segunda-feira, 30 de junho de 2025

Adagiário do Verão


Verão. Gravura de Paul van Somer II (activo ca.1670 – 1714).

O Verão, estação caracterizada por elevadas temperaturas, decorre de cerca de 21 de Junho até por volta de 23 de Setembro. O adagiário de Verão é assim o somatório dos adágios de Junho, Julho, Agosto e Setembro, que já foram inventariados nos respectivos meses. Daí que aqui só se apresentem aqueles em que figura explicitamente a palavra Verão:
- A água com que no Verão se há-de regar, em Abril há-de ficar.
- A água que no Verão há-de regar, de Abril e Maio há-de ficar.
- A burra de vilão, mula é no Verão.
- A formiga faz as suas provisões no Verão, ajunta no tempo de ceifa o seu alimento.
- A Inverno chuvoso Verão abundoso.
- Ande por onde andar o Verão, chega sempre pelo S. João;
- Ande por onde andar o Verão, há-de vir no S. João.
- Março, marçagão, de manhã Inverno, à tarde Verão.
- Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão.
- Nem no Inverno sem capa, nem no Verão sem cabaça.
Nem o Inverno sem capa, nem o Verão sem cabaça.
- No Verão acabam as ceias e começam os serões.
- No Verão ardem os montes e secam as fontes.
- No Verão o sol dá paixão.
- O Verão colhe e o Inverno come.
- Orelha de homem, nariz de mulher e focinho de cão, nunca viram o Verão.
- Outubro suão, negaças de Verão.
- Pão de hoje, carne de ontem, vinho do outro Verão, fazem um homem são.
- Quem no Verão colhe, no Inverno come.
- Sol nascente desfigurado, No Inverno, frio, no Verão, molhado.
- Uma (só) andorinha não faz o Verão.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 23 de Julho de 2018

domingo, 29 de junho de 2025

Jorge da Conceição e o Porteiro do Céu

 

Fig. 1 - São Pedro (1984). Jorge da Conceição (1963-  ).

A aparição de São Pedro
As horas são como as cerejas. Atrás de uma vem sempre outra. E foi assim que em Outubro passado, já a desoras, ainda me encontrava vigilante no meu posto de pescador à linha, a ver aquilo que conseguia pescar na internet. Já não me lembro da palavra chave que naquela altura utilizei como engodo no motor de busca do OLX. O que é verdade, é que fui surpreendido pelo aparecimento de “peixe graúdo”.
Tratava-se de uma imagem de São Pedro (Fig. 1), de grandes dimensões, identificada como “Boneco de Estremoz” e que na base ostentava a marca manuscrita “Jorge Conceição / Palmela 1984” distribuída por duas linhas, ladeada à esquerda e um pouco mais abaixo pelo carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL” (2 cm x 0,8 cm), distribuído igualmente por duas linhas. Trata-se de uma marcação (Fig. 2), que por desconhecimento meu não foi inventariada nas págs. 81 e 85 do meu livro (1). Se em 2018, à data de edição do livro, podia dizer “Quem dá o que tem, a mais não é obrigado”, na actualidade impõe-se o preenchimento da lacuna, do que aqui dou conta para usufruto do leitor.
A figura, da autoria do prestigiado barrista Jorge da Conceição Palmela, fora criada há quase quarenta anos, na sua primeira fase de produção. De imediato, contactei o vendedor, revelando o meu interesse na sua aquisição e solicitando o envio de coordenadas bancárias, visando o pagamento do item pretendido. O vendedor respondeu-me na manhã seguinte e eu de imediato, efectuei o respectivo pagamento. O inesperado “achado”, dada a sua natureza, ocupa um lugar de destaque e muito especial na minha colecção.

