terça-feira, 11 de setembro de 2012

João de Sousa Carvalho


João de Sousa Carvalho, filho de Paulo de Carvalho e de Ana Maria Angelica, nasceu em Estremoz no dia 22 de Fevereiro de 1745. Começou os estudos musicais aos oito anos, no Colégio dos Santos Reis Magos, em Vila Viçosa. Protegido pelo rei D. José I, aos quinze anos é enviado para Itália por este monarca com o objectivo de se aperfeiçoar na arte dos sons. Aí ingressa no Conservatório de Santo Onofre de Capuana, em Nápoles. Terá tido como mestres, Nicollo Porpora, Carlo Cotumacci e Joseph Dol e contacto com músicos como Paisiello, Piccini e Cimarosa, e com as tendências do classicismo europeu.
Regressa a Portugal em 1767, ocupando primeiro o lugar de professor de contraponto e mais tarde, o de mestre de capela no Seminário da Patriarcal, em Lisboa. Aí teve como discípulos António Leal Moreira, Marcos Portugal, João José Baldi, João Domingos Bomtempo e o cantor e compositor italiano Giuseppe Toti.
Em 1778, João de Sousa Carvalho é nomeado professor de Música da Corte e passa a residir no Palácio Velho da Ajuda. Bem remunerado e casado rico em 1783, leva uma vida desafogada que lhe permite comprar propriedades no Alentejo e no Algarve.
A produção musical autenticada de João de Sousa Carvalho distribui-se por três grandes grupos: Música Dramática, Música Sacra e Música Profana não Dramática.
A Música Dramática é constituída por dezasseis obras: cinco óperas, dez serenatas e uma cantata.
A Música Sacra constas de três hinos Te Deum mais duas árias, sete missas, quatro salmos, uma oratória e um motete.
A Música Profana consta de árias, bem como um dueto e uma cavatina, uma modinha e uma sonata.
Protagonista no triunfo da música italiana em Portugal, a linguagem de João de Sousa Carvalho não abdica de um certo gosto genuinamente lusitano. Da sua vasta produção destacam-se as óperas l'Amore Industrioso (1769), Testoride Argonauta (1780), bem como as serenatas Perseo (1779) e Penelope nella partenza da Sparta (1782).
João de Sousa Carvalho terá falecido entre as Quaresmas de 1799 e 1800, provavelmente no Alentejo.
João de Sousa Carvalho foi sem dúvida um dos maiores compositores de toda a história da música portuguesa e um filho ilustre de que a cidade de Estremoz muito justamente se orgulha.
Com a Mostra Filatélica de Homenagem a João de Sousa Carvalho terminou o ciclo das Comemorações do 250º Aniversário do Nascimento do insigne músico, que iniciadas em 1995 se prolongaram até 1996. Estas comemorações da responsabilidade da Câmara Municipal de Estremoz e dinamizadas pelo então vereador do Pelouro da Cultura, José Varge, contaram com o apoio de uma Comissão Executiva da qual a Associação Filatélica Alentejana fez parte.
Com a Mostra Filatélica de Homenagem a João de Sousa Carvalho terminou o ciclo das Comemorações do 250º Aniversário do Nascimento do insigne músico, que iniciadas em 1995 se prolongaram até 1996. Estas comemorações da responsabilidade da Câmara Municipal de Estremoz e dinamizadas pelo então vereador do Pelouro da Cultura, José Varge, contaram com o apoio de uma Comissão Executiva da qual a Associação Filatélica Alentejana fez parte.



Bilhete postal comemorativo dos 250 Anos do Nascimento de João de Sousa Carvalho,
emitido pelos Correios de Portugal, em 27/3/1995. Obliteração comemorativa de
  Estremoz  da Homenagem a Sousa Carvalho, do dia 15/12/1996.
Enviado sob registo pelo Maestro António Vitorino de Almeida a Hernâni Matos.
  Verso do bilhete postal anterior com uma passagem duma composição de
Sousa Carvalho, transcrita pelo punho do maestro António Vitorino de Almeida.

