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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Associações querem suspensão das obras na antiga Casa do Alcaide-Mor em Estremoz


Fachada da Casa do Alcaide-Mor, antes da demolição.

Texto transcrito com a devida vénia do jornal LINHASDEELVAS.PT, diário digital do jornal “Linhas de Elvas” de 23-11-2021. Fotografias transcritas com a devida vénia do jornal “Publico" da mesma data.

 

Quatro associações ligadas à defesa do património solicitaram a suspensão dos trabalhos na antiga Casa do Alcaide-Mor, em Estremoz, monumento nacional, para permitir o “apuramento das falhas no processo de licenciamento e a reformulação do projeto”.
Em comunicado enviado hoje à agência Lusa, o Fórum do Património revelou que a Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, a Associação Portuguesa das Casas Antigas, o Movimento Cidade – Cidadãos pela Defesa do Património de Estremoz e a delegação portuguesa da International Network for Traditional Building, Architecture & Urbanism (INTBAU), que subscrevem o documento, solicitaram à Direção Regional da Cultura do Alentejo e à Direção-Geral do Património Cultural que seja “ordenada a suspensão dos trabalhos”.
“Caso tal diligência não surta efeito em tempo útil, estas organizações de cidadãos estão dispostas a recorrer à tutela jurisdicional do património para exigir a suspensão dos trabalhos e a reversão dos que foram executados em incumprimento, bem como o apuramento de responsabilidades”, segundo o comunicado.
Para aquelas associações, “a situação de abandono a que, durante décadas, se encontrou votada a Casa do Alcaide-Mor, na cidadela de Estremoz, foi repetidamente denunciada por cidadãos interessados pelo património cultural da cidade e da região, isoladamente ou em grupo”, nomeadamente o Cidade, de Estremoz.
“O edifício, que é monumento nacional desde 1924, foi vendido, em 2018, a um promotor que o integrou num empreendimento turístico-imobiliário de grande impacto, envolvendo uma parcela de dimensões apreciáveis da cidadela, o núcleo mais antigo do sistema fortificado de Estremoz, ele próprio também classificado como monumento nacional”, adiantou o comunicado.
Segundo o projeto do “arquiteto de renome contratado pelo promotor”, a Casa do Alcaide-Mor “vai, ao que parece”, transformar-se num “hotel de charme”, integrado num conjunto de “villas”.
“Escudada num parecer ´proforma` pedido pelo promotor a um docente da Universidade do Minho, a Direção Regional da Cultura do Alentejo deu parecer favorável à demolição da fachada, salvaguardando apenas o rés-do-chão com os arcos e abóbadas que constituem os respetivos tetos, e aproveitando algumas cantarias de guarnecimento de vãos”, de acordo com o comunicado.
“Daí para cima, reza o dito parecer, a fachada seria reconstruída, usando técnicas tradicionais e materiais compatíveis”.
Estas associações de defesa do património consideram que “o edifício se encontrava arruinado, fruto da incúria da Câmara Municipal de Estremoz”, mas tal “não justificava a demolição da maior parte da fachada e das paredes do edifício que tinham resistido, opção que se baseou numa avaliação meramente qualitativa”.
“Uma parede construída e sucessivamente acrescentada, reparada, ao longo de séculos, utilizando pedras e tijolos de várias origens, dimensões e formas, tudo agregado por argamassas de variada composição, é tudo menos um ´lego” cujas peças se possam separar e voltar a juntar exatamente como estavam”, lê-se no comunicado.
Os subscritores do documento acrescentam que “a obra está a ser executada em flagrante incumprimento das indicações da Universidade do Minho e dos condicionamentos definidos pela Direção Regional da Cultura do Alentejo”.
Apesar das demolições feitas entretanto, as associações consideram que “é ainda possível que, em vez de uma contrafação, Estremoz fique com um edifício reconstruído utilizando técnicas e materiais idênticos aos originais, compatíveis com os das partes que foram poupadas, mantendo, deste modo, um mínimo do caráter e da autenticidade que um monumento nacional requer”.
Segundo as associações, “mesmo que, como se espera, venham a ser revertidos, os trabalhos que estão presentemente em execução terão envolvido a destruição de componentes relevantes do monumento nacional que é a Casa do Alcaide-Mor”.
Consideram os subscritores do comunicado que é “fundamental compreender como foi possível, no fim de um longo processo de licenciamento, fazer tábua rasa das condicionantes definidas pela Direção Regional da Cultura do Alentejo que visavam a manutenção da maior parte da construção, incluindo a fachada”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio, disse que “recentemente foram feitas diligências” pelos serviços do município e pela Direção Regional da Cultura do Alentejo relacionadas com esta obra, “e o que está a ser feito está dentro da lei e o processo dentro das conformidades”.
O hotel de charme que vai “nascer” na antiga Casa do Alcaide-Mor tem projeto de arquitetura de uma equipa que integra os arquitetos Álvaro Siza e Carlos Castanheira.

Um aspecto da intervenção na casa do Alcaide-Mor de Estremoz.


Hernâni Matos

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Ciclos de conferências - Conhecer o azulejo: O Azulejo na Arquitetura, uma obra coletiva



