segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Bonecos de Estremoz em Exposição


Imagens de Nossa Senhora da Conceição modeladas pelos formandos.
Fotografia recolhida em “Bonecos de Estremoz de Jorge da Conceição”

Nos corredores do 1.º piso do edifício da Câmara Municipal de Estremoz está patente ao público uma exposição de Bonecos de Estremoz modelados por 16 formandos do Curso de Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz. Este curso que teve lugar no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, decorreu de 20 de Setembro a 6 de Dezembro do corrente ano e resultou duma parceria entre o CEARTE e o Município de Estremoz. A exposição que foi inaugurada no passado dia 7 de Dezembro é visitável até 10 de Janeiro de 2020.
Alguns dos trabalhos produzidos pelos formandos, podem ser apreciados nas respectivas páginas do Facebook:

- Manuel Broa
Hernâni Matos


Vista parcial da exposição. Fotografia recolhida em "Município de Estremoz" 
( https://www.facebook.com/municipioestremoz/ )

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Presépio de três figuras


Fig. 1 - Presépio de 3 figuras (2019). Ricardo Fonseca (1986- ).

O meu amigo Elói Pardal, que muito prezo, encomendou ao barrista Ricardo Fonseca,
vários exemplares de um minúsculo presépio de 3 figuras,
a oferecer a amigos seus durante um jantar de Natal.
A mim pediu-me a elaboração de um texto que acompanhasse o presépio.
 Daí nasceu o presente texto.
A partir dele editei um folheto de 4 páginas, cuja imagem de capa aqui reproduzo (Fig. 2).

