Fig. 1 - Ceifeira. José
Moreira. Imagem recolhida no Marketplace do Facebook.
Agradeço ao barrista Jorge da Conceição,
as observações que fez à versão inicial do presente texto
e que o permitiram aperfeiçoar sob um ponto de vista técnico.
Esculturas
em alto-relevo
A
barrística de Estremoz continua a surpreender-me, face ao reconhecimento de
novas tipologias que a tornam ainda mais rica. É o caso das esculturas em
alto-relevo que são objecto do presente estudo.
Mais
uma do José Moreira
O primeiro espécime estudado (Fig. 1) configura uma placa em barro vermelho, decorada com uma figura antropomórfica feminina (ceifeira). Trata-se de uma escultura em alto-relevo, cujo motivo foi previamente modelado, depois cortado no sentido longitudinal com recurso a um fio, sendo depois a parte da frente da figura aplicada ao fundo, por compressão e colagem com barbutina.
A placa relevada foi produzida ao modo de Estremoz: a seguir à modelação, tiveram lugar as habituais operações de secagem, cozedura, arrefecimento, pintura e envernizamento.
A modelação e a cromática do motivo decorativo são as habituais neste tipo de figuras.
A placa, de forma trapezoidal, tem 14,5 cm de altura e 7,5 cm de base maior. O seu topo foi pintado de cor verde bandeira e orla lateral em zarcão. No verso ostenta a marca manuscrita “J.M.” (José Moreira) e a marca carimbada “ESTREMOZ / ALENTEJO / PORTUGAL”, distribuída por 3 linhas paralelas.
No topo superior da placa existem dois furos, um de cada lado do chapéu da figura, pelos quais é possível fazer passar um fio que assegura a respectiva suspensão numa parede.
O primeiro espécime estudado (Fig. 1) configura uma placa em barro vermelho, decorada com uma figura antropomórfica feminina (ceifeira). Trata-se de uma escultura em alto-relevo, cujo motivo foi previamente modelado, depois cortado no sentido longitudinal com recurso a um fio, sendo depois a parte da frente da figura aplicada ao fundo, por compressão e colagem com barbutina.
A placa relevada foi produzida ao modo de Estremoz: a seguir à modelação, tiveram lugar as habituais operações de secagem, cozedura, arrefecimento, pintura e envernizamento.
A modelação e a cromática do motivo decorativo são as habituais neste tipo de figuras.
A placa, de forma trapezoidal, tem 14,5 cm de altura e 7,5 cm de base maior. O seu topo foi pintado de cor verde bandeira e orla lateral em zarcão. No verso ostenta a marca manuscrita “J.M.” (José Moreira) e a marca carimbada “ESTREMOZ / ALENTEJO / PORTUGAL”, distribuída por 3 linhas paralelas.
No topo superior da placa existem dois furos, um de cada lado do chapéu da figura, pelos quais é possível fazer passar um fio que assegura a respectiva suspensão numa parede.
Duas
das Irmãs Flores
Já vi exemplares destas esculturas em alto-relevo de que estou falando, da autoria de Mestra Sabina da Conceição Santos (1921-2005). Todavia, não disponho de imagens das mesmas, as quais possa aqui reproduzir. O barrista Jorge da Conceição, sobrinho de Sabina, confirma a produção deste tipo de peças pela tia: "Recordo-me perfeitamente de ver a minha tia Sabina produzir figuras destas, aplicadas na diagonal em placas quadradas que levavam um furo no canto superior, para permitir pendurar a peça."
Na sequência do trabalho de Sabina, também as Irmãs Flores, Maria Inácia Fonseca (1957- ) e Perpétua Sousa (1958- ) modelaram esculturas em alto-relevo (Fig. 2 e Fig. 3), que apresentam diferenças em relação às de José Moreira (1926-1991), as quais passo a enumerar: As placas têm geometria quadrangular com 13,5 cm de lado. A disposição dos motivos é a da diagonal do quadrado. O topo da placa é negro e a orla lateral cor ocre-amarelo, que também bordeja ligeiramente a orla do topo. No verso ostentam a marca manuscrita “I. Flores / Estremoz”, distribuída por 2 linhas paralelas.
A suspensão da placa na parede é assegurada através de uma argola de arame cravada no topo superior do lado posterior da placa.