João de Sousa Carvalho (1745-1798):
Stellae in caelis obscurantur

sábado, 8 de setembro de 2012

Conversa de sexta-feira



Um alentejano que se preze tem que ter um churrião.
Só assim conseguirá dar resposta às suas tradicionais responsabilidades.  


À laia de peregrino que procura conforto para a sua alma desinquieta, sou caminhante das redes sociais, onde propago a minha doutrina. Ontem deu-me para desabafar no Facebook:
- Eu que sou sabadeiro, esta noite não durmo...
E acrescentei logo de seguida:
- Vocês perguntarão: Porquê? Ao que eu responderei: Está-me na massa do sangue.É como sonhar com uma bela mulher que nos desinquieta os sentidos.
As reacções não se fizeram esperar e por ali apareceram os comentários mais diversos de amigas e amigos como Mariarita Balancho, Alice Correia, Carmem Movilha, Jeremias Moura, Manuel Falardo e Maria Isabel Marques. Cada um deles disse o que lhe deu na real gana. Fui então levado a replicar:
- Eu tenho faro. Aquilo que se convencionou chamar o sexto sentido das mulheres. Como predador nato, acho que amanhã é dia de caça grossa. Sinto isso no ar.Depois da caçada, falaremos.
E como estava com a adrenalina toda, continuei:
- Talvez amanhã consiga comprar um churrião para ir ao São Mateus que há-de vir. Há uns anos atrás tinha os vinte contos que o Quintino de Bencatel, que já lá está, me pediu. Não tinha era o sítio para meter a despesa dos vinte contos.
Hoje com um bom arranjinho, tudo se resolve. E já tenho o livrete do churrião que há-de vir. As alimárias virão depois. Decerto que havia de fazer umas belas romarias, com paragens obrigatórias de vez em quando, a fim de eu e as alimárias, bebermos cada um de nós, os respectivos líquidos regeneradores. Satisfeitos, cada um de nós relincharia à sua maneira, que isso é que é a essência da verdadeira democracia. Depois, naturalmente, seguiríamos caminho.
Seguidamente fiz um apelo:
- Dão-se alvíssaras a quem descobrir um churrião disponível no mercado de tracção animal. Se for mulher, a retribuição será um sonoro e repimpado beijo. Se for homem, paga-se com um abraço camarada, seguido de um copo de três, com direito a repetição.
Vejam lá se me ajudam e se não se esquecem de mim!
E terminei com um reconhecido:
- Bem hajam!
Hoje, terminado que é o mercado de sábado, estou inconsolável, porque o meu faro falhou. Constipação ou alergia? Não sei. Apenas sei que não vi nada que me tirasse o fastio. E quanto ao churrião, nem cheiro. Apenas a impertinência acutilante do meu irmão gémeo:
- Hernâni, quem é que te manda a ti, ter adrenalina a mais?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O vasilhame de barro de Estremoz

Estremoz: Mercado dos barros integrado no mercado semanal, cerca de 1940.
Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988). Arquivo do autor.