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 20 de Outubro de 2021


O Museu Berardo Estremoz vai receber, no próximo dia 30 de outubro, pelas 15:00 horas, a conferência "O Azulejo na arquitetura, uma obra coletiva", do ciclo de conferências "Conhecer o Azulejo", com o orador António Celso Mangucci.
António Celso Mangucci nasceu em São Paulo e licenciou-se na Universidade de Campinas, em Antropologia. Residente há muitos anos em Portugal, especializou-se na história da azulejaria portuguesa, com estudos monográficos dedicados à produção das olarias lisboetas (séculos XVI-XVIII), ao pintor de azulejo Valentim de Almeida (1692-1779) e ao mestre ladrilhador Bartolomeu Antunes (1688-1753).
Colaborou com o Museu Nacional do Azulejo em diversas atividades, é investigador convidado do Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA) da Universidade de Évora e da Rede de Investigação em Azulejo da Universidade de Letras de Lisboa e como bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia, concluiu o doutoramento em História da Arte pela Universidade de Évora, com uma tese dedicada ao estudo dos programas iconográficos da azulejaria dos colégios jesuítas.
A conferência, que tem entrada gratuita, pretende sublinhar a importância de compreendermos a utilização do azulejo como parte integrante de um projeto decorativo para um determinado edifício, muitas vezes concebido em diálogo com as outras artes decorativas. Para a obtenção dos melhores resultados, houve a necessidade de congregar o contributo de arquitetos, iconógrafos, mestres ladrilhadores, oleiros e pintores. A forma encontrada para a reunião de todos esses colaboradores variou ao longo dos séculos e foi responsável pela grande diversidade de soluções que caracterizam a utilização do azulejo em Portugal.
Através do exemplo dos conjuntos do Colégio do Espírito Santo de Évora, da igreja da Nossa Senhora da Graça do Divor e da Misericórdia de Évora, será feita uma breve apresentação de como essas obras coletivas foram concebidas como obra de conjunto, valorizando o trabalho dos arquitetos e dos iconógrafos.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Monumento nacional demolido em Estremoz para dar lugar a hotel de charme

 

O edifício situa-se na encosta escarpada da colina de Estremoz.

Reportagem de CARLOS DIAS transcrita com a devida vénia do jornal PÚBLICO de 11-10-2021, com autorização do seu director MANUEL CARVALHO, a quem o autor do blogue, reconhecidamente agradece. 

O edifício foi abandonado nos anos 30 do século passado e chegou a 2021 reduzido à fachada principal, derrubada em Abril. Será reconfigurada com os elementos que a constituíam, no projecto assinado por Siza Vieira e Carlos Castanheira.

 

Com o arranque, no mês de Abril, das obras de adaptação de um conjunto de antigos edifícios abandonados, entre eles a “Casa do Alcaide-Mor”, que é monumento nacional desde 1924, para dar lugar a um hotel de charme e várias habitações turísticas, com a designação de villas, fica encerrado um conturbado processo iniciado em 2016.

No entanto, a polémica persiste. Vítor Cóias, especialista na requalificação e reabilitação de património que privilegia a utilização de técnicas e materiais tradicionais, contesta opções do projecto que é assinado pelos arquitectos Siza Vieira e Carlos Castanheira. Na informação que prestou ao PÚBLICO, interroga-se: “Pode-se demolir um monumento nacional e substituí-lo por uma réplica com estrutura de betão armado?” E dá a resposta: “Pode, como se demonstra com a Casa do Alcaide-Mor da Cidadela de Estremoz.”

Ao fim de quase um século de abandono, em que sucessivos executivos municipais antes e depois do 25 de Abril contemporizaram com a progressiva degradação de um monumento nacional, nem a fachada, derradeiro testemunho do que foi a “Casa do Alcaide-Mor”, foi possível recuperar. No local das obras já estão montadas as armaduras e cofragens de pilares de betão armado, “aparentemente no plano das fachadas demolidas”, refere o especialista.

O edifício que foi a residência privada de D. Sancho de Noronha, alcaide-mor de Estremoz durante o século XV, mantinha a mais interessante fachada de arquitectura civil erguida na encosta escarpada da colina de Estremoz, a cerca de 80 metros da torre de menagem do castelo. Evidenciava vários estilos, tais como o mudéjar, o renascentista, o manuelino e o neoclássico. Destacavam-se as janelas da fachada frontal de estilo manuelino-mudéjar.

José Sádio, que será o próximo presidente da Câmara de Estremoz e é vereador no actual executivo, pelo PS, explicou ao PÚBLICO que o processo se tornou “irreversível”, mas que a fachada agora demolida será reposta. “Foi mapeada toda a estrutura, para que possa ser construída igual à que estava” e onde serão colocados todos os elementos que a caracterizavam. “Foram guardadas as cantarias para serem incorporadas na nova fachada”, referiu Vítor Cóias.

Em Abril de 2016, o então presidente da Câmara de Estremoz, Luís Mourinha, eleito na lista do Movimento Independente por Estremoz e que perdeu o mandato em Fevereiro de 2019 por ter sido condenado pelo crime de prevaricação, garantia ao PÚBLICO: a deliberação aprovada (em Março de 2016) pelo executivo municipal determina que a fachada da antiga casa “vai manter-se tal com está”. Mas, em Abril passado, acabou por ser demolida.

Projecto de milhões

A Casa do Alcaide-Mor de Estremoz foi adquirida em hasta pública por 180 mil euros pelo antigo presidente da Portucel e ex-administrador da EDP Jorge Godinho, que é sócio-gerente da empresa Barrocas Turismo e Lazer. Também comprou um conjunto de outros edifícios do mesmo quarteirão a particulares, desde a antiga Casa do Alcaide-Mor até à Capela da Rainha Santa Isabel. Na sua maior parte, estavam devolutos. O promotor teve de negociar apenas a saída de um residente que tinha feito obras no edifício que habitava.

Durante a apresentação do projecto da autoria de Siza Vieira e Carlos Castanheira, a 17 de Julho de 2019, Jorge Godinho adiantou que o empreendimento oferece, para além do hotel e das villas, “vários pátios, com espaços de lazer, e um patamar ajardinado junto à muralha” que permita a todos os hóspedes e visitantes frequentar uma zona de restauração na unidade hoteleira.

O conjunto das casas adquiridas a particulares vão funcionar como suítes, todas elas viradas para um hall central, e o projecto vai custar “vários milhões de euros”, refere o promotor, sem adiantar números precisos. Os hóspedes vão usufruir de todos os serviços do hotel.

O imóvel que se encontrava ao abandono desde a década de 30, e que chegou a ser um bordel, teve na sua génese as dificuldades de alojamento que D. Afonso V sentia sempre que se deslocava a Estremoz para caçar. A casa do alcaide-mor passou a albergar o monarca e a sua numerosa corte durante longos períodos, transformando-se em paço real, obrigando o alcaide-mor e a sua família a deslocarem-se para outro local.

