em 21 de Junho de 1997.
Na passada 3ª feira, dia
20 de Novembro e no seguimento de um tombo na sua residência, faleceu no
Hospital do Espírito Santo de Évora, Jorge Andrade da Silva Branco, natural de
Lisboa e morador no Monte da Maia de Cima, em Estremoz.
Jorge Branco que perfaria
88 anos no próximo dia 23 de Dezembro, era geofísico de formação e figura muito
prezada pela comunidade local. Jornalista, escritor, artista plástico,
destacado coleccionador, activista cultural e pessoa muito interveniente em
causas cívicas, foi Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz, em
representação da CDU. Era casado com D. Aida Branco e pai do Senhor Eduardo
Branco e da D. Alexandra Branco.
O funeral decorreu na
passada 4ª feira pelas 11 horas, no Cemitério de Estremoz. Nas exéquias, além
de familiares e amigos, esteve presente uma delegação da CDU, tendo a Câmara
Municipal de Estremoz feito representar-se pelo Presidente Luís Mourinha e pela
Vereadora Sílvia Dias.
Antes do corpo baixar à
terra, dois amigos prestaram ao defunto o seu último preito. O Poeta António
Simões declamou o seu poema “Fado do não morrer” e o Professor Hernâni Matos
fez o elogio fúnebre do finado.
O “E” que esteve
representado pelo seu colaborador Hernâni Matos, apresenta à família pesarosa, os
seus sentidos pêsames.
Esboço Biográfico
O nosso amigo Jorge Branco nasceu no Natal de 1930,
dois dias antes de Jesus, ainda que 1930 anos depois.
Em Maio de 1940 acompanhou a família até Moçambique,
onde residiu até 1942. Nos anos 50 ingressou na Faculdade de Ciências de Lisboa
e por ali andou até 1956. Nesta data, o Jorge era já um Geofísico encartado e estava
creditado para observar, registar e estudar calamidades públicas, tais como
tremores de terra e vulcões no Serviço Meteorológico Nacional. Aí ingressou em
1956 e concluído o Estágio, passou a integrar aquele Serviço em 1957.
Como alguém pensou que o Jorge precisava de mudar
de ares, teve de seguir até Luanda com a incumbência de aí instalar uma estação
sismográfica. Todavia não se deu muito bem com aquelas paragens, pelo que
regressou a Lisboa em 1959, continuando a integrar o Serviço Meteorológico
Nacional até 1965.
Em 1966 ingressou no Centro de Cálculo Científico
do Instituto Gulbenkian de Ciência, no qual trabalhou até Abril de 1986, data
em que passou à situação de pré-reforma, por extinção daquele Centro.
Este é o esboço resumido do currículo profissional,
não oficial e não autorizado pelo Jorge. Todavia, há outro Jorge mais conhecido
de todos nós. O Jorge multifacetado, integral, divergente e Cidadão do Mundo
com uma alma do tamanho do raio de curvatura do universo elevado a infinito. E
é desse Jorge que passo de imediato a falar.
Em 1946, durante umas férias em Sintra, ficou apaixonado
por aquele contexto romântico que já fascinara Lord Byron e D. Fernando de Sax
Goburgo Gota, real esposo de sua Majestade Sereníssima a Senhora D. Maria II,
grande coleccionador, protector das artes, designer dos primeiro selos
portugueses emitidos em 1853 com a efígie de sua Augusta Esposa e um dos homens
mais cultos da sua época.
Pois o Jorge, depois de ter ficado enamorado por
Sintra, a que não será porventura estranho o facto de esta ser servida por
comboios, já caloiro na Rua da Escola Politécnica, apeia-se um dia no Museu de
Arte Contemporânea, em Lisboa, onde foi a uma visita guiada, organizada pela
Associação de Estudantes. E então mais encantado ficou, desta feita pelas Artes
Plásticas, muito em especial pela Pintura.
Mas o Jorge não ficaria por aqui, pois o seu ADN
tornara-o terreno fértil para muitas outras coisas. Um dia, uma colega
emprestou-lhe um livro de Camilo Castelo Branco, o nosso grande romancista de
S. Miguel de Seide. Pois o Jorge tornou-se camiliano e passou a devorar a prosa
primeiro e a poesia depois, à velocidade da luz, sendo mais fácil alimentar um
burro a pão-de-ló, que arranjar livros que o deixassem saciado. Daí que ele fosse
possuidor duma Senhora Biblioteca. Além, de camiliano, era queirosiano,
fialhiano e muitas coisas mais.
Anteriormente, o pai Branco Sénior, enfiara-lhe nos
pés, um par de patins, o que embora não chegasse para o pôr a jogar na equipa
do Paço de Arcos, lhe despertou o real interesse pela patinagem artística. E
com piruetas, curvas e contracurvas, lá se sentiu atraído pelo Bailado primeiro
e pela Música depois, artes que igualmente o seduziram e lhe deixaram marcas.
Mas o Jorge era terreno fértil para muitas sementes, daí que tivesse uma
costela de espeleólogo, bem como de ecologista e naturista. Contudo, uma boa
parte das costelas do Jorge eram costelas de coleccionador. Falo desta parte da
sua anatomia cultural, porque a conheço bem: selos, postais, livros, mas
sobretudo, tudo o que tivesse a ver com comboios.
Em 1980, no pino do Verão, o Jorge veio dar uma
volta pelas terras de Aquém Tejo. Foi então que o apaixonado por Sintra se decidiu
por outra paixão, o Alentejo. E a partir dai, o Jorge passou a ter dois amores,
Sintra e o Alentejo e, não se sabia de qual gostava mais. O que é verdade é que
o Jorge assentou arraiais no Alentejo e em particular em Estremoz, o que foi para
nós uma grande honra, já que o Jorge era um Cidadão do Mundo, como são todos os
Homens com a sua largueza e fineza de espírito, com a sua grandeza de alma, com
a firmeza do seu carácter, com a fidelidade da sua amizade. Por isso o Jorge era
há muito património nosso, como o azul límpido do céu, as claridades do sul, o
ondular duma seara, as migas, o vinho tinto, a arte pastoril, o cancioneiro
popular ou os Bonecos de Estremoz.
O Jorge além de escritor e conferencista, colaborou
na imprensa local e após algumas experiências com óleo, aguarela,
tinta-da-china e gravura, participou em exposições de desenho e pirogravura
organizadas pelo Museu Municipal de Estremoz e pela Associação Filatélica
Alentejana, à qual desde a primeira hora aderiu, foi dirigente e ajudou a dar
corpo e alma, com a sua maneira própria de ser, estar e fazer.
Obrigado Jorge pela qualidade da tua intervenção
cultural e cívica, multifacetada e pluridisciplinar e sobretudo pelo privilégio
da tua amizade e esse é um dos bens maiores entre todos os bens que temos.
O Jorge, amigo de peito e do coração, partiu mas
ocupará sempre um lugar muito especial nos nossos corações.
Sem comentários:
Enviar um comentário