O PRESÉPIO
Entrámos no período de Natal. Este é a festividade cristã que enaltece o nascimento de Jesus Cristo. A data da sua celebração ocorre a 25 de Dezembro (Igreja Católica Apostólica Romana) ou a 7 de Janeiro (Igreja Ortodoxa). O Natal é, de resto, mundialmente encarado por pessoas de diferentes credos, como o dia consagrado à família, à paz, à fraternidade e à solidariedade entre os homens.
Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata o Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael Bluteau (1) e Cândido de Figueiredo (3), a palavra “presépio” provem do latim “praesepium”, que genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que, numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de acordo com os Evangelhos.
PRESÉPIOS DE ESTREMOZ
Conhecem-se presépios de barro de Estremoz desde o séc. XVIII e crê-se que eles terão sido aqui introduzidos pelos monges do Convento de S. Francisco, edificado em meados do séc. XIII e cuja tradição presepista é bem conhecida, desde que o fundador da Ordem, S. Francisco de Assis, montou o primeiro presépio do mundo em Greccio (Itália), no Natal de 1223, com a função didáctica de explicar o nascimento de Jesus, ao mesmo tempo que desgostado com as liberdades da Natividade dentro dos Templos, sustinha a adoração do Natal, como nos diz Luís Chaves (2).
BONECOS DE ESTREMOZ
A manufactura de Bonecos de Estremoz é uma manufactura “sui-generis”, baseada numa técnica ancestral de produção que desde as bonequeiras de setecentos se transmitiu ao longo dos séculos e chegou até nós. Distingue-se de tudo aquilo que se faz em Portugal e no resto do mundo. Nela, o todo é criado a partir das partes, recorrendo à combinação de três geometrias distintas: a placa, o rolo e a bola. São elas que, com dimensões variáveis, são utilizadas na gestação de cada Boneco. Depois de modelados, os Bonecos sofrem sucessivamente as operações de secagem, cozedura, arrefecimento, envernizamento e pintura. Em resumo, um Boneco de Estremoz é uma figura modelada à mão, em barro vermelho, cozida e policromada, usando técnicas das quais há indícios de remontarem ao séc. XVII.
PRESÉPIO DE 3 FIGURAS
A Sagrada Família assenta numa base rectangular de cor castanha, simbolizando a terra. A cabeça de cada uma das figuras é aproximadamente esférica e revela cabelo castanho. O rosto e as mãos têm uma cor que configura a cor da pele. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos paralelos, igualmente negros, configurando sobrancelhas e pestanas. As bocas são pontos vermelhos, representando a boca.
O menino Jesus tem à sua direita a Mãe e à esquerda o Pai. Está deitado numa cesta cuja textura da superfície e cor, evocam a verga. Encontra-se coberto por uma manta branca, orlada de dourado. Os braços estão abertos, parecendo querer dizer: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28-30) (4). 
Tanto Nossa Senhora como São José têm sobre a cabeça um resplendor dourado, símbolo de santidade e envergam trajes que configuram vestes bíblicas.
Nossa Senhora está de pé e tem as mãos unidas e postas ao alto, numa atitude de oração, gesto de humildade, de confiança e de submissão à autoridade de Deus. Veste um vestido azul claro comprido, com bainha e punhos azuis. Sobre a cabeça um manto castanho com orla dourada. Repare-se no pormenor de Nossa Senhora ter a cabeça e com ela o cabelo coberto pelo manto. Para além da natural contextualização em termos de usos e costumes da época em que nasceu Jesus, a esta representação não será também estranho o reconhecimento da realidade vigente entre nós na primeira metade do século XX e que impedia qualquer mulher de entrar num local de culto, de cabeça descoberta.
São José veste uma túnica branca com bainha e punhos castanhos. Sobre os ombros enverga uma capa castanha com orla dourada. Nas mãos segura um bordão de caminheiro. Esta representação configura ainda caber-lhe a responsabilidade de ter a seu cargo a defesa da sua Família.
RICARDO FONSECA, BONEQUEIRO DE ESTREMOZ
Ricardo Fonseca nasceu em 1986 na freguesia de Santa Maria do concelho de Estremoz, onde fez a instrução primária e cursou Artes na Escola Secundária, adquirindo saberes no âmbito da Pintura, da Escultura e da História de Arte. Sobrinho de peixe sabe nadar. O seu tio Ilídio foi oleiro na Olaria Alfacinha. As irmãs Flores, suas tias, são bonequeiras. Não admira pois que se tenha sentido fascinado pela plasticidade do barro e pelas transmutações que ele permite já que, como diz o poeta António Simões: “Barro incerto do presente, / Vai moldar-te a mão do povo / Vai dar-te forma diferente, / Para que sejas barro novo.” Daí que Ricardo tenha começado a manusear o barro aí pelos catorze anos, fazendo a aprendizagem com as suas tias. Aos quinze anos já fazia pequenos presépios e algumas imagens que vendia aos turistas, assegurando assim a mesada para os seus gastos juvenis.
Ao sair da Escola, em 2005, começou a trabalhar com as tias na oficina-loja do Largo da República. Foi então que a manufactura de Bonecos deixou de ser uma brincadeira e passou a ser o seu mester. A execução das figuras continuou, todavia, a ser feita com imenso prazer e igual paixão, pois como diz o adagiário “O trabalho é o mestre do ofício” e “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”. Trabalha muitas vezes por encomenda, o que é caso para dizer “A boa obra, se vai pedida, já vai comprada e bem vendida”. Confecciona espécimes dentro e fora do conjunto dos “Bonecos da Tradição”. Entre os modelos que registam maior procura figuram: “O Amor é Cego”, “Primavera”, “Rainha Santa Isabel” e “Presépios”.
A procura de coleccionadores leva-o a criar variantes de muitos exemplares, o que acontece sobretudo com “Presépios”, mas também com imagens como “Santo António”, “Nossa Senhora da Conceição” e “Rainha Santa Isabel”, o que se torna estimulante, sob um ponto de vista criativo. De resto e por auto-desafio vai criando peças cada vez mais complexas, sem abandonar porém os preceitos inerentes à manufactura dos Bonecos de Estremoz. É caso para dizer que: “Aprende por arte e irás por diante”.
É sabido que cada barrista tem o seu próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar, legando traços de identidade pessoal nas peças que manufactura e que são marcas indeléveis que permitem identificar o seu autor. Lá diz o adagiário: “As obras mostram quem cada um é” e “Pela obra se conhece o artesão”. No caso de Ricardo, o perfeccionismo está-lhe na massa do sangue, o que o leva a dedicar-se aos pormenores, não só na pintura, como na própria manufactura do rosto, das mãos, dos pés e dos enfeites que adornam as figuras.

BIBLIOGRAFIA
(1) – BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino. Real Colégio das Artes da Companhia de Jesus. Coimbra, 1713.
(2) - CHAVES, Luís. O primeiro “Presépio” de Lisboa conhecido (Século XVII). In, O Archeologo Português. Lisboa, Museu Ethnographico Português. S. 1, vol. 21, n.º 1-12 (Jan-Dez 1916), p. 229-230.
(3) – FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Diccionário da Língua Portuguesa. Editora T. Cardos & Irmão, 1899.
(4) – SÃO MATEUS. Evangelho segundo São Mateus.

Fig. 2 - Capa do folheto editado, referido no texto.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

José Mário Branco homenageado pela Assembleia Municipal de Estremoz



Na Sessão Ordinária da Assembleia Municipal de Estremoz realizada no passado dia 22 de Novembro de 2019, sob proposta do Grupo Municipal da CDU, foi aprovado por maioria absoluta (28 votos a favor e 1 abstenção) o seguinte: 
VOTO DE PESAR

José Mário Branco, nascido em 1942 no Porto, revelou-se desde cedo um espírito inconformado e rebelde, sendo a campanha eleitoral do General Humberto Delgado para a Presidência da República de 1958 o momento-chave para o início da intervenção política e cívica que iria marcar toda a sua vida.
Jovem militante do PCP ilegalizado, opta por emigrar a salto para França em 1963 de maneira a evitar o serviço militar obrigatório e a consequente mobilização para Guerra Colonial. Exilado até à revolução de Abril de 1974, é neste país que inicia a produção musical, acompanhado por outros nomes maiores da música portuguesa como Sérgio Godinho ou José Afonso, é com este último que mantém uma relação mais profícua e profunda, plasmado na produção e arranjos do disco “Cantigas do Maio” onde se baseia na cadência e estrutura do cante alentejano para assegurar a direcção musical daquele que seria o tema que para sempre será associado ao 25 de Abril, Grândola Vila Morena. É ainda no ano de 1971 que lança o seu disco mais marcante “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.
Regressado a Portugal 4 dias depois da mais importante data da história contemporânea portuguesa, imediatamente retoma a sua intervenção artística e política com um fulgor e energia contagiantes. Funda o GAC Grupo de Acção Cultural – Vozes da Luta, colectivo de músicos que desenvolve um trabalho notável de divulgação e recolha musical que percorre o país, com mais de 1000 concertos, levando a música aos mais recônditos locais e localidades apresentando gratuitamente o que de melhor se fazia musicalmente a uma população que, de outro modo, nunca teria acesso a esta realidade e produção cultural.
Continuou a cantar, criar, produzir, fazer arranjos para teatro, filmes e para inúmeros músicos que vão desde os velhos companheiros de estrada até aos novos nomes sonantes da música portuguesa. Com o projecto Maio Maduro Maio volta a revisitar o legado de José Afonso, altura em que actua em Estremoz, no Teatro Bernardim Ribeiro.
Conjuntamente com a actividade profissional como músico, continua a intervir política e partidariamente, primeiro integrando a UDP – União Democrática Popular, e já nos anos 90 é um dos nomes primordiais aquando da criação do Bloco de Esquerda.
Nos últimos anos afirma sentir-se desencantado com o estado do mundo e do país, considerando que Abril nunca foi verdadeiramente concretizado, afasta-se dos palcos, mas nem por isso deixa de ser extraordinariamente activo em estúdio, nomeadamente na qualidade de produtor e arranjador.
Falecido no passado dia 19, a CDU vem por este meio, apresentar esta homenagem da Assembleia Municipal de Estremoz a um dos maiores nomes do panorama musical português. Pela relevância ímpar, pelo brilhantismo da sua produção lírica e musical, pela influência marcante que deixou na vida cultural nacional e ainda pela participação cívica pautada de uma lucidez e assertividade únicas.
Sempre recusando honrarias, homenagens e exposição pública desnecessária e fútil, fica uma frase quando foi surpreendido no Coliseu de Lisboa com um prémio carreira atribuído pela Revista BLITZ, exclamando: “O que é que eu fiz para merecer isto?!””

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Dia Internacional pelo fim da Violência contra a Mulher



Dia 25 de Novembro é Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Em Portugal foram convocadas em 2019 manifestações para:
- Aveiro, 18h30, Praça Joaquim Melo de Freitas:
- Braga, 18h30, Avenida Central
- Coimbra, 16h30, Praça 8 de Maio
- Lisboa, 17h30, Largo do Intendente
- Porto, 18h00, Praça da Cordoaria:
- Viana do Castelo, 17h30, Praça da República
- Viseu, 17h30, Rua Dom António Alves Martins - Junto à PSP
Em Vila Real, às 22h, no Club de Vila Real, realiza-se o Debate "Quem matou Eloá?" .
A convocatória das manifestações foi efectuada pelas seguintes organizações feministas: Colectiva, ANIMAR, ILGA, CABE, Feminismos sobre Rodas, Feministas em Movimento, Festival Feminista de Lisboa, Juntas, Plataforma Já Marchavas, Rede 8 de Março e UMAR.
Origem histórica
O Dia Internacional pelo fim da Violência contra a Mulher comemora-se anualmente no dia 25 de Novembro e a sua convocação foi iniciada pelo movimento feminista da América Latina, visando assinalar o assassinato das três irmãs Mirabal1, em 25 de Novembro de 1960 pela ditadura de Trujillo na República Dominicana.
Em 1981, o I Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho aprovou a consagração do dia 25 de Novembro como o dia Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência contra a mulher.
Em 1999, a Assembleia-geral da ONU deliberou que o dia 25 de Novembro passasse a ser consagrado à eliminação da violência contra a mulher.
Portugal 2019
De acordo com o diário “Público” de 3 de Outubro de 2019, no ano em curso já foram assassinadas 23 mulheres, oito homens e uma criança em contexto de violência doméstica. Estes dados foram confirmados pela Procuradoria-Geral da República e difundidos pelo semanário “Expresso” de 23 de Novembro. O jornal destaca: “entre os homens assassinados apenas dois foram mortos por mulheres. Não há uma inversão de papéis. Este é um crime de género”.
No dia 25 de Novembro é dia de sair à rua contra todos os tipos de violência para com a mulher. Nos últimos 15 anos, foram 500 as mulheres assassinadas em Portugal em contexto de violência doméstica. Este ano as mulheres saem à rua em várias cidades do país para lembrar as vítimas e gritar: nem mais uma!
  
