Hernâni Matos (Cronista do E, que vai de férias e tudo.).
Esta coluna teve início em 22 de Maio de 2014 no
número 104 deste jornal. Desde então decorreram 4 anos e esta coluna foi
editada 96 vezes, o que se nos concede louros pela tenacidade, também nos
confere especiais responsabilidades perante os leitores, nossos companheiros de
estrada jornalística.
Estes 95 números constituíram uma caminhada com o
leitor, ainda que não houvesse nem haja caminho, como nos ensina o poeta
sevilhano António Machado (1875-1939): Caminhante,
são teus rastos / o caminho, e nada mais; / caminhante, não há caminho, /
faz-se caminho ao andar. / Ao andar faz-se o caminho, / e ao olhar-se para trás
/ vê-se a senda que jamais / se há-de voltar a pisar. / Caminhante, não há
caminho, / somente sulcos no mar...
Esta coluna assumiu-se então como trincheira,
tribuna e espelho. Trincheira na defesa
da portugalidade, da língua portuguesa, do regionalismo, da tradição, da alma
alentejana, da liberdade de pensar e do direito de opinar. Tribuna de defesa da
razão, da justiça, da solidariedade, do amor, da liberdade e da procura de
novos caminhos. Espelho dos nossos estados de alma, das nossas preocupações,
das nossas motivações, dos nossos anseios, dos nossos sonhos e dos nossos
desejos. E na altura também proclamámos: Não seguiremos cartilhas, não seremos a voz do dono, nem faremos de
papagaios reais. Não somos súbditos de ninguém, nem prestamos vassalagem a
ninguém. Temos dificuldade em dobrar a coluna vertebral, já que a nossa mãe nos
pariu assim.
Decorridos que são 4 anos, é possível constatar que
assim foi e que não ocorreu qualquer desvio relativamente aos princípios
formulados. Esta coluna abrigou crónicas que constituíram exercícios de
cidadania na defesa do património cultural material e imaterial local e
regional, bem como da qualidade de vida. Defesa igualmente da identidade
cultural alentejana, da valorização das tradições e da Arte e Cultura
Populares.
Como exercícios de cidadania, as crónicas
procuraram exercer junto do leitor, um papel pedagógico, simultaneamente
informativo e formativo, ao apresentar questões e destacar problemas cuja
resolução urge em termos de “Res publica”. Foram crónicas que tiveram um
retorno positivo por parte dos leitores e que constituíram um incentivo no
sentido da sua continuidade. Tem sido com prazer que temos caminhado com o
leitor, já que temos o jornalismo na massa do sangue. Apesar de tudo, há outras
solicitações a que estamos submetidos, nomeadamente no campo da edição
literária e que nos estão a exigir um esforço redobrado, que não é compatível
com o exercício regular do jornalismo. Daí que tenhamos sido obrigados a tomar
opções, que se traduziram na interrupção da actividade jornalística. Esta não
constitui uma deserção ou uma rendição do Franco-atirador, já que como
sentinela do Povo, o nosso lugar é aqui no exercício da cidadania e com
espírito de missão laica, em defesa de valores universais, democráticos e
plurais, dos quais não prescindimos.
Cremos que o leitor respeitará as nossas opções e
regressaremos assim que pudermos. Parafraseando o conto de José-Augusto França,
diremos que será uma “Despedida Breve”.
Cronista do E, que vai de férias e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 199, de 03-05-2018)
(Texto publicado no jornal E nº 199, de 03-05-2018)
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