“O VASILHAME DE BARRO DE ESTREMOZ” é o tema da exposição de olaria estremocense, patente ao público na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz. A iniciativa é da Associação Filatélica Alentejana e conta com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz. A exposição pode ser visitada de 3ª feira a sábado, entre as 9 e as 12,30 horas e entre as 14 e as 17,30 horas.
As olarias de Estremoz desde sempre produziram, todo o tipo de vasilhame destinado a uso doméstico, nomeadamente o destinado a conter água.
Dantes, todas as casas tinham na cozinha, um poial dos cântaros, onde os tamanhos mais correntes eram “a terceira” (15 litros) e a quarta (10 litros). Aí se ia buscar à fonte ou ao poço, a água destinada ao consumo doméstico. Nos poiais, lá estavam gravados muitas vezes, a cruz e o signo-saimão, símbolos mágicos de protecção contra o mau-olhado e o quebranto. Estes símbolos podiam aparecer igualmente gravados nos cântaros ou nas suas tampas de cortiça.
Para além dos cântaros, existiam ainda recipientes para água de menores dimensões, como as bilhas, os moringues, as garrafas de água, os barris e os púcaros.
As bilhas (de 1 a 2 litros) e os moringues (1 a 3 litros) permitiam levar água à mesa da refeição. Já as garrafas de água (1 a 2 litros) eram mais destinadas a ter na mesinha de cabeceira, para uso nocturno. Quantos aos barris (1 a 2 litros), destinavam-se a ser usados em viagem ou levados para o local de trabalho, usando um cordel que os permitia transportar ao ombro ou a tiracolo. Eram também usados nos carros de tracção animal, protegidos por um invólucro tecido com esparto, num receptáculo existente no exterior do carro.
Em Estremoz, sempre houve três tipos de decoração do vasilhame para água:
- o riscado, de aspecto mais rústico, tendo colado meniscos convexos de argila, decorados com minúsculos seixos de quartzo;
- o polido, com uma decoração mais fina e requintada, que joga com o contraste entre a superfície baça e os motivos que foram polidos;
- folhas, bolotas e ramos de sobreiro, moldados em barro e colados à superfície, conjugados com algum polimento daquela.
Existem também recipientes em barro, vulgarmente conhecidos por “picassos”, com formas mais ou menos estilizadas: o peixe, o galo, a cabra, a mulher nua, a sereia, etc.
Antes da vulgarização dos frigoríficos, o vasilhame de barro era a garantia de se ter em casa, água fresca que nos permitisse dessedentar nos dias de Verão. O barro é poroso, pelo que a água contida no interior do recipiente, chega à superfície por capilaridade. Daqui se evapora por acção do calor, o que consumindo energia, faz baixar a temperatura no interior do recipiente. Este abaixamento de temperatura é directamente proporcional à massa de água evaporada e inversamente proporcional à massa de água contida na vasilha. Os cálculos revelam que ao evaporar-se 1 decilitro de água de um recipiente, que passe então a ficar com 1 litro dela, a temperatura desta baixa 5,4 º C. É a magia da natureza. E como é saborosa a água contida em recipientes de barro, sobretudo de barro novo, que se desfaz em fino pó.
A vulgarização dos frigoríficos deu uma facada de morte nos oleiros, que já tinham levado outra com a implementação dos recipientes de alumínio, a substituir a loiça vidrada. Entre nós só já há um oleiro, Jerónimo Lagartinho, que talvez venha a ser o último oleiro de Estremoz. A olaria estremocense está em risco de extinção. Não se pode fazer nada para o evitar? É que chorar lágrimas de crocodilo depois, é hipocrisia e não resolve nada.


Cântaro de barro de Estremoz (altura: 40 cm; diâmetro
máximo: 68 cm) com cerca de 5 litros de capacidade.
Fabrico da Olaria Alfacinha (Anos 40 do séc. X). Decoração
com folhas, bolotas e ramos de sobreiro moldados em barro
e colados à superfície, conjugados com algum polimento
daquela. A própria asa é uma pernada de sobreiro. No lado
oposto, o brasão de armas de Estremoz. Colecção do autor.

domingo, 2 de setembro de 2012

Memórias do Tempo da Outra Senhora

Um aspecto parcial da vasta assistência presente na sessão de lançamento apresentação
do livro "MEMÓRIAS DO TEMPO DAS OUTRA SENHORA / ESTREMOZ-ALENTEJO".
Fotografia de Luís Mariano Guimarães.

O EVENTO EM SI

Pelas dezasseis horas de ontem, teve lugar na Igreja dos Congregados, em Estremoz, o lançamento e apresentação do meu livro “MEMÓRIAS DO TEMPO DA OUTRA SENHORA / ESTREMOZ-ALENTEJO.
Ao evento compareceram mais de 200 pessoas, o que é gratificante e a que não será estranho o facto de os assuntos abordados serem transversais a toda a sociedade local, que se revê no livro. É que eu escrevi sobre coisas do dia-a-dia, do tempo da outra senhora. Ali estão os meus afectos e os afectos de muitas pessoas ali presentes. A presença do sapateiro, do livreiro, da senhora do supermercado, do gerente bancário, do vendedor de automóveis, do empresário de sucesso, do médico, do vendedor "on line", do descarregador, de artesãos, de poetas populares, do homem do táxi, de professores, de antigos alunos, de companheiros de infância e juventude, de funcionários públicos, de aposentados, de simples donas de casa, do Pároco, do Comandante do Regimento, do Presidente da Assembleia Municipal, do Vice-presidente da Câmara, de 5 ex-Vereadores do Pelouro da Cultura da Câmara, são presenças que traduzem a transversalidade do livro. Foi ela que juntou amigos, homens e mulheres desta terra transtagana, com outros que vieram de longe, respondendo ao convite para estarem presentes.
O painel de apresentação do autor e do livro foi constituído por Fernando Mão de Ferro (da editora Colibri), Augusto Fitas, Hernâni Matos (autor), António Simões e Francisca Matos.
No decurso do evento, houve leitura de excertos a cargo de Adelaide Glória, Ana Mateus, Georgina Ferro, Fátima Crujo, Maria do Céu Pires e Odete Ramalho.
No local esteve ainda patente ao público uma interpretação das Irmãs Flores sobre as “Memórias do Tempo da Outra Senhora”. Tratou-se de uma Mostra  que através da linguagem, da técnica e dos materiais dos bonecos de Estremoz, procurou realizar uma sinestesia entre o barro e a escrita, ilustrando temas do livro.
No final, teve lugar nos claustros do Convento dos Congregados, uma “Degustação de sabores Alentejanos”, que contou com o patrocínio das empresas Selrest e Porta de Santa Catarina.
No final alguém disse:
- PIM! Nunca se viu uma coisa assim.

PALAVRAS DO AUTOR

Minhas Senhoras e meus Senhores:

Lá diz o rifão:
"Quem não tem que fazer, faz colheres"
O correspondente para um artesão das palavras como eu, será:
“Quem não tem que fazer, escreve”.
Todavia para mim, a escrita é um instrumento ao serviço da libertação do Homem. Libertação de tudo aquilo que o passado tem de mau e de perverso, mas retenção e exaltação de tudo aquilo que o passado teve de bom e positivo. É isso a decantação através da escrita.
Desde os longínquos tempos do bibe e do pião, que sou recolector de objectos materiais que fazem vibrar as tensas cordas de violino da minha alma. Por outro lado, o fascínio da ruralidade e o culto da tradição oral levam-me a procurar a companhia de pessoas simples do povo, camponeses, artesãos e poetas populares. Tendo eu a escrita na massa do sangue, é natural que tudo isso aflore nos meus textos.
No livro agora dado à estampa, entre outras, carpintejei crónicas do bando do Largo do Espírito Santo, onde nós os capitães da calçada à portuguesa, éramos reis e senhores.
Hoje, de cabelos brancos ou carecas, barrigudos ou mirrados nas carnes, com olheiras ou grossas lentes, somos no fundo da nossa alma, os mesmos meninos de bibe e de pião ou de talego de botões no bolso, que tínhamos que fugir à polícia quando com bola de trapos jogávamos na rua. E assim aprendemos a ser homens, correndo, correndo sempre, fugindo à adversidade e lutando por um mundo mais justo, mais solidário e mais fraterno, pois como diria o poeta Carlos de Oliveira pela voz de Manuel Freire:

Não há machado que corte a raiz ao pensamento
... porque é livre como o vento
porque é livre.”

Este livro faz parte dessa corrida. Eu, assumidamente um Fernão Lopes de trazer por casa, deixo este legado às gerações mais novas, para que possam fazer uma ideia do que era a vida nesta cidade noutros tempos. Nele há registos da nossa identidade que é importante transmitir. É que a força dum povo advém da sua identidade cultural, local, regional e nacional. E isso não há globalização que consiga apagar ou formatar, porque faz parte da nossa matriz ancestral.
Quero agradecer a todos os que me têm apoiado. Um homem nunca está só, a não ser no “Poema de um homem só”, de António Gedeão.
É certo que nem todos me apoiaram, mas com espírito cristão, agradeço-lhes na mesma, pois as dificuldades estimulam o engenho e dão-nos redobrado vigor. Parafraseando o bloguer brasileiro Nemo Nox, direi:

“Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo.”

Quero agradecer em 1º lugar, ao Padre Fernando Afonso, que muito admiro pela obra social desenvolvida entre nós e a quem muito agradeço ter autorizado o lançamento e a apresentação do meu livro, num espaço de excelência, como é este magnífico auditório edificado num espaço que foi pertença do Convento da Congregação do Oratório de São Filipe Nery.
Trata-se de uma Ordem que apesar de deter uma pequena cota de importância quando comparada com o peso que tinha no ensino a Companhia de Jesus, revelou a particularidade de no século XVIII, o chamado século das luzes, ter propagado as novas ideias da Física, subjacentes à revolução científica iniciada por Copérnico e Galileu.
A Biblioteca do Convento que terá funcionado no espaço onde hoje funciona a Assembleia Municipal, era uma excelente biblioteca apetrechada com obras que chegaram até nós e que hoje pertencem ao acervo da nossa Biblioteca Municipal.
A presença dos homens do Oratório na nossa cidade, deixou de certo marcas positivas que ainda hoje estão por investigar e quantificar.
Sendo eu um homem da Física e também da Escrita, decerto perceberão o significado que terá para mim estar hoje aqui.

Em 2º lugar, quero agradecer às entidades oficiais que com a sua presença muito honraram e dignificaram o presente evento.

Em 3º lugar, a todas as pessoas aqui presentes, que com a sua comparência acarinharam este acto.

Em 4º lugar, à Fátima minha mulher e à Catarina minha filha, minhas primeiras leitoras e críticas, que com o seu amor me têm incentivado a prosseguir o caminho traçado.

Em 5º lugar, aos meus informantes José Letras e Mário Rato. Eles foram o prolongamento da minha memória de elefante. Com o auxílio do primeiro consegui dar uma visão quase fotográfica do mercado das hortaliças nos anos 60 do século passado. E o segundo, membro do consagrado conjunto Maryling, foi imprescindível na reconstituição daquilo que eram nessa época, os bailes das Sociedades. Com ele revisitei a autêntica epopeia que era nessa época, procurar encostar a calça à saia, mas sempre com as mães das meninas a fisgarem-nos com o olhar.

Em 6º lugar, à Adelaide Glória, minha colega e amiga de longa data, que pacientemente reviu o texto e foi minha inestimável conselheira.

Em 7º lugar, aos meus amigos Adriano Chouriço, Jorge Pereira, José Cartaxo, Manuel Gato e Mário Rato, que me facultaram fotografias suas.

Em 8º lugar, ao Poeta António Simões, meu companheiro e cúmplice de muitas iniciativas culturais. Ele é um monumento vivo desta cidade, que há muito me deu o privilégio da sua amizade e que muito me distinguiu ao prefaciar o livro agora dado à estampa.

Em 9º lugar, à Francisca Matos, igualmente minha companheira e cúmplice de muitas iniciativas culturais, mulher de escrita de rara sensibilidade, que igualmente há muito me concedeu o privilégio da sua amizade e que muito me honrou ao posfaciar o livro.

Em 10º lugar, ao Carlos Alves, o autor da capa. Foi ele o gráfico de serviço que procurou transmitir o que me vai na alma.

Em 11º lugar, ao Júlio Rebelo, meu companheiro de estrada, cúmplice e co-autor de eventos que localmente foram picos de actividade cultural ao mais elevado grau, desde os tempos do CENFORSEGA. Como Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Estremoz tem reservado um lugar muito especial no meu coração. Sempre acreditou nos meus projectos, entre eles o deste livro e foi ele que duma forma companheira me convidou para ir a sua casa, onde me apresentou ao editor.

Em 12º lugar, ao editor, Fernando Mão de Ferro da Colibri, a quem agradeço ter acreditado e apostado em mim, numa missão arriscada como é a edição de livros. Estou certo que terá motivos para não se arrepender. E é bom que assim seja, porque eu tenho mais projectos de edição em carteira.

Em 13º lugar ao Augusto Fitas, que pintou aqui o meu retrato. Ele é meu companheiro e amigo desde os bancos da Universidade. Juntos temos partilhado lutas, sonhos, vitórias e derrotas, pois a vida é tudo isso. Mas como eu costumo dizer, um homem nunca se rende, mesmo de fato e gravata.

Em 14º lugar a quem deu voz a textos meus: a Adelaide Glória, a Ana Mateus, o António Simões, a Fátima Crujo, a Francisca Matos, a Georgina Ferro, a Maria do Céu Pires e a Odete Ramalho.

Em 15º lugar, às Irmãs Flores, que há muito me dão o privilégio da sua amizade e que têm a paciência de me aturar. Em plenas canículas de Agosto, quando os outros vão para banhos, elas responderam ao desafio da minha loucura mansa: realizar uma sinestesia entre o barro e a escrita. E para gáudio nosso ela foi conseguida e está aqui patente para vosso julgamento neste magnífico auditório.

Em 16º lugar, aos estremocenses, aos meus amigos da Filatelia, do Facebook e aos seguidores do meu blogue, que com regularidade acompanham os meus escritos. É gratificante partilhar com eles os registos da memória, os sentimentos, as emoções, o resultado das pesquisas, as ideias, os projectos, os valores cívicos, morais e estéticos e, também as esperanças.

Em 17º lugar, aos meios de comunicação social que divulgaram este evento, muito em especial os locais, como a Rádio Despertar e os quinzenários Brados do Alentejo, Jornal E e ECOS on line.

Em 18º lugar, aos patrocinadores da DEGUSTAÇÃO DE SABORES ALENTEJANOS que no final deste evento, decorrerá aqui mesmo ao lado, nos Claustros do Convento dos Congregados. Os patrocinadores foram as empresas SELREST e PORTA DE SANTA CATARINA, de dois amigos e empresários de sucesso da nossa terra, respectivamente Francisco Arvana e José Poeiras.

Finalmente, palavras de agradecimento também, para a Câmara Municipal de Estremoz, que a vários níveis deu apoio à realização deste evento.

A todos o meu muito obrigado. Bem hajam!

Para todos vós, como é meu timbre, peço uma calorosa salva de palmas.

Hernâni Matos

Apresentação do livro por Fernando Mão de Ferro (editora Colibri).
Fotografia de Jorge Pereira.
Apresentação do autor por Augusto Fitas.
Fotografia de Jorge Pereira.
Apresentação da obra e leitura de excerto de O JOGO DO PIÂO por António Simões.
Fotografia de Catarina Matos. 
Apresentação da obra e leitura de excerto do MERCADO DAS VELHARIAS por Francisca Matos.
Fotografia de Catarina Matos. 
 Palavras de agradecimento por Hernâni Matos.
Fotografia de Catarina Matos.
Leitura do texto A BRINCAR SE CONSTRÓI A PERSONALIDADE por Georgina Ferro.
Fotografia de Catarina Matos. 
 Leitura de excertos de O CAVALINHO DE PAU por Odete Ramalho.
Fotografia de Catarina Matos.
Leitura de excertos de 100 ANOS DA SAPATARIA JOAQUIM MIGUEL por Adelaide Glória.
Fotografia de Catarina Matos.
Leitura de excertos de OS BAILES DAS SOCIEDADES por Ana Mateus.
Fotografia de Catarina Matos. 
Leitura de OS CHURRIÕES por Maria do Céu Pires.
Fotografia de Catarina Matos.
Leitura de SEXTA-FEIRA SANTA E ROCK AND ROLL por Fátima Crujo.
Fotografia de António Rodrigues.
Interpretação das Irmãs Flores sobre as “Memórias do Tempo da Outra Senhora”.
Sinestesia entre o barro e a escrita, ilustrando temas do livro.
Fotografia de António Rodrigues. 
O autor autor no decurso da sessão de autógrafos.
Fotografia de Luís Mariano Guimarães. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Todos na cadeia !