Aveiro

Braga

Coimbra

Lisboa

Porto

Viana do Castelo

Viseu

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Bonecos de Estremoz: Aclénia Pereira


Fig. 1 - Aclénia Pereira (1927-2012), com a idade de 13 anos.
Fotografia de autor desconhecido.

CRÉDITOS
Bonecos fotografados por Luís Mariano Guimarães (2018).

Nascimento e nome
Aclénia nasceu às 21 horas do dia 26 de Fevereiro de 1927 no nº 12 da Rua Magalhães de Lima, Freguesia de Santo André de Estremoz. Filha legítima de Carlota Rita Capeto Pereira, 23 anos, doméstica, casada com Ricardo de Jesus Pereira Ventas, 26 anos, conceituado relojoeiro e ourives da nossa praça[1] 46, natural como sua mulher da Freguesia de Santo André, concelho de Estremoz (4).
A criança então nascida era neta paterna de Joaquim Abílio Ventas e de Adelaide do Nascimento Pataco e neta materna de Estevão da Silva Capeto e de Perpétua Rosa Polido Capeto. A recém-nascida foi registada a 21 de Março de 1927, no Registo Civil de Estremoz. Apadrinharam o acto, José Joaquim Pereira Ventas, sapateiro, maior, e Maria Antónia Pulido Capeto, doméstica, maior, ambos residentes em Estremoz.
A menina recebeu o nome de Aclénia Risolete Capeto Ventas. Em 1945 o pai de Aclénia foi autorizado superiormente a mudar o nome para Ricardo de Jesus Pereira, pelo que a filha com a idade de 18 anos foi também autorizada a alterar o nome para Aclénia Risolete Capeto Pereira.
Em 28 de Dezembro de 1960, com a idade de 33 anos, casou na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com Pedro Paulo de Oliveira e Noronha, de 30 anos, natural de vale de Santarém, Santarém, onde o casal passaria a residir. O nome da noiva passaria então a ser Aclénia Risolete Capeto Pereira e Noronha (1).
Infância e juventude
Aclénia cresceu sem problemas e frequentou o Ensino Primário Elementar em Estremoz, tendo sido aprovada no exame de 2º grau em 1939, com a idade de 12 anos. Com a idade de 13 anos, Aclénia (Fig. 1) inscreveu-se em 1940 na Escola Industrial António Augusto Gonçalves[2] situada na rua da Pena nº 11 em Estremoz, no local onde funcionaria mais tarde a Ala nº 2 da Mocidade Portuguesa Masculina e depois o Salão Paroquial de Santa Maria (3). Era então director José Maria de Sá Lemos (1892–1971). A organização do Ensino Técnico-Profissional era regida pelo Decreto nº 20.420 de 20 de Outubro de 1931. Na Escola era ministrado o ensino dos seguintes ofícios: canteiro civil, canteiro artístico, oleiro e tapeceira, sendo o pessoal docente desta Escola composto por 1 professor e 3 mestres.
Aclénia inscreveu-se no Curso de Tapeceira e frequentou a Escola com aproveitamento até ao 3º ano, tendo realizado todos os exames e frequências constantes do currículo. Não frequentou todavia o 4º ano.
Na oficina de tapeçaria aprendeu com Mestra Joana Maria de Albuquerque Simões e na oficina de Olaria com Mestre Mariano Augusto da Conceição (1902-1959). A oficina de tapeçaria era no 1º andar e a oficina de olaria, logo à entrada da Escola, do lado direito. Com as mãos sábias e experientes de Mestra Joana aprendeu o ponto de Arraiolos, a bordar, a recortar autênticas filigranas em papel e o deslumbramento da Arte Conventual. Por sua vez, Mestre Mariano soube transmitir-lhe a arte bonequeira.
Com tais mestres e dotada de rara habilidade e fina sensibilidade, Aclénia aprendeu a dominar os materiais e a criar artefactos que nos deleitam o espírito.
Depois de ter saído da Escola Industrial António Augusto Gonçalves terá frequentado a Escola do Magistério Primário de Évora, após o que passou a desempenhar funções de Professora do Ensino Primário, o que fez até à altura da sua aposentação. Após o casamento, em 1960, deixou de morar na Avenida Dr. Marques Crespo, nº 23, em Estremoz, para onde entretanto mudara e transferiu-se para Santarém.
O regresso às origens
