sábado, 20 de fevereiro de 2010

A menina quer dançar?


Apetece dizer:
- A menina quer dançar?
Eles dançavam de chapeirão, de bota cardada e calças à boca-de-sino. Elas de saia a rasar o chão, o que levava alguns homens a confessar que:

"Toda a vida me agradou
Moça de saia rasteira,
Porque pranta o pé no chão
Devagar, não faz poeira."[1]

No descanso, dava para eles enrolarem um paivante e tirar umas quantas fumaças, que isso de ser homem dá para fumar. E é sempre bom levar o varapau, que o diabo às vezes assume a forma de maltês. Também dava para elas comporem as saias à cinta, aperaltar os colares e compor os carrapitos.
Como vêem existia uma grande diferença de género.
Eu tenho uma certa pena das moças, porque os aprestos dos homens deviam ser um bocado incómodos, a menos que eles fossem ágeis e cuidadosos. De contrário, dançar de botifarras devia dar para pregar cada pisadela que fervia. Uma botas alentejanas que se prezem não são propriamente uns sapatos à Fred Astaire.
Também o chapeirão devia ser uma grande chatice, a menos que a moça fosse mais baixa.
Se a moça fosse mais alta, o chapeirão batia-lhe no peito e mantinha as distâncias, o que convenhamos era um grandessíssimo inconveniente para o homem.
Se a moça fosse da mesma altura, o chapeirão devia estar sempre a embirrrar com a cabeça dela, a menos que dançassem de cabecinha ao lado, correndo o risco de dar um jeito ao pescoço. E o dinheiro gasto na romaria já não dava para ir ao endireita.
[1] -  Thomaz Pires, António. Cantos Populares Portugueses. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1910.

4 comentários:

  1. Esta problemática do chapeirão bater nas moças deve ser o que deu origem ao dizer popular: "A mulher e a sardinha, querem-se é pequenina".

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  2. Eu tenho livros da Poetisa " Florbela Espanca", e gosto muito, deles...
    O Chapéu penso eu que seria largo porque passariam muitas horas debaixo do sol e seria uma protecção, o pau, o fumar ..para ajudar a passar o tempo, e o pau, par manter uma certa autoridade de posição para o momento,se fosse pastor teria uma função, se não fosse era tomado como um adereço(estilo), ou para enxutar os alheios. Por acaso hoje fazia falta esse adereço....além das pisadelas que se pudessem levar.. nessa altura "levavam as meninas ao BUFETE. Hoje não leva pisadelas, e o adereço é o "COPO na MÃO", nem se precisa saber dançar....
    Felizmente eu sou deste tempo e gosto! e sempre me adaptei às circunstâncias.

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  3. Olá Hernâni!
    Essas fotos não são do meu tempo. ... Mas lembro-me de em criança assistir a "balhos" na casa da ti Giboa.
    Era assim:Arrumavam os "trastes" mobiliário num quarto e na "casa de fora" ou seja,aquela que era a de entrada onde existia a chaminé e onde se cozinhava e se comia.
    E ... "o balho" baile começava, não com acompanhamento músical mas com as cantigas ao desafio e com as "saias" que estavam em moda.
    As mulheres mais velhas ficavam ao lume, faziam café que vendiam aos rapazes que também consumiam um "copito" de aguardente,bebida que as mulheres "baptizavam" acrescentando um pouco de água, para "render" mais e para não ser tão forte...diziam elas.
    Eu era criança do monte, num mundo rural que desconhecia a existência de outros mundos...
    Obrigado Ernâni e um resto de bom domingo estremocense.
    dax d'alent

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  4. Vale a pena ver e ler estas coisas...

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