segunda-feira, 10 de junho de 2013

Confissão

"O Gadanheiro" (1945), óleo sobre tela, de Júlio Pomar (1926- ).

Assumo naturalmente de corpo e Alma, a Matriz que me pariu e que me leva a ser eu próprio, sem réplicas nem clones.
Incorrecto quanto baste, o meu caminho é por onde eu vou, sem pedir licença a ninguém e sem necessidade de me justificar perante Tribunais do Santo Ofício, sejam eles quais forem e que nos dias de hoje se transmutaram em congregações de avental ou cemitérios centrais de uma coisa que não se sabe bem qual é. Todavia, uns e outros, em nome dum colectivo imaginário, deixaram de lutar pela Liberdade e pala Independência Nacional.
Se há coisa que me mantém vivo é o amor físico e mental que nutro por aquilo que amo e que me faz vibrar sincronicamente com a pulsação e o frémito dum corpo de mulher, à velocidade da languidez com que cantam os ralos numa seara de Junho. Esse é o meu Universo do Amor, que tem ver com a identidade que da braguilha me sobe até acima e faz com que eu seja aquilo que sou, um alentejano dos barros de Estremoz.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O Alentejo somos todos nós.


GUARDANDO O REBANHO (1893). Silva Porto (1850-1893). Óleo sobre tela (160×200 cm).
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.

O Alentejo está-nos na massa do sangue.
Cada um de nós está em sintonia com o Alentejo que lhe vai na Alma.
O Alentejo é a síntese dialéctica de tudo isso, de todos os nossos sentires e de um Amanhã que há de vir, sem manajeiros nem mourais, nem tão pouco controleiros e outros que tais.
O Alentejo está-nos na braguilha de semear filhos com as mulheres que amamos. O Alentejo tem a ver com a nossa forma de empinar o Amor. O Alentejo é todo o tesão de termos nascido onde nascemos. É o cheiro dos orégãos e o olor do azeite virgem, o sabor da sopa de tomate ou duma friginada, o som hierático do cante ou o ritmo arrebitado das saias. É também o volume terno e aconchegado dos seios que afagamos e da textura macia da pele de mulher, que nos sabe a mel e a vinho tinto.
O Alentejo somos todos nós.

Publicado inicialmente em 7 de Junho de 2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Bonecos de Estremoz a Património Imaterial da Humanidade

MULHER A VENDER CASTANHAS (séc. XX).
Oficinas de Estremoz.
Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

Cada boneco de Estremoz fala-nos de um contexto antropológico, social ou religioso. Fala-nos também do seu criador e dos sonhos que lhe povoam a mente. Fala-nos ainda das técnicas ancestrais que o artista popular domina e que lhe brotam à flor das mãos.
Cada boneco é fruto de uma relação de amor de quem procura fazer tudo a partir do nada que é a massa informe de barro. Todavia é também a expressão viva do ganha-pão diário de quem tem necessidade de assegurar a sua subsistência e a dos seus.
Cada boneco é um panfleto de cores garridas e de claridades do sul, próprias desta terra transtagana.
Tomar um boneco nas mãos é criar sinestesias que envolvem os nossos cinco sentidos. É como possuir uma bela mulher que nos enche as medidas e por quem sentimos exactamente o mesmo desejo da semente que fecunda a Terra-Mãe. Por isso, eu amo os bonecos de Estremoz. Daí que subscreva com alma e coração, a sua candidatura a “Património Imaterial da Humanidade”.

