilidade no interior das próprias forças armadas, particularmente do
Exército, instabilidade essa que se manifestou em meados de 1973, com o
surgimento do denominado Movimento dos Capitães, o qual aglutinava oficiais
de média patente, insatisfeitos com as suas remunerações e com a perda de
prestígio da oficialidade do quadro permanente, bem como com a Guerra
Colonial, que desde 1961 ou seja há 13 anos, se arrastava em 3 frentes,
sem se antever uma solução política para a mesma, bem como pela
previsibilidade de uma derrota militar eminente.
24 de Abril
A 24 de Abril, comemora-se o Dia Mundial do Animal de Laboratório. A data,
reconhecida pelas Nações Unidas, pretende ser um alerta para o sofrimento de
milhões de animais usados diariamente em pesquisas por todo o mundo. O recurso
a animais em laboratórios ocorre principalmente nos domínios da investigação
médica e farmacêutica, no ensino, e antecede quase sempre o lançamento de
novas substâncias no mercado.
23 de Abril
A 23 de Abril, comemora-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor,
visando promover o prazer da leitura, a publicação de livros e a protecção
dos direitos de autor. A efeméride foi criada na XXVIII Conferência Geral da
UNESCO que ocorreu entre 25 de Outubro e 16 de Novembro de 1995.
22 de Abril
 A 22 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Terra. A efeméride foi criada em
1970, pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, após verificar as
consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido
em 1969. Desenvolveu então esforços para conseguir colocar o tema da
preservação da Terra na agenda política norte-americana, pelo que convocou
primeiro protesto nacional contra a poluição da Terra. O povo norte-americano
aderiu massivamente e mais de 20 milhões de pessoas manifestaram-se a favor
da preservação da Terra e do ambiente. Em 2009, a ONU reconheceu a importância
da data e instituiu o Dia Mundial da Terra. Neste dia, milhões de cidadãos em todo
o mundo manifestam o seu compromisso na preservação do ambiente e da
sustentabilidade da Terra.
21 de Abril
A 21 de Abril de 1500, a armada de Pedro Álvares Cabral (1467/68-1520) chega
a terras de Vera Cruz. DESEMBARQUE DE PEDRO ÁLVARES CABRAL EM PORTO
SEGURO EM 1500 (1922). Oscar Pereira da Silva (1865/1867 - 1939). Óleo sobre
tela (190 × 330 cm).  Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
20 de Abril
A 20 de Abril assinalava-se a comemoração do “Dia Nacional do Turista”,
data instituída em 1966 e que marcava o arranque de um vasto programa
de animação associado ao slogan “Abril em Portugal”. A efeméride foi
comemorada até 1979. No ano seguinte haveria de se começar a assinalar
o Dia Mundial do Turismo instituído pela Organização Mundial do Turismo
em 27 de Setembro. Em Estremoz, existe o Museu Municipal Professor Joaquim
Vermelho, com colecções de forte componente etnográfica, muito em especial
de Bonecos e Olaria de Estremoz. Ali se pode observar também a reconstituição
de uma casa típica alentejana, bem como uma colecção de arqueologia composta
por estelas funerárias medievais e peças que vão do calcolítico à romanização.
É um  Museu que é ponto de visita obrigatória para turistas nacionais e estrangeiros.
19 de Abril
Por Decreto de D. Pedro V, datado de 19 de Abril de 1860, Setúbal é elevada à
categoria de cidade. Na base do decreto esteve petição da Câmara Municipal de
Setúbal ao Rei, justificando essa necessidade com o desenvolvimento económico
e social do séc. XIX. GRAVURA ANTIGA DE SETÚBAL.
18 de Abril
A 18 de Abril celebra-se o “Dia Internacional dos Monumentos e Sítios”, instituído
em 1982 pelo ICOMOS - International Council of Monuments and Sites  e aprovado
pela UNESCO no ano seguinte. A partir de então, esta efeméride tem vindo a oferecer
a oportunidade de aumentar a consciência pública relativamente à diversidade do
património e aos esforços necessários para a sua protecção, conservação, chamando a
atenção para a sua vulnerabilidade. PRIMITIVA CASA DA CÂMARA DE ESTREMOZ – Segundo
Túlio Espanca (1913-1993), tem uma antiguidade que remonta ao 1.º terço do séc. XIV.
17 de Abril
A 17 de Abril de 1492, Cristóvão Colombo (1451-1506) assina o contrato com os
Reis Católicos de Espanha para a constituição de uma armada que permita a
chegada à Índia, por mar, seguindo para Ocidente.  
16 de Abril
 A 16 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Voz. O Dia Mundial da Voz foi
comemorado, pela primeira vez, em 2003, por sugestão de Mário Andrea,
professor de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, na
primeira reunião da Sociedade Europeia de Laringologia, à qual presidiu.
CANTORA LÍRICA LUÍSA TODI (1753-1833).
15 de Abril
 
