terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Uma jóia da História Postal de Estremoz


 
Fig. 1

Fig. 2


Prólogo
Há documentos cuja interpretação permite ao investigador catalogá-los na classe das “jóias”. Uma tal inclusão pode ser devida ao teor do seu conteúdo escrito, bem como ao contexto em que este foi produzido, assim como ao grafismo do próprio documento. Pode até acontecer que estas três situações coexistam, o que potencia o valor e o interesse do documento. Vamos ver que é o que se passa com um bilhete-postal ilustrado, pertencente ao meu arquivo de História Postal de Estremoz.

Descrição do bilhete-postal ilustrado
Trata- se de um inteiro postal, mais propriamente um bilhete-postal de Boas Festas do tipo “Tudo Pela Nação,” com selo impresso da taxa de $30 (30 centavos), destinado ao Serviço Nacional, obliterado com a marca do dia da estação dos CTT, do tipo de 1928, do dia 24 de Dezembro de 1942.  O bilhete-postal tem como motivo os Bonecos de Estremoz. A ilustração é de Laura Costa (activa 1920-1950), e o bilhete-postal foi emitido pelos CTT em 1942.
Na parte superior do rosto do bilhete-postal (Fig. 2), a ilustração é constituída por um tradicional “Berço do Menino Jesus” da barrística popular estremocense, o qual se encontra ladeado por dois ramos de azevinho.
No verso do bilhete-postal (Fig. 1) a ilustração representa uma cena no areal da praia da Nazaré e envolve um casal com os seus trajes tradicionais, acompanhados de duas crianças. Aparentam estar a montar no areal a “Adoração dos Reis Magos”, Presépio de 6 figuras, constituído pela Sagrada Família e pelos 3 Reis Magos.
O bilhete-postal ilustrado foi expedido em 24 de Dezembro de 1942 (véspera do Dia de Natal) por Sá Lemos, dirigido ao Dr. Marques Crespo, em Estremoz.

Sá Lemos, o expedidor do bilhete-postal
José Maria de Sá Lemos (1892-1971), escultor, discípulo de Mestre António Teixeira Lopes (1866-1942), começou a trabalhar como professor e simultaneamente Director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em 21 de Abril de 1932, data da sua tomada de posse, com base no Decreto de 15 de Março de 1932 publicado no Diário do Governo nº 82 – 2ª série de 8 de Março de 1932.
Pela sua acção fez ressurgir os Bonecos de Estremoz, cuja produção tinha cessado com a morte de Gertrudes Rosa Marques (1840-1921) em 1921. Tal ressurgimento foi conseguido recorrendo primeiro à velha barrista Ana das Peles (1869-1945), que foi o instrumento primordial dessa recuperação e depois ao Mestre oleiro Mariano da Conceição (1903-1959) - O “Alfacinha”, o qual foi o instrumento de continuidade dessa recuperação.
No período que esteve em Estremoz e que se prolongou até 30 de Setembro de 1945, foi vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Estremoz entre 1938 e 1945, durante dois mandatos do então Presidente da Câmara, Engº Manuel Bicker de Castro Lobo Pimentel. São de sua autoria a maqueta em barro e em tamanho natural do Monumento aos Mortos da Grande Guerra e da Fonte do Sátiro, ambos em Estremoz.

Marques Crespo, o receptor do bilhete-postal
José Lourenço Marques Guerreiro Crespo (1871-1955), médico, maçon, membro do Partido Republicano Português e Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1923-1926). Foi fundador e director do semanário regionalista “Brados do Alentejo” (1931-1951), fundador da delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Estremoz, membro da comissão fundadora do Teatro Bernardim Ribeiro e Presidente Honorário do Orfeão Tomás Alcaide. Publicou entre outras obras, a monografia “Estremoz e o seu termo regional” (1950).

Estremoz doutros tempos
O facto de o bilhete-postal ter sido expedido apenas na véspera de Natal, também merece alguma reflexão. Decerto que o remetente sabia que no dia de Natal não havia distribuição domiciliária de correspondência, pelo que a missiva só seria recebida já depois do Natal. O que é que o terá levado a expedir o bilhete-postal postal só na véspera de Natal? Não sei. Todavia, posso admitir como plausíveis duas circunstâncias: – A chegada tardia à estação dos CTT de Estremoz, deste tipo de bilhete-postal de Boas Festas: o nº 42 (preparação do Presépio) de uma série de 12, numerados de 35 a 46, todos com ilustração de Laura Costa e ostentando o mesmo tipo de selo impresso; - O conhecimento tardio por parte do remetente da existência do bilhete-postal nº 42 (preparação do Presépio).
O endereço do destinatário resume-se ao nome deste e não inclui o nome do arruamento nem o número de porta. Para este facto contribuíram, decerto, factores como: - O destinatário ser uma personalidade com destaque na sociedade local e por isso muito conhecido; - O número de arruamentos ser muito inferior ao que é na actualidade; - O brio profissional dos carteiros que os levava a empenhar-se na missão de “levar a carta a Garcia”.