Efemérides de Julho

31 de Julho

A 31 de Julho de 1750 morre D. João V (1689-1750), em cujo reinado uma corrente de
renovação assolou todo o país e manifestou-se nas mais diversas produções artísticas:
arquitectura, escultura, pintura, mobiliário, ourivesaria, talha e azulejo. Estas foram
incrementadas e personalizadas por uma extensa plêiade de artistas portugueses e

estrangeiros. BATALHA DO AMEIXIAL EM 1663 (séc. XVIII). Painel de azulejos de uma
das salas do Palácio Tocha, em Estremoz.
30 de Julho

A 30 de Julho de 1848 é inaugurada a iluminação a gás na Baixa de Lisboa, a primeira
em Portugal. Com este melhoramento, as ruas da cidade deixam de ser escuras, ainda
que por esse país fora haja ruas conhecidas por “Rua Escura”, como é o caso de um
arruamento na freguesia da Sé da cidade do Porto, cuja designação remonta a 1404,
conforme documento do cabido e que desde 1301 era conhecida por “Rua Nova”.
Placa toponímica da “Rua Escura”, na cidade do Porto.
29 de Julho
A 29 de Julho de 1803, no reinado de D. Maria I (1734-1816) foi criada a Academia
Real de Marinha e Comércio, na dependência da Companhia Geral da Agricultura
das Vinhas do Alto Douro com a finalidade principal de formar os seus futuros
quadros técnicos. Sediada no Porto, funcionou entre 1803 e 1837, sendo
então transformada na Academia Politécnica do Porto, que esteve na origem
das actuais Faculdades de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto.
D. MARIA I – Painel de azulejos no Jardim do Palácio Galveias, Lisboa.
28 de Julho

A 28 de Julho de 1446 são publicadas as Ordenações Afonsinas, colectâneas de
leis promulgadas durante o reinado de Dom Afonso V (1432-1481), distribuídas
por cinco livros e que visavam esclarecer a aplicação do direito canónico
e romano no Reino de Portugal. Nunca chegaram a ser impressas durante o
período em que vigoraram, apesar da imprensa de Johannes Gutenberg
1398-1468) já estar em uso na Alemanha desde 1439. A demora na produção
de cópias manuscritas parece ter sido um dos problemas para a sua aplicação
em todo o Reino, já que a imprensa em Portugal só apareceu por volta de
1487, no Reinado de D. Manuel I (1469-1521). A sua aplicação não foi uniforme
no Reino e vigoraram apenas até à promulgação das suas sucessoras, as
Ordenações Manuelinas. D. AFONSO V – Painel de azulejos no Jardim do
Palácio Galveias, Lisboa.
27 de Julho
A 27 de Julho de 1866 nasce, em Vale da Vinha, concelho de Penacova, António José
de Almeida (1866-1929), médico, político republicano, sexto presidente da República
(1919-23), fundador e director do jornal República. A Proclamação da República
Portuguesa. Painel de azulejos numa casa de Soure.
26 de Julho
A 26 de Julho de 1994 é inaugurado o Museu da Música na Estação do Alto dos
Moinhos, do Metro de Lisboa. O Museu da Música detém um acervo com cerca de
1400 instrumentos, entre os quais o cravo de Joaquim José Antunes (1731-1811),
o cravo de Pascal Taskin (1723-1793), o piano Boisselot, que o compositor e pianista
Franz Liszt (1811-1886) trouxe a Lisboa, em 1845, e o violoncelo de Antonio Stradivari
(1644-1737), que pertenceu ao rei D. Luís I (1838-1889).  EUTERPE – MUSA DA MÚSICA
(1670-1675). Painel de azulejos (130 cm x 91 cm) de autor desconhecido, fabrico de
Lisboa. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
25 de Julho
A 25 de Julho de 1139 travou-se a Batalha de Ourique. Nela se defrontaram
as tropas cristãs, comandadas por D. Afonso Henriques (c.1109-1185) e as
muçulmanas, saldando-se o embate por uma vitória para as hostes portuguesas.
D. AFONSO HENRIQUES NA BATALHA DE OURIQUE – Painel de azulejos historiados
 o pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Colaço (1868-1942),
no Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães (Esposende) e executados
na Fábrica de Cerâmica Lusitânia, em Lisboaentre 15 de Junho e 30 de
Setembro de 1933.
24 de Julho
A 24 de Julho de 1780 realiza-se a primeira sessão da Real da Academia das Ciências,
no Palácio das Necessidades, em Lisboa. A Academia foi fundada no reinado de Dona
Maria I (1734-1816) em 24 de Dezembro de 1779, em pleno Iluminismo, sendo o seu
primeiro Presidente, o Duque de Lafões (1719-1806). A Academia encontra-se, desde
1833, instalada no antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de
São Francisco, edifício setecentista localizado na parte baixa do Bairro Alto, em
Lisboa. Depois da implantação da República, a instituição passou designar-se Academia
das Ciências de Lisboa. Painel de azulejos figurativos (séc. XVIII) da Academia das
Ciências de Lisboa.
23 de Julho
A 23 de Julho de 1951 é fundada, em Lisboa, a Liga dos Cegos de João de Deus.
Painel de azulejos com placa toponímica da rua João de Deus, Albufeira.
22 de Julho
A 22 de Julho de 1946, a revista americana “Time” publica uma reportagem sobre
Salazar e a ditadura do Estado Novo com o título "Até que ponto o melhor de
Portugal é mau". A distribuição nacional da revista é proibida. Painel de azulejos
do pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Colaço (1868-1942), no
Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães (Esposende) e executados na Fábrica
de Cerâmica Lusitânia, em Lisboaentre 15 de Junho e 30 de Setembro de 1933.
Trata-se de uma frase de Salazar. Uma troca dos azulejos na altura de recente restauro
torna difícil a leitura. A frase correcta é: "Dêmos à nação optimismo, alegria, coragem,
fé nos seus destinos; retemperemos a sua alma forte ao calor dos grandes ideais
e tomemos como nosso lema esta certeza inabalável: Portugal pode ser, se nós
quisermos, uma grande e próspera nação.".
21 de Julho
A 21 de Julho de 1542, o Papa Paulo II (1417-1471) institucionaliza a Inquisição.
Painel de azulejos da Casa da Inquisição, situada na Rua do Quebracosta,
Monsaraz.
20 de Julho