É neste contexto que surge a necessidade de encontrar uma nova habitação para o alcaide-mor, que se materializa com a construção da casa onde vai surgir agora, no século XXI, um hotel de charme.

O edifício, que também é conhecido por Casa da Câmara medieval, terá acolhido o paço municipal, mas Túlio Espanca (historiador de arte e primo de Florbela Espanca) admite que esta funcionalidade “parece não ter muito fundamento”. Depois passou por momentos conturbados, quando a Câmara de Estremoz o colocou à venda numa criticada hasta pública.

Foi arrematado por John Ryan, cidadão irlandês em representação de Iris Holding Group, empresa dos Estados Unidos da América com sede num paraíso fiscal nos EUA e com sucursal na Praça Luís de Camões, em Estremoz, pelo preço de 279 mil euros. O cheque no valor de 10% do preço global da licitação (27.900 euros) foi depositado na conta do município de Estremoz, mas rapidamente se descobriu que estava sem provisão-

John Ryan foi notificado pela autarquia para, no prazo máximo de cinco dias úteis, proceder à regularização do cheque. Nada feito. Segue-se mais uma série de prorrogações para que regularizasse o pagamento da caução e é ameaçado com a possibilidade do município recorrer à via judicial para a cobrança em dívida, o que não surtiu qualquer efeito. Depois de várias insistências, Ryan mostrou-se apenas disponível para assinar “o que fosse necessário para a realização de nova hasta pública ou para a adjudicação do imóvel a quem fez a proposta imediatamente anterior à última efectuada” em hasta pública. A venda acabou por ser revogada.

Por fim, em Agosto de 2018 e em nova hasta pública, a Casa do Alcaide-Mor de Estremoz foi arrematada a Jorge Godinho, pelo valor de 180 mil euros, e as obras de reconversão do imóvel, que deveriam ter arrancadono início de 2020, começaram em Abril de 2021.

O edifício que foi a residência privada de D. Sancho de Noronha, alcaide-mor de
Estremoz durante o século XV, evidenciava vários estilos, tais como o mudéjar,
o renascentista, o manuelino e o neoclássico.

Fachada será reconstruída

Na reunião da Câmara de Estremoz realizada no dia 28 de Abril de 2021, os vereadores da oposição (PS) questionaram o presidente da autarquia pela falta de informação que está a envolver o projecto, alegando desconhecerem as razões que forçaram à demolição da fachada do edifício. Mesmo assim, esperam que o derrube da estrutura tenha sido feito “após um levantamento preciso para a sua reconstrução e de acordo com a imagem existente.”

O vereador José Trindade respondeu que foi efectuada uma “demolição/contenção da fachada com aproveitamento de todos os elementos necessários para a sua replicação”, tendo o processo sido precedido de um relatório prévio devidamente aprovado pelos Serviços de Arqueologia da Direcção Regional de Cultura do Alentejo.

Vítor Cóias diz que o projecto de Siza Vieira e Carlos Castanheira “‘turistifica’, mais do que requalifica, e contraria as intenções que vinham sendo manifestadas pelo município, que eram de criar um espaço aberto ao público, com uma utilização de índole cultural.”

Não foi possível obter esclarecimentos do presidente da Câmara de Estremoz, Francisco Ramos, nem da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, sobre o assunto.


CARLOS DIAS

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Quando a mudez fala por si

 

Fig. 1 - Bacia em barro vermelho vidrado de Redondo.


Prólogo
Proponho-me analisar um objecto cerâmico (Fig. 1) que não pode integrar a chamada “cerâmica falante”, visto não conter dizeres inscritos. Todavia, tem muito para nos contar, como veremos de seguida.

Identificação e dimensões
Trata-se de uma bacia em barro vermelho vidrado de Redondo, decoração pintada em tons de verde, amarelo e ocre. As dimensões são as seguintes: diâmetro da base: 34 cm; diâmetro exterior da abertura: 46 cm; diâmetro interior da abertura: 44 cm; largura do bordo: 1 cm; Altura: 11 cm.

Decoração
Bordo liso, pincelado irregularmente a verde. Pinceladas amarelas, ocres e verdes, reunidas em grupos afastados entre si. Estas pinceladas dirigem-se todas do bordo para o fundo, ao longo do covo, desviadas para a direita.
O fundo da bacia está decorado com uma bandeira quadrada e bipartida verticalmente em duas cores, verde escuro e ocre, ficando o ocre do lado da tralha. Ao centro e sobreposta à união das cores, figura uma esfera armilar em amarelo e assente sobre elas um escudo de armas com uma alegoria à República. Esta é materializada sob a forma de figura feminina, usando na cabeça um barrete frígio vermelho, o qual desde o séc. XVIII é conhecido como um símbolo de liberdade.

Bandeira nacional
Com a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, ocorre uma mudança de paradigma. As instituições e símbolos monárquicos (Rei, Cortes, Bandeira Monárquica e Hino da Carta) são proscritos e substituídos pelas instituições e símbolos republicanos (Presidente da República, Congresso da República, Bandeira Republicana e A Portuguesa), o mesmo se passando com a moeda e as fórmulas de franquia postais.
Visando a criação de uma nova bandeira para o regime republicano, por decreto de 15 de Outubro de 1910, o Governo Provisório nomeou uma “Comissão da Bandeira” integrada por Columbano Bordalo Pinheiro (pintor), Abel Botelho (escritor), João Chagas (jornalista e político), Ladislau Pereira (tenente) e Afonso Palla (capitão).
Poucos dias depois, em 29 de Outubro, a Comissão apresentou ao Governo Provisório uma primeira proposta de bandeira (Fig. 3), assente num cromatismo verde-rubro, o qual remonta ao movimento do 31 de Janeiro de 1891. Também em 5 de Outubro, foi utilizado por Machado Santos na Rotunda e, depois, em todos os quartéis e no alto do Castelo de São Jorge. A proposta, foi de resto, inspirada na bandeira da Carbonária (Fig. 2), sociedade secreta e revolucionária, que teve papel determinante na Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Para além daquela proposta e como resultado do entusiasmo popular que então se vivia, surgiram ainda inúmeras outras propostas, suscitando todas elas um debate público muito vivo, centrado no cromatismo e no simbolismo da bandeira.
A 29 de Novembro, após algumas alterações à primeira proposta da Comissão, o Governo Provisório aprovou o projecto final da bandeira (Fig. 4): a bandeira verde e rubra, que após ser produzida pela Cordoaria Nacional, foi distribuída por todo o país.
A decisão do Governo Provisório viria a ser ratificada por decreto aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte, na sua sessão inaugural, a 19 de Junho de 1911.