Em 1983 participou na I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, cujo stand 5, 6, 7 ocupou. Dela diz o catálogo (5): “Natural de Estremoz e residente em Santarém, dedica-se de há longos anos à prática de variadíssimas técnicas, às artes popular e conventual. Com barro, tecidos, papel, metal, organiza pequenas obras de arte preenchendo da melhor maneira os lazeres da sua vida doméstica e profissional.”. De acordo com o jornal “Brados do Alentejo” (6), Aclénia participou no certame nas secções de “Barro”, “Papel” e “Têxteis”. Ainda de acordo com o catálogo, partilhou o stand com sua tia Ernestina Capeto de Matos[3] que apresentou trabalhos de arte conventual.
Aclénia está representada com os seus Bonecos de Estremoz em colecções particulares e no Museu Rural de Estremoz.
Os Bonecos de Aclénia
Aclénia reproduziu as figuras que aprendera com Mestre Mariano: figuras que têm a ver com a realidade local, figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico, figuras que são personagens da faina agro-pastoril das herdades alentejanas, figuras alegóricas e imagens religiosas.
Os Bonecos de Aclénia são inconfundíveis, a meu ver pela ingenuidade e simplicidade dos traços do rosto, que com a sua rara sensibilidade feminina lhes soube transmitir.
Normalmente têm estampadas na base a marca de identificação da barrista: “Tanagra ” dentro de um rectângulo de 3 cm x 1 cm e a marca de identificação do local de produção: “ESTREMOZ / PORTUGAL”, em maiúsculas e em duas linhas, dentro de um rectângulo de 2,7 cm x 1 cm (Fig. 5).
Uma interpretação possível
As “tanagras” são estatuetas de barro fabricadas com moldes que foram descobertas em túmulos antigos na cidade de Tanagra, antiga cidade grega da Beócia, situada não muito longe de Platéia, a 20 km de Tebas, perto da fronteira com a Ática. O facto de se terem encontrado as tanagras em túmulos antigos é indicativo de que elas tinham uma função funerária. Representam, a maior parte das vezes, mulheres graciosas cobertas com vestidos elegantes, jovens e mais raramente crianças. Estiveram em voga desde o séc. IV a.C. até ao fim do século III d.C. As tanagras tornaram-se a encarnação da graça feminina e, por extensão, a palavra tanagra serve para adjectivar uma jovem fina e graciosa.
O facto de Aclénia, como barrista usar a palavra “Tanagra” como marca de identificação é revelador de que sabia que a palavra era sinónimo de estatueta fina e elegante. Todavia vou mais longe, como Aclénia era uma mulher bela e elegante, poderá ter escolhido aquela marca de identificação, por se considerar ela própria uma “Tanagra”. É uma hipótese absolutamente plausível e que partilho com o leitor.
O falecimento de Aclénia
Em 21 de Abril de 2012, faleceu com a idade de 85 anos na Casa de Saúde do Montepio Rainha D. Leonor, na Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha, Aclénia Pereira (2), artesã polifacetada e barrista estremocense, que tive o privilégio de conhecer nos anos 50 do século passado, em virtude de ser amiga de minha prima Adozinda Pacífico Carmelo da Cunha, que era íntima da casa de seus pais e me levava a passear com ela.
BIBLIOGRAFIA
(1) - Aclénia Risolete Capeto Ventas - Assento de Casamento nº 1 de 1960, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(2) - Aclénia Risolete Capeto Ventas - Assento de Óbito nº 332 de 2012, da Conservatória do Registo Civil de Santarém.
(3) - Aclénia Risolete Capeto Ventas – Processo individual de aluna nº 345, no Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e sucessoras.
(4) - Aclénia Risolete Capeto Ventas - Registo de Nascimento nº 157 de 1927, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(5) - Catálogo da I Feira de Arte Popular e Artesanato. Câmara Municipal de Estremoz. Estremoz, 15 a 17 de Julho de 1983.
(6) - I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz in Brados do Alentejo, 3ª série, nº 93. Estremoz, 15 de Julho de 1983.




