Diogo Vivas (Arquivista, doutorando em Ciência da Informação)
O reconhecimento da produção de
figurado em barro de Estremoz, vulgarmente conhecida por “Bonecos de Estremoz”,
como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, no decurso da
12.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património
Cultural Imaterial, que decorreu em Jeju (Coreia do Sul), no passado mês de
Dezembro deve, a todos, encher de orgulho.
Devemos reconhecer, além
do labor e da criatividade das mãos que, geração após geração, ao longo dos
séculos, souberam transmitir uma forma muito peculiar de trabalhar o figurado
de barro, o papel determinante do Professor José Maria de Sá Lemos, então
director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, nas décadas de 30-40
do século passado, na revitalização de uma arte quase extinta.
O trabalho desenvolvido,
primeiramente, com Ana Rita da Silva, vulgo “Ti Ana da Peles” e, numa segunda
fase, com Mariano da Conceição, permitiu recuperar uma arte secular que os
artesãos seguintes souberam dar continuidade até à actualidade, criando e
recriando, ao jeito dos barristas do passado.
Na pessoa do mais novo
dos artesãos, Ricardo Fonseca, felicito todos os ceramistas. Congratulo-me, em
particular, pela sua coragem em abraçar semelhante desafio e que seja o
estímulo para que mais jovens se interessem por esta forma de expressão da
cultura popular estremocense, assegurando a sua continuidade num mundo
globalizado.
Uma palavra de
reconhecimento a todos os investigadores que ao longo dos tempos se têm
dedicado ao estudo desta temática. A sua reflexão e produção intelectual
constituíram a tão necessária memória escrita, fundamental, não só para o
sucesso da candidatura, mas também para a sua preservação e conservação
futuras.
Não poderia, contudo,
deixar de recordar os arquivos/ bibliotecas e os testemunhos/ memorias orais,
que serviram de suporte a muita da investigação desenvolvida. Destaco,
particularmente, a Biblioteca e o Arquivo Municipal de Estremoz e a pesquisa
desenvolvida pelos seus técnicos, num trabalho (in)visível e moroso, de
inegável valor.
Um voto de felicitações à
comissão que conduziu o processo de candidatura pela perseverança com que
desenvolveu o seu trabalho bem como a todas entidades que directa ou
indirectamente se envolveram neste processo.
Termino com um desafio ao
Município de Estremoz, para a criação de um Centro de Documentação e
Informação, em homenagem ao homem que, no século passado, de forma visionária,
resgatou da extinção os “Bonecos de Estremoz”: o Professor José Maria de Sá
Lemos (1892-1971). Um centro que reunisse a sua obra artística assim como a
biblioteca e arquivo pessoais; apoiasse e desenvolvesse actividades de
investigação e de aprofundamento de estudos em torno de temáticas afins e
procurasse editar estudos e reunisse os textos dispersos da sua autoria.
Diogo Vivas
Arquivista, doutorando em Ciência da Informação
(Texto publicado no jornal E nº 192, de 25-1-2018)
Arquivista, doutorando em Ciência da Informação
(Texto publicado no jornal E nº 192, de 25-1-2018)
Hernâni Matos
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