Onde se fala da sorte
Quem soube do sucedido, logo me disse:
- És um homem de sorte!
E eu repliquei sempre:
- Qual sorte, qual carapuça!
Não fosse eu um internauta persistente, com a mente povoada de sonhos e a ânsia de descobrir o que há para ser descoberto e nunca teria tido a sorte que me atribuem. De resto, a nossa tradição oral regista os provérbios: "Cada qual é artífice da sua sorte." e "A sorte ajuda os ousados." Mas houve quem continuasse:
- Isso são provérbios. O que é um facto, é que és um homem de sorte!
Bom. Aqui comecei a ficar com os azeites. Então o meu trabalho de pesquisa persistente não valia nicles? E vá daí, pus-me a pescar por aí, o que diz o pensamento ocidental acerca da sorte e respiguei as seguintes afirmações: “A sorte sorri aos fortes” (2); “A sorte ajuda os audazes” (3); “A diligência é a mãe da boa sorte” (4); “Acredito muito na sorte; verifico que quanto mais trabalho mais a sorte me sorri” (5), “Creio muito na sorte. Quanto mais trabalho, mais sorte pareço ter” (6); “A sorte não existe. Aquilo a que chamais sorte é o cuidado com os pormenores” (7); “A sorte marcha com aqueles que dão o seu melhor” (8); “A seguir ao trabalho duro, o maior determinante é estar no sítio certo à hora certa” (9).
Municiado com estes nobres pensamentos, procurei um a um, os meus opositores, fervorosos adeptos da sorte e disparei-lhos em frases seguidas, mesmo à queima roupa. E perguntei-lhes depois:
- E então? Continuam a acreditar na minha sorte?
Não houve um único que tivesse a coragem de me dizer que sim. Creio que alguns ficaram mesmo convencidos que eu tinha razão. Mas outros, adeptos das crenças cegas, lá no fundo continuaram a pensar que não. Todavia, não arranjaram argumentos para me fazer frente e “fecharam-se em copas”.

Jorge da Conceição visto à lupa
Como refiro no meu livro (1), “Tive o privilégio de ser professor de Física de 12º ano de Jorge da Conceição e desde essa época que o vejo como um perfeccionista que procura dar o melhor de si próprio em tudo aquilo que faz, o que se reflecte não só na concepção como nos acabamentos das figuras que modela.”. No livro dei conta de que Jorge da Conceição é “… filho da barrista Maria Luísa da Conceição (1934-2015), neto dos barristas Mariano da Conceição (1903-1959) e Liberdade da Conceição (1913-1990) e sobrinho de Sabina da Conceição Santos (1921-2005), irmã de Mariano.”. E concluí: ”Filho e neto de peixes sabe nadar, pelo que Jorge da Conceição estava condenado a ser barrista, tomando contacto com o barro desde criança e criando apetência pela manufactura de Bonecos como via fazer à avó e à mãe. Foi assim que aprendeu as técnicas e a arte de modelar o barro, manufacturando Bonecos enquanto estudava, até à idade de 21 anos”, quando frequentava no Instituto Superior Técnico, o Curso de Engenharia Electrónica e de Computadores – Variante de Electrónica e Telecomunicações. A imagem de São Pedro de Jorge da Conceição, datada de 1984, pertence à parte final da sua primeira fase de produção, já que ele decidiu interromper a sua actividade como barrista, para só a retomar em 2013, após uma carreira profissional na área de consultoria que durou 25 anos e o manteve afastado da modelação do barro. Todavia, a chamada do barro, que transporta na massa do sangue, levou-o em 2013 a dedicar-se exclusivamente à barrística.
Jorge da Conceição participou em 1983 e 1984, na I na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz. Foi nesta última que alguém comprou a imagem que hoje é minha. Na altura, eu não lhe comprei nada, pois o dinheiro não era muito e eu andava fascinado, como hoje ainda ando, pelo trabalho de sua avó, Liberdade da Conceição, que tal como sua mãe e ele próprio, me concedeu o privilégio da sua amizade. De sua avó, tenho na minha colecção um bom núcleo de figuras, com especial destaque para imagens de Santo António, São João Baptista e São Pedro, qualquer delas de grandes dimensões.