Datação da bacia
A bandeira que decora o fundo da bacia não corresponde ao modelo aprovado pelo Governo Provisório, pelo que se trata de um dos inúmeros projectos que vieram a público, antes do modelo ser aprovado. Tal facto, leva-nos a admitir que a bacia tenha sido produzida no período 1910-1911. Vejam lá a estória que a bacia tinha para nos contar.

BIBLIOGRAFIA

- ARQUIVO NACIONAL ALFREDO PIMENTA. República na Cidade. [Em linha]. Disponível em: https://www.amap.pt/p/hist-republica-na-cidade-2 [Consultado em 01 de Outubro de 2021].
- COMISSÃO NACIONAL PARA AS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA. Projectos de bandeira nacional. [Em linha]. Disponível em: https://5outubro.centenariorepublica.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=100&Itemid=98 [Consultado em 01 de Outubro de 2021].
- MUSEU DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Bandeira Nacional. [Em linha]. Disponível em: https://www.museu.presidencia.pt/pt/conhecer/simbolos-nacionais/bandeira-nacional/ [Consultado em 01 de Outubro de 2021].
- PARTIDO POPULAR MONÁRQUICO DE BRAGA. Bandeira nacional de Portugal. [Em linha]. Disponível em: https://ppmbraga.blogspot.com/2014/02/bandeira-nacional-de-portugal.html [Consultado em 01 de Outubro de 2021]. 

Publicado inicialmente a 4 de Outubro de 2021

Fig. 2 - Bandeira da Carbonária.

Fig. 3  - Bandeira portuguesa - 1.ª proposta da Comissão de Bandeira.

Fig. 4 - Bandeira portuguesa - 2.ª proposta da Comissão de Bandeira.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Jorge Sampaio na barrística de Estremoz

 

Jorge Sampaio (1996). João Fortio (1951-...)

Jorge Sampaio (1939-2021,) o Presidente da República cuja morte recente foi assinalada por três dias de luto nacional e cerimónias fúnebres de Estado, está representado na barrística de Estremoz.

Primeira presença
Trata-se de um prato covo de média dimensão, em cerâmica vidrada, da autoria do barrista João Fortio (1951-….). Está ilustrado no centro com uma caricatura de Jorge Sampaio da autoria de Aníbal Queiroga (Évora). No fundo ostenta as inscrições: “JORGE SAMPAIO / 9-3-1996 / Presidente da República” e no bordo quatro ramagens. A decoração do prato é uma quadricromia, obtida com tons de azul, verde, preto e laranja.
Estamos em presença de um prato falante que visava comemorar a eleição de Jorge Sampaio para o seu primeiro mandato com Presidente da República (1996-2001). Daí a data inscrita no prato ser a data da sua tomada de posse para o cargo.
A manufactura do prato foi de iniciativa minha como membro da Comissão de Honra de Estremoz, de apoio à Candidatura de Jorge Sampaio a Presidente da República. A tiragem do prato foi de 8 exemplares, um dos quais foi oferecido a Jorge Sampaio para o Museu da Presidência da República.

Segunda presença
Trata-se de um Boneco de Estremoz da autoria da barrista Isabel Catarrilhas Pires (1955-….). Representa Jorge Sampaio na sua condição de Presidente da República, sentado à secretária no seu gabinete. Tem à sua esquerda a Constituição da República Portuguesa que jurou “defender, cumprir e fazer cumprir”. Tem à sua direita a Bandeira Nacional, “símbolo da soberania da República, da independência, da unidade e integridade de Portugal”.
A decoração do Boneco foi efectuada com castanho, preto, vermelho, verde e amarelo, com predominância de cores neutras (castanho e preto), o que confere uma certa solenidade e mesmo austeridade à representação.
Trata-se de uma figura que visava assinalar a eleição de Jorge Sampaio para o seu segundo mandato como Presidente da República (2001-2006).
A manufactura do Boneco foi de iniciativa do Professor Brito Vintém, que segundo a barrista Isabel Pires, em Outubro de 2001 o ofereceu a Jorge Sampaio para o Museu da Presidência da República.



Jorge Sampaio (2001). Isabel Catarrilhas Pires (1955-...)

Publicado inicialmente a 14 de Setembro de 2021

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

1961 - O Princípio do Fim

 

REDONDO - Prato Falante com a inscrição "Recordação de 1961".
Prato covo de grandes dimensões. Esgrafitado e pintado.


Prólogo

Ao inventariar mais um prato da minha colecção de cerâmica de Redondo, constatei que à semelhança de outros, integrava o sub-grupo da Cerâmica Falante, visto incluir uma inscrição: “Recordação de 1961”.
Tal inscrição deu-me que pensar. Porquê 1961? Porquê este ano e não outro? Que aconteceu de especial em Portugal no ano de 1961? Para procurar resposta a esta questão, consultei as efemérides de 1961 em múltiplas fontes. Do fruto desse trabalho dou conta seguidamente.

