Miniaturista italiano(c. 1398). Tacuinum Sanitatis, manuscrito (Codex Vindobonensis S.N. 2644). Tamanho do fólio: 330
x 230 mm. Biblioteca Nacional Austríaca, Viena.
As
eleições autárquicas do passado dia 2 de Outubro deram uma vitória folgada ao
MIETZ, o qual elegeu 4 vereadores contra os 3 conseguidos pelo PS. Pese embora
a vitória, o Partido do Presidente perdeu um vereador a favor do Partido
Socialista.
O
MIETZ, partido furta-cores apresentou a sufrágio listas em que figuravam
trânsfugas da CDU, do PCP, do PS e do PSD e nas quais era notória a presença de
funcionários e assessores do Município. Pelos vistos, o eleitorado gostou, o
que conduziu aquele Partido à vitória.
Estratégia eleitoral
Para além de arruadas, a campanha eleitoral do
MIETZ assentou no forte impacto de eventos, sobretudo a partir de Maio e dos
quais destaco:
- Inauguração do Parque Industrial de Veiros
(25-5); - Apresentação do Projecto Museológico do Museu Berardo de Estremoz,
junto ao edifício do Palácio dos Henriques (Palácio Tocha) (4-7): - Anúncio da
recuperação das Portas dos Currais e muralha adjacente (6-7); - Divulgação da
aquisição de mais uma varredoura pelo Município de Estremoz (11-7); - Anúncio
do começo das obras de interligação entre os Casais de Santa Maria e a
Urbanização de Mendeiros (18-7); - A aprovação em reunião de Câmara da celebração de
um Protocolo entre o Município e a Sociedade Filarmónica Veirense, respeitante
à cedência gratuita, pelo prazo de 25 anos, de um imóvel situado na Praça
Marquês da Praia e Monforte, em Veiros, visando a realização das obras de
reparação necessárias à sua funcionalidade e utilização futura (26-7); - Passagem
por Estremoz da Volta a Portugal em Bicicleta (1-8); - Anúncio da conclusão
ainda em Agosto das obras de construção do relvado sintético, no campo de
futebol do Sporting Clube Arcoense (4-8); - Anúncio das Portas de Évora estarem
a ser objecto de recuperação (11-8); - Gala na RTP-1 em que Évora Monte
participou no Concurso 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias, na categoria Aldeias
Monumento (13-8); - Noite de Glamour junto ao Pelourinho (19-8); - Realização
da Corrida Comemorativa dos 55 anos de Alternativa do cavaleiro José Maldonado
Cortes (1-9); - Reabertura do Museu Rural em novo espaço do Palácio dos
Marqueses de Praia e Monforte (2-9); - Visita à Central Solar de Montes
Novos, em São Bento do Ameixial, do Ministro da Economia e do Secretário
de Estado da Energia (6-9); - Início da empreitada de “Contenção
Periférica e de Fachada do Edifício Luís Campos”, a executar num prazo de 45
dias, pela Eco Demo - Demolições, Ecologia e Construção, S.A., de Leiria (6-9);
- Apresentação no Teatro Bernardim Ribeiro da curta-metragem "Farpões
Baldios" da estremocense Marta Mateus Cabaço, vencedora
do Grande Prémio do Festival de Curtas de Vila do Conde (16-9); - Realização
pelo Município e no decurso da campanha eleitoral, de 400 entrevistas para um
concurso de atribuição de 80 postos de trabalho; - Manifestação de
afectividades a eleitores idosos, a curta distância das assembleias de voto,
situadas na Junta de Freguesia de Estremoz (2-10).
À laia de balanço
Muitos
gritarão “Aqui-d’el-rei”, argumentando tratar-se de mero eleitoralismo.
Todavia, eu que tenho queda para os provérbios, mais não digo que:
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa, Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Génio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -, Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente. Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. (O dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu. Fernando Pessoa (1888-1935)
(1) - 5-1-1928
/ Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993):
252. 1ª publ. in Presença, nº 39. Coimbra: Jul. 1933.
A Mesa do 4º Painel. Fotografia de Luís Guimarães.
Decorreram no passado dia 16 de Setembro no Auditório São Mateus, em Elvas, as 2.ªs JORNADAS PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DO ALENTEJO, as quais relativamente ao Património Cultural Imaterial visavam: - Contribuir para a salvaguarda e uma mais ampla percepção da sua riqueza e diversidade; - Propagar a sua importância; - Promover e valorizar à escala local as suas mais diversificadas e singulares expressões que os indivíduos, os grupos e as comunidades protagonizam e que dão sentido à própria identidade do país.
