Na Sessão Ordinária da Assembleia Municipal de Estremoz realizada no passado dia 22 de Novembro de 2019, sob proposta do Grupo Municipal da CDU, foi aprovado por maioria absoluta (28 votos a favor e 1 abstenção) o seguinte:
VOTO DE PESAR
”José
Mário Branco, nascido em 1942 no Porto, revelou-se desde cedo um espírito
inconformado e rebelde, sendo a campanha eleitoral do General Humberto Delgado
para a Presidência da República de 1958 o momento-chave para o início da
intervenção política e cívica que iria marcar toda a sua vida.
Jovem militante do PCP ilegalizado, opta por emigrar a salto
para França em 1963 de maneira a evitar o serviço militar obrigatório e a
consequente mobilização para Guerra Colonial. Exilado até à revolução de Abril
de 1974, é neste país que inicia a produção musical, acompanhado por outros
nomes maiores da música portuguesa como Sérgio Godinho ou José Afonso, é com
este último que mantém uma relação mais profícua e profunda, plasmado na
produção e arranjos do disco “Cantigas do Maio” onde se baseia na cadência e
estrutura do cante alentejano para assegurar a direcção musical daquele que
seria o tema que para sempre será associado ao 25 de Abril, Grândola Vila
Morena. É ainda no ano de 1971 que lança o seu disco mais marcante “Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades”.
Regressado a Portugal 4 dias depois da mais importante data da
história contemporânea portuguesa, imediatamente retoma a sua intervenção
artística e política com um fulgor e energia contagiantes. Funda o GAC Grupo de
Acção Cultural – Vozes da Luta, colectivo de músicos que desenvolve um trabalho
notável de divulgação e recolha musical que percorre o país, com mais de 1000
concertos, levando a música aos mais recônditos locais e localidades apresentando
gratuitamente o que de melhor se fazia musicalmente a uma população que, de
outro modo, nunca teria acesso a esta realidade e produção cultural.
Continuou a cantar, criar, produzir, fazer arranjos para
teatro, filmes e para inúmeros músicos que vão desde os velhos companheiros de
estrada até aos novos nomes sonantes da música portuguesa. Com o projecto Maio
Maduro Maio volta a revisitar o legado de José Afonso, altura em que actua em
Estremoz, no Teatro Bernardim Ribeiro.
Conjuntamente com a actividade profissional como músico,
continua a intervir política e partidariamente, primeiro integrando a UDP –
União Democrática Popular, e já nos anos 90 é um dos nomes primordiais aquando
da criação do Bloco de Esquerda.
Nos últimos anos afirma sentir-se desencantado com o estado do
mundo e do país, considerando que Abril nunca foi verdadeiramente concretizado,
afasta-se dos palcos, mas nem por isso deixa de ser extraordinariamente activo
em estúdio, nomeadamente na qualidade de produtor e arranjador.
Falecido no passado dia 19, a CDU vem por este meio, apresentar esta
homenagem da Assembleia Municipal de Estremoz a um dos maiores nomes do
panorama musical português. Pela relevância ímpar, pelo brilhantismo da sua
produção lírica e musical, pela influência marcante que deixou na vida cultural
nacional e ainda pela participação cívica pautada de uma lucidez e
assertividade únicas.
Sempre recusando honrarias, homenagens e exposição pública
desnecessária e fútil, fica uma frase quando foi surpreendido no Coliseu de Lisboa
com um prémio carreira atribuído pela Revista BLITZ, exclamando: “O que é que
eu fiz para merecer isto?!””
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