[1] A relojoaria e ourivesaria do pai de Aclénia situava-se no Largo da República, 44-A, em Estremoz, no local onde funciona hoje o  Plaza-Pronto-A-Vestir. Lembro--me de quando era rapaz ver expostas na montra do estabelecimento por altura do Natal, figurinhas de presépio confeccionadas por Aclénia. O seu pai era tio e padrinho de Inácio Augusto Basílio, com relojoaria e ourivesaria até há pouco tempo no Rossio Marquês de Pombal, 98, em Estremoz.
[2] Esta Escola resultou da elevação a Escola Industrial, pelo Decreto nº 18.420 de 4 de Junho de 1930, da Escola de Artes e Ofícios de Estremoz, criada pela Lei nº 1.609 de 18 de Dezembro de 1924.
[3] Ernestina, além de artesã, era proprietária de um bem afreguesado salão de cabeleireira, no Largo da República, 9-A, em Estremoz.

Fig. 2 - Pastor com alforge ao ombro. Colecção particular.

Fig. 3 - Pastor a limpar o suor. Colecção particular.

Fig. 4 - Pastor a tocar gaita de beiços. Colecção particular.

 Fig. 5 - Mulher a ordenhar vaca. Colecção particular.

Fig. 6 - Primavera. Colecção particular.

Fig. 7 – Marca de autor de Aclénia Pereira.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Bonecos de Estremoz: Rui Barradas


Rui Barradas (1953-  )

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Rui Barradas

Rui Pires de Zêzere Barradas (1953- ) tem o Curso de Educação Visual e Tecnológica da Escola Superior de Educação de Beja e é docente da disciplina homónima. É barrista, azulejista e pintor (acrílico e aguarela). No período 1985-1990, produziu Bonecos que comercializou na Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz.
Os seus Bonecos foram na época manufacturados em casa e cozidos no forno de mufla da CERCI-Estremoz, onde então leccionava. A comercialização era feita numa loja de artesanato, que com sua mulher Cristina teve na Praça Luís de Camões, nº 11, em Estremoz. Entre 1987 e 1995 e com sua mulher foi co-proprietário da Olaria Alfacinha, em cujo forno procedia à cozedura dos seus azulejos, o que também aconteceu na Escola Básica e Secundária Dr. João Brito Camacho em Almodôvar, na qual leccionou.


 Pastor de capote e cajado. Rui Barradas (1953- ).

  Pastor de tarro e cajado. Rui Barradas (1953- ).

  Pastor a fazer as migas. Rui Barradas (1953- ).

  Pastor a comer. Rui Barradas (1953- ).

  Pastor junto à fogueira. Rui Barradas (1953- ).

 Pastor do harmónio. Rui Barradas (1953- ).
  
 Ganhão sentado com tarro. Rui Barradas (1953- ).

  Semeador. Rui Barradas (1953- ).

  Mondadeira a descansar. Rui Barradas (1953- ).

  Ceifeira a descansar. Rui Barradas (1953- ).

  Mulher a fazer meia. Rui Barradas (1953- ).

  Mulher a bordar. Rui Barradas (1953- ).

 Mulher das castanhas. Rui Barradas (1953- ).

 Peleiro. Rui Barradas (1953- ).

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Bonecos de Estremoz: Uma Estória


Fig. 1 - Confissão (2005). Irmãs Flores (1957- , 1958- ). Figura composta,
manufacturada a partir de desenho de Jorge Branco. Colecção Francisca de Matos.

Ao meu Amigo Jorge Branco (1930-2018),
Geofísico, Escritor, Conferencista,
Artista plástico, Coleccionador, Bibliófilo,
Naturista, Ecologista e tudo!