Foram organizadas conjuntamente pela Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial e pela Câmara Municipal de Elvas, contando com a colaboração de várias Câmaras Municipais (Évora, Ferreira do Alentejo, Estremoz, Vidigueira, Grândola, Marvão e Campo Maior) da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e de outras instituições como Sociedade de Geografia de Lisboa, Museu de Arqueologia e Etnografia do distrito de Setúbal, Associação Pédexumbo e Pporto dos Museus.
Nas Jornadas foram apresentadas 13 comunicações distribuídas por 4 painéis, cada um deles com o seu moderador.
No 4º painel, foi apresentada por Hernâni Matos a comunicação “O FIGURADO DE ESTREMOZ COMO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE EM 2017?”. O comunicante, na sua qualidade de coleccionador e investigador do figurado de Estremoz, abordou sucessivamente os seguintes tópicos: 1 -Coleccionar bonecos de Estremoz; 2 - Invariância e mutabilidade nos bonecos de Estremoz; 3 - Marcas de identidade; 4 - Galeria dos bonecos de Estremoz; 5 - Tradição, inovação e mudança de paradigma; 6 -Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
A comunicação acompanhada de projecção, realçou a singularidade da manufactura “sui-generis” do figurado de Estremoz que a distingue de todo o figurado português. Destacou ainda o facto de bonecos de Estremoz serem pela sua excelência, notórias marcas de identidade cultural estremocense e alentejana.
A terminar, o comunicante confessou ter os bonecos de Estremoz na massa do sangue, pelo que subscreveu com alma e coração, a sua Candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade e como jornalista, tem procurado através dos seus escritos, divulgar e potenciar uma Candidatura, que acredita será vitoriosa em Dezembro próximo.
Recentemente foi constituído na nossa cidade, um comité para a defesa dos direitos cívicos das beldroegas. Aquele colectivo vegetal fez-me chegar às mãos um documento, o qual dada a sua importância, reproduzo na íntegra e sem comentários.
MANIFESTO
DAS BELDROEGAS
Bilhete de identidade
Nós beldroegas, designadas cientificamente por
“Portulaca oleracea”, somos encaradas como ervas daninhas, pois
desenvolvemo-nos muito bem em climas temperados, solos drenados e a céu aberto.
Daí brotar-mos em hortas, pomares, quintais, calçadas e passeios. Vivemos mais
de um ano e temos crescimento rápido, chegando a medir 40 cm de comprimento. Somos
rasteiras, com folhas espessas e carnudas e flores amarelas pequenas de cinco
pétalas.
Há quem nos considere plantas invasoras, difíceis
de ser erradicadas, pois cada uma de nós pode produzir elevado número de
pequenas sementes, as quais podem permanecer viáveis por mais de dez anos.
Todavia há quem nos considere invasoras benéficas em plantações, por sermos
consideradas plantas companheiras doutras como é o caso do milho.
Utilização culinária
Temos sabor ligeiramente ácido e os nossos caules,
as nossas folhas e as nossas flores podem ser comidos crus ou cozinhados sob a forma
de sopas, saladas, esparregado ou infusão. São bem conhecidas sopas como: sopa
de beldroegas, sopa de beldroegas com arroz, sopa de beldroegas com coentros,
sopa de bacalhau com tomate e beldroegas, sopa de grão com beldroegas
salteadas, arroz de beldroegas e açafrão, arroz integral de tomate e
beldroegas. Já quanto a saladas, destacamos: salada de beldroegas, salada de
beldroegas com tomate e cebola, salada de batata com beldroegas e alcaparras.
Uso medicinal
Somos ricas em substâncias como ómega-3, glicose,
frutose, sacarose, α-tocoferol, β-caroteno, glutationa, vitaminas A, B, C,
minerais como magnésio, cálcio, potássio e ferro.
Somos eficazes na depuração do sangue, no
tratamento de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, doenças da
vista, da bexiga, rins e vias urinárias, disenteria, enterite aguda, mastite,
hemorróidas, cistite, hemoptises, queimaduras, úlceras, artrite e outros
distúrbios inflamatórios e auto-imunes, bem como no cancro.
Os nossos talos e folhas pisadas podem ser
aplicados sobre queimaduras e feridas, pois aliviam a dor e aceleram o processo
de cicatrização. O suco das nossas folhas pode ser utilizado para tratar
inflamações oculares, queimaduras, eczemas, erisipelas e calvície, quando
aplicado directamente na área afectada. O nosso suco ingerido trata problemas
de fígado, bexiga e rins. Sob a forma de chá temos propriedades diuréticas. As
nossas sementes quando ingeridas combatem vermes intestinais.