Reunião de amigos na esplanada-miradouro da cadeia quinhentista, em Estremoz:


Como é sabido, pelas 16 horas de sábado, dia 1 de Setembro de 2012, na Igreja dos Congregados, no Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz, terá lugar o lançamento e apresentação do meu livro “MEMÓRIAS DO TEMPO DA OUTRA SENHORA, ESTREMOZ-ALENTEJO, editado pelas Colibri. No decurso da apresentação serão lidos excertos do livro.
Com vista a acertar agulhas, juntámo-nos no passado sábado no restaurante Cadeia Quinhentista, em Estremoz, em cuja esplanada-miradouro reunimos. Ali estivemos eu e o grupo das leituras: Adelaide Glória, Ana Mateus, Georgina Ferro, António Simões, Francisca Matos, Maria do Céu Pires e Odete Ramalho.
Eu desconhecia completamente aquela esplanada-miradouro. Fiquei encantado. E depois da reunião, vimos o pôr-do-sol, o que é sempre belo e mágico.
Naquele alto éramos uma ilha rodeada de céu por todos os lados. Atrás de nós, o céu azul desta terra transtagana, cuja claridade quase nos cega, mas nos enche e limpa a alma. Do outro lado, a Maria do Céu a perpetuar filosoficamente nos pixeis digitais a fugacidade daquele momento. E eu, João da Terra, absorvido na reunião, nem sequer olhei para o passarinho. O céu que me rodeava, merecia mais de mim.
No Facebook da Maria do Céu, a Francisca comentou:
- Nós ali quase, quase a "pairar" sobre Estremoz, hein!?
Eu que sou dado a réplicas como os tremores de terra, logo disparei esta:
- Francisca: Não me fale em pairar que eu regrido ao século das luzes e sinto-me o Padre Bartolomeu de Gusmão na passarola voadora. Chiça! E é cá um salto epistemológico...PIM! Onde é que já se viu uma coisa assim?

domingo, 19 de agosto de 2012

Diálogo com a imagem


Quando se fazem 66 anos, o dobro da idade com que morreu Jesus Cristo, o triplo da idade da máxima pujança juvenil, o sêxtuplo da idade de entrada na juventude, é altura de fazer um balanço da nossa vida. É olharmo-nos ao espelho, mais por dentro que por fora e dialogar com a nossa imagem:
P - O que fizeste até agora, mereceu a pena?
R - Claro que sim. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” (1).
P - Podias ter feito melhor?
R - Procuro sempre fazer o melhor, o que não significa que o consiga. Assimptoticamente procuro a perfeição. “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.” (1). De facto, "Não há nada totalmente perfeito." (2). "Se o homem fosse perfeito, seria Deus." (3).
P – Pensas então deitar-te à sombra da bananeira para gozares os juros das coisas que já fizeste?
R – Nunca. Não seria uma atitude inteligente. “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?" (1). Terei de continuar a trabalhar com persistência e disciplina. “A Persistência é o melhor caminho para o êxito.” (4) e “A disciplina é a mãe do êxito.” (5). “Nas coisas árduas cresce a glória dos homens.” (6).
P – Qual então o caminho que pensas seguir?
R – Fazer o que está por fazer e precisa de ser feito. “É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.” (7). “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito.” (8). “Depressa e bem não faz ninguém.” (6). “Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las bem.” (9). “Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa.” (10).
P – Que farás então?
R – O mesmo que até aqui. Vou meter novamente mãos à obra. “As obras mostram quem cada um é.” (6). “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.” (7). “Obra apressada, obra estragada.” (6).
P - Porquê?
R – “Porque o tempo não é elástico.” (6). “O tempo vai e não volta.” (6).
P - De que precisas então?
R – De mais anos de vida, um de cada vez. “A vida, a quem não pesa, não cansa.” (6). “Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.” (11). “O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.” (1). E sobretudo, há que aceitar desafios. “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” (12).
P - Não queres então ficar por aqui?
R – É claro que não. “Antiguidade é um posto e posto é galão.” (6). Ora eu não dou para enfeite…
P – Mas estás cheio de cabelos brancos, de rugas e olheiras…
R – Eu sei que “O mundo julga pelas aparências.” (6). Todavia, “Nem tudo o que luz é ouro.” (6), “Nem tudo o que é feio é mau.” (6), “Nem sempre o que parece, é.” (6). Costumo dizer que “Não vos fieis em aparências.” (6) e “Não se pode julgar um livro pela capa.”.
P – Fazes bem em pensar assim. Eu penso o mesmo.
R – Por isso amarei, divertir-me-ei e criarei durante todo o meu tempo, já que “O tempo é ligeiro e não há barranco que o detenha.” (6). Assim, procurarei o meu caminho para a felicidade, na convicção de que “A felicidade não se encontra nos bens exteriores.” (7) e de que “Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade.” (13).

