sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Estremoz - A selva urbana


ESTREMOZ - Pombos na frontaria da Igreja Conventual de São Francisco de Assis.

Foge que é pombo
Os pombos vadios hospedados na Mercearia Luís Campos foram no início de Setembro passado, desalojados do seu hotel de 5 estrelas, mesmo no centro da cidade. A isso foram obrigados pelo camartelo a soldo da edilidade estremocense. Razão pela qual se viram obrigados a migrar para outros locais, onde continuam a ser indesejáveis, mas onde impõem a sua presença, graças à passividade camarária que permite que eles continuem a ser uma praga.
Um número considerável deles alojou-se na frontaria da Igreja Conventual de São Francisco de Assis. Quem não gosta da sua presença ali, são os fiéis que movidos pela sua legítima fé, frequentam a vetusta paroquial. Alguns mais avisados e com facilidade de locomoção, entram e saem rapidamente não vá o Diabo tecê-las e faça com que sejam atingidos pelos projécteis fecais dos columbídeos. O espaço cívico de convívio que sempre foi o adro da Igreja transformou-se assim numa zona de bombardeio que inclui também o Cruzeiro de São Francisco. É grande o desagrado com a presença daquelas aves que por ali assentaram arraiais, já que todos temos consciência que não são “Pombas do Espírito Santo”, mas pombos vadios que constituem um problema real a que urge fazer frente em nome da sanidade, da higiene e do bem-estar dos cidadãos.  
Árvores, para que vos quero?
A arborização de uma urbanização exige a escolha de espécies arbóreas com características botânicas adequadas, as quais devem ser tidas em linha de conta por projectistas, urbanizadores e agentes de fiscalização. Qualquer deles deve ter presente que as árvores constituem um importante elemento natural na composição do meio urbano, contribuindo para a qualidade de vida da população residente. É que no espaço urbano, as árvores desempenham múltiplas funções: social, cultural, ambiental, ecológica, arquitectónica e patrimonial.
A escolha do tipo de árvores a plantar numa urbanização é uma questão delicada, que exige estudo prévio, já que são múltiplos os requisitos a que as árvores devem obedecerem. Um deles é o sistema radicular ser profundo, evitando-se o uso de árvores com sistema radicular superficial, que pode danificar ruas, acostamentos, calçadas, muros, pátios, fundações dos prédios, cablagem subterrânea, esgotos, canalização de água e de gás.
A situação anterior é a que está a ocorrer na Rua Padre do Carmo Martins e exige uma intervenção rápida e eficaz por parte da edilidade estremocense. Trata-se de uma medida que passa necessariamente pelo abate das árvores ali existentes e respectiva substituição por outras com as características adequadas.
Um caso que não é único
O que se passa na Rua Padre do Carmo Martins não é, infelizmente, um caso isolado. Ali perto, na Rua Frei Nuno de Santa Maria, as árvores plantadas já não são as primitivas, as quais tiveram de ser abatidas, porque além dos problemas suscitados pela arborização da Rua Padre do Carmo Martins, também largavam bagas que manchavam os muros e os automóveis dos moradores.
Cama, mesa e…roupa suja
Mais recentemente ocorreu outro abate de árvores, agora na Praceta dos Casais de Santa Maria. Quem por ali transita, vê a sua atenção despertada por um círculo de cepos, sinalizados por fita bicolor, vermelha e branca. Faz lembrar um parque de merendas com ornamentação festiva, como que a convidar excursionistas para ali comerem uma bucha.
As árvores sacrificadas pela moto serra municipal, tinham uma copa abundante e produziam bagas que levaram à instalação no local de uma basta colónia de pássaros, que ali encontrou cama e mesa. Só roupa lavada é que não, uma vez que nos estendais limítrofes, a roupa aparecia suja. No local, bagas e excrementos eram omnipresentes, causando incómodos a vários níveis.
Na sequência da intervenção municipal, supõe-se que as aves desalojadas migraram para os campos de onde tinham vindo, atraídas pelo isco mirífico das bagas.
Centro Histórico a sofrer
Estremoz já foi cidade branca no dizer inspirado do poeta Silva Tavares, nosso prestigiado conterrâneo. Acontece que hoje já não é assim, entre outras razões como consequência de toda a cablagem negra que a EDP e os fornecedores de sinal telefónico ou de televisão estenderam pela fachada dos edifícios, desfeando-os e fazendo com que uma parafernália de cabos, atravessem as ruas de um lado para o outro, lembrando lianas numa floresta tropical. Trata-se de um abjecto crime de poluição visual e não só. O mesmo começou há muito e teve continuidade assegurada, graças à inércia municipal. A edilidade revelou-se incapaz de implementar uma alternativa não agressiva, que passasse pelo enterramento de toda a cablagem em condutas, das quais irradiasse até à entrada dos edifícios. Tal não foi feito.
O auge do desfeiamento das fachadas da cidade foi agora consumado no Largo de D. Dinis, núcleo nobre do Centro Histórico de Estremoz. É caso para perguntar se é assim que o Município quer candidatar o Centro Histórico de Estremoz a Património Mundial da Humanidade? É com a actual estratégia inspirada na máxima francesa do “Laissez faire, laissez passer”? É que esta não é mais que um emblemático chavão do liberalismo económico, na versão pura e dura de capitalismo que defende que o mercado deve funcionar livremente. E vêm-nos depois com o estafado slogan: - “Estremoz tem mais encanto!”. Da minha parte, só uma resposta é possível: - “Qual encanto, qual carapuça?”.


(Texto publicado no jornal E nº 193, de 08-02-2018)

ESTREMOZ - Danos causados por árvores com sistema radicular superficial na
Rua Padre do Carmo Martins.

ESTREMOZ - Cepos de árvores abatidas na Praceta dos Casais de Santa Maria.

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