Efemérides de 1961
As efemérides do ano de 1961 que têm a ver com Portugal são as seguintes:
21 DE JANEIRO - O paquete Santa Maria foi tomado de assalto por um comando liderado pelo então capitão Henrique Galvão. A operação visava desencadear um golpe de Estado capaz de derrubar o regime de Salazar.
4 DE FEVEREIRO – Tem início a guerra colonial quando um grupo de cerca de 200 angolanos, afectos ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), atacou a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7.ª Esquadra da Polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola.
20 DE FEVEREIRO – A Libéria com o apoio de três dezenas de Estados africanos e asiáticos, requere uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, para adoptar medidas imediatas, visando impedir que os direitos humanos continuem a ser violados em Angola.
15 DE MARÇO – É aprovada uma moção do Conselho de Segurança da ONU a condenar a situação em Angola, a qual é votada favoravelmente pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
25 DE MARÇO – A UPA (União das Populações de Angola) inicia a sua luta armada no norte de Angola, nomeadamente no concelho do Uíge, estendendo-se posteriormente para o sul, até à actual província de Bengo.
4 DE ABRIL - A Assembleia-Geral da ONU aprova uma moção a favor da autodeterminação de Angola.
13 DE ABRIL – O Ministro da Defesa, general Botelho Moniz, lidera as chefias das Forças Armadas numa tentativa fracassada de golpe de Estado, destinado a exonerar Salazar e a promover a reforma do Estado Novo.
20 DE ABRIL - A Assembleia Geral da ONU aprova, por 73 votos contra 2 (Portugal e África do Sul) e 9 abstenções (entre as quais, do Brasil, França e Reino Unido), a resolução 1603 (xv), incitando o governo português a promover urgentemente reformas que dessem cumprimento à Declaração Anticolonialista, tendo em devida conta os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
9 DE JUNHO – Através da resolução 163, o Conselho de Segurança da ONU apela para Portugal desistir de medidas repressivas em Angola e manifesta a esperança de que será encontrada uma solução pacífica para o conflito.
10 DE NOVEMBRO - Tem lugar a operação Vagô, no decurso da qual Palma Inácio, acompanhado de outros revolucionários, desvia um avião da TAP da carreira Casa Blanca – Lisboa e com ele sobrevoa a baixa altitude, Lisboa, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro, lançando cerca de 100 mil panfletos com apelos à revolta popular contra a ditadura. A operação salda-se por um êxito, já que o avião regressa incólume a Casa Blanca, sem que os caças da FAP consigam interceptar o avião.
18 DE DEZEMBRO – Chega ao fim o domínio português de mais de 450 anos na Índia, quando as tropas indianas entram em Goa, Damão e Diu, quase sem resistência.
31 DE DEZEMBRO – Na noite da passagem de ano de 1961 para 1962, tem lugar a gorada Revolta de Beja, tentativa de golpe civil e militar, que sob o comando do então capitão Varela Gomes, procurava derrubar o regime de Salazar a partir do assalto e ocupação do quartel do Regimento de Infantaria N.º 3, em Beja.

Epílogo
Em Portugal, o ano de 1961 ficou assinalado por diversos acontecimentos, através dos quais o regime de Salazar se vê confrontado com ameaças em múltiplas frentes, ainda que o governo tenha conseguido dar resposta à maioria dos problemas.
A sucessão de acontecimentos criou nas hostes oposicionistas a convicção de que o regime de Salazar tinha os dias contados. Tratou se de uma ilusão, já que o regime só seria derrubado 13 anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Todavia, o ano de 1961, considerado por muitos o “horribilis annus” para a ditadura de Salazar, marca o princípio do fim do Estado Novo. Daí não ser despropositado admitir que a inscrição “Recordação de 1961” inserida no prato, visasse perpetuar como memória futura, o que de extraordinário aconteceu nesse ano em Portugal.
Publicado inicialmente a 13 de Setembro de 2021

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Estremoz e o Feriado Municipal



A 31 de Agosto de 2021, completaram-se 95 anos sobre a elevação de Estremoz à categoria de cidade, na sequência do Decreto n.º 12.227, publicado no Diário do Governo desse dia.

Dia da Cidade
Seria expectável que a 31 DE AGOSTO de cada ano, fosse comemorado o DIA DA CIDADE, assinalado como Feriado Municipal, por ter sido nesse dia que a "Notável Villa de Estremoz" foi objecto de ELEVAÇÃO à categoria de CIDADE.
Todavia tal não acontece e o Dia da Cidade é assinalado com Feriado Municipal na Quinta-Feira da Ascensão e Dia da Espiga, data móvel do calendário litúrgico, importante para os cristãos e que ocorre no quadragésimo dia após a ressurreição de Jesus, assinalando a sua Ascenção (Elevação) ao Céu.
Apesar de toda a respeitabilidade de que é merecedora a efeméride religiosa, isso não justifica de modo algum que a data seja considerada Dia da Cidade e Feriado Municipal, em detrimento da data de 31 de Agosto, em que Estremoz ascendeu e muito bem à categoria de cidade.

O seu a seu dono
Perante a dúvida que possa surgir nalguns espíritos, creio ser aqui aplicável a sentença latina “Redde Cæsari quæ sunt Cæsaris, quæ sunt Dei, Deo”, cujo significado é “A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Trata-se de uma frase atribuída a Jesus nos evangelhos sinópticos (Mateus 22:21), Marcos 12 (Marcos 12:17) e Lucas 20 (Lucas 20:25), quando lhe perguntaram se devia pagar o tributo a César e cujo sentido é: “Dê-se a cada um aquilo a que tem direito”.
A meu ver, a comemoração da Ascensão de Jesus ao céu, é de âmbito cristão. Pelo contrário, a comemoração da elevação de Estremoz à categoria de cidade, é do foro cidadão. Dito por outras palavras: “A cada um o que é seu” (“Unicuique suum”).

Uma sugestão
Creio que que o Executivo Municipal saído das eleições autárquicas do próximo dia 26 de Setembro, poderia e deveria reflectir sobre este assunto. Aqui fica a sugestão.

Publicado inicialmente a 1 de Setembro de 2021




 

sábado, 17 de julho de 2021

A República é uma bebedeira


Bêbado sentado numa pipa, com um odre de vinho nas mãos.
Oficinas de Estremoz dos finais do séc. XIX.


