domingo, 6 de outubro de 2013

Neo-realismo em Estremoz

Rosa de Guadalupe (1955).
Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
Gravura e lápis de cor sobre papel (31 cm x 24 cm).
Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho.

Abriu ontem ao público no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, em Estremoz, a exposição “O Neo-realismo na colecção de desenho do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho”. O certame estará patente ao público até ao próximo dia 29 de Dezembro, podendo ser visitado de terça a domingo, das 9 h às 13 h e das 14 h às 18 h. A entrada é livre.
Ali estão expostas 35 obras de 20 artistas plásticos neo-realistas, assim distribuídas: António Domingues (1), Augusto Gomes (1), Avelino Cunhal (1), Cipriano Dourado (1), Clementina Moura (1), Dórdio Gomes (1), Espiga Pinto (1), João Abel Manta (1), João Hogan (1), Jorge Vieira (4), José Augusto Pereira (1), José Dias Coelho (1), Júlio (1), Júlio Rezende (4), Lagoa Henriques (1), Lima de Freitas (2), Manuel Ribeiro de Pavia (2), Maria Keil (4), Querubim Lapa (1) e Rogério Ribeiro (4).
Trata-se de trabalhos executados entre 1937 e 1983, abrangendo técnicas tão diversas como: acrílico sobre papel, aguarela sobre papel, carvão sobre papel, gravura e lápis de cor sobre papel, lápis de cor sobre papel, lápis e tinta-da-china sobre papel, lápis sobre papel, tinta-da-china e guache sobre papel, tinta-da-china e aguarela sobre papel, tinta-da-china sobre papel e óleo sobre tela.
Visando contextualizar o neo-realismo, estão ainda expostas obras de escritores neo-realistas portugueses, pertencentes ao acervo da Biblioteca Municipal de Estremoz.
Desde ontem e até ao próximo dia 29 de Dezembro, a rota de conhecimento do neo-realismo passa por Estremoz. A cidade fica aguardando a vossa visita. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Tristeza

Foto recolhida de Imágenes del amor


É triste
Quando o amor fenece
Posfácio de bandeiras caídas
Tombadas com quem as empunha

É triste
Quando o amor
Já não acredita no amor
Porque o amor se foi

É triste
Porque o amor ia e vinha
E agora já não vai nem vem

É triste
Porque o amor terminou
Foi o ponto final


terça-feira, 1 de outubro de 2013

As duas culturas

 Imagem recolhida no blogue "Esqueci a Ana"

                                                                        À Catarina, minha filha:

Nos meus tempos de rapaz, já depois dos 18 anos, um Homem com H grande e que se chamava Charles Percy Snow (1905-1980), viu publicada em Portugal em 1965 e graças à acção clarividente de Snu Abecassis (1940-1980), a bem amada de Francisco Sá Carneiro (1934-1980), o livro "As Duas Culturas".
Embora não folheie e releia aquela obra há muito tempo, com ela ocorreu uma mudança de paradigma. Percebi que o problema da cisão da Cultura em dois campos aparentemente opostos (A Ciência e as Humanidades) é um falso problema que alguns procuram acicatar. A posição do Homem no Universo é unívoca e singular. Ele é o objecto e o actor principal de ambas. A ele cabe fazer uma síntese dialéctica e pô-las ao seu serviço.
Na nossa pátria lusitana, como percursor dessa ideia peregrina, que constitui afinal um ovo de Colombo, temos o poeta Fernando Pessoa (1888-1935), quando pela voz de Álvaro de Campos (1) proclama que:

O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).

Também o matemático Bento de Jesus Caraça (1901-1948) na sua conferência “A Cultura Integral do Indivíduo - Problema central do nosso tempo“ (edições Mocidade Livre – 1933), conclui que “a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o individual e o colectivo”. Para ele também só há uma Cultura. Daí falar em “Cultura Integral do Indivíduo”
Igualmente o professor Rómulo de Carvalho (1906-1997), poeticamente conhecido por António Gedeão, soube integrar na sua magistral poesia e duma forma natural, aquilo que faz parte do arsenal científico da nossa formação. De igual modo eu, físico de formação, andei por caminhos poéticos convergentes, apesar de distintos. Aí pelos 20 anos fui desintegracionista, sob a influência do poema “A Astronave” de Armando Ventura Ferreira (Arcádia-1963) e manuscrevia poemas com tinta cor de barro – a cor do meu Alentejo e dos campos de Estremoz, os quais oferecia nas ruas de Lisboa aos transeuntes que os queriam aceitar. Integrava então um grupo heterogéneo, o qual se dispersou no tempo e que foi emergindo posteriormente, alguns com certa notoriedade. É dessa época de não-rima e com pontuação à Saramago, o excerto:

endotermizaste em mim uma amizade no tempo
cristaliza agora analiticamente um amor no espaço
e nunca mais nos bombardearemos com palavras virgens
ávidonautas, sexonautas, astronautas seremos
astronautas partiremos na minha nave
para anunciarmos aos povos do infinito-dimensional
que como experimentados sexólogos terrestres
descobrimos por fim o metafísico deus dos rabis


 (1) - s.d. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993) - 110.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Adagiário pós-eleitoral

 Entretenimento eleitoral (1754).
William Hogarth(1697- 1764).
Óleo sobre tela (100 cm  x 127 cm).
Sir John Soane's Museum, London.

Alguns resultados eleitorais causam perplexidade, suscitando proclamações do estilo:
- O número dos tolos é infinito.
Muitos julgam saber o porquê dos resultados:
- Com papas e bolos se enganam os tolos.
Outros, provavelmente pensando no “Evangelo segundo São Mateus”, chegam até a formular votos de matiz moral:
- Bem aventurados os pobres de espírito.
Alguns mais radicais vão ao ponto de perorar:
- Um tolo tem sempre outro que o admira.
Todavia, os mais conciliadores como eu, opinam:
- Ninguém é perfeito neste mundo.

sábado, 28 de setembro de 2013

Hoje é dia de reflexão

Pensador (1939). Escultura em bronze de Mestre Leopoldo de Almeida
(1898-1975). Dimensões (cm): altura: 33; largura: 22; profundidade: 18; 
Centro de Arte  Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Reflexão é uma palavra do léxico português, mais precisamente um substantivo feminino que tem o significado preciso de “meditação”.
A reflexão pressupõe que nos debrucemos de uma forma crítica sobre o passado que tivemos, o que gostaríamos de ter tido, o que poderíamos ter tido e o que não tivemos.
A reflexão exige igualmente que olhemos o presente com olhar de gente, visando concluir onde é que estamos e porque é que aqui chegámos e não a outro ponto qualquer.
A reflexão impõe finalmente que equacionemos o futuro comprometido e que urge resgatar.
Hoje é dia de reflexão para todos aqueles que não venderam a alma ao diabo. Daí que seja um dia importante no exercício da cidadania. Se todos a exercermos em liberdade e sem constrangimentos, talvez não haja fatalidades.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A chuva e as eleições

Chuvada em Patenkirchen (1838).
Heinrich Burkel (1802-1869).
Óleo sobre tela (45 x 61 cm).
Neue Pinakothek, Munique.

Domingo é dia de eleições e pode chover raios e coriscos, já que os políticos não controlam o tempo. Esta ocorrência, ainda que meramente fortuita, não deixará de ter múltiplos reflexos linguísticos. Senão vejamos:
- Se a abstenção for elevada, alguns dirão: A culpa é da chuva. 
- Os que perderem, proferirão a sentença: Quem anda à chuva, molha-se.
- Os que ganharem, proclamarão: O que é preciso é saber navegar em todas as águas.
- Se os que estão no poder ganharem, os da oposição declararão: Vão continuar a navegar em águas turvas.
- Se ganhar a oposição, os que estão no poder expressarão: É uma calamidade. Vão meter água por todos os lados.
- O Zé Povinho, que desde Noé não gosta de dilúvios, dirá simplesmente: Tenho que me pôr no enxuto.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Pintura


Verão" ou "A Ceifa".
Dordio Gomes (1890-1976).
Aguarela sobre papel.

A Pintura enche-me as medidas. Quem sabe se os meus textos não serão pinceladas caligráficas, na procura vã de encontrar a forma dum seio de mulher que desvie as minhas mãos da escrita? Com elas, registo o voo rasante dos pardais sobre a eira e a sonoridade dos ralos à hora da sesta. Assim saboreio o oloroso gaspacho que me refresca e alimenta o ventre, bem como o vinho espesso que mastigo para não me lembrar do que não quero. Assim me vejo e me revejo, naquilo que de mais natural e ancestral há em mim.