A 15 de Abril de 1516, Isabel de Aragão (1270-1336), esposa de el-Rei D. Diniz
(1261-1325) é beatificada por Leão X (1475-1521), com autorização de culto
circunscrito à Diocese de Coimbra. A Rainha falecera no Castelo de Estremoz,
com 66 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1336, de uma doença súbita surgida
quando se dirigia para a raia em missão de apaziguamento entre o filho,
D. Afonso IV (1291-1357) e o neto, Afonso XI de Castela (1311-1350).
As virtudes da Rainha, mais tarde considerada Santa, estiveram na origem
da sua beatificação. Em 1556, o papa Paulo IV (1476-1559) torna extensiva
a devoção isabelina a todo o Reino de Portugal. Seria o papa Urbano VIII
(1568-1664), dada a incorrupção do corpo e o relato dos milagres, quem
proclamaria em 1625, a canonização de Isabel de Aragão como Rainha Santa.
RAINHA SANTA ISABEL – Aguarela sobre papel da autoria de Alberto de Souza
(1880-1961). Colecção particular.
14 de Abril
A 14 de Abril de 2005, abre as portas ao público, com concertos do grupo
portuense Clã e do norte-americano Lou Reed, a Casa da Música, no Porto,
obra do arquitecto holandês Rem Koolhaas. A inauguração oficial ocorreria
no dia seguinte, com a presença de Jorge Sampaio.
13 de Abril
A 13 de Abril de 1846, no decurso das comemorações do 27.º aniversário de
D. Maria II (1819-1853) é inaugurado em Lisboa, o Teatro Nacional de D. Maria II,
criado por Almeida Garrett (1799-1854). Na inauguração, foi apresentado o
drama histórico em cinco actos “O Magriço e os Doze de Inglaterra”, original
de Jacinto Aguiar de Loureiro (1806-1859).
12 de Abril
A 12 de Abril de 1774 é instituída a Diocese de Aveiro pelo Papa Clemente XIV
(1705-1774), através da publicação do breve “Militantis Ecclesiae gubernacula”,
após D. José I (1714-1777) ter feito diligências nesse sentido. O seu território
ficava destacado da Diocese de Coimbra e sufragâneo da Arquidiocese de Braga.
O breve emitido pelo papa foi finalmente executado em 24 de Março de 1775,
ficando o rei com o direito de padroado. A catedral foi instalada na igreja da
Misericórdia e, mais tarde, na igreja que fora do recolhimento de S. Bernardino.
SÉ DE AVEIRO
11 de Abril
A 11 de Abril de 1357, nasce D. João I (1357 -1433), que viria a ser o décimo
Rei de Portugal e o primeiro da Dinastia de Avis, cognominado “O de Boa
Memória” pelo legado que deixou. D. João I – quadro de autor anónimo da
primeira metade do século XV, da escola flamenga, pintado sobre madeira.
Kunsthistoriches Museum, Viena.
10 de Abril
A 10 de Abril de 1876 é fundada a Caixa Geral de Depósitos, na dependência da
Junta de Crédito Público, com a finalidade essencial de recolha de depósitos
obrigatórios constituídos por imposição da lei ou dos tribunais. SEDE DA CAIXA
GERAL DE DEPÓSITOS – LISBOA (Pormenor da fachada principal Norte).
Projecto do arquitecto Arsénio Raposo Cordeiro (1940-2013).
9 de Abril
A 9 de Abril de 1942, nasce Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), músico e
cantor, um dos mais importantes e significativos intérpretes do fado de Coimbra
e da chamada “canção de intervenção”. A sua discografia está assim distribuída
- ÁLBUNS: Adriano Correia de Oliveira (LP, 1967); O Canto e as Armas (LP, 1969);
Cantaremos (LP, 1970); Gente de aqui e de agora (LP, 1971); Que nunca mais
(LP, 1975); Cantigas Portuguesas (LP, 1980). - COMPILAÇÕES: Fados de Coimbra
(1973); Memória de Adriano (1982); Fados e baladas de Coimbra (1994); Obra
Completa (1994); Vinte Anos de Canções (1960-1980) (2001); Obra completa
(2007). - SINGLES E EP’S: Noite de Coimbra (EP, 1960); Balada do Estudante
(EP, 1961); Fados de Coimbra (EP, 1961); Fados de Coimbra (EP, 1962);
Trova do vento que Passa (EP, 1963); Adriano Correia de Oliveira (EP, 1964);
Elegia (EP, 1967); Adriano Correia de Oliveira (EP, 1968); Rosa de Sangue