A 20 de Julho de 1955, morre em Lisboa, Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1965),
magnata do petróleo, coleccionador de arte, mecenas e filantropo. Paredão
de Azulejos (1982) do arquitecto e pintor João Abel Manta, produzida na Fábrica
Constância. Trata-se do exemplar em azulejaria com maior extensão, a nível mundial.
Avenida Calouste Gulbenkian, Lisboa.
19 de Julho

A 19 de Julho de 1886, morre o poeta Cesário Verde (1855-1886), com 31 anos
de idade. No ano seguinte Silva Pinto organiza “O Livro de Cesário Verde”,
compilação da sua poesia publicada em 1901. Ao retratar a Cidade e o Campo,
que são os seus cenários predilectos, no seu estilo delicado, Cesário empregou
técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade.
18 de Julho

A 18 de Julho de 1697 morreu o Padre António Vieira (1608-1697), sacerdote
jesuíta, missionário, filósofo, escritor, orador, político e diplomata. Defensor
dos direitos dos povos indígenas do Brasil, foi também defensor dos judeus,
defendeu a abolição da escravatura e foi crítico da Inquisição. A sua obra
literária inclui mais de 200 sermões, 700 cartas, além de tratados proféticos,
relações, etc. Um dos seus mais famosos sermões é o Sermão de Santo António
aos Peixes. SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES (séc. XVII) – Painel
de azulejos da Igreja de S. Simão, Vila Fresca de Azeitão.
17 de Julho
A 17 de Julho de 1877 é inaugurado o Hospital de D. Estefânia, em Lisboa. A sua
construção  iniciada em 1860, foi iniciativa da Rainha Dona Estefânia de Hohenzollern-
-Sigmaringen (1837-1859), mulher de D. Pedro V (1837-1861), que numa visita ao Hospital
de São José, impressionada com a promiscuidade com que na mesma enfermaria eram
tratadas crianças e adultos, ofereceu o seu dote de casamento para que fosse construído
um hospital para crianças pobres e enfermas. A sua construção foi primorosamente
planeada, tendo D. Pedro V solicitado pareceres sobre projectos e plantas hospitalares,
elaboradas por técnicos de reconhecida competência, de locais como Londres, Berlim e Paris.
16 de Julho
A 16 de Julho de 1212 trava-se a batalha de Navas de Tolosa, perto de Navas de Tolosa,
na actual Espanha. O rei Afonso VIII de Castela (1155-1214), liderando uma coligação com
Sancho VII de Navarra (1154-1234), Pedro II de Aragão (1178-1213), um exército de Afonso
II de Portugal (1185-1223), juntamente com cavaleiros do reino de Leão e das ordens
militares. D. AFONSO II - Painel de azulejos no Jardim do Palácio Galveias, Lisboa.
15 de Julho

