A existência dos
Bonecos de Estremoz é conhecida há mais de trezentos anos e hoje são muitas as
mãos de artistas populares que continuam a dar vida a estas figuras. A temática
é, de uma maneira geral, baseada nas tarefas do dia a dia mas também em figuras
religiosas, onde se destacam os presépios.
Foi por volta de 1945
que o escultor Sá Lemos, então director da Escola Industrial António Augusto
Gonçalves, desafiou e incentivou a “Ti Ana das Peles” a trabalhar na
recuperação de uma tradição adormecida que, a partir daí, se veio afirmando
como uma actividade relevante na criação dos nossos artistas do barro, para o
desenvolvimento do turismo local, para a economia da região, e para a afirmação
do nome de Estremoz.
Muitos foram os
artesãos que, depois da Ti Ana das Peles se foram afirmando e criando à sua
maneira os Bonecos de Estremoz.
Sem querer ser injusto
para ninguém quero referir apenas aqueles com quem tive mais proximidade. Desde
logo, e porque ainda felizmente estão em actividade, “As Irmãs Flores”, a Maria
Inácia Fonseca e a Perpétua Sousa Fonseca, que têm sabido dar continuidade ao
que de melhor se tem feito para preservar o bom nome dos Bonecos de Estremoz
sendo ainda de realçar o sentido pedagógico que manifestaram ao lançar nestes
caminhos da arte do barro, o seu sobrinho Ricardo Fonseca, um jovem com talento
que nos dá confiança para o futuro.
Antes tinha conhecido o
José Moreira, ainda como empregado na Olaria Alfacinha, com quem privei
bastante. Tinha no quintal uns tanques onde transformava a terra em barro para
poder ser moldado e, depois de cozido, ser pintado pelas mãos sensíveis de sua
mulher Josefina Augusta Ferreira.
Conheci ainda a Maria
Luísa da Conceição que tinha uma forte ligação a esta actividade, muito
influenciada pela família, tendo conseguido afirmar a sua marca pessoal no
fabrico dos seus bonecos.
Por último, sendo o
primeiro, o Mestre Mariano Alfacinha. Professor de olaria na Escola Industrial
de Estremoz, que frequentei quando tinha treze anos e onde aprendi com ele a
arte de trabalhar o barro. Estou a vê-lo com aquelas mãos grossas e sapudas,
enormes e ao mesmo tempo delicadas, a mexer no barro e tratá-lo por tu porque o
conhecia como ninguém. Foi com ele que aprendi também a fazer Bonecos de
Estremoz. Não fiz muitos, talvez uma centena que vendia a vinte e cinco tostões
na Papelaria Ruivo, da minha tia Joana Ruivo em Estremoz.
Ainda hoje guardo o
último exemplar desses bonecos, “O Homem do Harmónio”, a quem um dia destes
ouvi tocar uma modinha a propósito da proclamação dos Bonecos de Estremoz a
Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário