quarta-feira, 9 de julho de 2014

5 - Conexão entre patrimónios imateriais da humanidade

Grupo de cantadores.
Ana Bossa (séc. XXI).
Colecção particular.

A identidade cultural alentejana tem a ver com a arte popular, na qual se insere a manufactura dos bonecos de Estremoz. Estes são figuras cerâmicas, geralmente antropomórficas ou zoomóficas, confeccionadas através de práticas ancestrais iniciadas em Estremoz, que remontam aos finais do séc. XVII – princípio do séc. XVIII e que chegaram aos nossos dias.
A identidade cultural do povo alentejano tem igualmente a ver com o cante, que segundo a tese litúrgica do padre António Marvão teve origem em escolas de canto popular fundadas em Serpa, por monges paulistas do Convento da Serra d’Ossa, os quais tinham formação em canto polifónico.
Manuel Ribeiro na "Lembrança dos Cantadores da Aldeia Nova de São Bento, Mértola, Vidigueira e Vila Verde de Ficalho", diz-nos:
Só no Alentejo há o culto popular do canto. Ali se criou o tipo original do “cantador”. Pelas esquinas, altas horas, embuçados nas fartas mantas, agrupam-se os homens: esmorece a conversa, faz-se silencio e de subito, expontâneamente, rompe um coral. É o diálogo em que eles melhor se entendem, é a conversa em que todos estão de acôrdo.
Quem não viu em Beja, em certas ruas lôbregas, em certos recantos que escondem ainda os antros esfumados das adegas pejadas de negras e ciclopicas talhas mouriscas, quem não viu duas bancadas que se defrontam e donde se eleva um canto entoado, solene e soturno, com o quer que seja da salmodia dum côro de monges?
Embora possa cantar só, o alentejano canta sobretudo em coros e esse canto é sério, dolente, compenetrado e mesmo solene, porque o alentejano é lento, comedido e contemplativo, por força do Sol escaldante.
O cante e os bonecos de Estremoz são duas fortes marcas identitárias do Alentejo, qualquer deles candidato a Património Imaterial da Humanidade. Para estabelecer a conexão entre as duas candidaturas, nada melhor que o exemplar do figurado de Estremoz que ilustra a presente crónica.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Palácio Tocha na Belle Époque

Fig. 1 – PALÁCIO TOCHA NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido.
Colecção do autor.

A imagem da Fig. 1 reproduz um bilhete-postal ilustrado expedido de Estremoz, a 8 de Agosto de 1913, por Frederique da Silva Pinto, para Luiz Pinto Marvão, proprietário dum Armazém de Mobílias, no Porto, a quem solicita um catálogo de preços. O porte do bilhete-postal era 1 centavo e hoje é 0, 42 €, ou seja 8.400 vezes mais. Só por isso, que não por saudosismos balofos, apetece-nos voltar ao tempo da outra Senhora.
Frederique da Silva Pinto era o proprietário do Palace Hotel, que na época funcionava no segundo e terceiro piso do Palácio Tocha e era um Hotel destinado à alta sociedade. Era um luxo pernoitar nele, sobretudo no quarto em que se hospedou em 1860, o Rei D. Pedro V.
O rés-do-chão só tinha uma entrada, correspondente hoje ao número 100-A do Largo D. José I, em Estremoz. Ainda não tinha sido rasgada porta para o nº 100, onde funcionou o consultório do dentista, Dr. Vieira da Luz, nem para o número 100B, onde na telenovela Belmonte, supostamente funcionava a clínica veterinária da Drª Julieta Milheiro. Nessa época funcionava no rés-do-chão esquerdo, a sede do Sindicato Agrícola, fundado a 11 de Março de 1907 e antecessor do Grémio da Lavoura. A direcção do Sindicato, que nesse ano de 1913 realizou em Estremoz uma exposição de gado caprino, era constituída pelos Senhores Roberto Rafael Reynolds, Luís Ferreira de Carvalho, José de Matos Cortes, Joaquim José de Almeida Caramelo e António Sampaio de Sousa Maldonado. A vida do Sindicato teve altos e baixos até que em 1 de Agosto de 1941, passou a integrar a Organização Corporativa da Agricultura, com a designação de Grémio da Lavoura.
Em 1913 estava-se no final da Belle Époque, caracterizada por inovações tecnológicas como o automóvel. Frente ao Palácio Tocha vê-se estacionada uma “Dona Elvira” da época, no sentido contrário àquele em que se fazem actualmente o estacionamento e a progressão do trânsito. Na época e de acordo com a imagem da Fig. 2, os trens puxados a cavalo coexistiam com os automóveis que estacionavam frente ao Palace Hotel, à semelhança do que com o beneplácito das autoridades, acontece ainda hoje nalgumas artérias da cidade.
De salientar que na época, ainda não estava murado o chamado Jardim Eng. José Rodrigues Tocha, levantado pelo proprietário no largo fronteiro. Este começou por se chamar Rossio de São Brás e tem conhecido ao sabor das circunstâncias, designações como Largo D. José I, Largo General Graça e Largo Dragões de Olivença


BIBLIOGRAFIA
[1] - CRESPO, Marques. Estremoz e o seu Termo Regional. Edição do autor. Estremoz, 1950.
[2] – ESPANCA, Túlio. Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Évora. Concelhos de Arraiolos, Estremoz, Montemor-o-Novo, Mora e Vendas Novas. I volume. Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa, 1975.


Fig. 2 – PALÁCIO TOCHA NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido.
Colecção do autor.

Fig. 3 – JARDIM DO PALÁCIO TOCHA NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
FREDERIQUE DA SILVA PINTO E FAMÍLIA.
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido.
Colecção do autor.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Chega de Coelho!



CÃO QUE PERSEGUE UM COELHO (2º ou 3º quartel do séc XIV). 
Harley 1121, f. 141. Edmund's 'Mireour de seinte eglise' (ff. 141-156).
 British Library, London.

O coelho é uma espécie zoológica homónima do actual primeiro-ministro de Portugal, cuja governação tem desagradado a uma maioria significativa de portugueses, entre os quais eu me incluo.
Como cidadão, assiste-me o direito à indignação, bem como o direito à sua livre expressão. Daí que como escritor não dissociado do analista político que também sou, tenha elaborado a seguinte interpretação pós-moderna do adagiário português sobre coelhos:  
- Temos coelho na toca (O Passos Coelho está no Palácio de São Bento.).
- Depois de fugir o coelho, todos dão conselhos (O Coelho não vai fugir. Os caçadores que se convençam disso.).
- Depois de fugir o coelho, toma o vilão o conselho (Já disse e repito: o Coelho não vai fugir. Os caçadores que se convençam disso.).
- Coelho duma cama só, morre depressa (Daí a coligação PSD-CDS.).
- Matar dois coelhos duma cajadada (Derrubar o governo PSD-CDS.). 
- Desta moita não sai coelho (O PS de Tó Zé Seguro parece pouco empenhado em derrubar o governo.).
- O caçador do coelho deve ser manso (Se assim é, Tó Zé Seguro é manso demais ou faltam-lhe munições.).
- Os mansos comem coelho (Se assim é, Tó Zé Seguro anda há muito com falta de apetite.).
- De uma má moita, pode sair um bom coelho (Alusão a António Costa?).
- O coelho é de quem o levanta, a lebre é de quem a mata e a perdiz de quem a acha (Há quem pense que o Coelho será de António Costa.).
- Coelho casa com coelha, não com ovelha (Esta é a crença de algum PSD, que não gosta de Paulo Portas, que considera uma “ovelha ronhosa”.).
- Quem corre atrás de dois coelhos, não pega nenhum (Será uma advertência ao PCP do Jerónimo de Sousa, que combate igualmente o governo PSD-CDS e o PS?).
- Antes coelho magro no mato, que gordo no prato (Adágio equivalente a este outro: Pela boca morre o peixe.).
- Quando o coelho provar que não é lebre, já está assado (A assadura já começou, mas ainda vai levar o seu tempo.).
- A coelho ido, conselho vindo (Adágio equivalente a este outro: Depois da casa roubada, trancas à porta.).
Esta crónica é uma história, pelo que como todas as histórias, tem de ter uma moral. Sabem qual é?
- CHEGA DE COELHO!

terça-feira, 1 de julho de 2014

Estremoz e a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia


PARTIDA DE VASCO DA GAMA PARA A ÍNDIA EM 1497.
Aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935).
  
