Rua Vitor Cordon, Estremoz, 1955. Fotografia de Henri Cartier-Bresson.
Ao fundo do lado esquerdo, um camponês carrega dois taleigos.
Desde tempos imemoriais que nas suas deslocações, o Homem teve necessidade de transportar mercadorias e entre elas, alimentos. Para tal, com a sua imaginária inventou sabiamente recipientes que facilitavam o seu transporte e que eram fáceis de manufacturar a partir daquilo que a Terra dá: - cestos de vime ou de cana; - alcofas de esparto, sisal, palha ou ráfia; - alforges de lã ou de couro; - taleigos de linho, lã, algodão ou seda, muitas vezes confeccionados por mãos femininas a partir de retalhos ou primorosamente bordados.
Quando se danificavam e ficavam impedidos de cumprir a sua missão, eram lançados à Terra Mãe que os tinha gerado e cujas entranhas, após degradação, passavam de novo a integrar: “Todos saem do pó e para o pó voltam (Eclesiastes 3:20).
A utilização de recipientes como cestos, alcofas, alforges e taleigos está profusamente documentada nas iluminuras que ilustram os códices medievais e renascentistas, bem como em quadros pintados nos séculos posteriores.
Em meados do século passado, era vulgar a utilização de qualquer daqueles recipientes. Do mercado trazia-se fruta num cesto e batatas e hortaliça numa alcofa. Havia um taleigo para o pão, outro para os queijos, bem como outro para o feijão ou para o grão. Pagava-se com moedas ou notas que se traziam num taleigo dentro dum bolso. Eu, puto de bibe e de pião, tinha um taleigo para os berlindes e outro para os botões.
Nas mercearias e drogarias, as mercadorias eram embaladas em cartuchos de papel ou embrulhadas nele. O mesmo se passava com os medicamentos nas farmácias. Nas retrosarias, os tecidos, os acessórios ou a roupa confeccionada, eram embrulhados em papel.
Dos locais de compra, as mercadorias eram transportadas em taleigos, cestos ou alcofas, que se levavam de casa. E a vida lá ia decorrendo, em equilíbrio harmónico do Homem com a Terra Mãe. Todavia, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, foi assumindo importância crescente a nível mundial, uma matéria-prima conhecida genericamente por plástico, a qual por ganância da indústria química, passou a ser utilizada em tudo e mais alguma coisa, nomeadamente no fabrico de sacos de plástico.
Por influência maléfica do marketing agressivo daquela indústria, os comerciantes avalizam então uma política de utilização dos sacos de plástico, vantajosa para os fabricantes. É veiculada a mensagem errónea de que é chique ir às compras, de mãos a abanar, porque lá nos dão sacos de plástico. Como se o custo dos sacos não estivesse incluído no valor da transacção. Porém, toda a moeda tem duas faces. Foi assim que os cientistas descobriram que na prática, o plástico deve ser considerado como não biodegradável, uma vez que o seu tempo de decomposição, oscila entre os 100 e os 500 anos, dependendo do tipo de plástico. Uma tal estimativa, traduz a dificuldade de o plástico se fundir com a Terra Mãe, a qual irreversivelmente irá poluir, quebrando o ancestral equilíbrio harmónico entre os materiais perecíveis e a Natureza. Foi então que a responsabilidade social dos cientistas, os induziu a advogar a reciclagem do plástico, bem como o abandono do seu uso.
Em nome da sobrevivência, a civilização que inventou o saco de plástico, vê-se forçada a marginalizá-lo e a substitui-lo por produtos amigos do ambiente. É caso para dizer:
- VIVA O TALEIGO! VIVA!
- MORRA O SACO DE PLÁSTICO! MORRA! PIM!
A
barrista Liberdade da Conceição (1913-1990), pintando Bonecos de Estremoz
na
Exposição do Mundo Português. Do lado esquerdo da cadeira está pendurado
um
taleigo. Imagem do filme "A Grande Exposição do Mundo Português
(1940)",
de António Lopes Ribeiro