(EP, 1968); Cantar de Emigração (EP, 1971); Trova do Vento Que Passa nº2
(EP, 1971); Lágrima de Preta (EP, 1972); Batalha de Alcácer-Quibir (EP, 1972);
O Senhor Morgado (EP, 1973); A Vila de Alvito (EP, 1974); Para Rosália (EP, 1976);
Notícias de Abril (Single, 1978).
8 de Abril
A 8 de Abril de 1153, D. Afonso Henriques (1109-1185), “ O Conquistador”, doa a Bernardo
de Claraval e à Ordem de Cister um vasto território de 44 mil hectares. Se, por um lado,
era necessário ocupar e povoar os territórios recém-conquistados, por outro era também
necessário favorecer religiosamente a causa do auto-proclamado Rei de Portugal. O Abade
de Claraval, segundo Herculano, era uma das figuras mais eminentes da sua época, sendo
extremamente popular e ainda altamente influente em matérias públicas, especialmente
aquelas ligadas à Religião. Compreende-se assim o simbolismo da doação no contexto da
política de consolidação da Independência de Portugal por D. Afonso Henriques. MOSTEIRO
DE ALCOBAÇA - Classificado Património da Humanidade pela UNESCO em 1989, o imponente
mosteiro é um dos mais impressionantes e belos testemunhos da arquitectura de Cister em
toda a Europa.  Fundado por D. Afonso Henriques, nasceu da doação das terras de Alcobaça
à Ordem de Cister por ter vencido os mouros na conquista de Santarém.
7 de Abril
A 7 de Abril de 1263, os restos mortais de Santo António de Lisboa (1195-1231) são
transferidos para a Basílica de Santo António, em Pádua. SANTO ANTÓNIO – Pormenor
do Retábulo de Santa Clara (305 x 178 cm), atribuído a João de Ruão / Oficina de
Coimbra (1540 – 1550). Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra.
6 de Abril
A 6 de Abril de 1384 ocorre a batalha dos Atoleiros, entre as forças portuguesas,
comandadas por D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) e uma expedição punitiva
castelhana, enviada por D. João I de Castela (1358-1390). O Condestável do Reino
tinha sob o seu comando uma força de 1.500 homens de pé, dos quais 100 besteiros e
300 lanças (cavalaria ligeira e pesada). As forças castelhanas contavam com um efectivo
com 5.000 homens. Portugal venceu esta importante batalha, que deu um forte
contributo para a independência nacional. O combate foi breve, graças à utilização
da táctica do quadrado, que permitiu a vitória dos portugueses apesar da sua
inferioridade numérica. BATALHA DOS ATOLEIROS (1966). Fresco (3,35 m x 6,73 m)
de Jaime Martins Barata (1899-1970) no Palácio de Justiça de Fronteira.
5 de Abril
Por Alvará de 5 de Abril de 1768, durante o Governo do Marquês de Pombal
(1699-1782), é criada a Real Mesa Censória, com o intuito de transferir das
mãos da Igreja para o controlo directo do Estado, a censura dos livros e
publicações consideradas perturbadoras em matéria religiosa, política e civil 
que dessem entrada em Portugal ou que se pretendessem publicar ou divulgar
no Reino, função esta que até aqui cabia à Inquisição, aplicando penas
pecuniárias e corporais contra os que transgredissem as regras. Na prática,
a Real Mesa Censória tinha, como principal objectivo, examinar as obras que
circulassem pelo Reino e proceder a uma escolha daquelas que, em Portugal,
poderiam ser lidas sem ameaça de prejuízo para a política do Marquês.
4 de Abril
A 4 de Abril de 1992, morre, em Santarém, o tenente-coronel Salgueiro Maia
(1944-1992), um dos principais capitães intervenientes na Revolução do 25 de
Abril de 1974. Comandou a coluna que saiu de Santarém em direcção a Lisboa,
ocupou o Terreiro do Paço e cercou o quartel do Carmo, onde se havia refugiado
o Dr. Marcelo Caetano (1906-1980), Presidente do Conselho de Ministros do Estado
Novo. 
3 de Abril
A 3 de Abril de 1994, morre, em Lisboa, no Hospital de S. Francisco de Xavier,
Agostinho da Silva (1906-1994), filósofo, poeta e ensaísta, considerado um dos
principais intelectuais portugueses do século XX.
2 de Abril