(1) – Fernando Pessoa (1888-1935), poeta e escritor português.
(2) – Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), poeta e filósofo romano.
(3) – Voltaire (1694 - 1778), escritor e filósofo francês.
(4) – Charles Chaplin (1889 – 1977), comediante inglês.
(5) – Ésquilo (525/524 a.C. - 456/455 a.C.), dramaturgo grego.
(6) – Adágio português.
(7) – Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), filósofo grego.
(8) – Pitágoras (571/570 a.C. - 497/496 a.C.), filósofo e matemático grego.
(9) – Santo Agostinho (354 - 430).
(10) – Marco Aurélio (121 - 180), imperador romano.
(11) – Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.), filósofo chinês.
(12) – Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.), filósofo grego.
(13) – Epicuro (341 a.C. – 271/270 a.C,), filósofo grego.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O calor no adagiário português


A SESTA DOS CEIFEIROS – ALENTEJO (1918). Dórdio Gomes (1890-1976). Óleo sobre tela
(74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.
 
“O sol quando nasce, é para todos.”, “Não há casa onde o sol não entre” e “O sol aquece igualmente o rico e o pobre.”. Todavia, quando o calor do sol nos esturrica os sentidos, o pobre não tem ar condicionado em casa, nem isolamento térmico das paredes e janelas. O ar condicionado do pobre é a sombra de uma árvore.
Nem todos reagimos de igual modo ao calor: “A concha é que sabe o calor da panela.”.
Muitos preferem o calor ao frio: “Antes assoprar que tremer.”.
O calor dantes tinha tempo próprio: “Ande o calor por onde andar, pelo Santo António, há-de chegar.” e “Corra o ano como for, haja em Agosto e Setembro calor.”. Actualmente, devido ao efeito de estufa causado pela poluição, temos calor durante quase todo o ano.
No período em que é normal haver calor, há indícios disso: “Cigarra cantou, calor chegou.”.
Parecendo contrariar a afirmação de que “Não há casa onde o sol não entre.”, surgem os adágios: “Casa onde entra o sol não entra o médico.” e “Onde entra o sol não entra o médico.”, bem como “Onde não entra o sol, entra o médico.”, o que está de acordo com o pensamento de Aristóteles (a.C. 384-322 a.c.): “A saúde é a justa medida entre o calor e o frio.”.
O calor leva a dar alguns conselhos: “No tempo quente, refresca o ventre.”,“No amor e no calor, não metas o cobertor.” e “Quando muito arde o sol, nem mulher, nem carnes, nem caracol.”. E esta hein?

Publicado inicialmente a 13 de Agosto de 2012