A 8 de Julho de 1497, a Armada de Vasco da Gama (1460 ou 1469-1524) parte de Belém, em Lisboa, rumo à Índia. É composta pelas naus São Gabriel, São Rafael e Bério.
De acordo com Rui de Pina (c. 1440-1522), cronista oficial de D. João II (1455-1495) e de D. Manuel I (1469-1521), Vasco da Gama terá sido investido no cometimento do Caminho da Índia, por D. Manuel II, na alcáçova do Castelo de Estremoz e terá transportado com ele um pendão bordado por Senhoras de Estremoz.
No local da partida da Armada, viria a ser construída a Torre de Belém, jóia da Arte Manuelina. À direita do quadro, com um bordão na mão esquerda, está o "velho do Restelo", em torno do qual Camões no Canto IV (estâncias 94-104) de "Os Lusíadas", construiria o chamado "Episódio do Velho do Restelo":

94
Mas um velho, de aspecto venerando,
que ficava nas praias, entre a gente,
postos em nós os olhos, meneando
três vezes a cabeça, descontente,
a voz pesada um pouco alevantando,
que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
tais palavras tirou do experto peito:

95
Ó glória de mandar, ó vã cobiça
desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
c'ua aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
que crueldades nele experimentas!

96
Dura inquietação da alma e da vida
fonte de desamparos e adultérios,
sagaz consumidora conhecida
de fazendas, de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
sendo digna de infames vitupérios;
chamam-te Fama e Glória Soberana,
nomes com quem se o povo néscio engana!

97
A que novos desastres determinas
de levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
d' ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?

98
Mas, ó tu, geração daquele insano
Cujo pecado e desobediência
Não somente do Reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano,
Da quieta e da simpres inocência,
Idade d' ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e d' armas te deitou:

99
Já que nesta gostosa vaïdade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome, esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidade
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la Quem a dá:

100
Não tens junto contigo o Ismaelita,
com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
se queres por vitórias ser louvado?

101
Deixas criar às portas o inimigo,
por ires buscar outro de tão longe,
por quem se despovoe o Reino antigo,
se enfraqueça e se vá deitando a longe;
buscas o incerto e incógnito perigo
por que a Fama te exalte e te lisonje
chamando-te senhor, com larga cópia,
da Índia, Pérsia, Arábia e da Etiópia"

102
Oh, maldito o primeiro que, no mundo,
nas ondas vela pôs em seco lenho!
Digno da eterna pena do Profundo,
se é justa a justa Lei que sigo e tenho!
Nunca juízo algum, alto e profundo,
nem cítara sonora ou vivo engenho
te dê por isso fama nem memória,
mas contigo se acabe o nome e glória!

103
Trouxe o filho de Jápeto do Céu
o fogo que ajuntou ao peito humano,
fogo que o mundo em armas acendeu,
em mortes, em desonras (grande engano!).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
e quanto para o mundo menos dano,
que a tua estátua ilustre não tivera
fogo de altos desejos, que a movera!

104
Não cometera o moço miserando
o carro alto do pai, nem o ar vazio
o grande arquitector co filho, dando
um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
Nenhum cometimento alto e nefando
por fogo, ferro, água, calma e frio,
deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte! Estranha condição!

Vasco da Gama atingirá Calicut em 20 de Maio 1498 e regressará a Lisboa em 1499, onde será coberto de honrarias por D. Manuel I.

Publicado inicialmente a 1 de Julho de 2014
  
CHEGADA DE VASCO DA GAMA A CALECUT EM 1498.
Aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935).

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A lavagem na toponímia

MULHER A LAVAR A ROUPA. Fátima Estróia.
Marca: Fátima/Estróia/Estremoz manuscrita.
Dimensões (cm): Alt. 14,5; Larg. máx. 6,8; Prof. 12.
Peso (g): 433. Colecção particular.