Adquiri recentemente um belo e curioso exemplar de barrística popular produzido numa das Oficinas de Estremoz dos finais do séc. XIX, tematicamente situado no domínio satírico, o que me é particularmente grato.
Representa um homem trajando à moda da época, sentado numa pipa, com um odre de vinho nas mãos. As notórias rosetas que ostenta nas faces, indiciam tratar-se de um bêbado. Este, apresenta a cabeça coberta por um barrete frígio vermelho, símbolo da Revolução Francesa (1789) e desde então adoptado como inequívoco símbolo do regime republicano, que em 1910 seria implantado em Portugal.
O Partido Republicano Português foi fundado em 1876, iria crescer e a propaganda republicana iria suscitar adesão popular às suas propostas, que abalavam fortemente a monarquia no poder desde o início do reinado de D. Afonso Henriques (1143).
Naturalmente que a batalha ideológica entre monárquicos e republicanos seria intensa e cada um dos lados tinha os seus apoiantes e os seus detractores. Essa batalha ideológica teria repercussões em vários domínios: na literatura, na imprensa, na ilustração e é claro na arte popular, acabando os autores por serem partidários duma facção ou da outra.
A meu ver, o presente exemplar de barrística popular estremocense é uma sátira monárquica à República, já que o bêbado usa barrete frígio vermelho. A mensagem anti-republicana implícita parece ser evidente: “A República é uma bebedeira”.
De salientar a decoração da base octogonal (quadrangular com as pontas cortadas em bisel), sarapintada com manchas brancas, verdes e pretas, que configuram um tecido camuflado.

domingo, 9 de maio de 2021

EXTREMOZ VILLA – ESTREMOZ CIDADE

 

José Guerreiro

EXTREMOZ VILLA – ESTREMOZ CIDADE
Este o nome do livro de José Guerreiro, a apresentar pelas 16 horas da próxima 5.ª feira, dia 13 de Maio (Feriado Municipal), no Salão da União de Freguesias de Estremoz. Na apresentação do livro terão lugar sucessivamente intervenções de Nuno Mourinha (prefaciador), de João Jaleca (jornalista) e do autor.

O AUTOR
José Emílio Vasconcelos Câmara Guerreiro é natural de Estremoz, onde nasceu em 1951. Sociólogo de formação, desempenhou os seguintes cargos: Presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária de Estremoz (1976), Director do jornal Brados do Alentejo (1979-1980), Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1983-1985), Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz (1994). Foi quadro da Câmara Municipal de Évora desde 1979, onde entre outros cargos, foi Director do Centro de Estudos responsável pela classificação do Centro Histórico de Évora como Património Mundial da UNESCO em 1986. Quando da sua aposentação em 2018, integrava o Gabinete de Apoio ao Presidente da Câmara Municipal de Évora. É colaborador regular do jornal Brados do Alentejo.

A OBRA
O livro resulta da conjugação de dois factores: o gosto do autor pela escrita e a disponibilidade actual para pensar melhor no que acontece à sua volta. Daí que tenha decidido fazer o relato de episódios marcantes da História de Estremoz, desde 1900 até à actualidade. Para tal, utilizou como fontes, a imprensa local, testemunhos orais, bibliografia sobre História de Portugal e pesquisa na internet. A metodologia seguida levou-o a contextualizar a História Local na História do País, a arrumar os episódios históricos por décadas em cada um dos dois séculos e a identificar os episódios mais relevantes em cada década. Sempre que lhe foi possível, identificou esses acontecimentos em mapas à escala local.
Dentre os acontecimentos mais relevantes do século XX em Estremoz, o autor destaca: 1904 - Fundação do Centro Republicano, por Júlio Martins; 1905 - Chegada do caminho de ferro; 1916 - Demolição de parte da muralha seiscentista; 1922 - Inauguração do Teatro Bernardim Ribeiro; 1926 - Elevação à categoria de cidade; 1930 - Criação da Escola Industrial António Augusto Gonçalves; 1960 - Demolição da igreja de Santo André; 1962 - Construção do "desvio" - variante sul da EN4; 1963 - Conclusão da fachada da igreja dos Congregados; 1974 - Participação do RC3 no 25 de Abril.
O prefácio do livro é do arqueólogo Nuno Mourinha e a capa do artista plástico António Couvinha.
O livro, edição do autor, tem capa dura a cores e miolo a preto e branco, 371 páginas, 12 mapas e 523 ilustrações. A tiragem foi de 500 exemplares e foi impresso em formato A5 na Tipografia Brados do Alentejo, em Estremoz.

Hernâni Matos

sábado, 16 de maio de 2020

São Roque em Portugal


São Roque (séc. XVII). Escultura em madeira policromada. Igreja de São Roque, Lisboa.