Uso ornamental
Por sermos floridas, há variedades nossas que são
cultivadas em jardins, canteiros, vasos e floreiras. Propagamo-nos rapidamente,
florescemos todo o ano e não exigimos cuidados especiais para além de sol e
água.
Nós e o Executivo Municipal
O nosso relacionamento com o Executivo Municipal é
excelente e é mesmo o melhor de sempre. Outra coisa não seria de esperar, já
que nos permite crescer à vontade por tudo o que é calçada e passeio. Como as
ruas estão por varrer, pensamos que seja gentileza da sua parte, a fim de que
não tenhamos falta de nutrientes. O nosso grande problema é a seca. Daí que
façamos um apelo a que nos mandem regar. As beldroegas agradecem.
Uma justa reivindicação
A nossa proliferação pela cidade e o nosso carácter
ornamental, são reveladores do nosso empenho bairrista em corporizar o slogan
do Município: ESTREMOZ TEM MAIS ENCANTO.
A Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia é
responsável pelo baixo indicie de cultivo de cereais no nosso concelho e entre
eles, o tremoceiro que figura no Brasão Municipal. Daí e dada a nossa
abundância, não é despropositado reivindicar a nossa inclusão naquela
composição heráldica, em substituição do tremoceiro. Daí que proclamemos:
- BELDROEGAS PARA O BRASÃO MUNICIPAL, JÁ!
Comité para a Defesa dos Direitos Cívicos das Beldroegas Hernâni Matos
No pino do Verão quando se fazia sentir a canícula,
o edifício da antiga Singer no Rossio Marquês de Pombal em Estremoz, era ponto
de passagem e de paragem obrigatória. É que na frontaria do rés-do-chão existia
um termómetro de razoáveis dimensões, que permitia aos transeuntes avaliar a
temperatura do ar. Estava ali há muito tempo. Pelo menos desde o Tempo da Outra
Senhora.
Era um termómetro “SINGER SEWING MACHINES”, com
dupla escala, Celsius e Fahrenheit, o qual apesar de ser um termómetro privado,
prestava um serviço público.
Era um termómetro bem-pensante e que falava com as
suas escalas, dizendo coisas do tipo:
- “Isto hoje é só a subir. Vão ver que vamos ter um
corrupio de gente a olhar para nós!”
- “Aquele está a ler mal a temperatura. Esqueceu-se
que está mais baixo e está a cometer um erro de paralaxe.”
- “Aqueles dois fizeram uma aposta. Depois de lerem
a temperatura, um teve que dar uma moeda ao outro.”
- “Tomara que venha sombra. De tanto subir a
temperatura estou a ficar com tonturas.”
Por vezes, as pessoas mais velhas que por ali
paravam lembravam-se de pérolas do nosso adagiário, arrecadadas nas espaçosas gavetas
da sua memória: “Cigarra cantou, calor chegou.”, “Ande o calor por onde andar,
pelo Santo António, há-de chegar.”, “Ande por onde andar o Verão, há-de de vir
no S. João.”, “No tempo quente, refresca o ventre.”, “Nem no Inverno sem capa,
nem no Verão sem cabaça.”, “No amor e no calor, não metas o cobertor.”.
Hoje tudo isso acabou. Ali já não se vendem nem
máquinas Singer de costura ou de tricotar, nem tão-pouco as meninas vão
aprender a bordar ou a tricotar, que as virtudes que é suposto devam ter, já
não são estas.
Do termómetro apenas resta o sítio onde foi útil
aos transeuntes desde o Tempo da Outra Senhora.
Com o desaparecimento do termómetro da Singer, a
cidade ficou mais pobre. Daí que me atreva a fazer uma sugestão. Fico à espera
que na mesma zona apareça uma entidade privada com disponibilidade para comprar
um termómetro de parede, de preferência Singer e o aplique na sua frontaria.
Seria uma atitude louvável e que lhe traria prestígio, visto com isso prestar
um serviço público. A população agradece e fica à espera.
Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.
O EVENTO EM SI
Pelas dezasseis horas do passado dia 2 de Setembro, teve
lugar na Igreja dos Congregados, em Estremoz, o lançamento e apresentação do livro
“FRANCO-ATIRADOR. TEXTOS DE CIDADANIA DE UM ALENTEJANO DE ESTREMOZ”, evento que
contou com a participação de mais de uma centena de pessoas.
O painel de apresentação do autor e do livro foi constituído
por Fernando Mão de Ferro (da editora Colibri), Hernâni Matos (autor), Francisca
Matos (prefaciadora), António Júlio Rebelo (posfaciador) e Armando Alves (autor
da capa), tendo-se registado intervenções dos quatro primeiros.