Em termos de literatura oral, a lavagem está medianamente representada na toponímia. Os topónimos por nós identificados, foram assim hierarquizados:
FREGUESIAS
- LAVANDEIRA - Freguesia do concelho de Carrazeda de Ansiães.
LUGARES
Em todas as considerações de toponímia que se seguem, o topónimo inserido num parêntesis curvo é concelho e o que o antecede, é a freguesia:
- LAVAJO - Lugar da freguesia de : Castro Marim (Castro Marim), Salir (Loulé).
- LAVADOBES DE BAIXO - Lugar da freguesia da Senhora da Hora (Matosinhos).
- LAVADOR - Lugar da freguesia de : Canidelo (Vila Nova de Gaia), S. João Baptista (Castelo de Vide).
- LAVADORES - Lugar da freguesia de : Olival (Vila Nova de Gaia), Touguinha (Vila do Conde).
- LAVADORES DE CIMA - Lugar da freguesia da Senhora da Hora (Matosinhos).
- LAVADORINHOS - Lugar da freguesia de Olival (Vila Nova de Gaia).
- LAVADOURO - Lugar da freguesia de: Évora de Alcobaça (Alcobaça), Oiã (Oliveira do Bairro), Ossela (Oliveira de Azeméis), Paços de Gaiolo (Marco de Canaveses), S. Cristóvão de Nogueira (Cinfães), Vila de Rei (Vila de Rei).
- LAVANDEIRA - Lugar da freguesia de: Aboim das Chocas (Arcos de Valdevez). Alquerubim (Albergaria-a-Velha), Bastuço (Barcelos), Bente (Vila Nova de Famalicão), Fajões (Oliveira de Azeméis), Feira (Feira), Figueiras (Lousada), Figueiró dos Vinhos (Figueiró dos Vinhos), Grijó (Vila Nova de Gaia), Grilo (Baião), Longos Vales (Monção), Mangualde (Mangualde), Merufe (Monção), Oliveira do Bairro (Oliveira do Bairro), Quinchães (Fafe), Recardães (Águeda), Recesinhos (Penafiel), Refóios do Lima (Ponte de Lima), S. João de Ver (Feira), Santa Maria (Beira), Sosa (Vagos), Vila Boa do Bispo (Marco de Canaveses), Vila Chã (Vila do Conde), Vila Maior (Feira).
- LAVANDEIRAS - Lugar da freguesia de: Barcelinhos (Barcelos), Friestas (Valença), Eiriz (Paços de Ferreira).
- LAVATODOS - Lugar da freguesia de Lorvão (Penacova).

BIBLIOGRAFIA
[1] – FRAZÃO, A. C. Amaral. Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1981.
[2] – LEITE DE VASXCONCELLOS, J. Diccionario de Chorographia de Portugal. Livraria Portuguesa de Clavel & Cª, editor. Porto, 1884.
[3] – PEREIRA, Antonio Fernandes. Diccionario Geographico Abreviado de Portugal e suas Possessões Ultramarinas. Typographia de Sebastião José Pereira. Porto, 1852


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Bonecos de Estremoz: As Primaveras


Primavera de arco. Mariano da Conceição (1903-1959). Colecção Jorge da Conceição.