A 15 de Julho de 1759, Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Marquês de
Pombal, recebe o título de Conde de Oeiras. Cena galante (séc. XVIII). Painel de
azulejos do Jardim do Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras.
14 de Julho

A 14 de Julho de 1901, o cirurgião Egas Moniz (1847-1955), Nobel da Medicina em 1949,
conclui o doutoramento, em Lisboa. O Aio Egas Moniz (1080-1146) antepassado do
neurologista português, apresentando-se ao rei de Leão com a sua família. Painel de
azulejos de Jorge Colaço (1864-1942). Estação da CP de São Bento, Porto.
13 de Julho
A 13 de Julho de 1647 é criada a Aula de Fortificação e Arquitectura Militar,
na Ribeira das Naus, em Lisboa. Ribeira das Naus foi a designação dada a partir
da construção do Paço da Ribeira às novas tercenas que o rei Dom Manuel I
mandou edificar a ocidente do novo palácio real, construído sobre o local das
tercenas medievais. Ribeira das Naus, em Lisboa. Ribeira das Naus, em Lisboa.
Excerto do painel de azulejos “Grande Panorama de Lisboa” (1700), de Gabriel
del Barco, proveniente doo Palácio dos Condes de Tentúgal, na Rua de Santiago,
em Lisboa. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
12 de Julho

A 12 de Julho de 1976, morre Simão César Dórdio Gomes (1890-1976), pintor
modernista português. CEIFEIROS - Painel de azulejos policromos, pintado por
Eduardo Leite segundo cartão de Dórdio Gomes, produzido na Fábrica da Viúva
Lamego, Lisboa. Átrio da Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja.
11 de Julho

A 11 de Julho comemora-se o Dia Mundial da População. Póvoa de Varzim – Mulheres
no soalheiro (costume poveiro que consiste em as mulheres se juntarem na praia e
conversarem sobre a sua vida e a dos outros, enquanto esperam que os homens
venham do mar). Painel de azulejos (séc. XX) da autoria do pintor poveiro Fernando
Gonçalves (Nando), presente no paredão do areal da Póvoa de Varzim.
10 de Julho

No dia 10 de Julho comemora-se o Dia Mundial da Lei com a finalidade de lembrar
a importância do cumprimento do Direito, o quale remonta às primeiras civilizações
que conheceram a escrita. São marcos importantes da História do Direito, o código
do rei da Babilónia, Ur-Nammu, o código de Hamurabi, as leis das Doze Tábuas,
as leis da Roma Antiga, as leis Draconianas da Grécia Antiga, as Ordenações
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, a Constituição Francesa de 1791, as leis do
Império (a Lei Áurea), da República, a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, etc. JUSTIÇA - Painel de azulejos do séc. XVII. Igreja Matriz de
São João Baptista, Moura. Fotografia (1960-1970) de João Miguel dos Santos
Simões (1907-1972), pertencente ao Arquivo Digital da Biblioteca de Arte
da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
9 de Julho