Já vi exemplares destas esculturas em alto-relevo de que estou falando, da autoria de Mestra Sabina da Conceição Santos (1921-2005). Todavia, não disponho de imagens das mesmas, as quais possa aqui reproduzir. O barrista Jorge da Conceição, sobrinho de Sabina, confirma a produção deste tipo de peças pela tia: "Recordo-me perfeitamente de ver a minha tia Sabina produzir figuras destas, aplicadas na diagonal em placas quadradas que levavam um furo no canto superior, para permitir pendurar a peça."
Na sequência do trabalho de Sabina, também as Irmãs Flores, Maria Inácia Fonseca (1957- ) e Perpétua Sousa (1958- ) modelaram esculturas em alto-relevo (Fig. 2 e Fig. 3), que apresentam diferenças em relação às de José Moreira (1926-1991), as quais passo a enumerar: As placas têm geometria quadrangular com 13,5 cm de lado. A disposição dos motivos é a da diagonal do quadrado. O topo da placa é negro e a orla lateral cor ocre-amarelo, que também bordeja ligeiramente a orla do topo. No verso ostentam a marca manuscrita “I. Flores / Estremoz”, distribuída por 2 linhas paralelas.
A suspensão da placa na parede é assegurada através de uma argola de arame cravada no topo superior do lado posterior da placa.
Sistemática
dos Bonecos de Estremoz
A barrística de Estremoz não só me continua a surpreender, como simultaneamente me prega partidas, uma vez que eu não contemplei o presente tipo de produção, na Sistemática dos Bonecos de Estremoz, apresentada no meu livro BONECOS DE ESTREMOZ, dado á estampa pelas Edições Afrontamento, no Outono de 2018. Que fazer então? Dizer que este tipo de esculturas em alto-relevo não faz parte da Sistemática dos Bonecos de Estremoz? Seria um absurdo, já que elas têm existência real. A única atitude que é razoável é modificar a Sistemática dos Bonecos de Estremoz, de modo a incluir também as esculturas em alto-relevo. Deste modo a sistemática baseada na funcionalidade das figuras passa a incluir uma nova categoria: “Esculturas em alto-relevo”. Também a sistemática baseada no modo de assentamento das figuras se amplia com uma nova categoria: “Bonecos assentes pelo lado posterior”.
A Sistemática é um modelo cuja validade está limitada à interpretação do real. Quando um modelo deixa de funcionar, há que o substituir por outro, o que no presente caso corresponde a reformular a Sistemática, de modo a que ela possa interpretar a realidade. Parafraseando Luís de Camões, é caso para proclamar. “Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.”
A barrística de Estremoz não só me continua a surpreender, como simultaneamente me prega partidas, uma vez que eu não contemplei o presente tipo de produção, na Sistemática dos Bonecos de Estremoz, apresentada no meu livro BONECOS DE ESTREMOZ, dado á estampa pelas Edições Afrontamento, no Outono de 2018. Que fazer então? Dizer que este tipo de esculturas em alto-relevo não faz parte da Sistemática dos Bonecos de Estremoz? Seria um absurdo, já que elas têm existência real. A única atitude que é razoável é modificar a Sistemática dos Bonecos de Estremoz, de modo a incluir também as esculturas em alto-relevo. Deste modo a sistemática baseada na funcionalidade das figuras passa a incluir uma nova categoria: “Esculturas em alto-relevo”. Também a sistemática baseada no modo de assentamento das figuras se amplia com uma nova categoria: “Bonecos assentes pelo lado posterior”.
A Sistemática é um modelo cuja validade está limitada à interpretação do real. Quando um modelo deixa de funcionar, há que o substituir por outro, o que no presente caso corresponde a reformular a Sistemática, de modo a que ela possa interpretar a realidade. Parafraseando Luís de Camões, é caso para proclamar. “Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.”
Sugestão
Porquê não retomar a produção deste tipo de figuras? Para além da ceifeira e do pastor, outros motivos poderão ter aqui uma utilização interessante. Tal é o caso da Senhora de Pézinhos e do Peralta. Aqui fica o desafio.
Porquê não retomar a produção deste tipo de figuras? Para além da ceifeira e do pastor, outros motivos poderão ter aqui uma utilização interessante. Tal é o caso da Senhora de Pézinhos e do Peralta. Aqui fica o desafio.
Na produção deste tipo de peças é de ter presente que a ausência da parte posterior do Boneco na escultura em alto-relevo, exclui atributos desses Bonecos, como é o caso do laço posterior da Primavera e as asas de O Amor é Cego. Tal facto não é impeditivo da utilização da Primavera, já que o laço não é um atributo fundamental. Porém, inviabiliza a utilização de O Amor é cego, já que este ficaria sem asas e estas constituem um dos atributos fundamentais da figura.
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