A quem não me conhece, permitam-me que me apresente. Sou o Hernâni, natural de Estremoz, terra de barro, esse mesmo barro com que Deus terá moldado o primeiro homem.
Com os pés bem assentes na sólida e vasta planície de Além-Tejo (fig. 1), sinto-me em absoluto sincronismo espiritual com a paisagem que um Silva Porto, um D. Carlos de Bragança (fig. 2) ou um Dordio Gomes, tão bem souberam cromaticamente fixar na tela.
fig. 1
fig. 2
De igual modo, um Conde de Monsaraz, uma Florbela Espanca ou um Manuel da Fonseca, registaram poeticamente em vibrantes estrofes, a matriz da nossa natureza ancestral.
Também um Fialho de Almeida, um Manuel Ribeiro ou um Antunes da Silva magistralmente perpetuaram na prosa, o colorido policromático e multifacetado da nossa etnografia, a dureza da nossa labuta, a firmeza do nosso querer, o calor do nosso sentir, a razão das nossas revoltas ancestrais, os marcos das nossas lutas (fig. 3) e as mensagens implícitas nas nossas esperanças.
Telas, versos e prosa que são sinestesias que fazem vibrar os nossos cinco sentidos.
O azul límpido do céu, o castanho da terra de barro, a cor de fogo do Sol e o verde seco da copa dos sobreirais (fig. 4), constituem uma paleta de cores, trespassada por uma claridade que quase nos cega e é companheira inseparável do calor que nos esmaga o peito, queima as entranhas e encortiça a boca.
Sonoridades do restolho seco que quebramos debaixo dos pés, sonoridades das searas (fig. 3 e fig. 5) e dos montados (fig. 4), sonoridades dos rebanhos que ao entardecer regressam aos redis (fig. 6), mas sonoridades também na ausência de sons por não correr o mais leve sopro de aragem.
fig. 3
fig. 4
Odores das flores de esteva, de poejo e de ourégãos, mas também do barro húmido, do azeite com que temperamos divinamente a comida e do vinho espesso e aveludado, que mastigamos nos nossos rituais gastronómicos.
fig. 5
fig. 6
Sinto o Alentejo com emoção e a dimensão regional das minhas emoções tem a ver com a identidade cultural do povo alentejano, forjada e caldeada em condições adversas.
São estas profundas marcas, gravadas atavicamente a fogo na alma alentejana, que fazem com que eu seja, não por opção, mas por nascimento, um homem do Sul e um alentejano dos barros de Estremoz.
D. Carlos de Bragança, um Monarca dinamizador das artes que os republicanos logo trataram de abater.
ResponderEliminarQue falta nos fazia hoje um chefe de estado que valorizasse o trabalho dos artistas.
Não é preciso ser Alentejano para "esboçar" a sua personalidade...neste post penso que está tudo.
ResponderEliminarO Hernâni não é palavroso, mas é...conciso!
O Além-Tejo, também prefiro assim e devia haver um movimento para o repor, não é só vasto, é enorme em todas as outras perspectivas!
Também é maximófilo?
HCM
Sempre inspirado! Eis um retrato onde cabem todos os Alentejanos Estremocenses! Grande Hernâni, continue a brindar-nos com a sua escrita. Saudações
ResponderEliminarEu gostaria de afirmar ao autor de "Bravura Lusitana" que não foi própriamente pelas qualidades de dinamizador das artes que "os republicanos logo trataram de abater" o rei D. Carlos. Estou ainda em condições de afirmar que também não foi pela falta de qualidades enquanto pintor. Haverá que procurar mais consistentes razões no fiasco económico e político que foi o seu reinado, assinalado sobretudo pelo Ultimatum declarado pelos seus primos ingleses sobre o abandono dos territórios que Portugal reclamava entre Angola e Moçambique...e ainda, ao que parece, pela pouca popularidade de que já gozava a instituição monárquica
ResponderEliminarParabens por ter sempre a preocupação de dar a conhecer aspectos pouco debatodos sobre o nosso país e, sobretudo , o nosso Alentejo. Bom fim de semana.
ResponderEliminarSimplesmente Lindas!!!
ResponderEliminarObrigada por Dividir!!
Jaqueline Damasio
Obrigada por compartilhar mais estas informaçoes.
ResponderEliminarPor acaso o Rei D.Carlos (com todos os seus defeitos e virtudes, quem nao os tem?) era o meu preferido desde miuda.
Abraço e bom fim de semana
O Rei Dom Carlos talvez não tenha sido o Rei que o povo estava à espera, mas viveu e desfrutou bem a vida Alentejana, nas caçadas de montaria. Também cultivou as Artes na pintura e desenho, legado que nos deixou. Também não se pode ser bom em todas as àreas. Não merecia ter
ResponderEliminaro fim que teve.