Desde 9 de Julho de 1926 que António Óscar de Fragoso Carmona (1869-1951), como
Presidente do Ministério passa a desempenhar as funções de Presidente da República,
após a demissão do General Manuel de Oliveira Gomes da Costa (1863-1929). Viria a
ser nomeado interinamente para o cargo, por decreto de 16 de Novembro de 1926.
Foi o décimo primeiro presidente da República Portuguesa (primeiro da Ditadura e
primeiro do Estado Novo). Painel de azulejos provenientes, muito possivelmente e
como a iconografia indica, de uma igreja de religiosos teatinos. Jardim do Palácio
do Conde de Castro Guimarães “Torre de São Sebastião”. Parque Marechal Carmona,

em Cascais.
8 de Julho

A 8 de Julho de 1497, a armada de Vasco da Gama parte de Belém, em Lisboa,
rumo à Índia. É composta pelas naus São Gabriel, São Rafael e Bério. Vasco da
Gama atingirá Calecut e regressará a Lisboa em 1499. VASCO DA GAMA (1901-1910)
- Azulejo (14,5 cm x 14, cm). Fabrico do Atelier Visconde de Sacavém, Caldas da
Rainha. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
7 de Julho

A 7 de Julho de 2007, a Torre de Belém, os mosteiros dos Jerónimos, de Alcobaça
e da Batalha, o Palácio da Pena e os castelos de Guimarães e Óbidos foram proclamados
como as Sete Maravilhas de Portugal. Tratou-se de uma iniciativa apoiada pelo Ministério
da Cultura de Portugal, organizada pelo consórcio Y&R Brands S.A. - Realizar S.A., que
visou eleger os sete monumentos mais relevantes do património arquitectónico português.
A escolha recaiu em 794 monumentos nacionais classificados pelo IPPAR, da qual foi feita
uma primeira selecção efectuada por peritos, a qual originou uma lista de setenta e sete
monumentos. Depois foi feita uma nova escolha, efectuada por um Conselho de Notáveis
constituído por personalidades de diversos quadrantes de onde saíram os vinte e um
monumentos finalistas. A partir de 7 de Dezembro de 2006, decorreu a votação que viria
a eleger os sete monumentos eleitos dos portugueses. TORRE DE BELÉM – Painel de
azulejos do séc. XVIII, dos claustros do Convento de São Vicente de Fora, Lisboa.
6 de Julho

A 6 de Julho de 2010, morre Matilde Rosa Araújo (1921-2010), pedagoga e
escritora especializada em literatura infantil e que enquanto cidadã se dedicou no
decorrer da sua vida aos problemas da criança e à defesa dos seus direitos. Foi
distinguida com diversos prémios literários e em 2004 foi agraciada com o grau
de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Painel de azulejos (1956)
de Mestre Querubim Lapa (1925- ).Escola Primária Mestre Querubim Lapa,
Campolide, Lisboa.
5 de Julho

A 5 de Julho de 1852 é abolida a pena de morte para crimes políticos (artigo 16º do
Acto Adicional à Carta Constitucional de 5 de Julho, sancionado por D. Maria II).
D. MARIA II (1999) - Painel de 696 azulejos de Maria J. Cruz. Escola Secundária
D. Maria II, Lisboa.
4 de Julho

A Rainha Santa Isabel de Aragão (1270-1336), esposa de el-Rei D. Diniz (1261-1325),
faleceu no Castelo de Estremoz, com 66 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1336,
de uma doença súbita surgida quando se dirigia para a raia em missão de
apaziguamento entre o filho, D. Afonso IV (1291-1357), e o neto, Afonso XI de
Castela (1311-1350). As virtudes da Rainha, mais tarde considerada Santa,
estiveram na origem da sua beatificação por Leão X (1475-1521), em 1516,
com autorização de culto circunscrito à Diocese de Coimbra. Em 1556, o papa
Paulo IV (1476-1559) torna extensiva a devoção isabelina a todo o Reino de
Portugal. Seria o papa Urbano VIII (1568-1664), dada a incorrupção do corpo
e o relato dos milagres, quem proclamaria em 1625, a canonização de Isabel
de Aragão como Rainha Santa. MILAGRE DA CRIANÇA SALVA DAS ÁGUAS (c. 1725).
Teotónio dos Santos (?). Painel de azulejos (2,60 m x 2,40 m). Capela da Rainha
Santa Isabel do Castelo de Estremoz.
3 de Julho