Felicitações de Jorge da Conceição
Quando soube da minha “pescaria”, Jorge da Conceição felicitou-me vivamente pela aquisição da imagem, já que são escassas as peças dessa época na posse de coleccionadores. Disse-me ainda que na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, para além de algum “peixe miúdo” à disposição do público, tinha ainda para vender as imagens de Santo António, São João Baptista, São Pedro e São Marçal, das quais vendeu apenas as duas últimas, integrando as duas primeiras a sua colecção. Com o regresso do seu São Pedro à terra mãe, é caso para reconhecer de uma forma proverbial que “O bom filho a casa torna”.

BiMestre Jorge da Conceição
Em 2019 teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, um Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz. A formação da componente técnica do Curso foi liderada por Jorge da Conceição, que contou com o apoio inestimável de Isabel Água e de Luís Parente. Ali se formou um grupo de barristas, os quais se encontram presentemente a produzir. São eles: Ana Catarina Grilo, Inocência Lopes, Joana Santos, José Carlos Rodrigues, Luísa Batalha, Madalena Bilro, Manuel J. Broa, Sara Sapateiro, Sofia Luna e Vera Magalhães. Todos eles o reconhecem como uma referência de topo da nossa barrística e praticamente todos o tratam carinhosamente por Mestre, já que foi com ele que aprenderam.
As criações de Jorge da Conceição ostentam marcas identitárias singulares e por isso notáveis. Em primeiro lugar, o rigor e a perfeição na modelação, com integral respeito pelas proporções, pela morfologia, pelas texturas, bem como a representação do movimento. Em segundo lugar, um cromatismo harmonioso que resulta de uma sábia combinação de cores. Tudo isso contribui para que os trabalhos de Jorge da Conceição sejam reveladores da sua incomensurável mestria. Trata-se de facetas do seu trabalho, que ultrapassam o âmbito restrito dos seus formandos e catapultam o barrista a uma nova dimensão de Mestre. Daí eu ter assumido a iniciativa terminológica de o considerar um biMestre. De resto, tenho de lhe agradecer o prazer que me dá em usufruir do deleite de espírito causado pela visualização dos seus trabalhos. Daí que lhe confesse: Jorge,

De si é sempre admirável,
toda e qualquer criação.
Tudo o que faz é notável,
Mestre Jorge Conceição.

Oração a São Pedro
Senhor São Pedro, Pescador, Apóstolo, 1.º Bispo de Roma, 1.º Papa e Mártir, já que sois Porteiro do Céu, atrasai a abertura das portas da abóbada celeste, para que eu me possa libertar da culpa de há cerca de 40 anos não ter comprado Bonecos de Mestre Jorge da Conceição. Dai-me mais uns anos bons, para que eu possa preencher as muitas lacunas que ainda tenho na minha colecção. Amém.

(1) – MATOS, Hernâni. Bonecos de Estremoz. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outono de 2018.
(2) - Terêncio (185 a.C.-159 a. C.), poeta romano
(3) - Virgílio (70 a.C-19 d.C.), poeta romano
(4) - Miguel de Cervantes (1547-1616), romancista espanhol.
(5) . Thomas Jefferson (1743-1826), estadista norte-americano.
(6) - Ralph Waldo Emerson (1803-1882), escritor norte-americano.
(7) - Winston Churchill (1874-1965), estadista inglês.
(8) - Horace Jackson Brown Jr. (1940-2021), romancista americano.
(9) - Michael Bloomberg (1942- ), magnata norte-americano.

Publicado em 20-04-2022


Fig. 2 - Marcação no interior da peanha da imagem de São Pedro. 

Fig. 3 - Jorge da Conceição em 1985.

sábado, 28 de junho de 2025

32 - São Pedro, Pescador, Apóstolo, Porteiro do Céu, 1º Bispo de Roma, 1º Papa e Mártir.