Epílogo
Sá Lemos considerara recuperada a produção de Bonecos de Estremoz em artigo publicado no jornal Brados do Alentejo, em 10 de Novembro de 1935. Ainda nesse mesmo ano, os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português. Nesta exposição estiveram também expostos os Bonecos de Estremoz de Mestre Mariano da Conceição, os quais no pavilhão expositor eram pintados por sua mulher Liberdade da Conceição (1913-1990), face à impossibilidade de Mestre Mariano estar presente por ser funcionário público.
Os Bonecos de Estremoz adquiriram notoriedade pública e projecção internacional com a Exposição do Mundo Português em 1940, de tal modo que os CTT os utiliza como motivo dos bilhetes-postais de Boas Festas de 1942. Deve ter sido uma suprema felicidade para Sá Lemos, que através do bilhete-postal endereça "um abraço de Boas Festas" ao seu amigo Marques Crespo, o qual através da missiva pôde constatar que os Bonecos de Estremoz andavam a ser divulgados pelos CTT através de mensagens natalícias.
Não há dúvida que a mensagem, bem como o seu contexto e o grafismo, legitimam completamente o título escolhido para o presente texto.

Hernâni Matos

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Entrevista sobre o 25 de Abril, concedida ao jornal E, de Estremoz

 


Hernâni Matos: “Foi assim até ao fim do dia, sempre com a sensação de até respirar melhor”

No ano em que se cumprem 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974, o E’ associa-se às comemorações desta que é uma data tão importante da história do país. As memórias da Revolução dos Cravos também são feitas das memórias individuais daqueles que viveram essa experiência única. Registamos hoje a voz de Hernâni Matos, numa primeira entrevista com que assinalamos os 50 anos do 25 de Abril.

Quais as memórias mais fortes que tem do Estado Novo?

A NÍVEL DE INFÂNCIA: - O aglomerado de pobres a pedir esmola à porta da Igreja de São Francisco, à saída da missa de domingo; - Os pobres que nas segundas-feiras percorriam os estabelecimentos comerciais a pedir esmola; -  A constatação de que havia crianças que iam descalças para a escola, porque os pais não tinham dinheiro para lhes comprar sapatos; - A existência de um ensino repressivo que a nível da instrução primária permitia que um professor desse reguadas nas mãos, canadas na cabeça ou puxões de orelhas numa criança, só porque estava desatenta, era irrequieta ou porque não sabia a lição; A NÍVEL DE JUVENTUDE: - Um indigente que nos anos 50 foi a enterrar para o cemitério de Estremoz, transportado na carroça do lixo; - O ambiente carregado das cerimónias do 10 de Junho em Lisboa, onde as mulheres e as mães dos mortos em combate na Guerra Colonial iam receber condecorações a título póstumo. DE ÂMBITO PESSOAL: - O aviso telefónico que foi feito ao meu pai em 1958, no dia das eleições para a Presidência da República, para não se dirigir para a assembleia de voto de S. Lourenço, na qualidade de delegado da candidatura do General Humberto Delgado, uma vez que estava lá a PIDE para o prender; - Uma carga da PIDE em 1968, na qual me vi envolvido, após a proibição da exibição do filme Marcha sobre Washington e um debate subordinado ao tema Quem matou Martin Luther King?, na Paróquia de Santa Isabel, em Lisboa; - A proximidade diária de gorilas, que eram ex-militares das tropas especiais (comandos ou pára-quedistas), contratados como polícias internos das faculdades e cuja função era identificar, vigiar, perseguir, impedir ajuntamentos e espancar estudantes; - O cuidado e as precauções que tinha com aquilo que dizia, ao falar publicamente com alguém, não se fosse dar o caso de haver bufos (informadores) na vizinhança, que me fossem denunciar à polícia política, a PIDE/DGS; - O meu ingresso na carreira docente em 1972, o qual envolveu a chamada ao gabinete do Chefe da Secretaria da Escola, onde tive que jurar e de subscrever com a minha assinatura, a declaração formal exigida pelo famigerado Decreto-lei 27003, de 14 de Setembro de 1936 e cujo teor era o seguinte: “Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas.” Lá tive que mentir, pois embora não fosse comunista era democrata, o que correspondia a perfilhar ideias subversivas no Estado Novo, regime de partido único: a UN - União Nacional.

Esteve na Universidade ainda nos tempos da ditadura? Sentiu ou viveu a luta estudantil? Tinha, ao tempo, alguma intervenção ou acção política?

