Fig. 1
A cágueda (Fig. 1) é um artefacto de arte pastoril em madeira que
serve de fecho de coleira de gado com chocalho suspenso. Para tal, o chocalho é
suspenso de uma correia de couro em cujas extremidades se fazem dois cortes
longitudinais. O fecho da coleira é colocado horizontalmente, no ponto exacto
em que as extremidades das coleiras se sobrepõem. Para tal é enfiado por um dos
lados dos cortes, saindo pelo oposto, de modo a uni-los no rebaixo que tem por
função evitar a sua queda ou deslocamento.
A parte que se enfia nos cortes da coleira chama-se
“patilha” e é estreita para a cágueda ser mais fácil de enfiar e desenfiar na
coleira. A patilha apresenta um "rebaixo" que impede a sua
deslocação sem voltar para cima a parte posterior, inteiramente lisa. À parte
mais larga por onde se pega a cágueda, dá-se o nome de “cabeça”.
No presente exemplar (Fig. 1), o rosto da cabeça é ligeiramente convexo, quase horizontal
e situa-se num plano inferior ao rosto da patilha, que desce abruptamente até à
junção da cabeça (Fig.2). O reverso da cágueda é plano.
A geometria da cabeça é circular e com o contorno
liso. A decoração no rosto da cabeça recorreu a incisões pouco profundas e foi
esculpida com motivos geométricos que apresentam simetria radial. Como elemento
decorativo central, destaca-se um hexafólio com folhas delimitadas por sulcos
contínuos e nas quais se inscrevem sucessivamente no seu interior, uma folha
com limites pontinhados e outra com limites contínuos. Entre cada par de folhas
do hexafólio encaixa um losango de lados encurvados, definido por linhas
contínuas, no interior do qual se inserem sucessivamente dois losangos
igualmente encurvados e definidos por linhas contínuas. Cada folha do hexafólio
penetra num sector circular assente nos limites do contorno circular da cabeça.
De cada lado de cada uma das folhas do hexafólio, na porção de sector circular
correspondente, inserem-se sucessivamente dois triângulos de lados encurvados,
o primeiro dos quais com o fundo liso e o segundo com o fundo preenchido por
linhas paralelas à base do triângulo.
A patilha (Fig. 2) tem uma tampa móvel em torno de um eixo
de madeira cravado verticalmente nela (Fig. 3). Na extremidade oposta ao eixo de rotação
apresenta uma ranhura rectangular (Fig. 3) onde se articula um fecho em madeira (Fig. 4) que encaixa no topo da patilha (Fig. 5). Tal como a cabeça, a tampa da patilha foi decorada
com incisões pouco profundas. O bordo da tampa é liso, mas apresenta uma
serrilha em direcção ao seu interior e com uma forma ogival com base na região
do fecho e topo na região do seu eixo de rotação. No interior da serrilha ogival
inserem-se sucessivamente duas ogivas decoradas com figuras aproximadamente
quadradas. No interior desta ogiva foram definidas figuras aproximadamente
rectangulares, comportando dois triângulos inscritos um no outro, com as bases
paralelas ao topo da patilha e com um vértice apontando para o eixo de rotação.
No reverso da patilha (Fig. 6) observam-se as iniciais M.A.C
incisas a negro num rectângulo igualmente inciso, mas pintado de vermelho.
Trata-se das iniciais de Manuel António Capelins, um pastor que nos anos 60 do
séc. XX já deixara o rebanho primeiro e o trabalho nas pedreiras depois, para se
dedicar em exclusivo à arte pastoril, o que fazia no monte em que habitava na freguesia de
Santa Maria, concelho de Estremoz.
Fig. 2
Fig. 3
Fig. 4
Fig. 5
Fig. 6
Name diga que fez este achado e que já está na sua coleção?.Se ass2for fica confirmado o seu dote de pisteiro.
ResponderEliminarParabéns e um abraço
Não me diga que encontrou essa preciosidade para a sua coleção.Há homens com muita sorte,não é? e a sorte dá muito trabalho.Vi primeiro no FB e mandei comentário ,mas como não me apercebi de reação , resolvi insistir.Se for sua os meus parabéns e um abraço.
ResponderEliminarCaro amigo Hernâni
ResponderEliminarEsta é a terceira tentativa de envio de um comentário à sua magnífica descrição da não menos magnífica cágueda que nos apresentou. Já que não é minha oxalá seja sua.Parabéns.
Que obra magnífica ! M.A. Capelins era o pai da Teresa Serol Gomes, certo ?
ResponderEliminarEra, Victor.
Eliminar