A 2 de Abril comemora-se O Dia Internacional do Livro Infantil,  por iniciativa do
Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens, que em Portugal é
representado pela Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil.
A efeméride foi criada em 1967, para homenagear o escritor dinamarquês Hans
Christian Andersen (1805-1875), autor de algumas das histórias para crianças
mais lidas em todo o mundo, cujo aniversário do nascimento é assinalado a 2
de Abril. SENHORA DO MAGNIFICAT (1481). Sandro Boticelli (1445-1510).
Tempera sobre madeira (diâmetro: 118 cm). Galleria degli Uffizi, Florence.
1 de Abril
A 1 de Abril comemora-se o Dia Mundial das Aves. PORMENOR DO PÁSSARO.
CUSTÓDIA DE BELÉM (SÉC. XVI). Gil Vicente (c. 1465 - c. 1536?). Ouro,
esmaltes e vidro em ronde basse. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pedalar é preciso

Foto recohida no grupo de Facebook “Massa crítica Lisboa”.

A circulação automóvel nas cidades constitui a principal fonte de poluição atmosférica, a qual tem efeitos nocivos na saúde em geral e na saúde respiratória em particular. Para além disso, a poluição atmosférica contribui para o chamado “efeito de estufa”, que se traduz no aquecimento global do planeta. Este tem consequências negativas: - alterações climáticas a nível mundial e a extinção de determinadas espécies de fauna e de flora; - fusão de gelo das calotes polares, que se traduz na subida do nível médio do mar, o qual determinará uma total reconfiguração dos continentes, tal como os conhecemos na actualidade; - aumento da frequência de catástrofes naturais (tufões, furacões, inundações, períodos longos de seca), que afectarão a produção agrícola a nível global, prejudicando o fornecimento de alimentos às populações.
Face ao panorama anterior, a consciência cívica de um número cada vez maior de jovens e adultos, tornou-os eco-militantes, levando-os a adoptar a bicicleta como meio de transporte nas cidades. Para além de ser um veículo amigo do ambiente, a bicicleta permite fugir aos engarrafamentos de trânsito, bem como evitar longas esperas de transportes públicos, assim como ultrapassar a dificuldade e o custo do estacionamento automóvel. De resto, a utilização da bicicleta é benéfica, uma vez que tonifica os músculos e facilita a circulação sanguínea, o que traz vantagens cárdio-respiratórias.
A necessidade de os ciclistas fazerem valer os seus direitos, levou-os a criar a chamada “massa crítica (bicicletada)”. Esta é um evento que assume a forma de um passeio auto-organizado e independente, de periodicidade mensal, no qual um grupo de ciclistas passeia numa determinada cidade. Não se trata de uma prova desportiva, nem de uma manifestação. Trata-se simplesmente de um percurso pela cidade, o qual não carece de qualquer pedido de autorização para se realizar, tal como acontece com os automóveis que se deslocam em fila.
A massa crítica visa: - afirmar o direito dos ciclistas à estrada; - divulgar as vantagens de utilização da bicicleta como meio de transporte vantajoso nas cidades; - alertar para a necessidade de mudanças no espaço urbano para melhor acomodar os ciclistas.
A massa crítica integra não só ciclistas, como skatistaspatinadores e pessoas com veículos de propulsão humana. Em geral, ocorre na última sexta-feira de cada mês, a partir das 18 horas, embora nalgumas localidades ocorram noutro dia e com outro horário.