Ingressei na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1965, pelo que não me vi já envolvido na Crise Académica de 1962, mas não escaparia à Crise Académica de 1969. Era um jovem de espírito aberto, generoso e humanista, ávido de liberdades civis que me eram negadas pelo regime, o que me levava a questionar o sistema e a resistir. Foi assim que ingressei naturalmente no Movimento Associativo da Faculdade de Ciências de Lisboa, o qual contestava o autoritarismo do Estado Novo e reivindicava direitos civis. Lutávamos pela liberdade de expressão e de associação, pela autonomia universitária e a democratização do ensino, pelo fim da repressão e da guerra colonial. Como activista de base do Movimento Associativo da FCUL, integrei a IMPROP – Secção de Imprensa e Propaganda, participei nalgumas RIA – Reunião Inter-Associações, greves às aulas e ocupações da Cantina da Faculdade. Fui uma entre muitas outras formiguinhas que anonimamente e em contexto universitário, deram o seu modesto, mas indispensável contributo a nível civil para que no dia 25 de Abril de 1974 pudesse ocorrer uma mudança de paradigma.

Nas eleições legislativas de 1969, na qualidade de activista da CDE – Comissão Democrática Eleitoral, fui delegado da candidatura desta Comissão junto de uma das mesas da assembleia de voto que funcionou na Faculdade de Ciências de Lisboa. As eleições viriam a ser ganhas pela UN - União Nacional, liderada por Marcelo Caetano. Era um desfecho previsível, já que a campanha e o acto eleitoral ficaram assinalados, pela fraude, pela perseguição e intimidação da Oposição.

Sentiu, na altura que a ditadura tinha os dias contados?

Apesar da repressão que há muito se vinha abatendo e intensificando sobre as lutas operárias, camponesas, estudantis e dos trabalhadores de serviços, estas também se vinham intensificando. Por outro lado, o Levantamento Militar das Caldas da Rainha de 16 de Março de 1974, apesar de gorado, deu a sensação de que era o prenúncio de uma futura insurreição militar vitoriosa. Parece que havia um “cheirinho no ar” a indiciar que tal viria a acontecer. De facto, lá diz o rifão Agua mole em pedra dura, tanto dá até que fura” e foi assim que os militares aperfeiçoaram o plano e a organização de um novo levantamento, com a devida articulação entre as unidades envolvidas. À segunda foi de vez. Em 25 de Abril de 1974, os militares não falharam.  Bem hajam por isso!

Onde estava no dia 25 de Abril de 1974? Como soube da Revolução? Lembra-se do que fez nesse dia?

Estava adoentado e encontrava-me em casa. Só ao final da manhã tive conhecimento do que se passara em Lisboa e da participação do RC3. Saí imediatamente para a rua, ávido de notícias.  A maioria das pessoas estava eufórica. Todavia também encontrei pessoas apreensivas, com temor daquilo que poderia vir a acontecer. Eu também fiquei eufórico e sempre que me cruzava com alguém com quem tinha mais confiança, lá proferia um “Porra! Até que enfim!”, invariavelmente acompanhado dum aperto de mão ou um abraço ou ainda uma pancada nas costas. O “V” da vitória e o punho erguido só surgiriam mais tarde. E foi assim até ao fim do dia, sempre com a sensação de até respirar melhor. Eram os ares da liberdade que nos tinha sido restituída pelo Movimento dos Capitães. Como reconhecimento e sinal de gratidão, nasceu-nos espontaneamente nos lábios, a palavra de ordem O povo está com o MFA!” e assim seria durante muito tempo.

Olhando para trás, que avaliação faz do processo de transição da ditadura para a democracia que tivemos em Portugal?

A avaliação dessa transição, obriga-me a falar dos responsáveis por essa transição: as Forças Armadas Portuguesas.

O derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime de Salazar e de Caetano - foi conseguido em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do MFA - Movimento das Forças Armadas, cuja origem remonta ao clima de instabilidade no interior das próprias Forças Armadas, particularmente do Exército, instabilidade essa que se manifestou em meados de 1973, com o surgimento do denominado Movimento dos Capitães, o qual aglutinava oficiais de média patente, insatisfeitos com as suas remunerações e com a perda de prestígio da oficialidade do quadro permanente, bem como com a Guerra Colonial que, desde 1961, ou seja, há 13 anos, se arrastava em 3 frentes, sem se antever uma solução política para a mesma, bem como pela previsibilidade de uma derrota militar iminente.

No seu poema “As portas que Abril abriu!”, o saudoso poeta José Carlos Ary dos Santos, diz-nos quem fez o 25 de Abril de 1974: “Quem o fez era soldado /homem novo Capitão /mas também tinha a seu lado /muitos homens na prisão.” E mais adiante: “Foi então que Abril abriu / as portas da claridade /e a nossa gente invadiu / a sua própria cidade.

A chamada Revolução dos cravos desencadeada pelo MFA, teve o apoio massivo da população e o regime foi derrubado praticamente sem derramamento de sangue. A transição pacífica de Portugal de uma ditadura para uma democracia teve repercussões a nível internacional, pois foi vista como um exemplo positivo, influenciando assim sucessivos processos de democratização que se desenvolveram por esse mundo fora.

