quinta-feira, 3 de maio de 2018

Despedida Breve


Hernâni Matos (Cronista do E, que vai de férias e tudo.).

Esta coluna teve início em 22 de Maio de 2014 no número 104 deste jornal. Desde então decorreram 4 anos e esta coluna foi editada 96 vezes, o que se nos concede louros pela tenacidade, também nos confere especiais responsabilidades perante os leitores, nossos companheiros de estrada jornalística.
Estes 95 números constituíram uma caminhada com o leitor, ainda que não houvesse nem haja caminho, como nos ensina o poeta sevilhano António Machado (1875-1939): Caminhante, são teus rastos / o caminho, e nada mais; / caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao andar. / Ao andar faz-se o caminho, / e ao olhar-se para trás / vê-se a senda que jamais / se há-de voltar a pisar. / Caminhante, não há caminho, / somente sulcos no mar...
Esta coluna assumiu-se então como trincheira, tribuna e espelho. Trincheira na defesa da portugalidade, da língua portuguesa, do regionalismo, da tradição, da alma alentejana, da liberdade de pensar e do direito de opinar. Tribuna de defesa da razão, da justiça, da solidariedade, do amor, da liberdade e da procura de novos caminhos. Espelho dos nossos estados de alma, das nossas preocupações, das nossas motivações, dos nossos anseios, dos nossos sonhos e dos nossos desejos. E na altura também proclamámos: Não seguiremos cartilhas, não seremos a voz do dono, nem faremos de papagaios reais. Não somos súbditos de ninguém, nem prestamos vassalagem a ninguém. Temos dificuldade em dobrar a coluna vertebral, já que a nossa mãe nos pariu assim.
Decorridos que são 4 anos, é possível constatar que assim foi e que não ocorreu qualquer desvio relativamente aos princípios formulados. Esta coluna abrigou crónicas que constituíram exercícios de cidadania na defesa do património cultural material e imaterial local e regional, bem como da qualidade de vida. Defesa igualmente da identidade cultural alentejana, da valorização das tradições e da Arte e Cultura Populares.
Como exercícios de cidadania, as crónicas procuraram exercer junto do leitor, um papel pedagógico, simultaneamente informativo e formativo, ao apresentar questões e destacar problemas cuja resolução urge em termos de “Res publica”. Foram crónicas que tiveram um retorno positivo por parte dos leitores e que constituíram um incentivo no sentido da sua continuidade. Tem sido com prazer que temos caminhado com o leitor, já que temos o jornalismo na massa do sangue. Apesar de tudo, há outras solicitações a que estamos submetidos, nomeadamente no campo da edição literária e que nos estão a exigir um esforço redobrado, que não é compatível com o exercício regular do jornalismo. Daí que tenhamos sido obrigados a tomar opções, que se traduziram na interrupção da actividade jornalística. Esta não constitui uma deserção ou uma rendição do Franco-atirador, já que como sentinela do Povo, o nosso lugar é aqui no exercício da cidadania e com espírito de missão laica, em defesa de valores universais, democráticos e plurais, dos quais não prescindimos.
Cremos que o leitor respeitará as nossas opções e regressaremos assim que pudermos. Parafraseando o conto de José-Augusto França, diremos que será uma “Despedida Breve”.

Cronista do E, que vai de férias e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 199, de 03-05-2018) 

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