Publicado inicialmente a 25 de Fevereiro de 2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Morreu António Canoa, artesão da ruralidade

António Canoa (1926-2015)

Morreu no passado dia 7 de Fevereiro, na freguesia de São Lourenço de Mamporcão, António Canoa, antigo abegão, artesão da ruralidade, poeta popular, ex-autarca e figura muito querida da população local.


Tinha o destino marcado
António Henrique Canoa era natural de Veiros, onde nasceu a 4 de Julho de 1926, filho de Henrique António Canoa e de Maria da Ascensão Zagalo. Seu pai era moiral de parelhas na Quinta do Leão e sua mãe era doméstica. Era o filho mais velho de cinco filhos do casal e casado com Maria Catarina Surra Canoa, doméstica, de quem teve uma filha, Maria Ana Silveira Canoa Monteiro.
Quando acabou a instrução primária aos 13 anos, começou a trabalhar como aprendiz de abegão, tendo como Mestre seu tio e padrinho, Miguel Lopes, que trabalhava no Monte da Sofia, em Veiros, pertencente à Casa Agrícola José de Matos Cortes.
Desde miúdo que o António se entretinha na oficina do tio, mostrando interesse e apetência pelo trabalho deste, a quem procurava imitar, brincando. O tio desde sempre disse:
- Hás-de ser carpinteiro como eu!
E assim foi. Cumpriu-se a profecia. Como diz o fado, o António “Tinha o destino marcado".
Seu tio, foi igualmente seu Mestre dos 13 aos 17 anos, período durante o qual decorreu uma aprendizagem gratuita, já que os aprendizes tinham que pagar aos Mestres para poderem aprender o ofício. O tirocínio decorreu durante dois anos no Monte da Sofia e outros dois num casão em Veiros. Foram quatro anos durante os quais aprendeu, trabalhando sem receber e a seco, tal como o Mestre, seu tio. Era um trabalho de sol a sol, incluindo os sábados, só descansando aos domingos, o que por vezes, só era concretizado na parte da tarde.
Quando terminou o aprendizado, começou a trabalhar como abegão, conjuntamente com quatro companheiros, para Dona Judite Cortes Maldonado, no Monte Novo, Freguesia de Santo Amaro, em Sousel. O trabalho era também de sol a sol. Recebia um ordenado de 6$00 por dia, a comida era à conta da patroa, que também disponibilizava um casão para servir de dormitório.
Aos 18 anos foi para a tropa, tendo permanecido ano e meio em Caçadores 8, em Elvas. Quando saiu da vida militar, esteve quase um ano desempregado, até que foi para a Herdade do Montinho, em São Bento de Ana Loura, trabalhar como abegão para o lavrador José de Matos Cortes. Ao todo eram cinco companheiros.
Trabalhou lá seis anos, sempre de sol a sol e aos sábados. O salário era 13$50 por dia, mais a comida. Quando de lá saiu, esteve quase um ano sem trabalhar, tirando um mês em que laborou como carpinteiro de cofragens, nas obras do Colégio de São Joaquim, em Estremoz. Seguidamente foi trabalhar como abegão para a Quinta do Leão, de D. Duarte Borges Coutinho. Aí tinha mais cinco companheiros a trabalhar consigo. Ganhava então 120$00 por mês, mais as comedorias mensais: cerca de 40 Kg de farinha para fazer pão, 15 queijos, azeite, linguiça, farinheira e toucinho que lá iam dando para as necessidades. Por ano, tinha ainda direito a duas carradas de lenha e podia semear para si, oito alqueires de aveia, dois de grão e um de favas.
Esteve na Quinta do Leão até 1962, ano em que foi para Évora, trabalhar para a construção civil, sector onde trabalhou também em Estremoz e Portalegre, por conta de vários construtores civis, sempre na procura de melhores condições de vida, até se reformar em 1991, com 65 anos de idade e 36 anos de trabalho de sol a sol, pois a vida era madrasta.