Que impacto teve a Revolução dos Cravos na sua vida?

Em 1º lugar senti uma grande alegria por sentir que tinham sido quebrados os grilhões que me aprisionavam e que impediam de me sentir um cidadão de corpo inteiro. Em 2º lugar tive a percepção de que era imperativo que o movimento revolucionário do 25 de Abril nos permitisse usufruir de direitos e liberdades que até então nos tinham sido negadas, para o que haveria decerto que lutar, tal como veio a acontecer. Em 3º lugar, intuí que o usufruto desses direitos e liberdades, teria que ser temperado através da assunção de deveres que regulassem o exercício da cidadania.

Um pouco por toda a parte, assumimos o direito à liberdade, à informação e à greve. Arrogámos o direito de reunião, de manifestação, de participação na vida pública e de voto. Reclamámos e conquistámos entre outras, múltiplas formas de liberdade: de expressão e informação, de imprensa, de criação cultural, de aprender e ensinar, de associação, sindical, que mais tarde viriam a ser consignadas na Constituição da República Portuguesa.

O 25 de Abril não me trouxe só alegria pelos motivos apontados, mas também por melhorias nas condições de vida dos portugueses que então ocorreram: aumento dos rendimentos, das oportunidades de aprendizagem, da liberdade e dos direitos das mulheres, bem como melhoria do acesso aos cuidados de saúde e uma mudança de valores que tornaram a sociedade mais aberta, o que teve reflexos a nível da cultura (literatura, artes plásticas, música, teatro, cinema, televisão).

Como foi para si o período que se seguiu à Revolução?

O período pós-25 de Abril, conhecido por PREC - Processo Revolucionário em Curso foi marcado por lutas por melhores de condições de vida de operários, assalariados agrícolas e trabalhadores de serviços, assim como de moradores pelo direito à habitação. Foi um período em que ocorreram nacionalizações, inúmeras manifestações, assim como ocupações de fábricas, herdades e casas. Tratou-se de uma época de grande agitação social, política e militar, caracterizada por intensos debates de âmbito político, económico, social e cultural, bem como confrontos militares entre sectores das Forças Armadas com visões distintas de modelos de sociedade a seguir. Os maiores desses confrontos ocorreram a 11 de Março e a 25 de Novembro de 1975. Nesse período há a assinalar a existência de 6 Governos Provisórios até à constituição do 1º Governo Constitucional liderado por Mário Soares (PS), com base nos resultados das eleições de 25 de Abril de 1976, realizadas após a aprovação da Constituição da República Portuguesa, a 2 do mesmo mês. É com a constituição do 1º Governo Constitucional que se completa a devolução do poder pelos militares aos representantes da sociedade civil, legitimados pelo sufrágio, conforme estava previsto no Programa do MFA

Teve, nessa altura, alguma militância ou intervenção política?

Logo a seguir ao 25 de Abril e em termos cívicos integrei comissões had hoc que iam surgindo, fruto da dinâmica social que se ia gerando: Comissão de vigilância de preços, Comissão de moradores da zona centro, Comissão coordenadora das comissões de moradores, Comissão pró-construção do parque infantil, Comissão Cultural de Estremoz, Comissão de Base de Saúde. A nível sindical fui delegado sindical dos professores na Escola Secundária de Estremoz.

A nível político, desde 1969 e ainda estudante universitário em Lisboa, que me identificava com a CDE - Comissão Democrática Eleitoral, liderada por Francisco Pereira de Moura, pelo que após o 25 de Abril passei a frequentar a sede desde Movimento em Estremoz, participando aí nos debates internos e nas dinâmicas então em curso. Fui um entre muitos outros. Por ali passaram activistas que mais tarde se iriam integrar em partidos: PCP, UDP, MES, PS e PSD. Quando em 1975 a CDE se transformou em MDP/CDE – Movimento Democrático Português / Comissão Democrática Eleitoral e se registou como partido, eu não me filiei, uma vez que me já me filiara no PCP – Partido Comunista Português, ainda em 1974, se bem me lembro por influência do meu grande amigo, Aníbal Falcato Alves. Acontece que a certa altura tive consciência de que não reunia condições pessoais para ser militante daquele partido, cujo passado de luta e de resistência me merecia o maior respeito, pelo que saí nos primeiros meses de 1975. Passei então à condição de independente, condição que mantive até integrar a UDP – União Democrática Popular em meados de 1975, desta feita por influência do meu colega e amigo, Albano Martins. Deste partido fui militante enquanto a estrutura organizativa local esteve activa. Em 1993 e a convite do futuro Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, o independente e meu amigo José Dias Sena, integrei como independente as listas da CDU – Coligação Democrática Unitária, sendo eleito como deputado municipal, cargo que desempenhei empenhada e activamente durante 3 mandatos, até que senti que era chegada a altura de passar o testemunho, para ter uma maior disponibilidade de intervenção na frente cultural, a qual desde sempre foi e continua a ser a minha grande motivação.