Início do culto a São Roque em Portugal
As primeiras notícias sobre os milagres de Santo Roque chegadas a Portugal remontam ao final do reinado de D. João II e ao início do de D. Manuel I. A devoção a São Roque expandiu-se através da fundação duma confraria que contava com a família real e a nobreza entre os seus membros. Desde então que a Irmandade de São Roque de Lisboa tem mantido vivo o culto a São Roque.
Em 1506 teve início a construção da Ermida de São Roque no exterior da Cerca Fernandina, perto do adro onde se sepultavam as vítimas da peste. A ermida foi consagrada pelo bispo em 1515 e nela se depositaram as Relíquias de São Roque cedidas ao rei D. Manuel I pelas autoridades venezianas. O adro foi consagrado em 1527. A ermida transformou-se num importante local de peregrinação, aonde acorriam peregrinos para cumprir as suas promessas.
Em 1553 a Companhia de Jesus tomou posse da Ermida e em 1556 decidiu avançar com a construção da Igreja de São Roque no local da Ermida.
A Irmandade de São Roque conseguiu subsistir à expulsão da Companhia de Jesus em 1759. Em 1990 transformou-se em Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa e em 2011 fundiu-se com a Real Irmandade do Glorioso São Roque dos Carpinteiros de Machado.
Padroeiro de localidades
- VILAS: São Roque do Pico (Pico – Açores); - ALDEIAS: Gens – Foz do Sousa (Gondomar), Vilarinho de São Roque (Albergaria a Velha); - FREGUESIAS: Abrigada (Alenquer), Altares (Angra do Heroísmo), Cortes do Meio (Covilhã), Romarigães (Paredes de Coura), São Roque (Funchal), São Roque (Oliveira de Azeméis), São Roque (Ponta Delgada – Açores), São Roque do Faial (Santana – Madeira).
Padroeiro de profissões
São Roque é padroeiro de cirurgiões e deficientes, dermatólogos, padeiros, tratadores e treinadores de cães, curtidores de peles, cardadores, agricultores, viticultores e trabalhadores da pedra (canteiros, calceteiros e carreiros).
Protector
São Roque é invocado como protector: - Contra epidemias de peste, cólera, tifo, gripe espanhola, sida, etc. - Contra a silicose de canteiros, calceteiros e carreiros. - Contra doenças de animais (febre aftosa) e da videira (filoxera). – De cães.
Arquitectura
São Roque é um nome muito usado na designação de construções pertencentes aos vários tipos de arquitectura: - ARQUITECTURA CIVIL – Existem três Pontes ditas de São Roque: a que atravessa a Ribeira de Ovar, a que une as margens do rio Coa entre as freguesias de Castelo Bom e Mido e a que liga as duas margens do rio Tâmega em Chaves; - ARQUITECTURA MILITAR – Existe Forte de São Roque em Castelo de Vide e em Lagos (Meia Praia); - ARQUITECTURA RELIGIOSA – Tendo por orago São Roque existem: Ermidas (1), Capelas (59) e Igrejas (4). Destas últimas a mais importante é, sem dúvida, a Igreja de São Roque, em Lisboa.
Arte
São Roque tem conhecido entre nós e através dos séculos, múltiplas representações iconográficas: escultura em pedra ou madeira policromada, pintura, azulejaria e gravura.
Festas em Honra de São Roque
Têm lugar em 71 locais diferentes do país, com datas de realização e componentes profanas e religiosas igualmente variáveis de local para local. Pela importância de que se revestem são de referir aqui os festejos realizados em Lisboa.
Actualmente, a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa celebra o seu Orago no primeiro Domingo de Outubro. As Festas em Honra de São Roque compreendem dois períodos: um de natureza cultural que ocorre no sábado e outro, de natureza espiritual, que sucede no Domingo.
Os festejos de Domingo iniciam-se com a Eucaristia na Igreja de São Roque, no decurso da qual está exposta a Relíquia do Santo Patrono. Durante a Missa são entoados os cânticos e o Hino de São Roque, e lido o texto do nono e último dia da Novena de São Roque.
A Eucaristia termina com a Bênção com a Relíquia, a distribuição do Pão de São Roque “que simboliza o alimento e o amparo da comunidade humana” e a entrega da Pagela, que todos os anos é editada para esta celebração e que, de forma iconográfica, recorda a figura do Santo e os seus atributos.
Ainda no primeiro domingo de Outubro, tem lugar a Procissão solene com a Relíquia de São Roque e a imagem do Santo Patrono, a qual sai da Igreja de São Roque, caminha pelas ruas do Chiado e dirige-se à Capela da Irmandade do Glorioso São Roque dos Carpinteiros de Machado, no Arsenal da Marinha. De acordo com a Irmandade promotora, trata-se de “um acto de manifestação pública de fé, de peregrinação e de testemunho, mantendo vivo o culto a São Roque e divulgando as singulares obras de caridade e de misericórdia…”
Divisão Administrativa
O nome de São Roque figura na designação de concelhos, vilas, aldeias e freguesias: - CONCELHOS (1): São Roque do Pico (Pico); - VILAS (1): São Roque do Pico (Pico). – ALDEIAS (1): Vilarinho de São Roque (Albergaria a Velha); - Freguesias (4): São Roque (Funchal), São Roque do Faial (Santana), São Roque (Oliveira de Azeméis), São Roque (Ponta Delgada).
Toponímia
O nome de São Roque marca presença na toponímia portuguesa tanto a nível urbano como a nível rural: - A NÍVEL URBANO: altos (1), arraiais (1), avenidas (3), bairros (4), calçadas (2), caminhos (5), casais (1), corredouras (1), estradas (1), ilhéus (1), largos (14), loteamentos (1), miradouros (1) pracetas (1), quelhos (1), quintas (1), rampas (2), rotundas (1), ruas (70), terreiros (1), travessas (35), urbanizações (1) e vielas (1). - A NÍVEL RURAL: lugares (18).
Hidrografia
O nome de São Roque surge no âmbito da hidrografia para designar ribeiras e canais: - RIBEIRAS (3): Ribeira de São Roque (Angra do Heroísmo, Loures e São Roque do Pico). - CANAIS (1): Canal de São Roque (Aveiro).
Heráldica
A imagem de São Roque acompanhado pelo cão integra o brasão de armas das freguesias de São Roque do Faial (Santana) e Vila Chã de São Roque (Oliveira de Azeméis). O bordão de peregrino de São Roque com uma cabaça atada faz parte do brasão da freguesia de São Roque (Funchal).

São Roque (1517-1551)]. António de Holanda. Iluminura. Pintura a têmpera e ouro
sobre pergaminho (14,2x10,8 cm). Fólio 274. Livro de Horas de D. Manuel I.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

Aparição do anjo São Roque (1584). Gaspar Dias. Pintura a óleo sobre madeira
(350x300 cm). Igreja de São Roque, Lisboa.

Milagre de São Roque (1584). Francisco de Matos. Painel de azulejos (Fragmento).
Igreja de São Roque, Lisboa.

