A barrista Liberdade da Conceição na Exposição do Mundo Português.
A "Exposição do Mundo Português", foi um
evento de grande dimensão e impacto, que se realizou em Lisboa, de 23 de Junho
a 2 de Dezembro de 1940. Visava comemorar simultaneamente as datas da Fundação
do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640). Estava
implantada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupando
cerca de 560 mil metros quadrados.
António Ferro (1895-1956), Secretário-Geral da
Comissão Executiva da Exposição, era próximo de José Maria de Sá Lemos (1892-1971),
Director da Industrial António Augusto Gonçalves. Por isso, esteve em Estremoz,
onde convidou Mariano da Conceição (1903-1959) a participar na Exposição. Este
não o pôde fazer presencialmente, dada a sua condição de funcionário público, uma
vez que era Mestre de Olaria naquela Escola. Todavia, participou
indirectamente, já que os bonecos confeccionados por ele em Estremoz, eram
transportados para Lisboa, onde na Exposição eram pintados por sua mulher,
Liberdade da Conceição (1913-1990), que ali esteve presente durante todo o
período da mesma. No filme "A Grande
Exposição do Mundo Português (1940)", de António Lopes Ribeiro, vê-se aquela
barrista, vestida de camponesa, a pintar bonecos de Estremoz. Estes foram na
Exposição do Mundo Português, o ex-líbris de excelência da cidade que lhes deu
o nome, bem como os melhores embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa
identidade cultural local e regional. Foram também a prova insofismável de que
na nossa terra existiam criadores populares de elevado gabarito. A mensagem
transmitiu-se através do feedback de cerca de 3 milhões de visitantes,
originários dos mais distintos locais, não só de Norte a Sul do país, como
também das Ilhas e mesmo das Sete Partidas do Mundo.
Os bonecos de Estremoz, até então relativamente
pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio e muito justamente, grande
notoriedade pública. Foram eles que desalojaram a nossa Arte Popular do
estatuto comezinho em que se encontrava acantonada e lhe conferiram dimensão
humana à escala planetária.
Com a Exposição do Mundo Português houve uma
mudança de paradigma na produção de bonecos de Estremoz. Mariano da Conceição
resolveu dar uma inflexão à sua actividade. Até ali só manufacturava bonecos na
Escola. A partir daí, passa também a executá-los em casa e a comercializá-los
em diversos locais de Estremoz. Demonstra assim que a produção de figurado é
uma actividade viável, abrindo caminho para aqueles que se lhe seguiram, após a
sua morte prematura em 1959.
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