Na galeria dos Bonecos de Estremoz existem exemplares cuja origem remonta ao séc. XIX e das quais a designação consagrada pelo uso é a de “Primaveras”. Trata-se de uma designação genérica que abrange as chamadas “Primaveras de Arco”, as “Primaveras de Plumas” e as “Bailadeiras”. Trata-se de alegorias à estação do ano do mesmo nome, bem como à sua chegada. Todavia são mais do que isso. Desde tempos remotos que existem rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza. Tais ritos vieram a ser assimilados pela Igreja Católica que começou a comemorar o Entrudo. Referindo-se ao Entrudo de antigamente diz Xavier da Cunha (1) na revista OCCIDENTE, de 15 de Fevereiro de 1879: “Aquilo, sim, que era bom tempo! e fossem lá dizer-lhes que trocassem, a ver se queriam, pela desenxabida insipidez do carnaval d’hoje aquellas folgazãs intrudadas de que todos riam. Hoje de todos esses brinquedos, que passaram, restam apenas as decantadas danças de cavallões e marmanjos vestidos de pastorinhas a bailarem entre os costumados arquinhos de flores ao som do classico apito – elemento essencial da ordem no programma de toda aquella brincadeira”. Significa isto que em 1879, no desfile de Entrudo referido pelo articulista, supostamente decorrido em Lisboa, há a registar a presença de marmanjos (mariolas) vestidos de pastorinhas a bailarem com arcos de flores. Também na capa da revista “PARODIA – COMEDIA PORTUGUEZA”, nº 5, de 18 de Fevereiro de 1903 (2), o traço magistral de Raphael Bordalo Pinheiro retrata vários mascarados num salão particular. À esquerda, duas figuras supostamente de homens mascarados de figuras femininas, empunham um arco com flores. A finalizar e face ao exposto, julgo não ser despropositado concluir que as “Primaveras”, para além de constituírem uma alegoria à estação do mesmo nome, são também figuras de Entrudo e registos dos primitivos rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza. Como apontamento final desta nota de rodapé, saliento que no Museu Municipal Frédéric Blandin (Nevers-França) existem duas estatuetas em vidro do séc. XVIII, que são alegorias da Primavera. Trata-se de figuras masculina vestidas à antiga, uma com túnica e outra com saiote, que por cima da cabeça sustentam um arco de flores, símbolo da Primavera.

BIBLIOGRAFIA
(1) - CUNHA, Xavier. O Carnaval Português in OCCIDENTE, 2º ano, vol. II, nº 28, 15 de Fevereiro de 1879 (pág. 31 e 32). Lisboa, 1879.
(2) - PARODIA – COMEDIA PORTUGUEZA, nº 5, de 18 de Fevereiro de 1903 (pág. 1).
Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 26 de Junho de 2014

Bailadeira grande. Mariano da Conceição (1903-1959). Museu Rural de Estremoz.

Bailadeira pequena. Mariano da Conceição (1903-1959). Museu Rural de Estremoz.

Que Viva Belmonte!


Terminaram no passado dia 17 de Junho, as filmagens da novela Belmonte no concelho de Estremoz, as quais vinham tendo lugar desde Setembro passado. A cidade e o seu termo passaram desde então a estar atentos às filmagens que depois eram exibidas na TVI, a qual passou a ser o canal obrigatório nos serões familiares. É que além do enredo que também galvanizava o resto do país, Estremoz estava sempre presente no pequeno ecrã.
Ao longo de dez meses foram-se criando laços de empatia entre a população, os actores e a equipa técnica, não só no decurso das filmagens como nos locais por eles frequentados ou onde lhe eram servidas refeições ou pernoitavam.
A novela veio animar algum comércio local, especialmente a restauração e a hotelaria. Não admira pois que este se sinta reconhecido, daí que no passadio dia 17, a gerência do Café Alentejano tenha oferecido um jantar ao ar livre a actores, figurantes, técnicos e demais convidados. Foi uma “Festa de Acabamento” com sabores e saberes regionais. Comeu-se, bebeu-se e pulou-se até ás tantas, já que por ali pontificava a música do DJ  Pedro Fraguedas.
Terminaram as filmagens da novela Belmonte, mas a novela vai estar no ar até meados de Setembro e vai passar noutros países. Nestes a novela irá funcionar como eficaz cartaz turístico do concelho, já que inclui imagens do nosso património e de actividades como a viticultura, a vinicultura, a oleicultura, a pecuária e a extracção de mármore, assim como de eventos como a FIAPE ou a Cozinha dos Ganhões, os quais importa promover.
A novela Belmonte é uma mais valia para a cidade e deve ser encarada como geradora de fluxos turísticos de que Estremoz, cidade de serviços, tanto precisa.
A novela da TVI foi uma boa aposta de marketing da Câmara Municipal de Estremoz, que está de parabéns pela iniciativa.