São Pedro. Liberdade da Conceição (1913-1990). 
Colecção particular.

São Pedro (ca.1 a.C - 67 d.C.) nasceu na povoação de Betsaida na Palestina e foi morar mais tarde para a cidade de Cafarnaum. Era filho de um homem chamado João e irmão do igualmente apóstolo André. Ambos eram armadores com frota de barcos própria, em sociedade com Tiago, João e o pai destes, Zebedeu.
São Pedro conheceu Jesus quando este lhe pediu para utilizar uma das suas barcas, para poder pregar à multidão que o queria escutar. Pedro anuiu e afastou a barca um pouco da margem. No final da pregação, Jesus aconselhou-o a pescar em águas mais profundas. Foi tão bem sucedido que as redes iam rebentando. Numa atitude de humildade e surpresa, Pedro ajoelhou perante Jesus, a quem disse para se afastar dele, já que era um pecador. Jesus incentivou-o, então, a segui-lo, dizendo que o tornaria "pescador de homens".
São Pedro foi um dos 12 apóstolos e por Jesus Cristo indigitado para os guiar. Discípulo de Jesus, resolve fugir na altura da prisão do Mestre. Ao regressar ao Pretório para saber notícias, é confrontado e renega, então, três vezes Jesus Cristo, que lhe havia vaticinado a sua traição.
Em Antioquia, onde fundou a primeira igreja, é preso entre 41 e  43 d.C. por ordem de Herodes Agripa I (c.10 a.C. - 44 d.C.), acabando por ser libertado por um anjo. Segue depois para Roma (ano 43 d.c.), cidade de que foi o primeiro Bispo e o primeiro Papa e onde foi crucificado no ano 64, de cabeça para baixo, a seu pedido, pois, conforme disse, “Não merecia ser tratado como o seu Divino Mestre”.
São Pedro é tido como autor de duas epístolas, dois dos 27 livros do Novo Testamento.
Iconograficamente São Pedro é representado como homem robusto, de meia-idade, de barba curta, vestido de apóstolo ou de papa. Múltiplos são os seus atributos: as chaves do Céu, em número de uma, duas ou três (que Cristo lhe terá confiado, dizendo: “Dar-te-ei a chave do Reino dos Céus: àqueles a que tu as abrires, as portas franquear-se-ão, e àqueles a quem as cerrares, ser-lhes-ão cerradas); a barca e o peixe (alusão ao seu mester de pescador); o galo sobre uma coluna (a lembrar a sua traição a Cristo: “Antes que o galo cante me negarás três vezes”); as cadeias (referência à sua prisão em Antioquia e Roma); a cruz de três ramos (atributo dos Papas), a cruz invertida (símbolo do seu martírio) e um livro (é um dos autores do Novo Testamento).
São Pedro é Padroeiro de Papas e pescadores. A sua festa litúrgica ocorre a 29 de Junho. Os festejos populares de São Pedro, ocorrem de 28 para 29 de Junho, são diversificados e atingem especial brilhantismo em Alverca do Ribatejo, Câmara de Lobos, Montijo, Nisa, Póvoa de Varzim, Ribeira Brava, Ribeira Grande, Ribeira Seca, São Pedro do Campo, Teixoso e Viana do Castelo.
São Pedro integra a nossa literatura de tradição oral. A nível de adagiário destacamos: “Até ao São Pedro, o vinho tem medo.”, “Até São Pedro, abre rego e fecha rego.”, “Bem está São Pedro em Roma.”, “Chuva de São Pedro, faz acordar cedo.”, “Dia de São Pedro tapa o rego.”, “Dia de São Pedro, vê teu olivedo e se vires um bago, espera por cento.”, “Pelo S. João, figo na mão, pelo S. Pedro, figo preto.” São abundantes as referências ao Santo no cancioneiro popular alentejano. Dele destacamos duas quadras. Uma brejeira: “Se S. Pedro não me casa/ N'este domingo de festa,/ Hei de me ir á sua egreja,/ Hei de lhe chamar careca.” Outra que reflecte as tradições agro-pastoris: “S. João e mais S. Pedro/ São dois santos mudadores,/ S. João muda os criados,/ S. Pedro muda os pastores.”

