terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Os bonecos de Estremoz


Margarida Maldonado. Educadora de Infância e Pintora

Sou alentejana de alma e coração, nascida em Estremoz onde vivi a infância e adolescência, antes de partir para a cidade grande onde me formei em Educação de Infância. Volto recorrentemente a Estremoz, os bonecos que trouxe comigo chamam-me à minha cidade. Feitos com terra-mãe e com alma são bem a expressão da beleza e do amor que os artistas artesãos da nossa terra conseguiram ao longo de séculos dar testemunho. Neles há um misto de Ternura, pela forma tão simples e ao mesmo tempo sábia, como estes nos souberam transmitir a história da vida rural e social nas suas diversas dimensões, fazendo-nos sentir emoções que são transversais a qualquer idade. Festa e Imaginação porque as cores que usam não são mais do que as cores dos nossos campos nas diversas estações do ano, das tonalidades do pôr do sol, do imenso céu azul e do branco do casario, acrescentando-lhes pormenores de beleza que nos enchem a alma e nos convidam a sonhar.
A linguagem dos bonecos tão simples e chamativa, apreciada por todas as gerações, está muito próxima das crianças parecendo as figuras terem sido concebidas a pensar nos mais pequenos. A colecção de apitos com figuras de pombas e de galos considerados brinquedos, é-lhes certamente dedicada.
A gentileza que transparece nesta arte, a todos tocou e marcou ao longo da vida. Admirando as figuras recordam-se histórias que se entretecem na nossa memória colectiva onde usos e costumes da nossa terra nos aparecem de uma forma tão natural.
Quem não conhece o famoso e delicado “Presépio de Estremoz” com os seus andares onde se colocam as figuras principais? Quem não teve já ocasião de admirar o trabalho encantatório das cantarinhas ou dos pucarinhos enfeitados (fidalguinhos), sabiamente pintados de cores garridas e ornamentados de flores?
 “A Primavera” (a minha preferida), é uma figura poética cheia de significado, lembra-nos a urgência de renovação e de esperança para que possamos renascer a cada dia como melhores pessoas.
No meu trabalho enquanto artista plástica eles foram sempre uma referência não só pelas belas cores, mas também pelas formas que me transportam para um universo poético que me é particular.
Os bonecos de Estremoz até agora só nossos e TÃO NOSSOS, foram reconhecidos como Património Cultural e Imaterial da Humanidade. Nada mais justo e expectável! Que o mundo todo possa conhecê-los e deliciar-se com tão especial beleza!
Parabéns a todos os que se implicaram nesta candidatura! Parabéns aos artistas artesãos que não deixaram morrer esta arte de que todos nos orgulhamos! Finalmente Parabéns a todos nós Estremocenses que estamos maiores e mais internacionais.
Margarida Maldonado
Educadora de Infância e Pintora
(Texto publicado no jornal E nº 191, de 11-01-2018) 


Hernâni Matos

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