sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

BONECOS DE ESTREMOZ: O que é o livro para mim




O meu livro chama-se ”Bonecos de Estremoz”. Sim, simplesmente “Bonecos de Estremoz”, com a mesma simplicidade que “Maria” é simplesmente “Maria” e “José” é simplesmente “José”.

Pelas suas dimensões de 27,5 cm x 27,5 cm, pelo peso de 1377 g, pelo número de páginas que é 180, pelo número de imagens que é 360 e pelo número de notas de rodapé que é 60, este livro é um livro XXXL. Outra coisa não seria de esperar da parte de um autor que astrologicamente é leão com ascendente de touro, que nasceu no pino do Verão, num dia grande de Agosto, neto de um homem chamado Manuel, cuja alcunha alentejana era o Alturas. E vejam lá que o bom do homem, tinha menos 15 cm que o neto. 

Este livro é um livro de amor aos Bonecos de Estremoz. Mas é igualmente e sobretudo um livro de respeito e admiração por todos os barristas do passado e do presente, sem excepção.

Este livro é o livro de horas do meu dia-a-dia. Foi lavrado e filigranado na mais rigorosa, ainda que voluntária clausura na cela monástica em que se tornou o meu escritório. Para trás ficaram as minhas incursões exploratórias ao Mercado das Velharias em Estremoz e às leiloeiras e aos alfarrabistas, tanto reais como virtuais.

Este livro foi uma longa caminhada. Como diria o poeta sevilhano António Machado (1875-1939):

……………………………..
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
………………………

Nessa longa caminhada, este livro é seguramente, mais uma etapa que liga pólos de romagem à barristica popular de Estremoz. Outros há que me falta visitar e entender.
Com o filósofo António Telmo aprendi que existe sempre um lado oculto das coisas, cuja codificação urge decifrar, visando a sua revelação para que, em nome da verdade, se faça luz. Este livro envolve assim, linhas ocultas de investigação, que a seu tempo terei oportunidade de partilhar convosco em edição futura.

É um livro para ficar, mas é também um livro para continuar, já que o autor não tem reumático intelectual e não é pessoa para se acomodar.

Parafraseando Luís Vaz de Camões na estrofe 155 do Canto X, direi que:

“Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.”

O meu fado é este: o de me cruzar com as linhas de força do espaço-tempo da barrística popular estremocense. Não sei se são aquelas linhas que convergem para mim ou se, porventura, sou eu que me dirijo para elas. O que sei é que vou por aí. É esse o meu sonho.

Parafraseando António Gedeão na Pedra Filosofal direi que:

“Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.”

A partir de agora, o meu livro é também o vosso livro. Tomai-o e partilhai-o, mas divulgai-o também como seus arautos, tal como Azinhal Abelho foi arauto da recuperação da extinta manufactura dos Bonecos de Estremoz.

De acordo com o Capítulo 2 do Génesis, Deus criou o homem e depois a mulher, para que o homem não vivesse sozinho e a partir daí pudesse viver em sociedade.
Como nos ensina Aristóteles em Política I, “O homem é um animal social” que necessita de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude.
Significa isto que um homem sozinho não é ninguém.
Por isso, este livro para além de ser um livro de afectividades, é também um livro de cumplicidades. Ele não teria sido possível sem a colaboração de todos que comigo colaboraram desinteressadamente e cada um à sua maneira. Para eles são devidos agradecimentos:

  Ao professor José Carlos Cabaço Salema, director da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel de Estremoz, que desde 2012 e até ao presente me facultou o acesso ao Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, bem como às suas sucessoras.
 A António José Lopes Anselmo, presidente da Câmara Municipal de Borba, por me ter facultado a consulta, em Julho de 2018, do espólio documental do poeta Azinhal Abelho, adquirido pelo Município em 2007.
 Aos vendedores do Mercado das Velharias em Estremoz e às leiloeiras que ao longo dos anos têm procurado mitigar a minha fome e saciar a minha sede de Bonecos de Estremoz.
 Aos alfarrabistas e às leiloeiras que no decurso do tempo me têm alimentado com papel velho.
 Aos depoentes: Armando José Ruivo Alves (aluno de Mariano da Conceição), Rogério Peres Claro (Director da Escola Industrial e Comercial de Estremoz), José Manuel Silva Madeira (neto de Ana das Peles), Maria Leonor da Conceição Santos (filha de Sabina Santos e sobrinha de Mariano da Conceição) e Maria Margarida Barros de Queiroz Martins Mantero Morais (sobrinha-neta de Francisca Emília Guerra Vieira de Barros).
  Aos barristas: Irmãs Flores, Jorge Manuel da Conceição Palmela, Maria Luísa Banha da Conceição e Ricardo Jorge Moreira Fonseca, que me transmitiram muito do seu saber.
  A todos aqueles que me facultaram fotografias e são referidos nos créditos fotográficos.
 Ao director do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro, meu companheiro de estrada nestas andanças e com quem tenho partilhado informação.
 À directora da Biblioteca Municipal de Estremoz, Maria Helena Mourinha, pelo apoio prestado na consulta da imprensa periódica local.
 À directora do Arquivo Municipal de Estremoz, Paula Gonçalves, e às funcionárias Sílvia Arvana e Joaquina Babau, pelo apoio prestado na pesquisa documental.
 Ao director do Arquivo Distrital de Évora, Jorge Janeiro, e à funcionária Maria Célia Caeiro Malarranha, pelo apoio prestado na pesquisa documental.
 A todos os funcionários da Conservatória do Registo Civil, Predial, Comercial e Automóvel de Estremoz, pelo apoio prestado na pesquisa de documentos paroquiais e de registo civil.
 Ao Luís Mariano Guimarães, que desde 2012 fotografou, a meu pedido, Bonecos das colecções dos Museus Rural e Municipal de Estremoz, bem como exemplares da minha colecção particular e do pintor Armando Alves.
  À Francisca de Matos, que reviu o texto.
  Ao António Júlio Rebelo, que prefaciou o livro.
  Ao Armando Alves, que com mestria assumiu o design gráfico.
  E os últimos são os primeiros: ao Casino da Póvoa de Varzim, que custeou a edição do livro.
  Bem hajam.

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