A 3 de Julho de 1780 é fundada a Casa Pia de Lisboa pelo intendente da
polícia de D. Maria I (1734-1816), Diogo de Pina Manique (1733-1805),
 ficando instalada no Castelo de S. Jorge. SÃO DIOGO (séc. XVII) –  Painel
de azulejos da Casa Pia de Lisboa.
2 de Julho

A 2 de Julho de 1932, morre no exílio em Twickenham, Inglaterra, o último rei de
Portugal, D. Manuel II (1889-1932), o “Bibliógrafo”, sufocado por um edema da glote.
Depois de decorridos os funerais celebrados na Catedral de Westminster, em Londres,
onde se celebram as exéquias dos monarcas e dos grandes vultos britânicos, por
determinação expressa do Governo de Salazar, D. Manuel é transladado para Lisboa,
onde tem funerais nacionais, jazendo desde 2 de Agosto de 1932, no Panteão dos
Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. D. MANUEL II (1908).
L. Basto. Lisboa, Fábrica de Louça de Sacavém. Azulejo em faiança (15,5 x 15,6 cm).
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
1 de Julho
A 1 de Julho de 1920 nasce em Lisboa, Amália Rodrigues (1920-1999), fadista, cantora
e actriz portuguesa, considerada a Rainha do Fado. Cantou os grandes poetas da língua
portuguesa (Camões, Bocage), além dos poetas que escreveram para ela (Pedro Homem
de Mello, David Mourão Ferreira, Ary dos Santos, Manuel Alegre, Alexandre O’Neill.
Conhece também Alain Oulman, que lhe compõe diversas canções. Amália dá brilhantismo
ao fado, ao cantar o repertório tradicional de uma forma diferente, sintetizando o que é
rural e urbano. Considerada a nossa melhor embaixatriz, difundiu a cultura portuguesa,
a língua portuguesa e o fado. Ao longo da sua carreira recebeu inúmeras distinções: Dama
da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1958), Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada (1971), Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1981), Grã-Cruz da Ordem
Militar de Sant'Iago da Espada (1990), Ordem das Artes e das Letras (França-1990),
Légion d'Honneur (França-1990), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1998). A 6 de
Outubro de 1999, Amália Rodrigues morre em Lisboa, tendo o 1º ministro decretado Luto
Nacional por três dias. No seu funeral incorporaram-se centenas de milhares de lisboetas
que assim lhe prestam uma última homenagem. Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres,
em Lisboa. Em 2001, o seu corpo foi trasladado para o Panteão Nacional, onde está sepultado
ao lado de outros portugueses ilustres. Painel de azulejos do miradouro Amália Rodrigues,
em Alcochete.

domingo, 2 de junho de 2013

Os bonecos de Estremoz na Exposição do Mundo Português


Fig. 1 - Homem do harmónio (Boneco de Estremoz
de Mariano da Conceição. Museu Rural de Estremoz.
Fotografia de Luís Mariano Guimarães).

AS COMEMORAÇÕES DOS CENTENÁRIOS DA FUNDAÇÃO E DA RESTAURAÇÃO DA NACIONALIDADE
A 2 de Junho de 1940, teve lugar em Lisboa, a abertura oficial das Comemorações dos Centenários da Fundação e da Restauração da Nacionalidade, anunciada pelo presidente da Comissão Executiva dos Centenários, Júlio Dantas.
As Comemorações tiveram âmbito nacional, mas o seu maior esplendor foi a Exposição do Mundo Português.

A EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
A "Exposição do Mundo Português" (Fig. 2), que se realizou de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940, foi um evento realizado em Lisboa durante o regime do Estado Novo. Com o propósito de comemorar simultaneamente as datas da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640), constituiu-se na maior de seu género realizada no país até à data. Para a época foi uma grandiosa obra só comparável, com as devidas proporções, com a "Exposição Universal de Lisboa" de 1998.Incluía pavilhões temáticos relacionados com a História de Portugal, suas actividades económicas, cultura, regiões e territórios ultramarinos. Incluía ainda um pavilhão do Brasil.

Fig. 2.