No local esteve ainda patente ao público uma exposição de exemplares
de figurado e de arte conventual de Estremoz, referidos no livro.
PALAVRAS DO AUTOR
MINHAS SENHORAS E MEUS
SENHORES:
Procurarei ser breve, tanto quanto possível. Começarei pelos agradecimentos.
Em primeiro lugar,
quero agradecer ao Pároco de Santo André Dr. Fernando Afonso, ter-me
possibilitado a apresentação do livro na Igreja dos Congregados, que além de estar
situada no centro da cidade é um espaço excelente, já que é amplo, com muita dignidade
e onde se respira espiritualidade. Tudo isso são factores favoráveis à
apresentação do livro neste local. Mas há duas outras razões e qualquer delas
tem a ver com o exercício da cidadania, que é o tema central do meu livro.
Em 1º lugar, a atitude de
resistência dos frades oratorianos que em 1808, no decurso da 1ª invasão
francesa, esconderam no Convento dos Congregados, a imagem da Rainha Santa
Isabel trazida da sua Capela no Castelo e que assim escapou ao saque dos
franceses.
Em 2º lugar, a Igreja
dos Congregados incompletamente construída nos anos 60 do séc. XX, simboliza a
determinação da comunidade local em ressarcir a Paróquia de Santo André do
derrube da Igreja homónima, a mando do Estado Novo, que acabaria por morrer de
velho.
São factos importantes
no meu registo de memória e que por isso constam no livro. Este, insere entre
outros os seguintes textos profusamente ilustrados:
- Senhor Jesus dos
Passos de Estremoz
- As Festas da Exaltação
da Santa Cruz de 1963
- Rainha Santa Isabel,
Padroeira de Estremoz
- Santo António na
Tradição Popular Estremocense
Daí que à semelhança do
que aconteceu em 2012 com o lançamento do livro anterior, me tenha lembrado de
expor na Igreja dos Congregados, exemplares de figurado e de arte conventual de
Estremoz, referidos naqueles textos.
Como artesão das
palavras foi a maneira encontrada de fazer ponte com artesãos do barro e da
arte conventual que são os melhores embaixadores desta terra transtagana, aquém
e além fronteiras. Também eles, vivos ou finados, são heróis que exalto ao
longo do livro, pelo fascínio que exercem em mim, as técnicas ancestrais que
dominam e lhe brotam miraculosamente à flor das mãos.
Em segundo lugar,
quero agradecer ao editor Fernando Mão de Ferro da Colibri, editora prestigiada
que tem um projecto editorial com o qual me identifico. Foi a ele que submeti
para apreciação o projecto de edição do presente livro, o qual foi aceite. Daí
estarmos hoje aqui.
Em terceiro lugar,
quero agradecer ao pintor Armando Alves, amigo de longa data e figura cimeira
da cultura nacional e com obra espalhada pelas sete partidas do Mundo. “Armando
Alves, Inventor de Céus e Planícies” no dizer de José Saramago, está
indissociavelmente ligado à História das Artes Plásticas em Portugal e
revolucionou as Artes Gráficas. Uma capa do Armando é uma obra de arte. Daí que
lhe tenha pedido para criar a capa, ao que ele acedeu sem hesitação alguma. O
resultado é bem conhecido e nele está magistralmente expresso o Alentejo
vermelho das terras de barro de Estremoz, gravado não só na sua como na nossa
alma e, que sob a direcção atenta e calorosa do seu olhar de visionário, as
suas mãos sabem com mestria transmitir a tudo aquilo que faz. A capa do Armando
elevou o livro a uma dimensão superior àquela que já tinha. Estou-lhe infinitamente
grato por isso.
Em quarto lugar,
quero agradecer aos professores Francisca de Matos e António Júlio Rebelo, duas
figuras prestigiadas da comunidade local, bem conhecidas nos meios culturais.
São também amigos de longa data, companheiros de trilhos culturais, com os
quais é gratificante caminhar. Tanto um como o outro me conhecem bem e à minha
escrita. Daí que tenha sido inescapável convidá-los a prefaciar e a posfaciar o
meu livro. À semelhança da capa do Armando, também o prefácio da Francisca de
Matos e o posfácio do António Júlio Rebelo elevaram o livro a uma dimensão
superior àquela que já tinha. Também a eles estou infinitamente grato por isso
e à Francisca de Matos também a revisão apurada e meticulosa do texto.
Em quinto lugar,
quero agradecer a presença de todos vós, a qual é para mim gratificante e me dá
estímulo para continuar.