Gravura de São Roque datada de 1800, executada por Frei Mattheus da Assumpção
Brandão (1778-1837), com Impressão Régia de 1832 em Lisboa e que ilustra a
Novena do Glorioso S. Roque por occasião da Epidemia Cholera-Morbus no anno
de 1832. Offerecida, e celebrada pela Real Irmandade de S. Roque de Lisboa,
sendo seu Provedor Perpetuo El Rei Nosso Senhor: O senhor D. Miguel I”.

domingo, 10 de maio de 2020

Poesia Portuguesa - 098




Rosas de Santa Isabel
João de Lemos (1819-1890)

Onde ides, correndo asinha,
Onde ides, bela Rainha,
Onde ides, correndo assim?
Porque andais fora dos Paços?
Que peso levais nos braços?
Oh! Dizei-mo agora a mim?...

A Santa, regalos novos,
Frutas, pão, e carne, e ovos,
No regaço e braços seus,
Sem cuidar ser surpreendida,
Ia levar farta vida
Aos pobrezinhos de Deus.

Coram-lhe as faces formosas,
E responde: - "Levo rosas..."
Dom Dinis deitou-lhe a mão,
Ao regaço, de repente;
Mas de rubra cor vivente
Só rosas lá viu então!...

Como o tempo era passado,
Nos jardins, no monte e prado,
De rosas e toda a flor,
El-rei, cheio de piedade,
Nas rosas da caridade
Viu a bênção do Senhor!

E daquele rosal dela
Tirando uma rosa bela,
Que guardou no peito seu,
Disse-lhe:- "Em paz ide agora,
Que eu me encomendo, Senhora,
À Santa, ao Anjo do Céu."

João de Lemos (1819-1890)

Hernâni Matos  


O Milagre das Rosas (c. 1735-40). André Gonçalves (1685-1762).
Óleo sobre tela. Igreja do Menino Deus, Lisboa.

sábado, 4 de abril de 2020

Poesia Portuguesa - 097



Salgueiro Maia
Manuel Alegre (1936-  )

Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende.
Havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.

Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem sua regra.
Conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra.

Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade.
Diz-se o teu nome e sais de Santarém

trazendo a espada e a flor da liberdade. 

Manuel Alegre (1936-  )

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Homenagem a Mário Tomé


Casa do Alentejo, Lisboa. Vista parcial do salão onde decorreu a homenagem.

A Casa do Alentejo foi pequena
Mário Tomé foi alvo de uma entusiástica homenagem que decorreu no passado dia 25 de Janeiro, no salão principal da Casa do Alentejo, em Lisboa. Aí teve lugar um almoço que reuniu cerca de 260 pessoas que encheram literalmente o salão. A sua presença ali visava assinalar também os 40 anos da eleição de Mário Tomé como deputado da UDP à Assembleia da República.
À homenagem associaram-se camaradas de luta, militares de Abril, dirigentes sindicais, activistas de movimentos sociais, amigos e amigas de Mário Tomé.
A iniciativa foi promovida por uma comissão alargada, presidida pelo general Pezarat Correia.
Otelo Saraiva de Carvalho foi uma das personalidades que na impossibilidade de estar presente, enviou uma calorosa mensagem a Mário Tomé.
O almoço terminou com intervenções de Pezarat Correia e de Mário Tomé, às quais se seguiram momentos musicais e de leitura de poemas, com José Fanha, Francisco Naia, Jorgete Teixeira, e Francisco Rosa, apresentados pelo actor Luís Vicente.
Biografia de Mário Tomé
De acordo com o Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, a biografia de Mário Tomé é a que se segue.
“Mário António Baptista Tomé é natural de Estremoz, coronel do Exército e foi condecorado, entre outras, com a Cruz de Guerra.
4 comissões na guerra colonial (1963/64, Guiné; 66/68, Moçambique; 70/72, Guiné; 72/74, Moçambique).
Reserva compulsiva desde Maio 1984, no posto de major. Na reforma desde 1993. Em 1970, em comissão na Guiné, sob comando de Spínola, pediu a demissão das FA's por "desacordo com a guerra colonial e com a política em geral do Governo".
Coordenador do Movimento dos Capitães em Moçambique, membro da Assembleia do Movimento das Forças Armadas, redactor do "Documento do COPCON" (que em Agosto de 1975 surgiu como alternativa de esquerda ao "Documento dos Nove"), subscritor do "Manifesto dos Oficiais  Revolucionários aos Soldados, Operários, Camponeses e Povo Trabalhador" (Novembro de 1975).
2.º Comandante do Regimento de Polícia Militar, delegado na Assembleia Democrática da Unidade (regimento) e responsável pelo Grupo de Dinamização da Unidade, delegado da Unidade na Assembleia do MFA. Preso em 26 de Novembro de 1975 no seguimento do golpe do "25 de Novembro". (Cadeia de Custóias e Presídio Militar de Santarém). Libertado em 23 de Abril de 1976 ficando na situação de residência fixa e arbitrariamente impedido sine die de exercer a sua profissão até ser passado compulsivamente à reserva em 1984.
Membro da Comissão Nacional da Candidatura de Otelo à Presidência da República em 1976, Deputado à Assembleia da República de 1979 a 1983 como independente pela UDP e de 1991 a 1995, eleito nas listas da CDU na base de um acordo do PCP  com a UDP.
No seguimento da lei 43/99 teve a sua carreira reconstituída ficando, por tal, no posto de coronel, posto mínimo que lhe competia no desenvolvimento normal da carreira. Foi dirigente nacional da União Democrática Popular – UDP.”
Mário Tomé, hoje
Dos aspectos biográficos de Mário Tomé ressaltam os de resistente anti-fascista, militar de Abril, resistente anti-neoliberalismo e defensor das conquistas de Abril e do socialismo.
Mário Tomé tem militado activamente no Bloco de Esquerda desde a sua fundação em 1999, tendo sido mandatário das candidaturas às eleições europeias (2013) e às eleições legislativas (2019).

Hernâni Matos
Estremoz, 31 de Janeiro de 2020
(Jornal E nº 239, de 06-02-2020)

Créditos fotográficos: Manuel Xarepe.

Mesa com Mário Tomé, Pezarat Correia e Vasco Lourenço.