O evento levou a uma completa renovação urbana da zona ocidental de Lisboa. A sua praça central deu origem à Praça do Império, uma das maiores da Europa. A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu término, restando apenas algumas como o actual Museu de Arte Popular e o Monumento aos Descobrimentos (reconstrução com base no original de madeira).
Situada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupava cerca de 560 mil metros quadrados e recebeu cerca de três milhões de visitantes, constituindo o mais importante facto cultural do Estado Novo.

OS BONECOS DE ESTREMOZ NA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
António Ferro, Director do Secretariado Nacional de Propaganda, estrutura que controlava todas as formas de comunicação do país, era o Secretário-Geral da Comissão Executiva, presidida por Júlio Dantas.
António Ferro era próximo de José Maria de Sá Lemos (1) e esteve em Estremoz, onde convidou Mestre Mariano da Conceição (1903-1959) a participar na Exposição. Este não o pôde fazer, pela sua condição de funcionário público, Mestre Olaria da Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Os bonecos (Fig. 1) eram feitos em Estremoz por Mestre Mariano (Fig. 3) e transportados para Lisboa, onde na Exposição eram pintados por sua esposa, Liberdade Banha da Conceição, que ali esteve presente durante todo o período da mesma. Há provas documentais da presença dos bonecos de Estremoz na Exposição.

Fig. 3 - Mestre Mariano da Conceição a trabalhar na sua oficina. Fotografia de Rogério
de Carvalho (1915-1988). Arquivo de Hernâni Matos.

 Comecemos pelo “MUNDO PORTUGUÊS/IMAGENS DE UMA EXPOSIÇÃO HISTÓRICA/1940”. Trata-se de um álbum evocativo da “Exposição do Mundo Português”, editado pelo Secretariado Nacional de Informação, em 1956. Foi dedicado “Aos filhos dos que viram a Exposição do Mundo Português – Para que também a vejam”. Através dele se sabe que os bonecos de Estremoz marcaram presença no “Pavilhão da Vida Popular “, na “Sala de Artes e Ofícios”, onde estiveram presentes numa bancada exposicional e numa vitrina expositora (Fig. 4 e Fig. 5).

Fig. 4. 

Fig. 5.

O filme "A Grande Exposição do Mundo Português (1940)", de António Lopes Ribeiro, com a duração de 59 min 52 s, mostra entre os 44 min 25 s e 44 min 39 s, 14 preciosos segundos de filme, onde se vê Liberdade da Conceição, vestida de camponesa, a pintar bonecos de Estremoz (Fig. 6, Fig. 7 e Fig. 8).

Fig. 6. 

Fig. 7. 

Fig. 8.

