Francisca de Matos (Professora)
O passado dos “Bonecos de Estremoz” conta uma
história multissecular que conseguiu, apesar das dificuldades, resistir à
voracidade do tempo. A sua classificação como Património Cultural
Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, permitiu aos “bonecos”, e aos artesãos
que restam, ganhar o presente. Isso é certo.
Mas a atribuição desse selo, por si só, não garante
o futuro da arte. Esse terá que ser assegurado através de um labor consistente
– e persistente - de formação, de incentivo e de mobilização por parte dos
responsáveis municipais. É que os artesãos que restam – e já não são muitos –
não vão para novos. Há, pois, que avançar rapidamente com medidas concretas de
apoio financeiro e logístico para que eles possam transmitir o seu saber aos
mais novos, pois serão estes que um dia poderão assegurar a continuidade do
figurado em barro de Estremoz. Se a classificação como Património Imaterial
também garantir isto, então sim, o trabalho que verdadeiramente interessa
estará feito, e bem feito.
Como de costume, no calor dos momentos que
antecederam a classificação pela UNESCO foram feitas muitas promessas e ao mais
alto nível da hierarquia municipal: “Questionado relativamente ao que mudaria
no município de Estremoz, se o Figurado em Barro entrasse para a Lista Representativa,
Luís Mourinha aponta a “visão” do município, em termos de “patrocínios de
várias atividades”; “Seria igualmente priorizada, como “obrigação do município”
a construção de um centro “dedicado aos bonecos e ao barro”, (Luís
Mourinha, 21/11/2017, in www.radiocampanario.com). Promessas reiteradas depois
dessa mesma classificação: “criação de “um equipamento” lúdico, de estudo e
formação, com “permanência de pessoas que possa praticar a arte”, sendo
igualmente necessário cativar os jovens para a arte.” (Luís Mourinha,
07/12/2017, in www.radiocampanario.com).
Com tantas e tão ambiciosas garantias, não restam
dúvidas: as expectativas são altas, até porque os “bonecos” e os artesãos que
os criaram, e criam, assim o merecem. Que o futuro nesta terra, por uma vez, não
seja só “para o boneco”…
Francisca de Matos
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