Texto publicado inicialmente a 17 de Setembro de 2015

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Adagiário dos Santos Populares Portugueses

 



As actividades agro-pastoris e pescatórias estão associadas ou são balizadas por determinadas datas, tanto do calendário juliano como do calendário hagiológico. Daí não ser de estranhar que os nomes dos Santos Populares integrem o adagiário português.

Santo António (13 de Junho)
- Dia de Santo António vêm dormir as castanhas ao castanheiro.
- Não peças água a Luzia e a Simão, nem sol a António e a João, que eles tudo isso te darão.

São João (24 de Junho)
- A chuva de S. João, bebe o vinho e come o pão.
- A chuva de S. João, tolhe o vinho e não dá pão.
- Água de S. João, tira o vinho e não dá pão.
- Ande o Verão por onde andar, pelo S. João cá vem parar.
- Até S. Pedro, o vinho tem medo.
- Cavas em Março e arrenda pelo São João, todos o sabem, mas poucos o dão.
- Chuva de S. João, acaba com o vinho e não ajuda o pão.
- Chuva de S. João, talha vinho e não dá pão.
- Chuva pelo S. João, bebe o vinho e come o pão.
- Chuvinha de S. João, cada pinga vale um tostão.
- Do Natal a São João, seis meses são.
- Em Abril queima a velha o carro e o carril, uma camba que ficou, ainda em Maio a queimou e guardou o seu melhor tição para o mês de São João.
- Em dia de São Pedro, vê o teu olivedo e se vires um bago espera por um cento.
- Galinhas de S. João, pelo Natal poedeiras são.
- Galinhas de São João, pelo Natal ovos dão.
- Guarda pão para Maio, lenha para Abril e o melhor tição para o S. João.
- Lavra pelo S. João e terás palha e pão.
- Lavra pelo S. João se queres ter pão.
- Lavra pelo São João se queres ter palha e pão.
- Maio louro, mas nem muito louro e São João claro como olho-de-gato.
- Março amoroso, Abril chuvoso, Maio ventoso, São João calmoso, fazem o ano formoso.
- Março chuvoso, S. João farinhoso.
- Março duvidoso, S. João farinhoso.
- Março molinhoso, S. João farinhoso.
- Não peças água a Luzia e a Simão, nem sol a António e a João, que eles tudo isso te darão.
- Ouriços do S. João, são do tamanho de um botão.
- Pelo S. João, a sardinha pinga no pão.
- Pelo S. João, ceifa o teu pão.
- Pelo S. João, deve o milho cobrir o cão.
- Pelo S. João, figo na mão, pelo S. Pedro, figo preto.
- Pelo S. João, lavra e terás palha e pão.
- Pelo S. João, perdigoto na mão.
- Pelo S. João, semeia o teu feijão.
- Pelo São João, foice na mão.
- Pintos de S. João, pela Páscoa ovos dão.
- Porco, no São João, meão; se meão se achar, podes continuar; se mais de meão, acanha a ração.
- Quando Jesus se encontra com João, até as pedras dão pão.
- Quando o vento ronda o mar na noite de S. João, não há Verão.
- Quem quiser bom melão, semeia-o na manhã de São João.
- S. João e S. Miguel passados, tanto manda o amo como o criado.
- Sardinha de S. João, já pinga no pão.
- Se bem me quer João, suas obras o dirão.
- Se queres ter pão, lavra pelo São João.
-Tem o porco meão pelo S. João.