Rosa Casquinha
Só escreve assim do Alentejo, é alguém que foi queimado pelo Sol , escaldante do Verão, na planície Alentejana, como eu fui.
ResponderEliminarO Alentejo merece.
José Inácio Santana Nobre
16 do 09 de 2011
Nascida, criada e educada em Beja ate aos 18 anos. O Alentejo esta no meu coracao ate a morte. Muito obrigada ou Sr. Santos por pore isto no FACEBOOK.
ResponderEliminarMoreninha de Beja
Não nasci no Alentejo, mas também sinto com emoção o Alentejo, todo o seu património cultural e humano. A maior parte dos meus amigos são alentejanos. Vivi em Beja um tempo e lá fiz a quarta classe. Participei no Cante! Recentemente descobri ter costela alentejana, e da terra do nosso amigo que nos que aqui nos convoca para esta conversa e este sentir. Sou descendente de uma natural de Estremoz, freguesia de São Tiago, dentro dos muros do castelo. Reivindico ser alentejana, com muito prazer.Sou Maria do Céu
ResponderEliminarObrigado, Maria do Céu. Congratulo-me com o seu orgulho em ser alentejana.
ResponderEliminarNâo sendo Alentejano mas Alfacinha, gostei imenso do trabalho apresentado. Mesmo sendo Alfacinha o Alentejo é o local onde escolheria viver se tivesse oportunidade, se tivesse emprego por aí adoraria alterar a minha vida a fim de me adaptar a uma vida que julgo diferente, mas humana, mais plena, com mais tempo para viver.
ResponderEliminarA firma onde trabalho gere patrimonio proprio em grande parte do alentejo, e a conversa com os meus colegas é realmente de uma vida diferente, mais completa, mais humana.
Obrigado pelo artigo
Pedro Silva
Pedro:
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário.
Como se depreende do meu texto, eu também gosto muito de viver no Alentejo.
Um abraço.
Amigo HERNÂNI obrigado gostei da sua pagina. Sou alentejana com muito orgulho, mas a vida tem as suas voltas e vivo no Ribatejo. Sinto saudades de quando era criança, no inverno de manha cedo, o cheiro das lareiras acesas, o cheirinho do café e açorda logo de manhã cedo, quando o pessoal se preparava para ir trabalhar para o campo.
ResponderEliminarSão memórias que perduram...
EliminarUm abraço ao ter orgulho de se alentejano.
ResponderEliminarDax d'Alent
Obrigado, amigo.
EliminarUm abraço para ti, também
Boa tarde Hernâni,
ResponderEliminarNão é para lhe ser agradável que lhe digo que aprecio a sinceridade dos Alentejanos, talvez por eu também ter alguma afinidade com vocês, pois sou oriundo de uma zona " fronteiriça" com o Alentejo.
Aprecio a franqueza e honestidade, e o modo como falam olhos nos olhos, e o modo como cumprem os acordos!
Já os oriundos de outras zonas do país são mais infiéis ao que combinam.
Apesar de por vezes nas tertúlias se dizer que os alentejanos são assim, são assado, eu remato sempre com as condicionantes do vosso clima que limitam e de que maneira qualquer trabalho durante os dias mais quentes.
Aprecio igualmente a vossa cilinária, os vossos sabores, o vosso pão, que invariávelmente gasto na minha casa.
Enfim pareço ser um alentejano adotivo!
Abraço
Abílio:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Não é alentejano? Então passa a ser!
Um abraço.
Hernâni, gosto imenso da sua memória alentejana. Vivo aqui há tanto tempo e chego a ter saudades do que não conheci. A mãe de Alvalade, a avó materna também do meio percurso sadino e os bisavós de Colos e Relíquias, dão-me fortes raízes alentejanas... e as coisas que faço ao Alentejo dizem respeito. Embora pudesse lê-lo em qualquer parte do globo, quero deixar-lhe mais uma vez um abraço por ser das poucas pessoas que ainda me fazem permanecer aqui, em Beja, longe dos filhos que já residem tão longe. Bem haja, Hernâni, pelo seu amor incomensurável à terra alentejana que tem os tais cantinhos especiais que são já ali e aqui, onde o acolá e o além nem são longe e nos fazem sentir bem. LBorrela
ResponderEliminarLeonel:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Obrigado também por partilhar connosco o amor pelos traços inconfundíveis da identidade cultural alentejana.
Bem haja.
Um grande abraço.
Só agora li este seu texto! Absolutamente maravilhoso!!!!
ResponderEliminarMuitos abraços
Jorge Vicente
Jorge:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Um abraço para si, também.