E que avaliação faz da democracia que temos na actualidade?

A democracia portuguesa é uma democracia estável cuja arquitectura tem por base a Constituição da República Portuguesa, lei suprema do país, aprovada em 1976 e revista 7 vezes desde então. Os órgãos de soberania são eleitos, existindo separação e interdependência dos seus poderes. Formalmente está tudo bem. Na prática não é bem assim.

Qual o estado da democracia em Portugal?

A democracia portuguesa sofre de problemas graves que urge resolver em múltiplos domínios: social, económico, financeiro, etc. Deles destaco: elevada abstenção nos actos eleitorais, corrupção, demora na aplicação da Justiça, desemprego, trabalho precário, fraca qualificação da mão de obra, baixa produtividade, salários e pensões muito baixos, falta de oferta pública de habitação, especulação imobiliária, elevada emigração jovem, baixa taxa de natalidade, envelhecimento da população, insuficiência de cuidados dignos na velhice, Serviço Nacional de Saúde com enormes carências, problemas graves a nível da Educação e do Ensino, falta de coesão social e territorial. Estes são os principais problemas que de uma forma ou de outra, atormentam diariamente a esmagadora maioria das pessoas.

50 anos depois do 25 de Abril, apesar da melhoria das condições de vida dos portugueses, ainda se nos deparam desafios a enfrentar para que possa ser assegurada a igualdade de género e a justiça social. Em democracia, isto só se consegues através do aperfeiçoamento da própria democracia. É uma tarefa e um repto que estão em aberto e que exigem o maior empenhamento de todos os cidadãos. 

Hernâni Matos

Temporada Tauromáquica de 1886 (Quadro - Resumo)

  

Temporada Tauromáquica de 1886

(Quadro - Resumo)

Luís Brito da Luz


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Temporada Tauromáquica de 1886 (Setembro a Dezembro)

 

Temporada Tauromáquica de 1886

(Meses de Setembro a Dezembro)

Luís Brito da Luz 

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      Iniciou-se o mês de Setembro com uma corrida noctuma, que esteve quase cheia, em Lisboa, no Campo de Sant'Anna, a qual estava agendada para o mês de Agosto no dia 26 e foi primeiramente transferida para o dia 2 em virtude do espada Guerrita e seus bandarilheiros irem tourear a Cáceres podendo estar em Lisboa nesse dia. Acabou esta corrida por ser antecipada para o dia 1 em consequência do espada e sua quadrilha irem tourear a Aranjuez no sábado dia quatro. Sendo considerado por muitos entendedores o melhor bandarilheiro á altura, foi propositadamente o empresário António da Costa Guerra a Cáceres para fechar contrato com esta primeira figura. O curro escolhido e apartado de muito era pertença de D. Marcos de Noronha (Vagos). Guerrita, rapaz elegante bem-parecido , mostrou que os elogios nos jornais espanhóis eram mais que justos , sendo extraordinário no trabalho de capa e muleta que demostrou no décimo touro que lhe coube picar a sós, tendo-o enfeitado primeiro com alguns pares de bandarilhas postas com toda a perícia, mostrando ser um artista consumado nos passes de muleta e de capote. A maneira elegante como se colocava na frente do touro e o garbo como tirou quatro passes de peito valeram-lhe a maior das ovações que ultimamente tinha havido naquela praça. O sétimo touro também lhe pertenceu quebrando a espinha quando saltava á trincheira falsa sendo arrastado para dentro quase morto. O cavaleiro José Bento de Araújo picou bem, embora por vezes fosse um pouco precipitado. O outro cavaleiro Manuel Mourisca Júnior picou o primeiro touro da lide com bastante mestria não sendo tão feliz no touro que lhe coube na segunda parte. Torerito, Manene e Molina bandarilheiros da quadrilha de Guerrita trabalharam com bas­ tante distinção. Roberto Peixinho e Minuto bandarilharam bem e com correcção. Chamada de atenção para o divertimento dos chapéus na praça, demonstração de agrado que devia ser refreada pois era altamente cansativa para os artistas e maçadora para os espectadores por dar lugar a um intervalo imenso. A direcção da corrida esteve muito longe de ser boa porque o inteligente, andando a reboque da voz do público, muitas vezes não percebeu os touros mandando-os recolher quando os artistas os estavam a aproveitar no trabalho de capote.

       Dia 5 no Campo de Sant'Anna teve lugar a festa artística, benefício do banda­ rilheiro João Calabaça, toureiro arrojado e diligente, e de Joaquim Gaiato. Treze touros, todos puros, da afamada raça de gado bravo de A. Luiz da Veiga e, á altura, pertencentes a Manuel da Silva Victorino , os quais cumpriram. O cavaleiro José Bento de Araújo foi arrojado como sempre. O distinto cavaleiro amador D. Luiz do Rego picou um touro mantendo os seus créditos. Dos bandarilheiros portugueses só Peixinho esteve muito bem e a par de El Minuto. O novel toureiro Silvestre Calabaça, filho do beneficiado , lidou um touro mostrando disposição para o tou­ reio. O beneficiado fez uma brilhantíssima figura mantendo os seus créditos de bom artista. No geral, foi uma boa corrida.

Em Montemor-o-Novo , por ocasião da grande feira anual, nos dias 5 e 6 pelas quatro horas da tarde estavam anunciadas duas corridas de dez touros cada uma, das acreditadas manadas dos herdeiros do Conde de Atalaia. Tomaram parte os cavaleiros amadores D. António de Portugal e Castro, Joaquim Fiuza Guião e Aires Saturnino assim como o insigne espada espanhol Vicente Mendes, El Pescadero e os bandarilheiros João do Rio Sancho, J. Maria da Costa, J. dos Santos, A. Gonçalves e A. Xavier Delgado. Na segunda corrida, tomou parte Filipe Aragon, El Minuto. Finalmente um grupo de homens de forcado, dos campos de Montemor, fizeram lindas e valentes pegas.

Voltando ao Campo de Sant'Anna, agora no dia 9, aconteceu uma corrida nocturna, que devia ter sido realizada a vinte e nove do mês de Agosto, de treze bons touros, oito deles para e pertencentes a Paulino da Cunha e Silva, descendentes da afamada raça de gado bravo de Rafael José da Cunha e os restantes, para cavalo, de extraordinária bravura pertencentes a Emílio Infante da Câmara, Carlos Marques, Jacinto Freire e Roberto & Irmão que os ofereceram, alguns célebres pela sua ferocidade como o Foguete, o Desertor e o Carvoeiro. Os cavaleiros foram António Maria Monteiro que diligenciou agradar e José Bento de Araújo que lidou um dos touros a pé, bandarilhando e trasteando á muleta, tal como tinha executado no dia vinte e dois de Agosto em Vila Franca, trajando o elegante costume andaluz. Terminou a fazer uma excelente pega de costas por se ver perseguido pelo touro, sendo muito ovacionado. Dos bandarilheiros portugueses Calabaça e José da Costa obtiveram aplausos assim como os espanhóis Pescadero e Minuto. Houve uma lide a ferros de palmo por Minuto e Calabaça. A praça estava iluminada com três mil luzes, cujo ensaio de iluminação ocorreu dia sete.

No domingo dia 12 de Setembro, estava anunciado um torneio tauromáquico promovido por uma comissão de aficionados em beneficio de uma família desvalida na praça de touros do Campo de Sant'Anna em Lisboa. Os touros em número de treze, todos puros, eram pertencentes a D. Marcos da Silva Noronha (Vagos), iguais aos que foram corridos na última nocturna do dia um de Setembro. Reapareceu o afamado J. M. Casimiro Monteiro que estava muito afastado desta primeira arena. Também a afamada e notável matadora de touros, que tinha obtido calorosos aplausos nas praças de Sevilha, Cádis e Jerez, considerada em toda a Espanha a non plus ultra da arte e do arrojo, a sra. D. Carmen Lucena, La Garbancesa e sua quadrilha (dois bandarilheiros) marcaram presença no cartaz. Anunciados estavam também os nossos melhores bandarilheiros.

Projectava o deputado Jaime da Costa Pinto dar na praça de Almada uma tourada cuja receita seria em favor das obras da igreja desta vila convidando para o efeito o cavaleiro José Bento de Araújo a participar no evento.

Na vila da Moita do Ribatejo, por ocasião das festas em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, tiveram lugar duas corridas nos dias 13 e 14. Os vinte e dois touros puros apresentados eram pertença de dois lavradores de Benavente que, pela primeira vez alugaram para esta praça, sendo doze para a primeira corrida de João Vicente de Almeida e os outros dez para a corrida do dia catorze de João Sabino Fernandes. Tomaram parte nestas corridas o cavaleiro José Maria Casimiro Monteiro e os bandarilheiros Robertos, João Calabaça, José Maria da Costa e Augusto Monteiro. O gado entrou na praça depois da chegada do comboio da manhã. Os bilhetes estiveram á venda na loja do sr. José Maria da Purificação Gaspar, na vila da Moita. Os preços dos comboios de ida e volta (Lisboa-Setúbal) tinham preços reduzidos no valor de trezentos réis.