São Pedro (29 de Junho)
- Até São Pedro, há o vinho medo.
- Dia de São Pedro, tapa o rego.
- Dia de São Pedro, vê o teu olivedo; e, se vires um grão, espera por cento.
- Nevoeiro de São Pedro põe em Julho o vinho a medo.
- Pelo São Pedro vai ao arvoredo; se vires uma, conta um cento.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

30 - São João Baptista, Precursor, Profeta e Mártir


São João Baptista. Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Colecção particular.

São João Baptista (2 a.C. - 27 d.C.) foi um pregador judaico do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo (37 ou 38 - ca. 100) e pelos autores dos quatro Evangelhos da Bíblia (Mateus, Marcos. Lucas e João). Era filho do sacerdote judaico Zacarias e de Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus.
João, que em hebraico se diz Iohanan, com o significado de “Favorecido de Deus”, veio à luz em idade avançada de seus pais (Lucas 1,36). Muito jovem retirou-se para o deserto. Chamava-se "Baptista" devido a pregar um baptismo de penitência (Lucas 3,3). Quando estava a baptizar crentes no rio Jordão, apareceu Jesus, que também se apresentou para se baptizar. Logo o reconheceu apelidando-O, de “Cordeiro de Deus”, o Messias anunciado pelos profetas. Introduziu o baptismo como cerimónia que mais tarde seria adoptada pelo Cristianismo como prática na conversão de gentios, rito entendido como purificação e vida nova, constituindo o primeiro sacramento da iniciação cristã.
Censurou Herodes Antipas (20 a.C. – 39 d.C.), governador da Galileia, por ter cometido adultério ao casar-se com Herodíade, sua sobrinha e cunhada, cujo marido ainda estava vivo. Na sequência da sua prisão, as suas imprecações incomodaram Herodíade, que através da sua filha Salomé, induziu Herodes a mandá-lo degolar. É considerado o primeiro mártir do Cristianismo.
É o único santo cujo nascimento (24 de Junho) e martírio (29 de Agosto) são evocados em duas solenidades cristãs. É correntemente representado como um adulto ascético, vestido de pele de carneiro, com um cordeiro e um estandarte com a legenda “Ecce Homo”. É padroeiro das cidades do Porto e de Braga, onde é festejado com alegria pelo povo, de 23 para 24 de Junho. Trata-se de uma festa com origem no solstício de Junho e que inicialmente se tratava de uma festa pagã, na qual as pessoas festejavam a fertilidade, associada à alegria das colheitas e da abundância. Como tal é uma festa repleta de tradições, como a utilização dos alhos-porros (símbolos fálicos da fertilidade masculina) para bater nas cabeças de quem vai a passar, assim como de ramos de cidreira (símbolo dos pelos púbicos femininos), usados pelas mulheres para pôr na cara dos homens que passam. A Igreja viria a cristianizar essa festa pagã e atribuiu-lhe São João como Padroeiro.
São João Baptista está presente na nossa literatura de tradição oral. A nível de adagiário destacamos: “Ande por onde andar o Verão, há-de vir pelo São João”, “Pelo São João, ceifa o pão”, “Lavra pelo São João: terás palha e grão”, “A chuva de São João bebe o vinho e come o pão”, “Pelo São João deve o milho cobrir o cão”, “Pelo São João semeia o teu feijão”, “Pelo São João, figo na mão”, “Galinhas de São João, pelo Natal, ovos dão”, “Tem o porco meão pelo São João”, “Sardinha de São João pinga no pão”. No que respeita ao cancioneiro popular alentejano, salientamos duas quadras brejeiras. Uma: “Onde está o Baptista, / Elle não está na egreja, / Anda de mastro em mastro, / Para vêr quem no festeja.” E esta outra: “Lá vem o Baptista abaixo / Subindo aquellas ladeiras, / Dando abraços ás viúvas / E beijinhos às solteiras.”
 
Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 19 de Julho de 2015

domingo, 22 de junho de 2025

Começou o Verão


Verão" ou "A Ceifa", aguarela de Dordio Gomes (1890-1976).