Na Exposição do Mundo Português marcaram forte presença os bonecos de Estremoz, afeiçoados pelas mãos sábias e mágicas de Mestre Mariano da Conceição e decorados pelas mãos pacientes e laboriosas de sua terna esposa, Liberdade da Conceição, que lhes comunicava, não só as cores garridas, como a luz própria e muito característica das claridades do Sul.
Os bonecos de Estremoz, de Mariano da Conceição, foram na Exposição do Mundo Português, o ex-líbris de excelência da nossa bem amada cidade branca. Eles foram os melhores embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Eles foram simultaneamente, a primeira declaração e a primeira prova insofismável de que nesta terra que nos pariu e é nossa, existem criadores populares de elevado gabarito, com grande qualidade de desempenho, que estão bem e se recomendam.
A mensagem transmitiu-se através do feedback de visitantes, originários dos mais distintos locais, não só de Norte a Sul do país, como também das Ilhas e mesmo das Sete Partidas do Mundo.
Os bonecos de Estremoz de Mariano da Conceição, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio e muito justamente, grande notoriedade pública. Foram eles que desalojaram a nossa Arte Popular do estatuto comezinho em que se encontrava acantonada e lhe conferiram dimensão humana à escala planetária.
Mestre Mariano da Conceição é um ícone da cidade de Estremoz que o gerou e que dele muito justamente se orgulha. Exactamente como Tomaz Alcaide, meu parente do costado dos Carmelos, tenor lírico de projecção internacional, que com o vigor cristalino da sua apreciada voz, levou igualmente o nome da nossa urbe, por esse mundo fora, sempre que como artista de excepção, pisava os palcos dos grandes e famosos teatros líricos. Tanto Tomaz Alcaide como Mariano da Conceição foram actores que desempenharam e bem, o seu papel no palco da vida. Por isso, a comunidade estremocense lhes está grata e os admira. Todavia, para além do reconhecimento, há uma homenagem que tarda em relação a Mariano da Conceição.
Com a Exposição do Mundo Português houve uma mudança de paradigma na produção de bonecos de Estremoz. Mariano da Conceição resolveu dar uma inflexão à sua actividade bonequeira. Até aí Mestre Mariano só confeccionava bonecos na Escola Industrial António Augusto Gonçalves, os quais conjuntamente com exemplares executados pelos seus alunos, assim como peças de olaria eram vendidos, funcionando o produto da venda como fonte de receita para a Escola. Os alunos recebiam por isso salário, conforme notícia do jornal “Brados do Alentejo” nº 239 (25 de Agosto de 1935). A partir da Exposição do Mundo Português, que se saldou num êxito para Mestre Mariano, ele passa também a fazer bonecos na sua casa, os quais são comercializados em Estremoz, em diversos locais: Loja de Artigos Regionais da Olaria Alfacinha (Largo da República, 30), Papelaria Ruivo (Largo da República, 24), Loja de Artesanato de Rafael dos Santos Grades (Rua Victor Cordon, 27 e 30), Papelaria A Tabaqueira de Alves & Simões, Lda (Rossio Marquês Pombal 11 e 12).
Com o seu exemplo, Mestre Mariano demonstrou que a produção de bonecos de Estremoz era uma actividade viável e abriu caminho para aqueles que se lhe seguiram, após a sua morte prematura em 1959.

PARA QUANDO UMA HOMENAGEM A MESTRE MARIANO DA CONCEIÇÃO?
Mestre Mariano da Conceição cuja Memória permanece viva na comunidade, era um homem do povo, do clã dos Alfacinhas, com mãos mágicas para modelar o barro desta terra de Além Tejo do termo de Estremoz. Exactamente o mesmo barro que de acordo com o Génesis, Deus terá modelado o primeiro homem. Em Mariano pensou o poeta António Simões, compadre de Maria Luísa da Conceição, filha de Mariano, quando a meu pedido criou em 1983 a quadra que diz:

Barro incerto do presente,
Vai moldar-te a mão do povo
Vai dar-te forma diferente,
Para que sejas barro novo.

Mestre Mariano é um ícone desta terra transtagana, ao qual a comunidade muito deve e cujo reconhecimento público tarda, porque alguns pensam que se deve cumprir o adágio “Ninguém é rei na sua terra”, o que não é minimamente aceitável.
No Canto I dos Lusíadas, diz Luís Vaz de Camões:

(…)
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
(…)

É o que se passou com Mestre Mariano da Conceição, que ganhou fama que lhe sobreviveu e será lembrado pelas gerações futuras.
Falta agora o nosso Município homenagear Mestre Mariano postumamente, através da atribuição duma medalha de grau adequado, o que aqui se sugere, bem como a atribuição do seu nome a uma rua da cidade. Em 19 de Setembro de 1997, na qualidade de deputado municipal, fiz uma proposta de recomendação à Câmara nesse sentido, a qual foi aprovada. Como sou uma pessoa paciente, ainda estou à espera da resposta.
Estou crente que a Câmara Municipal de Estremoz não ficará indiferente a estas sugestões, que reúnem condições para serem consensuais. A Memória de Mestre Mariano da Conceição e o seu legado merecem isso.
Assim seja!


(1) -  José Maria de Sá Lemos (1892-1971), escultor, discípulo de Mestre António Teixeira Lopes (1866-1942) foi Director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, entre 21 de Abril de 1932 e 30 de Setembro de 1945.

Excertos do livro em preparação:
"MESTRE MARIANO DA CONCEIÇÃO (O Alfacinha)"
(Texto publicado inicialmente em 2 de Junho de 2013)