Organizada pelo antigo aficionado, nesta altura empresário, António da Costa Guerra, teve lugar no dia 19 em Lisboa, na praça do Campo de Sant'Anna uma corrida de doze touros bravos e de boa estampa comprados a D. Caetano de Bragança (Lafões), alguns dos quais muito saltadores que prejudicaram bastante o trabalho dos artistas. Os cavaleiros da corrida foram Manuel Mourisca Júnior e José Bento de Araújo que toureou com o costumado arranjo, mostrando o primeiro ser o cavaleiro correcto que se conhecia aproveitando os touros que lhe couberam e sabendo vencer o seu soberbo cavalo de combate que pretendia negar-se, e que diligenciou em grandes upas deitar fora da sela o cavaleiro. O distinto matador Punteret bandarilhou com arte o sétimo touro acabando por passa-lo de muleta com tanto garbo e destreza que obteve uma ovação. El Minuto e Calabaça foram muito aplaudidos. Pescadero esteve infeliz, não fazendo nada com as bandarilhas , apanhando um grande boléu por ter sido colhido em cheio no quinto touro. Estavam anunciados também Vicente Roberto e Roberto da Fonseca assim como seu sobrinho João Roberto, os quais não tivemos notícias da sua actuação. A praça apresentou a grandiosa decoração que tinha na corrida por amadores que se verificou por ocasião do casamento de Suas Altezas Reais o Príncipe D. Carlos e a Rainha D. Amélia.

Também no dia 19 estava anunciada para a praça de touros de Torres Novas uma corrida de dez vacas bravas pertencentes a Viúva Sirgado & Filhos. Noticiados estavam também o cavaleiro amador Victor Carlos Martins acompanhado por um simpático grupo de conhecidos artistas. A corrida compunha-se por dois chistosos intervalos pelo Pae Paulino & Companhia.

Para as tardes de 21 e 22 de Setembro, durante as festas do Senhor da Piedade, em Elvas preparavam-se duas corridas de touros tendo sido a praça tomada de arrendamento pelo sr. Lobão Rasquilha.

Para dia 26 anunciou-se para o Cartaxo uma corrida de touros pertencentes aos lavradores e criadores Irmãos Robertos com o cavaleiro José Bento de Araújo, e os bandarilheiros Vicente Roberto, Roberto da Fonseca, João Roberto, José dos Santos e António Augusto. Os camarotes estiveram à venda no estabelecimento do sr. Joaquim Mendonça.

Também no mesmo dia em Almada teve lugar uma corrida com doze touros de José Maria dos Santos para os cavaleiros D. António de Portugal que foi substituído por Alfredo Tinoco, Joaquim Fiuza Guião e José Gabriel Holbeche Júnior que penso ser a corrida projectada pelo deputado Jaime da Costa Pinto anunciada no periódico a 12 de Setembro. Os touros não se prestaram ao torneio tendo farpeado Tinoco o primeiro e o sétimo touro da corrida, este último a ferros curtos, tendo-os aproveitado bem. A Guião coube-lhe o terceiro e o nono procurando-os com muito sangue frio metendo alguns ferros com arte. Gabriel Holbeche farpeou bem o quinto e foi muito feliz no décimo primeiro. Todos os três cavaleiros foram ovacionados e brindados com pastilhas, ramos de flores e coroas com fitas de seda. Quanto aos bandarilheiros trabalharam bem João Calabaça e Sancho que  bandarilharam o segundo da tarde. O quarto coube a José da Costa e João Laureano e o sexto outra vez a João Calabaça agora a par com Augusto Monteiro. Sancho, Costa e Silvestre bandarilham o oitavo e João Laureano e Neves o décimo. Fecharam João Calabaça, Sancho e Silvestre o décimo segundo. O festejado Sol e da Sobreda tocou muito bem alguns trechos de música e a filarmónica Incrível Almadense executou muito bem ao intervalo uma peça de música muito aplaudida. Corrida que gerou muita celeuma empregando os progressistas de Almada todos os meios lícitos e ilícitos para que esta festa de caridade não de realizasse. Após esgotadas todas as desculpas desde a pouca solidez da praça até à pouca competência dos cavaleiros, lembraram-se de empalmar a música que estava comprometida a tocar durante o evento. Para intentá-lo vieram a Lisboa pedir um vapor que ficasse à disposição destes almadenses progressistas para irem esperar El-Rei. A ideia era desviar a música da corrida obrigando a banda a ir tocar a bordo, gorando-se as expectativas com a recusa da filarmónica Almadense. Não foram enviados polícias para a praça e exigiram do administrador que o regedor substituto presidisse à corrida. O Dr. Juzarte, administrador do concelho, para obedecer às exigências dos mandões teve de sujeitar-se ao triste papel de ver a corrida da trincheira. E para não haver dúvidas de que toda a guerra partiu destes falsos progressistas, pois os verdadeiros estavam indignados, de conveniência e com o consentimento das autoridades mandaram distribuir um manifesto insensato contra o deputado Costa Pinto.

Igualmente a 26 estava uma corrida de touros anunciada para Setúbal em beneficio dos corpos da Associação Setubalense das Classes Laboriosas e da Associação dos Bombeiros Voluntários da cidade. O gado foi cedido por José Maria dos Santos a quem tanto a cidade deve. Foi cavaleiro Manuel Mourisca e bandarilheiros Minuto, Pescadero, Calabaça entre outros.