Em 21 de Junho ou próximo a este dia, o Sol atinge o ponto mais ao norte na sua trajectória pelo céu. É o solstício de Verão, momento em que o Sol, no seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. A duração do dia é então a mais longa do ano.
No Hemisfério Norte o solstício de Verão ocorre cerca do dia 21 de Junho e o solstício de Inverno por volta do dia 21 de Dezembro. Estas datas marcam, respectivamente o início do Verão e do Inverno no Hemisfério Norte. O dia e hora exactos variam de um ano para outro.
Tal como no solstício de Verão a duração do dia é a mais longa do ano, também no solstício de Inverno, a duração da noite é a mais longa do ano.
No Hemisfério Sul, o fenómeno é simétrico: o solstício de Verão ocorre em Dezembro e o solstício de Inverno ocorre em Junho. Os momentos exactos dos solstícios, que assinalam também as mudanças de estação, são determinados mediante cálculos astronómicos.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 20 de Junho de 2012

sábado, 21 de junho de 2025

O elogio das palavras – III


RUA DE NISA (1932).  Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970).
Aguarela sobre papel (41 x 50 cm).

LER AINDA

As palavras acompanham-nos continuamente, mesmo em sonhos.
Há sempre o risco de esquecer algumas palavras, pelo que nos podem faltar palavras.
É permitido revisitar palavras nossas e mesmo inventar palavras. O que não se deve fazer, é reproduzir palavras dos outros, como se fossem nossas. Tão pouco se devem deturpar palavras.
Por vezes há que poupar palavras, por uma questão de tempo ou de espaço. Não se deve é balbuciar palavras, porque é indício de insegurança.
É através de palavras que defendemos pontos de vista e damos ênfase àquilo em que acreditamos e àquilo de que gostamos. Também é através das palavras, que damos conta daquilo que rejeitamos e não nos agrada.
As palavras são armas com as quais nos defendemos de agressões verbais ou não. Mas são também armas de ataque com as quais praticamos também agressões verbais.
A utilização das palavras, nem sempre é ética, já que através delas é possível dissimular, confundir e mentir. O mesmo se passa em relação à possibilidade de através das palavras, se atemorizar, aterrorizar, intimidar e dominar.
Há palavras que encerram em si, o purismo da língua. Coexistem com outras que são regionalismos ou integram a gíria popular e o calão. Há ainda palavras que constituem neologismos, estrangeirismos ou internetês.
As palavras são pilares que sustentam a língua, como factor de identidade nacional.
As palavras são porto de abrigo. Nelas nos refugiamos, na fuga de tempestades e na procura de bonanças.
As palavras constituem uma tábua de salvação. A elas nos agarramos, quando tudo parece estar perdido.
As palavras sobrevivem à morte de quem as pronuncia. Se não todas, pelo menos algumas, através do seu registo, tanto escrito como falado.
As palavras têm alquimia. Com elas conseguimos transmutar o nosso estado de espírito e o estado de espírito de quem nos ouve.
A nobreza das palavras é desigual. Algumas têm nobreza como um touro Miura. E para aqui não é chamada a nobreza de sangue azul, que pouco mais é que coisa nenhuma. A nobreza não é monárquica. É uma atitude republicana.
As palavras têm carácter e têm que ser usadas com carácter. Uma das maiores tragédias sociais, é a falta de carácter de alguns que as usam, servindo-se de cargos para os quais erradamente foram designados.
As palavras exigem plena fidelidade à sua essência e à mensagem que lhes está subjacente. Traí-las é trair o texto, o que pode configurar uma atitude de rendição.
As palavras têm que ser frontais. Caso contrário, quem as profere, não tem as partes no sítio.
Há palavras para o tudo e palavras para o nada.
Há palavras para acabar com as palavras:
– PIM! O TEXTO CHEGOU AO FIM!
Jornal E nº 188 – 30-11-2017
Publicado inicialmente em 2 de Junho de 2018