Actividade cívica
Pela sua postura, pela sua capacidade de empreendimento e de liderança cívica, António Canoa, foi sempre uma figura muito respeitada, não só em Veiros, como igualmente em S. Lourenço, para onde foi morar e onde vivia. De tal modo, que Jorge Maldonado, Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1971-1974), o forçou contra sua vontade, a integrar a Junta de Freguesia, antes do 25 de Abril.
Lutador antifascista, participou em 1958 na campanha do General Humberto Delgado para a Presidência da República e nessa condição foi incomodado pela GNR. Quando Abril nos abriu as portas, o Partido Comunista foi o partido que escolheu com a sua vivência e o seu coração.
Por granjear o respeito e a estima da maioria dos seus conterrâneos, foi eleito pela CDU por duas vezes, sendo Presidente da Junta nos mandatos de 1977-1982 e de 1990-1993 e, ainda em vida, por decisão democrática dos seus conterrâneos, passou a ter na freguesia uma rua com o seu nome.
Balanço de uma vida
Fazendo um balanço da vida de António Canoa, é caso para dizer que aos 17 anos era já um abegão de corpo inteiro e nessa condição começou a trabalhar de sol a sol, para as grandes casas agrícolas do concelho de Estremoz. Da destreza das suas mãos nasceram carros, carroças e trens para o transporte de bens e pessoas, assim como alfaias agrícolas como arados e araveças, bem como trilhos, grades, pás, forquilhas, escadas, malhos, cangalhas, etc., etc. As matérias-primas eram o azinho, o freixo, o eucalipto e o choupo, que as suas mãos afeiçoavam com o auxílio de serras, machados, enxós, formões, martelos, arpoas e trados. E como abegão era um artista no sentido mais completo do termo. As suas obras eram decoradas com tintas confeccionadas com cores minerais já utilizadas pelos artistas rupestres de Lascaux e Altamira no Paleolítico, mas aqui diluídas em óleo e secante. O almagre, o zarcão, o azul do Ultramar e a terra de Sena, marcas identitárias das claridades do Sul, estavam sempre presentes no remate de obras nascidas das suas mãos mágicas de carpinteiro das grandes herdades.
Depois de se reformar, a ruralidade que continuava a transportar na alma e os bichos carpinteiros que lhe iam na massa do sangue, levaram-no a confeccionar numa escala reduzida, miniaturas de tudo aquilo que lhe saiu das mãos em tamanho natural e que cumpria as missões para que foi criado, nas fainas agro-pastoris da primeira metade do século XX e mesmo mais além.
Foram essas miniaturas que António Canoa, ex-abegão e artesão da ruralidade, residente em São Lourenço de Mamporcão, em 2012 mostrou ao público na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana, no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz. Foi uma Mostra importante, não só pelo deleite da nossa vista, como pela importância de que se revestiu o facto de ela refrescar a memória do Alentejo do passado, das vivências e sentires da gente do campo.
António Canoa presente
António Canoa partiu. Todavia, perdurará nas nossas memórias e nos nossos corações, a lembrança do grande homem que foi e inevitavelmente uma grande saudade. Fica a sua obra de excepcional artesão da ruralidade. Trata-se de uma obra digna de figurar num museu antropológico que perpetue a sua memória e a memória dos campos. O mesmo há a dizer da sua oficina de abegão, a qual deverá ser preservada e divulgada. Assim haja coragem e clarividência para o fazer.