Permitam-me agora falar um pouco de mim e do livro.
Como cidadão tenho uma
visão multifacetada do mundo e da vida, que me leva a interpretar a realidade
sob múltiplos ângulos interdisciplinares, na procura assimptótica da verdade. A
minha amiga Francisca Matos disse-me um dia: - “Nunca se sabe para onde é que o
Hernâni vai disparar!”. De facto, tenho um espectro largo de interesses
pessoais, os quais estão na origem das temáticas abordadas serem diversificadas
e muitas vezes, uma síntese dialéctica das mesmas.
Na
escrita assumi-me como franco-atirador, que como sabem é um atirador de
precisão. As minhas armas são os abastados arsenais da minha memória e da minha
biblioteca e arquivo pessoais, a que acresce a pesquisa incessante, a exigência
de rigor e a minha maneira própria de dizer as coisas.
Comofranco-atiradordopensamentoedaacção,osmeusdisparosnão sãoprevisíveis,nem sequercondicionáveisemuitomenoscontroláveis. No texto “Que farei com esta coluna?” inserido no livro, proclamo que:
“Um franco-atirador é comoumcavalo
à rédeasolta quecavalgaem sintoniacomacampina,pornecessidadetelúricaeoníricadeexercitaraliberdade.Legitima-meaforçadarazãoqueemanadaTerra-Mãe,doespíritodosantepassadosedamissãoinescapáveldepassarotestemunho.”
Como escritor,
jornalista e blogger, utilizo a escrita como instrumento ao serviço do
exercício do direito de cidadania. Os meus textos constituem reflexões sobre
problemas individuais e sociais, visando potenciar uma tomada de consciência
por parte daqueles com quem interactuo, numa perspectiva de gerar dinâmicas de
intervenção e transformação social que tenham como referência os direitos
humanos.
O livro agora dado à
estampa, constitui uma compilação seleccionada de textos do período 1998-2017.
São escritos que foram publicados na imprensa local e no blogue “Do Tempo da
Outra Senhora”, bem como em catálogos de exposições, assim como textos utilizados
na apresentação de livros e como comunicações em sessões de índole diversa,
para as quais fui convidado. Cada texto está perfeitamente identificado não só
em termos de temporalidade, como no que respeita a local de publicação ou
divulgação.
Os jornais desaparecem
com o tempo e ficam confinados aos arquivos de bibliotecas e de editores. Daí
ser importante compilar textos jornalísticos em livro, o qual assegura a perpetuidade
dos textos, que assim servem para memória futura do que foi uma época.
O tema central do livro
é o exercício da cidadania nos seus múltiplos aspectos por parte de um
português, que tem a particularidade de ser um alentejano de Estremoz.
Por uma questão de
metodologia os textos foram sistematizados e ordenados em seis grandes capítulos
que designei sucessivamente por: Da Identidade, Das Palavras, Da Sociedade, Do
Património, Da Cultura, Da Memória.
“Da Identidade” reúne
textos que têm a ver com a minha matriz identitária como português, alentejano
e estremocense. “Das Palavras” congrega textos que são reflexões sobre o acto
de criação do texto literário e do texto jornalístico, bem como sobre a
deturpação da escrita, não só devido a “gralhas” como a modificação indevida de
textos na redacção, sem autorização prévia do autor. “Da Sociedade” junta
textos de crítica social e política, tanto a nível local como a nível nacional.
“Do Património” agrega textos referentes à defesa do património cultural,
material e imaterial a nível local.”Da Cultura” é uma compilação de textos da
área cultural relativos à minha actividade neste domínio. “Da Memória” é
integrado por textos “in memorian” de figuras destacadas da comunidade que já
partiram e cuja evocação me é grata.
A escrita vale por ela
própria e por isso o livro foi inicialmente concebido sem ilustrações. Porém, a
dada altura, pensei que seria positivo ilustrá-lo com imagens de Estremoz do
passado, maioritariamente pertencentes ao meu arquivo pessoal. Em boa hora o
fiz, porque o público é diversificado e a visualização de imagens reforça o conteúdo
do livro, que todavia não fica refém delas.
O livro foi dedicado à Memória de Francisco Joaquim
Batista (Chico das Metralhadoras), velho republicano que me iniciou no
exercício dos direitos de cidadania. Foi também dedicado a Manuel Madeira
(Cachila) cineasta e amigo de juventude que incentivou em mim o gosto pela
escrita.
A partir de agora este livro é também vosso.
Desejo-vos que tenham tanto prazer na sua leitura, como eu tive em redigir cada
texto.
Obrigado a todos pela vossa amizade e também pela
vossa presença.