Desassossego espiritual
A génese do Boneco de Estremoz que esteve na origem da presente crónica, resultou da ocorrência sequencial de três factos: PRIMEIRO: existir alguém com desassossego espiritual quanto baste, que o levou a ter a ousadia de reflectir sobre o que ainda ninguém tenha tido a audácia de pensar. SEGUNDO: a existência de uma infinidade de coisas que ainda não tinham sido pensadas, muitas das quais continuam por pensar e sobre as quais temos a liberdade de reflectir, já que como nos diz Manuel Freire “Não há machado que corte / a raiz ao pensamento”. Sabem porquê? ”Porque é livre como o vento / porque é livre”. TERCEIRO: haver alguém, que até pode ser o ousado pensador, que usufrua de capacidade executiva tal, que lhe permita concretizar o que foi imaginado.
Passou-se isso com o meu saudoso amigo Jorge Branco (Fig.2), que comungava comigo entre outras coisas, o desassossego espiritual permanente e o coleccionismo de Bonecos de Estremoz. Acontece que no conjunto dos “Bonecos da Tradição” e em termos de temática religiosa, existia apenas um certo número de imagens devocionais, bem como figuras de Presépio narrando a vida de Jesus (Nascimento e Fuga o para o Egipto), bem como imagens relatando a Paixão de Cristo (Senhor dos Passos e Cristo crucificado). Jorge Branco constatou que a temática religiosa era vasta e constituía um manancial ainda por explorar, em termos de manufactura de Bonecos de Estremoz. Para além das imagens devocionais, das figuras de Presépio e da Paixão de Cristo, existiam os 10 Mandamentos da Lei de Deus, os 7 Sacramentos da Igreja Católica, os 7 Pecados Capitais, as 3 Virtudes Teológicas e as 4 Virtudes Cardeais. Como diria o meu pai, que era alfaiate, “Aqui há pano para mangas” e daí que Jorge Branco tenha metido mãos à obra.
Concepção e gestação de um Boneco
Jorge Branco era um excelente desenhador, pelo que esboçou no papel uma figura composta a que deu o nome de “Confissão”, designação homónima de um dos 7 Sacramentos. Seguidamente, lançou um desafio às Irmãs Flores, no sentido de efectuarem a correspondente manufactura em barro, ao “modo de Estremoz”. Estas aceitaram o repto de bom grado, como é seu timbre. O resultado está à vista (Fig.1). Uma bela figura composta pelas representações de uma mulher penitente e um padre confessor. A mulher enverga vestido comprido, cor violeta com flores amarelas e véu (ou lenço?) claro na cabeça. Está ajoelhada numa almofada e de mãos postas. A sua cabeça está ao nível da grelha de um confessionário em madeira, encimado por uma cruz e com duas portas frontais, qualquer delas decorada com uma cruz
No confessionário encontra-se sentado um padre de batina preta e colarinho branco, que segura um livro. A cabeça do padre está inclinada em direcção à grelha, o que sugere que a confissão é realizada em voz baixa, para intimidade da penitente. O facto de a mulher usar véu e o padre envergar batina, parece contextualizar a representação em data anterior ao Concílio Vaticano II (1962).
Por vontade expressa de Jorge Branco foram confeccionados unicamente três exemplares, destinados aos membros de uma laicissima trindade de amigos: ele próprio, Francisca Matos e o autor desta crónica. Por desassossego espiritual de Jorge Branco, tinha sido criado mais um Boneco de Estremoz. Como diz António Gedeão: “…sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança / … “.
Confissão
Para a Igreja Católica, as pessoas podem cometer no dia a dia, pecados por pensamentos, por palavras, por acções e por omissões, contrárias à Lei de Deus. A confissão é um Sacramento através do qual o crente reconhece os pecados cometidos perante um padre ou um bispo, de quem recebe a absolvição em nome de Deus e da Igreja.
Visões eruditas de pecado
Nem todos comungam o conceito de pecado, tal como o vê a Igreja Católica. É diversificada e plural a visão erudita ante o pecado: - Santo Agostinho (354-430), teólogo: “O pecado é o motivo da tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo da tua alegria.”; - Martinho Lutero (1483-1546), reformador protestante: A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, e a teologia, pecadores.  - William Shakespear (1564-1616), dramaturgo: “Alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude.”; - François La Rochefoucauld (1613-1680), escritor: “Esquecemos facilmente os nossos pecados quando só nós próprios os sabemos.”; - Blaise Pascal (1623-1662), filósofo e matemático: “Há duas espécies de homens: uns, justos, que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos.”; - Benjamim Franklin (1706-1790), inventor: “Guarda-te da ocasião e Deus te guardará do pecado.”; - Sophie Arnould (1740-1802), soprano: “Há pecados tão agradáveis que, se os confessasse, cometia o pecado do orgulho.”; - Robert Browning (1812-1889), poeta: “A ignorância não é inocência, mas pecado.”; - Kierkgaard (1813-1885), filósofo: Sem pecado, nada de sexualidade, e sem sexualidade, nada de História.  - Pierre Véron (1833-1900), escritor: “O pecado confessado é meio perdoado, mas escondido, é perdoado de todo.”; - Machado de Assis (1839-1908), escritor: “O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”; - Thomas Hardy (1840-1928), poeta: “É muito mais doce imaginar que estamos perdoados, do que pensar que não pecámos.”; - Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo: “A falta de confiança entre amigos é pecado que não pode ser repetido, sob pena de ser irremediável.”; - Anatole France (1844-1924), escritor: “Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.”; - Óscar Wilde (1854-1900), escritor: Não peca quem peca por amor. - Teixeira de Pascoaes (1877-1952), poeta: “O pecado é mais fecundo que a virtude.”; - Jorge Luís Borges (1899-1986), escritor: “No passado cometi o maior pecado que um homem pode cometer: não fui feliz.”; - Graham Green (1904-1991), escritor: “A maioria das pessoas prefere confessar os pecados dos outros.”;
Música Portuguesa
A Música Portuguesa considera que o pecado está ausente do amor. O fado “Amar não é pecado” com letra de Moita Girão e música de Pedro Rodrigues foi cantado por fadistas como Mariana Silva e Argentina Santos.  Nele se afirma que “Há quem recorde o passado / Com um desgosto profundo / De ter amado. Porém, / Amar não é um pecado. / Pecado é andar no mundo / Sem ter amor a ninguém.”
A confissão ou melhor a sua ausência também está presente na Música Portuguesa. O fado “Nem às paredes confesso” tem letra de Maximiano de Sousa e música de  Ferrer Trindade e Artur Ribeiro. Foi popularizado por intérpretes como Francisco José e Amália Rodrigues. Diz o refrão: “De quem eu gosto / nem às paredes confesso / E nem aposto / Que não gosto de ninguém / Podes rogar / Podes chorar / Podes sorrir também / De quem eu gosto / Nem às paredes confesso.”
Sabedoria popular
Na gíria popular, a palavra “pecado” é usada em sentido figurado. Assim, “ser os meus pecados” é ser alguém que me causa preocupações. “Pecados velhos” são pecados cometidos há muito tempo. “Por mal dos meus pecados” significa por infelicidade minha. “Ser os pecados de alguém” é causar preocupações. “Vara de bater pecados” é a designação dada a pessoa alta e magra. Na gíria popular, aparece igualmente o termo “confessar”. Alguém “não se confessar” é ser reservado e não exteriorizar os seus sentimentos.
Ao longo dos séculos, fruto da observação, a sabedoria popular consensualizou juízos, os quais condensou em provérbios que chegaram até nós.
Os principais, referentes a pecado” podem assim ser sistematizados: - UNIVERSALIDADE: Ninguém há sem pecado. Ao pecado até os cães ladram. - SABOR: Tudo o que é bom, ou faz mal ou é pecado. Aquilo que sabe bem, ou é pecado ou faz mal. Pecado mortal, sabe bem e faz mal. - FREQUÊNCIA: Humano é pecar, diabólico é perseverar. O primeiro pecado vence a vergonha, o segundo a dissimula, o terceiro a perde. - EVIDÊNCIA: Fugir do juiz é confessar pecado. - DESCULPA: Antes pecar que arder. Fazer o que os outros fazem não é pecado. Onde toda a gente peca, ninguém faz peni­tência. - PERDÃO: Não há pecado que não possa ser perdoado. Pecado calado, meio perdoado. Pecado confessado é meio perdoado. - SINGULARIDADE: Dívidas e pecados, cada um paga pelos seus. - HERANÇA: Os pecados dos nossos avós, fazem-nos eles e pagamo-los nós. - ADEQUAÇÃO: Um pecado, uma penitência. Pecado novo, penitência nova. Pecado velho, penitência nova. Pecado velho, prudência nova. A culpa de um pecado não se paga com a penitência de outro.
Relativamente à “confissão”, o número de provérbios é diminuto e dispensa sistematização, bastando a sua enumeração: Confessa a Deus os pecados teus. Ao confessor e ao letrado confessa teu pecado. Pecado confessado é meio perdoado. Padre mouco não confessa.
À laia de balanço
Chegado a este ponto, creio ser legítimo tirar algumas conclusões. Nem todos vêem as coisas da mesma maneira. O que poderá ser pecado para uns, não é pecado para outros, o que é natural, já que os pressupostos são diferentes. Há que saber viver com isso. É caso para dizer:
- Tu ficas com a tua e eu fico com a minha!

Estremoz, 27 de Outubro de 2019
(Jornal E nº 233, de 14-11-2019)
Publicado inicialmente aqui a 13 de Novembro de 2019 

Fig. 2 - Jorge Branco no decurso da 2.ª Feira de Coleccionismo de Estremoz,
em 21 de Junho de 1997.