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

19 - Uma questão de nomenclatura


 
Pastor debaixo da árvore (1948).
Mariano da Conceição (1903-1959).
Museu Rural de Estremoz.

Em crónica anterior (18 – Pastor das migas) referi-me a uma peça que mostra um pastor a comer debaixo de uma árvore. Trata-se de uma imagem do figurado de Estremoz que já era produzida pelos barristas locais no séc. XIX, como o documenta a existência de exemplares do Museu Municipal de Estremoz, do Museu Nacional de Etnologia e do Museu de Arte Popular, bem como em colecções particulares.
A bonequeira que confeccionou a figura que ilustrava aquela crónica foi Sabina Santos, que em “Tabela de Preços dos Bonecos de Estremoz”, mandada imprimir em 1976 pela Olaria Alfacinha, que comercializava os seus bonecos, designa aquele modelo por “PASTOR A COMER”. Segundo as Irmãs Flores, discípulas de Sabina Santos, de acordo com a concepção da Mestra, trata-se de um pastor a comer migas conservadas num tarro de cortiça. Daí que eu tenha utilizado a designação simplificadora “PASTOR DAS MIGAS”, denominação reservada por Sabina Santos para a figura de pastor que está a confeccionar migas.
A artesã Maria Luísa da Conceição, filha dos barristas Mariano da Conceição e Liberdade da Conceição, disse-me que, primeiro o pai e depois a mãe e ela própria, sempre designaram aquela figura por “PASTOR DEBAIXO DA ÁRVORE”. Segundo a concepção de seu pai e por elas partilhada, a imagem representa um pastor a comer grão conservado num tarro, argumentando que nas peças homólogas por eles manufacturadas, a superfície irregular do conteúdo do tarro simular grão e não migas, como no exemplar produzido por Sabina Santos.
É legítimo concluir que “PASTOR A COMER” e “PASTOR DEBAIXO DA ÁRVORE”, são uma e a mesma figura, à qual eu chamei “PASTOR DAS MIGAS”. Trata-se de nomenclaturas diferentes usadas por pessoas distintas. Como a barrística estremocense não é uma religião, nenhum dos nomes de baptismo constitui sacrilégio. Lá diz o rifão “O seu, a seu dono”. Mariano deu-lhe um nome e Sabina, que começou a trabalhar logo depois da morte do irmão, deu-lhe outro. E daí não advém mal nenhum, pois nenhum deles foi criador duma peça executada por barristas que os precederam desde o século XIX.
Quanto ao facto de o pastor de Mariano estar a comer grão e o de Sabina estar a comer migas, é natural que assim seja, pois como dissemos em crónica anterior (3 – Marcas de identidade), cada barrista tem o seu próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar, legando traços de identidade pessoal nas peças que manufactura e que são marcas indeléveis que permitem identificar o seu autor. Aqui fica o esclarecimento que se impunha.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A nobreza obriga

Retrato de Mathilde de Canisy, Marquesa d’Antin (1738).
Jean-Marc Nattier (1685–1766). 
Óleo sobre tela (118 cm x 96 cm).
Musée Jacquemart-André, Paris.


No 84º aniversário de Brados do Alentejo

Um jornal está o serviço da comunidade onde se insere, a qual é diversificada e plural sob um ponto de vista social, económico, político e confessional.
Daí que desempenhe uma tripla função: publicitária, informativa e formativa.
Publicitar é divulgar anúncios de serviços ou marcas comerciais, bem como editais de entidades públicas. Tudo de uma forma clara e transparente, com indicação de que é publicidade, para não se iludir o público ao “vender gato por lebre”.
Informar é relatar acontecimentos ocorridos ou eventos futuros, mas sempre de uma forma imparcial. 
Formar é contribuir de uma forma pedagógica para a elevação do nível cultural, cívico e moral dos leitores. Para tal, um jornal tem colunistas perfeitamente identificados, que elaboram artigos de opinião, os quais não vinculam o jornal. As colunas podem ser polémicas ou consensuais e qualquer delas são igualmente legítimas. Numa sociedade democrática não se cometem delitos de opinião, porque eles não existem. Um colunista não tem que concordar com o director do jornal, nem com os outros colunistas. O único limite de uma coluna é a lei de imprensa e o estatuto editorial do jornal. Provavelmente alguns não gostarão deste figurino. Estão no seu direito. Não é fácil agradar a todos, ainda que o jornal seja um jornal plural.
O que um jornal não pode ser é uma correia de transmissão do poder, nem tão pouco um jornal de oposição ao poder. Para isso existem os jornais da oposição e um jornal plural é um serviço público no qual a comunidade no seu todo se deve rever.
Um jornal não pode ser também um pátio das cantigas onde se digam vulgaridades, nem tão pouco um lavadouro público onde se lave roupa suja. Um jornal deve contribuir sim, para a elevação do nível cultural, cívico e moral dos seus leitores. Sabem porquê? A nobreza obriga.