A nocturna no Campo de Sant'Anna que estava anunciada para 23 de Setembro foi transferida, por causa do mau tempo, para dia 2 de Outubro com doze touros do lavrador D. Marcos da Silva de Noronha (Vagos) iguais aos que tanto entusiasmo causaram na nocturna de um de Setembro. O campino Joaquim Estalagem, conhecido em todo o Ribatejo e criado deste notável lavrador, farpeou um touro a cavalo. Os cavaleiros foram António Monteiro e José Bento que foi substituído por Mourisca. Bandarilharam Roberto, João Roberto, João Calabaça e os espanhóis Pescadero Minuto e Silverio.

Nos dias 3 e 4 em Vila Franca, por ocasião da grande feira anual, anunciaram-se duas corridas de touros.

A 5 de Outubro anuncia-se pela última vez na praça de touros em Belém, as touradas burlescas aos domingos, segundas, quintas e sábados.

A 17 de Outubro teve lugar em Setúbal uma corrida de touros em beneficio do conhecido bandarilheiro Ajú. Esta corrida deveria ter sido realizada no dia 10, mas o curro de touros puros, apartados a capricho para esta corrida, pertencentes ao lavrador J. Costa Freire, apesar de vir acompanhado de bastantes criados, tresmalhou-se na condução, impedindo a corrida de se realizar naquele dia. Foi uma boa tourada apesar de se conseguirem trazer à praça sete touros. João Pedro realizou um salto à vara e uma sorte de gaiola magníficos, dois touros foram farpeados a cavalo e trabalharam muito bem os bandarilheiros dos quais tomou parte Minuto. Houve intervalo de pretos (toureiros africanos) e anunciaram-se fantoches diabólicos e outros atractivos. No sexto touro teve uma chamada entusiástica o lavrador, inteiramente justa , com os touros fugidos doze dias não seria fácil encontra-los mais bravos.

A última corrida da época no Campo de Sant'Anna aconteceu a 24 de Outubro com doze touros corpulentos e bravos de Carlos Marques para o cavaleiro Manuel Mourisca e os melhores bandarilheiros portugueses , tais como Roberto, Peixinho entre outros. Também actuou o espanhol Minuto, que se despediu nessa tarde partindo depois para Montevideu assim como o insigne espada Rafael Guerra (Guerrita) e seus destros bandarilheiros Juan Molina e Manuel Roiz (El Manene), artistas de apreço, os quais actuaram pela primeira vez na noctuma do dia um de Setembro. dois touros falharam, um para o cavaleiro e outro para a lide a pé. O primeiro cavaleiro tauromáquico português, à altura, esteve correcto com um touro mau e o seu cavalo russo a intimidar-se com ele, negando-se à lide. Pena foi a ignorância de alguns espectadores, castigados severamente pelo público com uma apupada que não perceberam que outro qualquer cavaleiro nas mesmas condições não fazia sequer metade do que Mourisca fez. Guerrita esteve primoroso com o capote e com a muleta alcançando uma grande ovação. Lamentando os espadas espanhóis de executarem o trabalho dos bandarilheiros , sabendo apenas quando aqui chegavam que tinham de bandarilhar e em condições muito piores que em Espanha, obrigados a fazer um trabalho forçado, desvantajoso para o artista e para o público, pedia-se que trabalhassem mais de capote e muleta e não fossem obrigados a bandarilhar. Roberto da Fonseca esteve esplêndido, Minuto, Peixinho e Rafael distinguiram-se. José da Costa colocou muito bem dois pares de ferros. Uma salva ao empresário Guerra que sobrepôs a qualquer interesse mesquinho o interesse da arte. Boa tourada com casa bem composta.

A última notícia da época dizia respeito a uma corrida em Almada, marcada para o dia 19 de Dezembro e promovida por uma comissão de ilustres almadenses, corrida essa que não chegou a realizar-se em virtude do gado se ter tresmalhado , chegando um dos touros a descer até Cacilhas. O animal próximo da cortina do cais investiu com um catraeiro, o qual lhe furtou o corpo, indo o bicho parar à água, tendo sido posteriormente laçado a muito custo e atado a uma carroça.

 

Agradecimentos

  O autor agradece a minúcia e o detalhe manifestado na pronta ajuda de João Baptista  Malta, seu primo e muito próximo , interessado e apaixonado aficionado tauromáquico.

 

BIBLIOGRAFIA

 Monografias

ALMEIDA, Jayme Duarte de - Enciclopédia Tauromáquica ilustrada. - Lisboa: Editorial Estampa, 1962.

ALMEIDA, Jayme Duarte de - História da Tauromaquia técnica e evolução artística do toureio. - Lisboa Artis Lda, 1951-1953. - 2 vol.

Publicações em série

DIARIO ILLUSTRADO / Fund. Pedro Correia da Silva. - Lisboa Impr. de Souza Neves, 1872-1911 - Publicação diária referente aos n.os 4 556, 1 de Janeiro até 4 917, 31 de Dezembro de 1886.