terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mariano da Conceição partiu há 60 anos


Mariano da Conceição (1903-1959) na sua oficina. Fotografia de Rogério de Carvalho
(1915-1988). Arquivo fotográfico do autor.



Foi há 60 anos que no fatídico dia 29 de Setembro de 1959, faleceu prematuramente o barrista Mariano Augusto da Conceição (1903-1959), o “Alfacinha”. Foi vítima de atropelamento por um cavalo no final de um Raid Hípico com meta no Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz.
Mariano era filho primogénito do oleiro Narciso Augusto da Conceição e neto de Caetano Augusto da Conceição, fundador da Olaria Alfacinha. À data da sua morte era Mestre de Olaria na Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Aqui o director, escultor José Maria Sá Lemos (1892-1971), natural de Vila Nova de Gaia, atribuíra a si próprio a missão de recuperação da manufactura dos Bonecos de Estremoz, extinta desde 1921. A velha bonequeira Ana das Peles (1859-1945) foi o instrumento primordial dessa recuperação conseguida em 1935 e devido à sua avançada idade, impunha-se que houvesse continuadores. Dai que Sá Lemos tenha lançado um repto a Mariano da Conceição, o qual viria a ser o instrumento de continuidade dessa recuperação. De facto, Mariano aceitou de bom grado o desafio e teve êxito, passando a ter uma tripla actividade: Oleiro na Olaria Alfacinha, Mestre de Olaria na Escola Industrial António Augusto Gonçalves e bonequeiro.
Mariano partiu mas legou-nos os seus Bonecos e graças à acção de continuadores não se extinguiu a tradição da manufactura de Bonecos de Estremoz, cuja origem remonta pelo menos ao séc. XVII.
Da plêiade de continuadores de Mariano, sobressai o chamado clã dos alfacinhas: a irmã Sabina da Conceição (1921-2005), a mulher Liberdade da Conceição (1913-1990), a filha Maria Luísa da Conceição (1934-2015) e o neto Jorge da Conceição (1963- ).
A transmissão de saberes ao longo de gerações em meio familiar e em contexto oficinal, bem como a singularidade do modo de produção, fez com que em 2017, a manufactura de Bonecos de Estremoz fosse inscrita pela UNESCO na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Estremoz, 19 de Setembro de 2019
(Jornal E nº 231, de 17-10-2019)


Sá Lemos (1892-1971) trocando impressões com ti Ana das Peles (1859-1945) numa
sala de aulas da Escola  Industrial António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério
de Carvalho (1915-1988), publicada no semanário estremocense “Brados do  Alentejo”
nº 250, de 10 de Novembro de 1935. Arquivo fotográfico do autor.

1 comentário:

  1. Amigo Hernâni Matos,

    Gostei de ler... sempre agradável estas descrições narrativas sobre uma cultura popular tão singular como são os Bonecos de Estremoz.

    Abraço,
    JD Martins

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