REDONDO - Prato Falante com a inscrição "Recordação de 1961".
Prato covo de grandes dimensões. Esgrafitado e pintado.
Prólogo
Ao inventariar mais um prato da minha colecção de cerâmica de Redondo, constatei que à semelhança de outros, integrava o sub-grupo da Cerâmica Falante, visto incluir uma inscrição: “Recordação de 1961”.
Tal inscrição deu-me que pensar. Porquê 1961? Porquê este ano e não outro? Que aconteceu de especial em Portugal no ano de 1961? Para procurar resposta a esta questão, consultei as efemérides de 1961 em múltiplas fontes. Do fruto desse trabalho dou conta seguidamente.
Efemérides de 1961
As efemérides do ano de 1961 que têm a ver com Portugal são as seguintes:
21 DE JANEIRO - O paquete Santa Maria foi tomado de assalto por um comando liderado pelo então capitão Henrique Galvão. A operação visava desencadear um golpe de Estado capaz de derrubar o regime de Salazar.
4 DE FEVEREIRO – Tem início a guerra colonial quando um grupo de cerca de 200 angolanos, afectos ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), atacou a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7.ª Esquadra da Polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola.
20 DE FEVEREIRO – A Libéria com o apoio de três dezenas de Estados africanos e asiáticos, requere uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, para adoptar medidas imediatas, visando impedir que os direitos humanos continuem a ser violados em Angola.
15 DE MARÇO – É aprovada uma moção do Conselho de Segurança da ONU a condenar a situação em Angola, a qual é votada favoravelmente pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
25 DE MARÇO – A UPA (União das Populações de Angola) inicia a sua luta armada no norte de Angola, nomeadamente no concelho do Uíge, estendendo-se posteriormente para o sul, até à actual província de Bengo.
4 DE ABRIL - A Assembleia-Geral da ONU aprova uma moção a favor da autodeterminação de Angola.
13 DE ABRIL – O Ministro da Defesa, general Botelho Moniz, lidera as chefias das Forças Armadas numa tentativa fracassada de golpe de Estado, destinado a exonerar Salazar e a promover a reforma do Estado Novo.
20 DE ABRIL - A Assembleia Geral da ONU aprova, por 73 votos contra 2 (Portugal e África do Sul) e 9 abstenções (entre as quais, do Brasil, França e Reino Unido), a resolução 1603 (xv), incitando o governo português a promover urgentemente reformas que dessem cumprimento à Declaração Anticolonialista, tendo em devida conta os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
9 DE JUNHO – Através da resolução 163, o Conselho de Segurança da ONU apela para Portugal desistir de medidas repressivas em Angola e manifesta a esperança de que será encontrada uma solução pacífica para o conflito.
10 DE NOVEMBRO - Tem lugar a operação Vagô, no decurso da qual Palma Inácio, acompanhado de outros revolucionários, desvia um avião da TAP da carreira Casa Blanca – Lisboa e com ele sobrevoa a baixa altitude, Lisboa, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro, lançando cerca de 100 mil panfletos com apelos à revolta popular contra a ditadura. A operação salda-se por um êxito, já que o avião regressa incólume a Casa Blanca, sem que os caças da FAP consigam interceptar o avião.
18 DE DEZEMBRO – Chega ao fim o domínio português de mais de 450 anos na Índia, quando as tropas indianas entram em Goa, Damão e Diu, quase sem resistência.
31 DE DEZEMBRO – Na noite da passagem de ano de 1961 para 1962, tem lugar a gorada Revolta de Beja, tentativa de golpe civil e militar, que sob o comando do então capitão Varela Gomes, procurava derrubar o regime de Salazar a partir do assalto e ocupação do quartel do Regimento de Infantaria N.º 3, em Beja.
Epílogo
Em Portugal, o ano de 1961 ficou assinalado por diversos acontecimentos, através dos quais o regime de Salazar se vê confrontado com ameaças em múltiplas frentes, ainda que o governo tenha conseguido dar resposta à maioria dos problemas.
A sucessão de acontecimentos criou nas hostes oposicionistas a convicção de que o regime de Salazar tinha os dias contados. Tratou se de uma ilusão, já que o regime só seria derrubado 13 anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Todavia, o ano de 1961, considerado por muitos o “horribilis annus” para a ditadura de Salazar, marca o princípio do fim do Estado Novo. Daí não ser despropositado admitir que a inscrição “Recordação de 1961” inserida no prato, visasse perpetuar como memória futura, o que de extraordinário aconteceu nesse ano em Portugal.
Publicado inicialmente a 13 de Setembro de 2021
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