No passado dia 21 de Abril, os Correios de Portugal colocaram em circulação uma emissão filatélica subordinada ao tema “Barros de Portugal”, ilustrada por bonecos das regiões mais importantes do figurado português: Barcelos, Vila Nova de Gaia, Ribolhos, Estremoz, Açores e Madeira.
Naquela emissão, Estremoz foi presenteada com um
selo de 0,55 €, destinado ao correio azul nacional. Nele aparecem duas figuras
pertencentes ao núcleo tradicional dos bonecos de Estremoz.
Em grande plano “O cirurgião”, também conhecido por
“Barbeiro-sangrador”, conjunto de duas figuras trajando à moda do séc. XVIII,
em que um é o sangrador e outro o sangrado. Existia na época a convicção
arreigada de que a sangria tinha resultados terapêuticos. No séc. XIX ainda se
sangrava e o ofício de sangrador só foi extinto por lei de 13 de Julho de 1870.
Presente ainda no selo, a imagem de uma
“Primavera”, figura de Entrudo, envolvida em rituais de vegetação, que
anunciava e saudava a proximidade da Primavera, na qual a natureza e muito em
especial a flora, refloresce.
As características técnicas do selo são as seguintes:
Design: Atelier B2; Tiragem: 120 000; Impressão: papel FSC 110 g/m2; Formato:
40 x 36 mm; Perfuração: Cruz de Cristo 13 x 13; Impressão: offset;
Impressor: Cartor; Folhas com 50 exemplares.
Os Correios editaram ainda um sobrescrito ilustrado
de 1º dia, formato C6 e uma pagela anunciadora da emissão com texto de Joaquim
Pais de Brito, Director do Museu Nacional de Etnologia, museu a que pertencem
as peças reproduzidas no selo.
Em Estremoz, a correspondência com aquele selo
aposto, recebeu a obliteração de Estremoz, do 1º dia de emissão. O selo pode ainda
ser adquirido em qualquer estação dos CTT e afixá-lo na correspondência
expedida é uma forma de divulgar ainda mais os Bonecos de Estremoz e potenciar
a sua Candidatura a Património Imaterial da Humanidade.
A iniciativa da emissão deve-se ao Município de
Estremoz, que cumprindo as regras em vigor, em finais de Março do ano
transacto, sugeriu de uma forma fundamentada, à Direcção de Filatelia dos CTT,
a emissão filatélica de um conjunto de selos, ilustrados pelos nossos Bonecos.
Todavia, apesar da iniciativa louvável do Município, a proposta teve de ser
filtrada por um Conselho Consultivo, onde a proposta inicial foi subvertida por
interesses estranhos ao proponente. Por outras palavras, a proposta legítima do
Município de Estremoz de alvitrar uma emissão filatélica dedicada ao nosso
figurado, como forma de potenciar a Candidatura em curso, foi completamente
subvertida. Daí que na emissão, ao contrário do proposto, apareçam imagens de
exemplares pertencentes a seis regiões distintas do figurado português. Venceu
a tese subscrita por Joaquim Pais de Brito, Director do Museu Nacional de
Etnologia, que projecta o acervo daquele museu ao qual pertencem todas as peças
reproduzidas, em detrimento da proposta do nosso Município. Nada tenho contra o
figurado doutras regiões, do qual também gosto, ainda que em segundo plano,
relativamente ao figurado de Estremoz. Todavia não posso deixar de considerar
oportunista, a subversão da proposta inicial, uma vez que foi valorizado o
acervo do museu lisboeta, em detrimento daquilo que está em causa, o
reconhecimento pela UNESCO do nosso figurado como Património Imaterial da
Humanidade. Há lobbies que são mais fortes que o previsto e vaidades pessoais
incomensuráveis, que relegam para segundo plano, aquilo que devia figurar em primeiro. A História
os julgará, assim como reconhecerá o notável esforço do nosso Município.
Estremoz teve uma vitória de Pirro. Conseguiu um
selo à custa da promoção daqueles que nada fizeram por isso. Trata-se de uma
vitória adiada até ao reconhecimento da Candidatura pela Unesco. Até lá, é de
cerrarmos fileiras em torno da nossa dama, a barrística popular de Estremoz.
Carimbo de 1º dia de Estremoz
Barbeiro-sangrador. Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.
Primavera. Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.
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